Por: Nathan Santos1
No mundo em que vivemos a economia toma uma proporção que a coloca acima da vida. Isso quer dizer, de um jeito simplório, que o modo de produção possui uma lógica e uma “vida” própria que suplanta a reprodução da vida.
Vamos a alguns exemplos. Recentemente foi votado, em caráter de urgência, a autonomia do Banco Central, enquanto seguem atravancadas as tratativas para estender o auxílio emergencial. Medida tão significante que foi responsável por impedir que milhões de brasileiros não passassem fome.
Enquanto foram empenhados por volta de 275 bilhões de reais ao auxílio emergencial, o governo federal destinou 1,2 trilhão de reais ao sistema financeiro com vistas à manutenção da liquidez dos bancos.
Antes que digam que são coisas diferentes, com funções diferentes, devemos nos voltar – dentro das noções de Economia Política – à questão da reprodução da vida. É inaceitável que se defenda viver em um mundo que a produção esteja acima da reprodução da vida.
Com isso quero dizer que sem nós, os trabalhadores, nossa sociedade perde o sentido. Sem a vida humana, qualquer esforço produtivo é vão. Não é o simples caso de buscar meios para a continuação da exploração do trabalho. A escolha não pode ser a circulação do mercado em um cenário que ela significa, necessariamente, a circulação do COVID-19. É absurdo que a relação dívida/PIB seja prioridade frente a relação casos/óbitos – na qual o Brasil está quatro vezes acima da média mundial.
Estamos falando de escolhas políticas, de política econômica. A urgência está, sem sombra de dúvida, no amparo da população. Na retomada do auxílio emergencial. Na aceleração da logística de vacinação a tempo de evitar que novas cepas aprendam a driblar a vacina e nossos sistemas imunológicos. Estas tarefas são de responsabilidade do poder público. O governo federal, estados e municípios têm o dever de atuar em favor da proteção da vida.
Mas e nós? O que podemos fazer?
Temos em nossas mãos o poder mais eficaz nesse embate político que nos foi posto. Um dilema desleal que nos impõe escolher entre a economia e a vida. Nosso poder popular vem da nossa própria força de trabalho e é passada a hora de dizer: o Brasil precisa parar!
No momento em que a onda de contágios e a média de óbitos ultrapassa a casa do milhar, não podemos permitir ser coagidos a voltar às aulas, aos postos de trabalho, ao convívio normal. Não é absurdo apoiar os apontamentos de greve dos trabalhadores da educação. Nem mesmo o chamamento a uma greve geral. Com isso podemos pressionar o poder público a agir em favor dos que estão morrendo asfixiados nos hospitais. Podemos realizar um isolamento absoluto.
A máxima “Se nossas vidas não importam, que produzam sem nós” deve vir à luz. Porque temos o poder para isso, e não porque o descaso e a inação permitiu que mais vidas fossem ceifadas pelo coronavírus.