O dia do índio sob um governo genocida

O dia do índio não deveria ser um dia de comemorações, mas de reflexão. Isso porque, o genocídio indígena, que começou quando os portugueses puseram os pés pela primeira vez neste país, segue em curso, agora mais do que nunca com a extrema direita, representada por Jair Bolsonaro, no poder. Já passei o dia do índio em uma aldeia Kayapó. É engraçado porque você poderia imaginar que isso não tem significado algum para eles, uma vez que o próprio conceito de índio foi inventado por nós, os invasores, que separamos um dia, para ser o dia do índio e “todo dia era dia de índio”, como diz a música de Baby Consuelo. Mas os Kayapó da aldeia Aukre comemoraram seu orgulho cultural no dia do índio com danças e cantos tradicionais. Sim, eles têm todo o direito de celebrar sua sobrevivência física e cultural. Mas nós, invasores, não temos nada o que comemorar, mas apenas nos envergonhar, por ser governados por um homem que disse, antes das eleições, que em seu governo não seria demarcado um centímetro de Terra indígena. Ou seja, a terra poderia ir para as mão do posseiro, do grileiro, do latifundiário… Não interessa. Desde que não fosse para as mãos dos índios.

Mesmo assim ele venceu as eleições. E eleito vem trabalhando para que os povos indígenas percam a autonomia sobre suas terras, que segundo seu projeto de morte e devastação, poderiam ser invadidas por empresas mineradoras, plantações de soja transgênica, cortadas por estradas e linhas de transmissão, ter seus rios destruídos por hidrelétricas. Sob o atual governo, as invasões de terras indígenas e os assassinatos de lideranças indígenas multiplicaram-se. Ainda assim, segundo a pesquisa mais recente, 52% da população brasileira ainda considera esse homem capacitado para liderar o país, mostrando que, se temos um líder ignorante e genocida, é porque boa parte do país assim o quer, e pensa como ele.

Hoje, boa parte dos índios do Brasil, como a maioria do povo brasileiro, está com medo do coronavírus. Sabe-se que os povos indígenas são especialmente vulneráveis a infecções que atacam seu sistema respiratório. Gripes foram, historicamente, responsáveis por terríveis mortalidades e extermínios de povos no passado. Não se sabe se o novo coronavírus terá efeitos intrinsecamente mais severos sobre os povos indígenas que sobre o restante da população. De toda forma, não é boa ideia arriscar. Enquanto escrevo, já temos acumuladas algumas fatalidades decorrentes da pandemia entre povos indígenas. Um jovem Yanomami de 15 anos, que gostava de jogar bola e caçar, já perdeu a vida para o vírus. Jovem demais para morrer de coronavírus. Sua idade nos faz temer pelo pior. Independentemente de qualquer maior vulnerabilidade biológica à infecção as aldeias indígenas têm atendimento de saúde precário, e que se precarizou ainda mais em tempos recentes. Poderia-se pensar que é um problema de falta de dinheiro. Não é. A FUNAI dispõe de 10,8 milhões de Reais para dar apoio aos povos indígenas na prevenção da pandemia. Parece pouco, mas até o começo de abril nada disso havia sido gasto, ao ponto da Procuradoria Geral da República questionar formalmente da ministra Damaris Alves sobe o motivo da paralisação. Dado o quadro geral, a única explicação possível é que a morte física e cultural dos povos indígenas é um projeto de governo.

É em nome deles, acima de tudo, que devemos lutar incansavelmente pelo fim deste governo assassino.

Um comentário sobre “O dia do índio sob um governo genocida

  • 7 de abril de 2023 at 3:40 pm
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    Quem é o autor da fotografia?

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