91 anos de Yasser Arafat

Hoje se recorda os 91 anos do nascimento de Yasser Arafat, dirigente político de expressão da luta do povo palestino pelo direito a viver em uma nação independente, livre da segregação sionista imposta após a fundação de Israel.

Nascido no Egito, formado engenheiro civil pela Universidade do Cairo, a entrada de Arafat na luta palestina ainda nos primórdios do Estado de Israel se deu no momento em que uma nova conformação do nacionalismo árabe – do qual o próprio Arafat se tornaria símbolo, uma vez que a questão palestina, com a derrota das forças militares árabes em 1948 e a expulsão de palestinos para países vizinhos, se gestava com a emergência de um novo quadro político no mundo árabe. Sua passagem pelo exército egípcio durante a crise do Canal de Suez, quando o Egito nasserista enfrentou o imperialismo anglo-americano-israelense e consolidou o nacionalismo árabe como ator relevante nas lutas de libertação nacional que aconteciam em diversas partes do mundo, foi determinante em sua caminhada política e na liderança que exerceria anos depois frente ao Fatah, fundado em 1959, e a Organização pela Libertação da Palestina – OLP.

Tanto o Fatah como a OLP podem ser vistos como desdobramentos da emergência do nacionalismo árabe sob influência nasserista, que transformou o Cairo no epicentro da luta anti-imperialista no mundo árabe, a exemplo dos revolucionários argelinos que derrotaram o colonialismo francês no norte africano. A OLP, em seus documentos fundacionais, defendia a libertação da palestina através da luta armada e compreendia a Palestina nas fronteiras integrais dos tempos do mandato britânico na região.

Em 1974, Arafat discursa armado no plenário da Assembleia Geral das Nações Unidas e a Liga Árabe reconhece a OLP como única representante legítima do povo palestino. Também foi importante o envolvimento na guerra civil, uma vez que o sul do Líbano foi uma das regiões para as quais a questão palestina transbordou.

Mas Arafat, assim como o Fatah e a própria OLP, não passou incólume diante das mudanças no mundo árabe a partir da década de 1980. O nacionalismo secular nasserista começa a perder fôlego, em especial após a revolução islâmica no Irã em 1979, país de maioria persa e xiita, mas cuja vitória incendiou massas de muçulmanos xiitas em países como Iraque, Bahrein e Líbano. Também são importantes nesse processo as movimentações da monarquia Saudita patrocinando grupos armados que pregavam regimes políticos fundados em uma interpretação integrista do Islã. Não menos importantes são as contradições do próprio nacionalismo árabe ao recuar do combate sem tréguas à invasão sionista da Palestina e aceitar a coexistência de sionistas e palestinos sob dois estados distintos. Em tempo, o Egito nasserista se curvava ao imperialismo e ao sionismo sob a liderança de Sadat.

Os acordos de Oslo que selaram o reconhecimento de Israel pela maior organização política palestina, absolutamente institucionalizada, corrompida e transformada em interlocutora confiável de estadunidenses e sionistas, marcam o declínio da liderança da OLP e de Arafat em setores cada vez maiores da população palestina. Um dos desdobramentos desse declínio foi o crescimento do HAMAS, braço palestino da irmandade Muçulmana que rechaçou os acordos da OLP e capitalizou, após a segunda intifada, o desgaste das lideranças acomodadas da Autoridade Nacional Palestina.

Em que pesem os muitos erros políticos dos últimos anos de vida de Arafat, que desarmaram o povo palestino diante de seus inimigos declarados, há de se reconhecer o legado da sua liderança a frente do Fatah e da OLP enquanto esteve do lado certo da história pela autodeterminação do povo palestino e no combate sem tréguas ao massacre desse povo pelo imperialismo e seu preposto sionista.

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