Não! ao distanciamento seletivo

foto: Marco Favero

(Eduardo Pinto e Silva – Prof. do Departamento de Educação da UFSCar).

A classe trabalhadora não pode ser manipulada e colocada em risco, deve sim ser assistida

O “x” da questão na frágil e irresponsável política de “distanciamento seletivo” é simples. O fato de o sistema de saúde não estar em colapso em alguns municípios (UTIs com menos de 50% de lotação) e não ter altos registros de internos por COVID-19 não significa que se possa abrandar o distanciamento sem imensos riscos. Pois, além da possibilidade de o sistema de saúde sofrer súbita e intensa demanda, de um dia para outro, os registros já confirmados não refletem a realidade, pois dependem de testes não realizados.

É preciso dizer com toda clareza que o sistema dito “vertical” e “brando” de isolamento não é o mais eficaz. Ao contrário, além de ser mais arriscado e não ter ação científica comprovada, ele necessita, no mínimo, do respaldado de testes negativos. Adotar o sistema vertical nas nossas condições significa simplesmente perder o controle da curva ascendente de contágio. E mesmo que essa medida possa promover o aparente benefício de fazer “girar a economia”, sem trazer de imediato efeitos prejudiciais em áreas menos afetadas, é bem alta a chance de que, depois, essas mesmas áreas sofram com refluxos mais potentes de contaminação. Então seriam exigidas medidas ainda muito mais rígidas, que criariam sérios entraves e impedimentos às atividades econômicas inevitáveis à sobrevivência (relativas a transporte e alimentação). Portanto, o pequeno bem imediato seria, posteriormente, causa de um grande mal.

É imperativo conciliar uma política horizontal ampla e firme com políticas específicas. Não podemos aceitar o distanciamento ameno e o isolamento vertical acientífico, ações inoperantes que se disfarçam sob o eufemismo de “distanciamento social seletivo”. Em termos tanto morais quanto práticos, precisamos de atendimentos e cuidados específicos para trabalhadores de atividades essenciais, para idosos e pessoas com co-morbidades (sobretudo de baixa renda), e ainda para trabalhadores em reclusão, mas em condições de moradia e renda inadequadas e precárias.

É criminoso manipular a opinião do trabalhador através do terror econômico, da ameaça da perda do ganha-pão. Com a crise econômica gerada pela pandemia, ele não pode ser sacrificado e expor-se à doença e à morte para minimizar as perdas nos lucro da minoria. A crise sanitária e econômica que vivemos só terá seus efeitos realmente amenizados se a massa trabalhadora for prioritariamente protegida e assistida.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *