A acumulação primitiva

A assim chamada acumulação primitiva é o Cap. 24 do Livro I de O Capital de Marx. Na edição da Boitempo, o cap. 24 vai da pág. 785 à 833. Este é o penúltimo capítulo do Livro I. Sua compreensão é muito importante porque elucida a origem da acumulação do capital.

“O roubo dos bens da Igreja, a alienação fraudulenta dos domínios estatais, o furto da propriedade comunal, a transformação usurpatória, realizada com inescrupuloso terrorismo, da propriedade feudal e clânica em propriedade privada moderna, foram outros tantos métodos idílicos da acumulação primitiva. Tais métodos conquistaram o campo para a agricultura capitalista, incorporaram o solo ao capital e criaram para a indústria urbana a oferta necessária de um proletariado inteiramente livre.” (p. 804)

Não é outro o sentido da passagem em que Balzac, na Comédia Humana, faz o noivo de Victorine Taillefer dar ouvidos ao comentário de um amigo que o convence a não investigar a origem da fortuna de seu futuro sogro: “Onde estaríamos todos se fosse preciso pesquisar a origem das fortunas?” [A Estalagem Vermelha]

Marx não deixa brecha para a ilusão: “A violência é a parteira de toda sociedade velha que está prenhe de uma sociedade nova. Ela mesma é uma potência econômica.” (p.821) E é enfático: “A história da economia colonial holandesa – e a Holanda foi a nação capitalista modelar do século XVII – ‘apresenta-nos um quadro insuperável de traição, suborno, massacre e infâmia’”. (p. 822)

Marx exemplifica com o caso de Málaca:

“Para apoderar-se de Málaca, os holandeses subornaram o governador português. Este, em 1641, deixou-os entrar na cidade. Os invasores apressaram-se à casa do governador e o assassinaram, a fim de se ‘absterem’ de pagar-lhe as 21.875 libras prometidas como suborno.” (p. 822)

Mas, para que o modo de produção capitalista se desenvolva, certas condições são necessárias.
“Não basta que as condições de trabalho apareçam num polo como capital e no outro como pessoas que não têm nada para vender, a não ser sua força de trabalho. Tampouco basta obrigá-las a se venderem voluntariamente. No evolver da produção capitalista desenvolve-se uma classe de trabalhadores que, por educação, tradição e hábito, reconhece as exigências desse modo de produção como leis naturais e evidentes por si mesmas. A organização do processo capitalista de produção desenvolvido quebra toda a resistência; a constante geração de uma superpopulação relativa mantém a lei da oferta e da demanda de trabalho, e, portanto, o salário, nos trilhos convenientes às necessidades de valorização do capital; a coerção muda exercida pelas relações econômicas sela o domínio do capitalista sobre o trabalhador.” (p.808)

Se, originalmente, “a subordinação do trabalho ao capital era apenas formal , isto é, o próprio modo de produção não possuía ainda um caráter especificamente capitalista” (subsunção formal), com o seu desenvolvimento, a subordinação do trabalho ao capital torna-se real (subsunção real).


Este texto não passou pela revisão ortográfica da equipe do Contrapoder.

Sergio Granja

Carioca de 1948. Iniciou sua militância em 1965, no PCB. Foi da ALN e exilado político. É mestre em Literatura Brasileira e professor aposentado do Estado do Rio de Janeiro.

Um comentário sobre “A acumulação primitiva

  • 28 de outubro de 2024 at 1:19 am
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    É sempre um privilégio falar com intelectuais e militantes venho dos corredores da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, sou por necessidade e vontade de agir e a disponibilidade da ancestralidade feminina Negra e mulata onde minha avó era a mais clara desta forma sempre fui e sou livre de estereótipos e não vejo o capital como o problema, porém as pessoas e os seus carimbos, como muitas vezes foi retratado nos programas de televisão no Jô Soares em seus quadros humorísticos. Adoro política, adoro histórias, atuais e de trajetória, onde o valor precisa ser constituído nas bases ou nós alicerce das classes sociais e na saúde de toda a população.

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