Educação essencial pra quem?

Foto: Agencia Brasil

Por Marília Moreno1

Acompanhando a Reunião de trabalho da Subcomissão sobre Retorno Seguro às Aulas de 23 de abril de 2021, eis que me deparo com falas “emocionadas” e fortes apelos aos corações do mundo (junto com pesquisas já ultrapassadas) vindas das autoras do projeto nefasto sobre a colocação da educação como atividade e serviço essencial mesmo em casos de emergência ou calamidade pública, como durante a pandemia.

Não se engane, o PL 5595/2020 tem apenas uma meta: evitar a paralisação de luta de profissionais da educação. A greve, ferramenta justa e constitucional de luta, tem sido a nossa ÚNICA maneira de ter algum direito respeitado e, nos últimos anos, nem por melhorias temos conseguido fazer greve, apenas paralisações emergenciais para não perdermos ainda mais direitos e, neste momento, a vida. tenham certeza absoluta, a nossa maior reivindicação é o direito à vida.

Para provar que esse projeto de lei em nada se trata da essencialidade da educação e o respeito, cuidado e amparo jurídico e legislativo que deveriam vir junto com ela, basta uma simples análise de atos e votos.

Ouvindo aquelas senhoras falarem em meu nome, e em nome de toda uma categoria muito diversa, me peguei questionando: já repararam que são justamente as pessoas que apelam para o sensacionalismo da defesa da escola assistencialista as mesmas que precarizam tanto a educação quanto os sistemas de suporte social à infância e juventude?

Na hora de “defender” a educação, fazem um grande apelo emocional de como a escola é a principal responsável pelos cuidados e amparo contra abusos e violências familiar, social e econômica? Pois muito bem, não deveria ser. A escola deveria ser um ambiente de nutrição intelectual e afetiva E TAMBÉM um canal de amparo, mas não deveria ser a única! Toda a destruição causada nas escolas e na sociedade, toda a carência, do básico teto/alimentação ao combate à violência é causada justamente por pessoas como essas, as sensacionalistas, que vão desde o apresentador de TViolência à representação parlamentar, que tudo fez para retirar da escola a possibilidade de um ensino de qualidade quanto de ser ponte entre os sistemas de assistência social.

Parlamentares que atacam a educação para defendê-la (!!!) são responsáveis por muito do que acontece com as nossas crianças fora de escola e com a miséria humana aplicada ao ensino, e nada me é mais revoltante que a pessoa que nos aponta a arma em nome da nossa vida! São canalhas! São as primeiras pessoas a nos roubar direitos, investimentos, espaço, vida!

CANALHAS! Desmontam as escolas e despejam as famílias! Essas defesas hipócritas de um ambiente que ignoram não representam a educação nem o respeito à essencialidade dela. São essas pessoas que condenam a educação e as comunidades escolares à morte durante todo seu mandato e que agora atentam contra nossa vida e das nossas comunidades escolares gritando por escolas abertas. Essas pessoas são inimigas do povo e da educação!

São essas que agora bradam ironicamente para que a escola seja a primeira a abrir e a última a fechar, mas que nada fizeram ou fazem quando tudo abre antes da escola, quando os shoppings e salões de estética, bares e academias são ouvidos e atendidos primeiro! Quando foi feita a luta por um auxílio emergencial digno para que a classe trabalhadora pudesse ficar em casa e sobreviver? Quando foi feita a luta para impedir que o presidente da república praticasse o genocídio? Onde estão os equipamentos e o acesso à internet para a escola funcionar minimamente?

A prova que a escola não é nem atividade essencial e nem essencial de fato para essas pessoas que agora empurram o retorno presencial das aulas e o PL 5595/20, é justamente um dos argumentos que usam pra defender a morte nas escolas: estamos há mais de um ano sem o funcionamento emergencial ou mínimo das escolas. A culpa é de quem? De quem é a responsabilidade pela escola fechada desde março de 2020? De quem é a responsabilidade da quantidade de mortes no Brasil?

Que o presidente do Brasil é um sociopata e um genocida, não há dúvidas. tampouco há dúvidas que este genocídio se fez com ações planejadas e documentadas, mas ele não agiu sozinho. Por apoio ou omissão, muitas dessas pessoas “defensoras” da educação e da vida participaram deste crime. Diante de tudo isso, de todo o desprezo com a qual a escola vem sendo tratada ao longo dos anos no Brasil e desumanamente na pandemia, pergunto novamente: a educação é essencial pra quem?

Conheça os dados e pesquisas reais sobre o risco de abrir as escolas neste período da pandemia. As notas técnicas abaixo são recentes assim como os dados levantados nelas.

Referências

  1. Marília Moreno é escritora, professora de Artes da Rede Municipal da Cidade de São Paulo, artista, arteterapeuta e quebradora das regras insensíveis. é feminista, de esquerda e integra os coletivos Raiz Popular e Mulheres na Luta. escreve na internet desde 2010 e responde @textosdemarilia nas mídias sociais.

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