O que aconteceu (e ainda está acontecendo) em Petrópolis e em inúmeras cidades de SP, MG, BA, PE e diversos outros estados do Brasil é assustador: a natureza, com seus ciclos modificados, causando estragos nas modernas estruturas urbanas capitalistas. Parte da mídia burguesa e do dito “senso comum” liberal culpa os moradores por viverem em áreas de risco, como ficou nítido no programa Profissão Repórter. Há até quem culpe, de forma abstrata, o aquecimento global, mas sem nunca atacar o cerne do problema.
Os deslizamentos, decorrentes em especial das chuvas torrenciais, são problemas de, resumidamente, duas ordens: a primeira, uma questão ambiental/climática, e a segunda, a organização social urbana no capitalismo.
Começando pela segunda, as cidades são o principal espaço de desenvolvimento, troca e, sobretudo, exploração e sobrevivência em nossa era. Não à toa, no Brasil, aproximadamente 85% da população mora em áreas urbanas, e os espaços para essa grande aglomeração são limitados. Isso fez, nas últimas décadas, boa parte das forças de trabalho mais exploradas ocupar as encostas de morros e serras, não por opção, mas por necessidade (não vamos aprofundar a questão da especulação imobiliária neste processo, mas o lucro sobre a renda de imóveis é algo destruidor em nosso país). Ou era isso, ou parte desta força de trabalho iria ficar mais tempo no transporte do que dormindo em casa, por exemplo. A ideia deste texto não é fazer um histórico da urbanização brasileira, mas pontuar outras questões. Hoje, não são só os setores mais pobres dos trabalhadores que moram nessas áreas. Dois exemplos disso são a especulação imobiliária nos morros cariocas e o fato de que, em diversas dessas tragédias climáticas, há piscinas e carros de luxo sendo destruídos.
A questão climática tem nome, sobrenome, nome do meio, pai, mãe, tio… É o desenvolvimento capitalista. O capitalismo é uma forma de produção que demanda expansão e aumento da taxa de lucro. Isso obriga uma maior depredação ambiental e uma relação cada vez mais predatória com o planeta. O mundo hoje não é mais o mesmo de cinco anos atrás. A cada ano as tragédias ambientais são mais comuns e violentas. Já passamos diversos pontos de não retorno e o planeta está cada vez mais hostil para nós. Isso não é uma revanche do planeta, mas sim uma tentativa de achar o equilíbrio no que podemos chamar de capitaloceno.
Devemos tomar ações para mitigar os desastres. Precisamos salvar as vidas que estão em risco nesses espaços mais inseguros, mas temos que ter noção de que o planeta já não é mais tão seguro e que, para mudarmos os rumos de aumento desses desastres (que já chegaram a um nível e vão continuar nesse nível mesmo que mudemos), precisamos romper com a lógica capitalista. Precisamos urgentemente de uma revolução, para ver se ainda é possível salvar o mundo, e isso não contradiz uma reforma urbana imediata que desafogue os grandes aglomerados e deixe mais espaçadas e verdes as cidades.
A máxima “socialismo ou barbárie”, mesmo com sua atualização ecossocialista, nunca foi tão urgente.