A revolução chilena e a luta anticolonial de hoje

Em todos os continentes, um colar de fogueiras se estende ao longo das lutas pela radical emancipação nacional da vasta constelação mundial das ex-colônias. Cada uma dessas fogueiras expressa o limite da democracia política possível sob o destino neocolonial a elas conferido pelo capital financeiro e os regentes nacionais e mundiais de sua ordem social. A contrarrevolução permanente instaurada por essas forças serve exatamente como contrapartida às esperanças frustradas de transformação social presente nas lutas desses povos. O colar de fogueiras acesas pela contrarrevolução é um mar de sangue popular a fluir desde o século XV e que ainda não se estancou. Sua violência é tão inexorável quando a obrigatoriedade de sua ocorrência.
Nesse processo, a liquidação da experiência chilena é marco insuperável, dado haver destruído a ascensão democrática do povo ao governo, posta a serviço da transformação social pela plena emancipação social, econômica e política da nação, que nas condições particulares de todas as nações ex-coloniais exigia, como permanece exigindo, ser anticapitalista.

A saga da revolução democrática anticapitalista chilena nos deve alertar para o fato de que nossa emancipação nacional exige não apenas chegar ao governo, mas forjar o poder, coisas radicalmente distintas. Os destinos recentes das revoluções venezuelana e boliviana, para não citar outras, são mais que eloquentes. A revolução cubana, por sua vez, permanece sendo um marco insuperável da vitória desse processo, assim como da dificuldade da marcha emancipatória sob o cerco imperialista e desunião da luta dos povos latino-americanos por sua plena independência.

Que neste 11 de Setembro, as palavras de Salvador Allende possam nos servir de alento na dura e longa caminhada de nossos povos, agora enfrentada com uma nova era histórica de destruição sistemática da nação, das conquistas sociais mais que seculares, de regressão neocolonial aberta, violenta e guerreira, sob novo manto ideológico e com consentimento explícito de nossas burguesias.

“ Trabajadores de mi Pueblo, tengo fe em Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo en que la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedade mejor.
Viva Chile! Viva el Pueblo! Vivan los trabajadores!” (Santiago, 11 septiembre de 1973).

Paulo Alves de Lima Filho para o Contrapoder

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