Governadores do PT e PCdoB declaram apoio à Reforma da Previdência

Em meio a um intenso processo de lutas no país, onde a classe trabalhadora e a juventude se levantam em luta contra a Reforma da Previdência e os cortes na educação, os governadores da oposição pactuam com o Governo Bolsonaro, sendo funcionais à sua política.

O ajuste fiscal nos estados e a política dos governadores

A grande questão que envolve essa política dos governadores da oposição é a garantia do ajuste fiscal contra os trabalhadores nos seus estados. Querem que na Reforma sejam incluídos também os estados para não passar pelo “incômodo” de a aprovarem nas suas respectivas assembleias legislativas. Assim, garantem uma “economia” com as aposentadorias dos seus servidores, usando da mesma lógica de Paulo Guedes e Bolsonaro: que é preciso cortar as aposentadorias dos trabalhadores para “manter as contas em dia”.

Em carta divulgada no dia 6 de junho assinada por todos os governadores do nordeste, eles afirmam: “a retirada dos estados da reforma e tratamentos diferenciados para outras categorias profissionais representam o abandono da questão previdenciária à própria sorte, como se o problema não fosse de todo o Brasil e de todos os brasileiros”. Ou seja, querem garantir a aplicação do mesmo ajuste fiscal que Bolsonaro faz em nível nacional nos seus estados.

Tiramos o “bode da sala”?

Em matéria divulgada no site El Pais no dia 12 de junho, o governador do PT no Piauí, Wellington Dias, afirma: “Tiramos o bode da sala, agora há condições de apoiarmos a Reforma”. O petista se refere à proposta de BPC de R$400,00, capitalização e algumas das mudanças nas regras dos trabalhadores rurais. Porém, todas as demais propostas essenciais da Reforma da Previdência, serão apoiadas pelos governadores da “oposição”. Os inúmeros “bodes” como o aumento da idade mínima, a exigência de 40 anos para que o trabalhador receba a aposentadoria integral, além dos aumentos no desconto do salário e a redução geral dos benefícios serão integralmente apoiados.

Ou seja, a Reforma continua aí, e agora conta com o apoio nefasto desses governadores que adaptam seu discurso para justificar sua traição aos interesses dos trabalhadores.

O caminho inevitável dos governadores da “oposição” é o enfrentamento às lutas dos trabalhadores

O dia 14 de junho, em quer milhões de trabalhadores paralisaram suas atividades para repudiar a Reforma da Previdência, não enfrentou apenas a política do governo Bolsonaro, mas também dos governadores do PT/PCdoB, que apoiam a Reforma. Por essa razão não vimos os governadores de “oposição” apoiarem a maior ação efetiva da classe trabalhadora em oposição ao governo Bolsonaro. No dia 14, lutamos não apenas contra Bolsonaro, mas também contra todos que apoiam a destruição das nossas aposentadorias incluindo os governadores do PT e do PCdoB.

O caminho inevitável dos “apoiadores críticos” da proposta de Reforma de Bolsonaro e Paulo Guedes é o enfrentamento com a nossa classe. O exemplo mais recente disso foi o criminoso corte de ponto que o petista Rui Costa promoveu contra os professores da Universidade Estadual em greve. Um ataque direto ao direito de greve de causar inveja a qualquer governador assumidamente da direita.

Os trabalhadores e jovens que votaram nos governadores do PT, PCdoB, PDT no nordeste confiaram que eles iriam transformar essa região num bastião de luta contra a extrema direita. Os governadores fizeram discursos de oposição, com verniz de esquerda, para ocupar um espaço eleitoral e assim que foram eleitos, deram as costas a seus eleitores e aplicaram a velha conciliação de classes, o que é suicídio perante um governo ultrarreacionário. Junto a esses trabalhadores e esses jovens, exigimos que os governadores rompam as negociatas com Bolsonaro, Guedes e Rodrigo Maia e coloquem seus cargos a serviço da luta contra a reforma.

Era possível um outro caminho

Sabemos que era possível trilhar outro caminho. Os governadores petistas podiam ser de fato oposição ao projeto econômico de Bolsonaro. Deveriam rever as isenções fiscais multimilionárias dadas aos grandes empresários nos seus estados. Hoje as dívidas dos estados com a União não passam de um dinheiro que acaba no bolso dos banqueiros e por isso deveriam não ser pagas. Deveriam ainda rever os salários dos parlamentares e as verbas de gabinete que recebem os deputados estaduais. Mas absolutamente nada disso eles fazem. Se fosse outro o caminho tomado, poderiam se engajar de fato na construção da Greve Geral do dia 14 de junho. De forma covarde, preferem trilhar o mesmo caminho do governo Bolsonaro e atacar os direitos dos trabalhadores.

O PT nos anos 1980 e 1990 teve exemplos de prefeitos e até governadores que enfrentaram essas políticas e apoiaram as lutas dos trabalhadores. Algumas prefeituras, como a da cidade operária de Timóteo-MG teve materiais de apoio à Greve Geral de março de 1989 contra o governo Sarney e presença do prefeito em manifestações. O governador do RS Olívio Dutra no ano de 2000 se negou a dar as isenções fiscais que a Ford exigia. No PSOL também tivemos um bom exemplo que foram os primeiros anos da prefeitura de Itaocara-RJ (2013–14) da qual nós da CST participamos. Na época, a prefeitura foi parte da campanha do “Fora Cabral” (governador do PMDB que hoje está preso por corrupção) e denunciou ativamente as políticas de ajuste fiscal de Cabral e Dilma, além de apoiar as manifestações de junho de 2013. Teríamos diversos outros exemplos, mas esses bastam para concluirmos que o caminho poderia ser muito diferente desse que estão trilhando os governadores da dita “esquerda” que hoje encobrem o crime contra os trabalhadores chamado de “Reforma da Previdência”. É necessário construir uma verdadeira Frente de Esquerda e Socialista, que supere o “modo petista de governar” e transforme as prefeituras e governos estaduais em trincheiras da luta de classe, governando contra os empresários e ricos, em favor do povo trabalhador, e na oposição intransigente à extrema direita.

Diego Vittelo — CIPA metro-SP e dirigente da CST/PSOL

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *