
Por Pedro Eduardo Graça Aranha1
O Brasil atravessa um momento paradoxal, em que as promessas de mudança ambiental parecem cada vez mais distantes da realidade política e econômica em curso. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou ao poder com a promessa de preservar o meio ambiente e combater a devastação promovida pelo governo anterior, vê-se agora em uma situação de contradições e escolhas que podem levar a um cenário de ecocídio. A recente disputa envolvendo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a liberação de projetos de exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas são claros exemplos disso.
A situação se agrava quando o próprio governo Lula começa a classificar órgãos de fiscalização ambiental como “inimigos” do desenvolvimento econômico. O IBAMA, que tem se mostrado resistente à autorização da exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas, uma das áreas mais biodiversas do planeta, é visto por alguns membros do governo como um obstáculo ao progresso. Essa dicotomia feita entre ambientalismo e desenvolvimento econômico, no entanto, ignora o que está em jogo: a preservação dos ecossistemas essenciais à sobrevivência das futuras gerações.
O governo, por um lado, busca expandir a exploração do pré-sal, uma das maiores reservas de petróleo do mundo, e, por outro, esbarra na resistência de órgãos técnicos e científicos que alertam sobre os impactos irreversíveis de tais projetos. A exploração na Foz do Amazonas, por exemplo, pode colocar em risco ecossistemas marinhos e fluviais únicos, com implicações para a fauna e a flora ainda pouco compreendidas, mas claramente alarmantes.
Em outra frente, o governo também parece seguir na mesma direção, ao liberar o maior plano de safra da história para a monocultura de grãos. A prioridade dada ao latifúndio e à expansão de grandes áreas para cultivo de soja, milho e outras commodities não só agrava o desmatamento da Amazônia e do Cerrado, como também acelera o processo de destruição da biodiversidade e contribui para a fervura global. A monocultura, ao destruir os habitats naturais e empregar práticas agrícolas de alto impacto ambiental, intensifica a emissão de gases de efeito estufa e destrói as funções ecossistêmicas que poderiam ajudar a mitigar os impactos da mudança climática.
Estamos, por outro lado, sendo arrastados para um colapso climático que já começa a se manifestar de forma assustadora. Janeiro de 2025 registrou o maior aumento da temperatura global desde que se iniciou a coleta de dados meteorológicos: 1,75°C de elevação na temperatura média do planeta. No Brasil, este cenário se reflete em um verão devastador, com chuvas torrenciais e ondas de calor que já causaram mais de 40 mortes em tragédias ambientais. A sensação térmica em algumas regiões ultrapassou os 70°C, um sinal claro da gravidade da situação.
Esses eventos climáticos extremos são uma consequência direta da mudança climática impulsionada pela atividade humana. E, mais uma vez, o Brasil se vê no epicentro dessa crise, com políticas públicas que seguem beneficiando o latifúndio e a exploração de combustíveis fósseis, enquanto as populações mais vulneráveis são as mais afetadas por tragédias-crimes provocadas por enchentes e deslizamentos decorrentes das condições climáticas extremas.
É urgente que se fale de decrescimento, de um novo modelo de desenvolvimento que não dependa da expansão contínua da exploração de recursos naturais e do consumo. O decrescimento não é uma utopia, mas uma necessidade diante do esgotamento dos recursos do planeta e do colapso ecológico em curso. No entanto, esse processo exige uma ruptura radical com o sistema capitalista, que coloca o lucro acima da vida e da sustentabilidade planetária.
Essa ruptura precisa ser ecossocialista, ou seja, precisa desafiar as estruturas de poder que perpetuam a desigualdade e a destruição ambiental. O capitalismo, ao promover a exploração indiscriminada da natureza e a concentração de riqueza nas mãos de poucos, nos conduz para um futuro de escravidão sem salário, em que as classes trabalhadoras e as populações marginalizadas pagarão o preço das decisões políticas e econômicas tomadas por uma elite desconectada das realidades ambientais.
A proposta de uma ruptura ecossocialista é, portanto, a construção de uma nova sociedade baseada na solidariedade, na justiça social e na preservação ambiental. É necessário repensar o modelo de produção e consumo, apostando em alternativas sustentáveis e em um novo contrato social que assegure o bem-estar de todos os seres humanos e do planeta.
O Brasil está em uma encruzilhada. O governo Lula, que surgiu com promessas de mudança, vê-se agora diante de um dilema profundo: continuar a exploração destrutiva de recursos naturais e contribuir para o ecocídio, ou construir um novo caminho baseado na justiça social e ambiental. A resposta a essa pergunta determinará o futuro do país e do planeta.
O tempo para agir é agora. O colapso climático não é uma ameaça distante, mas uma realidade que já está batendo à nossa porta. E, se não construirmos uma ruptura ecossocialista, poderemos ser reduzidos a meros escravos do capital, pagando com nossas vidas por um sistema que nunca nos incluiu.