
A crise climática é, sem dúvida, um dos maiores desafios do século XXI. As mudanças climáticas já afetam várias regiões do planeta de formas diversas e intensificadas, provocando desastres climáticos, deslocamento de populações, insegurança alimentar, e acentuando as desigualdades sociais. Entretanto, a abordagem dos países ricos à questão e suas promessas de financiamento climático, que têm gerado críticas crescentes, são vistas por muitos como uma panaceia, uma solução falsa e temporária que não ataca as causas estruturais da crise.
O futuro do encontro da COP 30 que vai acontecer no Brasil, em Belém, aponta mais uma vez para a disputa global em torno da responsabilidade histórica pelas mudanças climáticas e do financiamento para mitigar seus impactos. As promessas de transferência de recursos de nações mais ricas para os países em desenvolvimento, com o objetivo de financiar a adaptação e mitigação dos impactos das mudanças climáticas, são recorrentes em praticamente todas as edições das COPs. Porém, a realidade é que essas promessas nunca são cumpridas. O financiamento climático tornou-se um discurso vazio, uma ferramenta de “marketing verde” usada pelos países ricos para tentar exibir responsabilidade enquanto continuam a ser os maiores emissores de gases de efeito estufa.
A expressão “capitalismo verde” tem sido cada vez mais usada para descrever um modelo econômico que, teoricamente, busca conciliar crescimento econômico com sustentabilidade ambiental. Este modelo, no entanto, enfrenta severas críticas, principalmente por ser interpretado como uma tentativa de adaptar o sistema capitalista às questões ambientais sem alterar as estruturas profundas que alimentam a exploração dos recursos naturais e das populações mais vulneráveis.
O capitalismo verde, ao incorporar soluções tecnológicas como o mercado de carbono, energias renováveis ou projetos de reflorestamento compensatório, muitas vezes ignora as causas fundamentais das crises socioambientais. Tais soluções são, na maioria das vezes, implementadas para garantir lucro, mantendo as bases do modelo econômico global intactas, enquanto as populações mais afetadas pelas mudanças climáticas continuam à margem do processo decisório.
Outro aspecto importante evidenciado durante a COP 29 foi a falta de espaço para as organizações socioambientais e as ONGs ambientalistas nos processos decisórios da conferência. Estas entidades, que representam as comunidades diretamente mais afetadas pelas mudanças climáticas, muitas vezes não têm voz ou representação nas discussões que afetam suas vidas.
Essas organizações, que trabalham com questões relacionadas à justiça climática, têm lutado para colocar o bem-estar das populações vulneráveis no centro das discussões sobre o clima. No entanto, suas demandas muitas vezes são ignoradas em favor de soluções que visam beneficiar grandes corporações e interesses financeiros, os quais têm, ao longo dos anos, contribuído para a degradação ambiental e as desigualdades globais.
A exclusão dessas organizações socioambientais do debate sobre o financiamento climático e a implementação de políticas públicas eficazes reforça o caráter excludente e injusto das políticas globais de enfrentamento das mudanças climáticas. A proposta de financiamento dos países ricos é frequentemente uma solução que prioriza interesses privados e um discurso corporativo de “sustentabilidade”, em detrimento de ações concretas que abordem as necessidades reais das populações mais afetadas.
O ciclo de promessas não cumpridas nas edições anteriores da COP se repete a cada conferência. O compromisso de US$ 100 bilhões por ano para financiar ações climáticas nos países em desenvolvimento, uma promessa feita desde a COP 15 em Copenhague, nunca foi cumprido. Em vez de investimentos diretos para mitigação e adaptação às mudanças climáticas, o que se vê são mecanismos financeiros complicados e de difícil acesso, que acabam não beneficiando as comunidades mais vulneráveis.
Na COP 30, novamente, os discursos de compromisso com a justiça climática e de transferências financeiras dos países ricos para os países em desenvolvimento serão repetidos, sem nenhuma garantia de mudanças reais. As soluções continuam sendo baseadas em propostas de “mercados de carbono” e “compensações ambientais”, que não alteram os padrões de consumo e produção no Norte global e ignoram as vozes e as necessidades dos povos do Sul Global.
Enquanto os países ricos continuam a usar o financiamento climático como uma estratégia de “marketing verde”, as comunidades afetadas pelas mudanças climáticas no Sul Global e as organizações socioambientais continuam a exigir uma verdadeira mudança no sistema. Não se pode mais adiar a ação climática com promessas vazias; é necessário enfrentar as causas estruturais da crise climática, que envolvem a exploração dos recursos naturais e das populações vulneráveis, e reverter o modelo econômico baseado no consumo excessivo e na destruição ambiental.
O momento é agora. Infelizmente, a COP 30 não será a resposta à crise ambiental, que se metamorfoseou em colapso climático. O fracasso das políticas ambientais inspiradas no princípio do desenvolvimento sustentável foi retumbante. Passadas mais de três décadas desde a RIO 92, fica evidente que as instituições criadas para enfrentar o colapso ambiental fracassaram rotundamente. A pressão popular nas Cúpulas dos Povos mostrou-se absolutamente estéril para reverter o rumo insensato do desenvolvimento a qualquer custo. Não há mais tempo para soluções paliativas e gradualistas. É impossível enfrentar as urgências do desastre ambiental a conta-gotas.
Ao não colocar a lógica expansiva do capital como a principal causa da ruptura do metabolismo entre o Homem e a natureza, o ecocapitalismo torna-se uma forma edulcorada de negacionismo climático. A luta pela sobrevivência da vida humana no planeta passa por mudanças radicais no modo de viver e produzir, que só poderão ocorrer numa sociedade que se organize para além do capital. Fora de um projeto revolucionário, que tenha como norte o ecossocialismo, ancorado numa ética da frugalidade, não há nenhuma esperança de solução positiva para a barbárie do capitalismo da catástrofe, e o ciclo de promessas e falácias continuará, sem uma solução real para o colapso climático.