No vasto universo musical do norte do Brasil, região recentemente premiada no Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras, a produção da artista nortista da periferia de Belém do Pará, Gaby Amarantos, desperta um interesse: “Que música vem da Amazônia e por que é tão pouco reconhecida?”
As vozes da diversidade e da realidade multicultural da Amazônia têm sons tão diferentes entre si que podem passar pelo premiado “TecnoShow” de Gaby Amarantos até a cena do rock independente do recente álbum “A Quarta Dose” da banda Morfina Punk. Do brega ao punk do norte brasileiro, há uma imensidão de Carimbós, Siriás, Guitarradas e tantos outros ritmos tradicionais e modernos que despertam a curiosidade e dariam muitas linhas sobre.
Só que aqui quero dar destaque à banda Morfina Punk, originária da região metropolitana de Belém e que conquistou um lugar protagonista na cena independente do estado do Pará e merecia alçar maiores voos, não só por suas letras questionadoras, mas também pelos riffs com muita melodia e atitude.
O punk rock sempre foi um gênero musical caracterizado pela sua subversão, rebeldia e uma sonoridade crua. Ele cabe na Amazônia? Sim, o Morfina sempre incorporou a música de protesto regional e universal, falou do desmatamento à guerra, dos impostos à desobediência civil, nesse novo momento, muitos elementos dessa diversidade ficam evidentes em seu quarto álbum de estúdio “A Quarta Dose” que vem do forno sem ressaca moral ou julgamentos, com letras apontadas para políticos, preconceitos, guerras, crise econômica e tantas outras questões urgentes.
O álbum da banda Morfina Punk já está disponível nas habituais plataformas de streaming e merece alguns destaques nas participações de Keila Monteiro na música “Sinais e Placas”. Ela, que é ex-vocalista da banda “Coisa de Ninguém”, banda citada pelo Jornal Folha de São Paulo: “Com uma verve mais revolucionária, a banda Coisa de Ninguém usa a música como munição política. A música é o instrumento para passar o que pensamos, diz a vocalista Keila Monteiro”.
Outros destaques é a lenda do punk/hardcore/crossover Jayme Katarro, lendário vocalista da banda “Delinquentes”, aparecendo na faixa “Alistamento”, e Rael Self da maravilhosa banda Superself fazendo a faixa “Canção Sem Refrão”, música que já ganhou vídeo clipe no YouTube oficial da banda Morfina Punk.
O ápice desse álbum, ou melhor, a Vitória-régia nessa produção, pela imponência e beleza, é a música “Comodismo Nunca Mais”, cantada pelo baixista Cassiano Elias. Essa canção é velha conhecida das antigas “rockadas” nas tardes de domingo do underground paraense, tem uma letra poderosa por sua forte crítica política e a mais bela melodia dessa produção.
Uma, Duas, Três, Quatro doses… de cachaça de Jambú? Não, de Morfina Punk. Direto da talentosa, pouco premiada e na luta por ser preservada, a Amazônia!
Por: Alexandre Martins. Paraense residente em São Paulo há 9 anos. Diretor de Produção e Organização do Fest Rock Amigos e ex-vocalista da Banda HDN
Avante Morfina!
Excelente texto. Parabéns Alexandre Martins e ContraPoder!