Estratégias de Luta Anticapitalista no Contexto da Coalizão Pelo Clima:

Reflexões sobre o Papel dos Movimentos Sociais no Enfrentamento do Colapso Climático e o Ecocídio

Por Pedro Eduardo Graça Aranha1

O capitalismo, em sua busca incessante por lucro e expansão, tem sido uma das principais forças motrizes do colapso ambiental global. O modelo de produção e consumo predatório está resultando em um processo irreversível de degradação ambiental, o que coloca em risco não apenas da biodiversidade, mas também a sobrevivência das classes trabalhadoras, que são as mais afetadas pelos desastres climáticos e pela destruição de seus meios de vida. Em 2025, com o fortalecimento das mobilizações da Coalizão Pelo Clima, surge uma oportunidade de articular estratégias anticapitalistas que possam enfrentar esse cenário catastrófico. Esse movimento, além de denunciar as causas estruturais do colapso climático, deve refletir e implementar formas de resistência e adaptação popular frente ao ecocídio em curso.

O capitalismo, ao incentivar a exploração desenfreada dos recursos naturais e a intensificação da emissão de gases de efeito estufa, é diretamente responsável pela crise climática. A busca pela maximização do lucro levou à destruição de ecossistemas essenciais, ao desmatamento, à poluição dos oceanos e da atmosfera, à crescente escassez de recursos vitais, como a água, e à degradação da qualidade do ar que respiramos. As consequências dessa exploração exacerbada não são sentidas igualmente. As comunidades periféricas e as classes trabalhadoras são as mais impactadas, uma vez que vivem em zonas vulneráveis a tragédias-crimes climáticas, a doenças respiratórias e virais e à insegurança alimentar. Para essas populações, o colapso climático não é um futuro distante, mas uma realidade cotidiana.

A luta contra o colapso climático precisa ser entendida como uma luta anticapitalista, pois é impossível combater as causas da crise ambiental sem questionar a estrutura econômica que as sustenta. Nesse contexto, os movimentos sociais têm um papel fundamental. Os trabalhadores, indígenas, negros, mulheres e comunidades periféricas são os principais agentes de resistência e adaptação no enfrentamento da crise. Eles não apenas denunciam os impactos do capitalismo, mas também propõem alternativas concretas, como a transição justa para economias comunitárias, o fortalecimento da agroecologia, a preservação das florestas e a recuperação dos ecossistemas. A luta por uma justiça climática está intimamente ligada à luta por justiça social.

A Coalizão Pelo Clima, em seu planejamento para 2025, propõe-se a engajar esses movimentos em diversas frentes, com o objetivo de impulsionar uma transformação social e ambiental. Mobilizações estão marcadas para o dia 14 de março, com a Marcha pelo Clima nas favelas acontecendo na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, para denunciar as ondas de calor escaldante e a ausência de uma política de implantação de ilhas de frescor nessas comunidades, e no dia 1 de maio, Dia do Trabalhador, momento oportuno de conectar a luta por direitos trabalhistas à luta climática. A luta por um trabalho digno e por uma transição justa para uma economia ecossocialista é inseparável da luta por um ambiente saudável e pela preservação do planeta para as futuras gerações.

A adaptação climática, que não pode ser apenas uma agenda técnica ou institucional, deve ser uma prioridade para as comunidades que mais sofrem com os impactos do colapso climático. A Coalizão Pelo Clima propõe, portanto, a construção de planos populares de adaptação, com a participação ativa das populações vulneráveis. Estes planos devem considerar as especificidades locais, as necessidades das trabalhadoras e trabalhadores, e as formas de resistência e sobrevivência desenvolvidas pelas comunidades ao longo do tempo.

Esses planos não devem ser impostos de cima para baixo, mas sim construídos coletivamente, com a participação de sindicatos, movimentos sociais, comunidades locais e povos tradicionais. Ao contrário das soluções neoliberais, que buscam privatizar os espaços naturais e as políticas públicas relacionadas ao clima, as alternativas populares devem priorizar o acesso democrático aos recursos e à gestão ambiental.

O ano de 2025 será decisivo para o movimento anticapitalista pelo clima. As atividades previstas pela Coalizão Pelo Clima, como o Carnaval Pelo Clima, as marchas pelo clima e a participação na COP, são importantes espaços de mobilização e conscientização, mas precisam ser também momentos de reflexão e ação política. O seminário sobre o colapso climático e a realização de rodas de conversa e cursos sobre ecossocialismo são ferramentas que permitem aprofundar a compreensão das causas estruturais do colapso e fortalecer as propostas de soluções baseadas em um novo modelo de sociedade.

Em eventos como a ANTICOP no Rio de Janeiro será possível denunciar os acordos vazios das cúpulas climáticas, que falham em enfrentar as causas do problema. Em vez de apostarem em soluções que mantêm a lógica capitalista, é necessário que os movimentos sociais proponham alternativas que rompam com o modelo atual e busquem uma nova relação com a natureza, fundamentada na solidariedade, no cuidado e na justiça social.

A luta contra o colapso climático não é apenas uma luta ambiental, mas uma luta de classe. O capitalismo é o principal responsável pela destruição do planeta e pela perpetuação das desigualdades sociais. Em 2025, a Coalizão Pelo Clima tem a oportunidade de fortalecer as mobilizações anticapitalistas, impulsionar a construção de alternativas populares e fazer avançar a transição para uma sociedade ecossocialista. Os movimentos sociais, com sua força e criatividade, são fundamentais para dar voz e poder às populações mais afetadas, garantindo que a adaptação climática não seja uma agenda excludente, mas sim uma prática coletiva e transformadora.

O enfrentamento do colapso climático exigirá unidade, mobilização e uma verdadeira mudança de paradigma, na qual as lutas por justiça social e justiça climática andem de mãos dadas.

Referências

  1. Pedro é professor, pesquisador bolsista da FIOCRUZ e idealizador da Coalizão pelo clima no Rio de Janeiro.

Um comentário sobre “Estratégias de Luta Anticapitalista no Contexto da Coalizão Pelo Clima:

  • 22 de março de 2025 at 5:36 pm
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    Pedrão, seu artigo é muito bom. Precisamos saber o calendário e as reuniões de preparação da Coalisão para o Primeiro de Maio.

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