A barbárie capitalista lastreada na pandemia do Covid-19 vitimou mais 413 mil vidas no mundo. O número de infectados supera a casa dos 7 milhões. Neste cenário aterrorizante e mortífero, o Brasil tornou-se o epicentro global em virtude do Governo Jair Bolsonaro. Negando a profundidade da crise, tentando encobrir e falsificar o número de óbitos, socorrendo as grandes empresas – como as do ramo de aviação – em vez de mobilizar forças e recursos e articular uma iniciativa nacional em defesa da vida, Bolsonaro sabota o isolamento social e lança o pais no olho do furacão de uma tragédia global.
Nesses últimos dias de junho, os Estados Unidos viveram os maiores e mais vigorosos protestos desde as jornadas pelos direitos civis de 1960. A faísca que incendiou a nação foi o assassinato brutal de George Floyd, um trabalhador negro de Minneapolis. O editorial do Contrapoder de 8 junho registra que houveram gigantescas manifestações em pelo menos quarenta países de todos os continentes, contra o racismo e as desigualdades sociais, com a consigna “Vidas Negras Importam”.
Os ventos da agitação do norte chegaram ao Brasil e inspiraram as manifestações antifascistas e antirracistas que tiveram as torcidas organizadas antifascistas na linha de frente dos atos. Apesar dos riscos da pandemia e do esforço coligido entre lideranças de partidos – PT, PDT, PSB, entre outros – grande mídia, artistas como Emicida, desaconselhando a ida aos protestos, eles foram poderosos, esmagaram numericamente os atos pró-Bolsonaro e quebraram definitivamente a hegemonia dos fascistas nas ruas.
Manifestantes de direita exibiram símbolos nazistas como provocação em algumas cidades. A Polícia Militar reprimiu os atos antifascistas e pró-democracia, mas acariciou os apoiadores de Bolsonaro. [1]. Agora que o movimento antifascista ocupou o asfalto, o bolsonarismo, revela-se menor, mais frágil e débil nas ruas. A luta contra a escalada autoritária de Bolsonaro é fundamental e poderá, em pouco tempo, encurralar o antipresidente. A pressão popular sempre mostrou-se como a melhor vacina contra tendências autoritárias.
Nas jornadas de junho de 2013, que levou milhões as ruas do Brasil inicialmente capitaneados pela luta em defesa do transporte público e contra o aumento tarifário, a esquerda brasileira foi incapaz de disputar a direção política desse movimento e em certa medida abriu um espaço para que a reorganização da direita ocupasse um campo mais amplo. Sobre essa temática, junto com o jurista e professor Rômulo Gois, salientamos o seguinte:
Os movimentos de neodireita surgidos pós-junho de 2013 estão a transformar-se em movimentos neofascistas e que possuem características próprias. Eles estão a fortalecer-se e a empoderar-se por meio de Think Tanks, que financiam tais grupos sob a justificativa de apoiar o liberalismo econômico, mas estão a dar força a movimentos reacionários que apoiam abertamente ideias totalitárias [2].
O cientista político Homero Costa debate em recente artigo sobre o monitoramento da democracia no mundo, os riscos que a democracia brasileira corre sob o Governo Bolsonaro. A possibilidade de uma escalada autoritária não pode ser descartada. O Governo já fez testes de força, e, tem um número significativo de militares no quadro ministerial. É tarefa de toda a esquerda e dos setores antifascistas e comprometidos com a democracia, manter o rumo das mobilizações antifascistas. É necessário asfixiar e enfrentar nas ruas o autoritarismo como rumo estratégico das lutas imediatas que ganham as ruas.
Os estudantes franceses nas gigantescas manifestações de maio de 1968 diziam que a barricada fecha a rua, mas abre a via. Os movimentos antifascistas do Brasil de 2020 precisam bloquear o caminho do autoritarismo e abrir a via para uma vitória contra Jair Bolsonaro, seus apoiadores e a agenda neoliberal-autoritária. Que a vitória venha antes das eleições presidências de 2022. Essa é uma necessidade urgente do Brasil.
NOTAS
[1] Por Diego Magri – El País. Torcidas antifascistas assumem linha de frente da mobilização contra Bolsonaro e atraem oposição. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/esportes/2020-06-01/torcidas-antifascistas-assumem-linha-de-frente-da-mobilizacao-contra-bolsonaro-e-atraem-oposicao.html>.
[2] Por Rômulo Góis e Modesto Neto. O recrudescimento do Fascismo no mundo e a (re)genealogia do mal no Brasil pós-junho de 2013. In: Robério Paulino (org.). Século XXI: o mundo em convulsão. Natal: Edufrn, 2019.
[3] Por Homero Costa. Monitorando os riscos à democracia. Potiguar Notícias. Disponível em: <https://www.potiguarnoticias.com.br/noticias/45757/monitorando-os-riscos-a-democracia>.