Economia Mundial
1. A economia mundial continua em forte recuperação da recessão de 2020. Segundo o FMI, em 2021, o crescimento deve ser de 6%, com a China expandindo 8,1% e os Estados Unidos 7%.
Tabela 1: Última atualização das projeções de crescimento do relatório Perspectivas da Economia Mundial (FMI)
Nota: Para a Índia, os dados e as previsões são apresentados com base no ano fiscal (AF), com o AF de 2020/2021 começando em abril de 2020.
2. A expansão do nível de atividade reflete: a baixa base de comparação em função da retração verificada em 2020; a vigorosa retomada dos EUA e China; a expressiva elevação dos preços das commodities; e a flexibilização das medidas de distanciamento social.
3. O caráter desigual da recuperação da economia mundial foi acentuado. Enquanto o crescimento dos países desenvolvidos ganhou ímpeto, o das economias subdesenvolvidas perdeu fôlego.
4. O desempenho assimétrico da economia mundial está associado fundamentalmente à evolução desigual da imunização contra o coronavírus; e a diferenças na política econômica para enfrentar a recessão.
5.Enquanto os países ricos conseguiram imunizar 40% de sua população, os assim chamados “mercados emergentes” vacinaram apenas 11% de seus habitantes e as economias mais pobres do globo somente uma ínfima parcela (1,2%).
Gráfico 1: Pandemia em dois ritmos de vacinação
Nota [1]: Cursos das vacinas como um percentual da população, a partir de 19 de julho de 2021.
Nota [2]: Duas doses geralmente assumidas para um ciclo completo de vacinação, exceto para J&J e CanSino.
6. O fim das medidas fiscais de combate à crise econômica provocada pela Covid-19 no final de 2020 é um elemento adicional de arrefecimento do dinamismo das economias subdesenvolvidas. Nos países que abandonaram a política monetária expansionista, a recuperação será ainda mais prejudicada.
Gráfico 2: Diferenças nas políticas de apoio fiscal
Nota: Receita total e medidas de gastos fiscais em resposta ao COVID-19; percentual do PIB de 2020.
7. A recuperação da economia mundial veio acompanhada de um aumento da inflação. Tal elevação é causada fundamentalmente: 1) pela forte elevação de preços, após a deflação do segundo trimestre de 2020; e 2) pelo expressivo aumento nos preços das commodities agrícolas e minerais.
Gráfico 3: Aumento da inflação, mas com pressões transitórias
Nota: Inflação de preços do consumidor; por cento, ano a ano, mediana.
8. Embora a avaliação dos organismos internacionais seja de que a elevação de preços tenha um caráter temporário, desencadeados pelos desajustes provocados pela pandemia, e de que deva perder ímpeto em 2022, o temor de que a política anticíclica de gasto público possa provocar uma espiral inflacionária aumenta a pressão sobre os Bancos Centrais das economias desenvolvidas para que o abandono da flexibilização monetária e a elevação dos juros.
9. Nas economias subdesenvolvidas altamente dependentes do comércio internacional, como é o caso do Brasil, as pressões inflacionárias de 2021 devem se projetar para 2022, impulsionadas pelo aumento dos preços de alimentos e pela desvalorização da moeda.
10. Aumenta o temor de que o recrudescimento da pandemia, pelo aparecimento de variantes mais contagiosas de coronavírus, possa abortar a retomada do crescimento da economia mundial.
11. A inflexão na política monetária dos Estados Unidos é outro fator de incerteza a gerar turbulências no mercado financeiro com reflexos particularmente negativos sobre as economias que fazem parte do elo fraco do sistema capitalista mundial.
América Latina
1. Para 2022, o FMI projeta um crescimento de apenas 3,2% para a região da América Latina e 1,9% para o Brasil – bem abaixo da média de 4,9% para a economia mundial.
2. Cabe destacar que a América Latina se encontrava praticamente estagnada antes da pandemia. No período de 2014-2019, a região cresceu 0,3% e o PIB per capita diminuiu, em média – situação comparável à 1ª Guerra Mundial e à Grande Depressão.
Gráfico 4: América Latina e Caribe: taxa de crescimento anual do PIB e médias em seis anos, 1901-2019 (porcentagens)
Nota: Inclui os 20 países da América Latina, Cuba, Haiti e República Dominicana.
3. A dinâmica de crescimento medíocre prévio à pandemia deve permanecer, pois os problemas estruturais se aprofundam. Crescem a informalidade e a precarização do mercado de trabalho, a renda média da população cai e a inflação aumenta.
4. Estudo da CEPAL aponta que a região sofreu forte aumento da pobreza e da insegurança alimentar em 2020 e que tal aumento teria sido ainda maior sem a presença de medidas de auxílio emergencial.
Gráfico 5: América Latina (18 países): pobreza e pobreza extrema, 2019, 2020 e 2021 (porcentagens)
Nota [1]: Os países considerados são: Argentina, Bolívia (Estado Plurinacional da), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela (República Bolivariana da).
Nota [2]: Os valores para 2020 e 2021 correspondem às projeções. Supõe-se que a distribuição de renda não apresentaria mudanças em relação a 2020 e que todos os fluxos de renda manteriam uma estrutura e participação constantes.
5. A entrada de investimento estrangeiro direto – IDE –na região tem registrado tendência declinante. Com a contração mundial em 2020, o IDE, que já apresentava uma trajetória descendente, caiu 34,7% em relação ao ano anterior, atingindo o valor mais baixo da última década. Os setores mais afetados foram recursos naturais (-47,9%) e manufaturas (-37,8%).
Gráfico 6: América Latina e Caribe: fluxos de investimento estrangeiro direto (IED), 2010-2020 (em bilhões de dólares e porcentagens do PIB)
Nota: Informações de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), Manual da Balança de Pagamentos e da Posição de Investimento Internacional: Sexta Edição (BPM6), Washington, DC, 2009, exceto nos casos das Bahamas, Barbados, Guiana, Haiti, Paraguai, Peru e Venezuela (República Bolivariana da). A partir de 2019, não há informações sobre a República Bolivariana da Venezuela. No caso do Haiti, não há dados para 2020.
Gráfico 7: América Latina e Caribe: anúncios de projetos de investimento estrangeiro direto, 2020 e janeiro a maio de 2021 (em bilhões de dólares e número de projetos)
6. A crise sanitária não alterou a prioridade absoluta dada ao pagamento da dívida externa. Durante a pandemia, o pagamento de juros feito pelos países da América Latina aos países centrais superou os gastos com saúde.
Gráfico 8: Evolução dos pagamentos de juros e despesas com saúde dos governos centrais, 2000-2020
Nota: Os números dos gastos com saúde correspondem à média de 17 países (os considerados na nota mais o Estado Plurinacional da Bolívia). Os 16 países considerados são: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.
7. A crise econômica do coronavírus tem acentuado o hiato que separa as economias latino-americanas das economias centrais. Ainda que o processo de digitalização tenha avançado, ele está vinculado a tecnologias maduras, como a internet por banda larga – e não a tecnologias avançadas, como inteligência artificial, internet das coisas e big data. Os avanços tecnológicos ocorrem nas etapas de comercialização e não de produção.
8. A valorização das empresas digitais tem acelerado. Mercado Libre (ARG) já é a 2ª maior empresa da região, atrás da Vale (BRA) e à frente da Petrobrás (BRA), Itaú (BRA) e América Móvil (MEX) (dados de abril/2021).
Economia Brasileira
1. O desempenho recente da economia brasileira confirma a estimativa de uma expansão de 5,3% do PIB em 2021. Ainda que numericamente expressivo, o crescimento da economia brasileira deve ficar aquém da média mundial e latino-americana, mal recuperando as perdas de 2020. Para 2022, o crescimento deve ficar abaixo de 2%, mesmo patamar dos três anos anteriores _a pandemia – bem aquém da média mundial e latino-americana.
2. Além das incertezas em relação ao impacto da variante Delta sobre o nível de atividade, o desempenho da economia brasileira em 2021 pode ser prejudicado pela mudança na política monetária dos Estados Unidos; pela crise energética que gera o risco de apagões; e pelo efeito negativo da instabilidade política sobre as expectativas dos capitalistas.
3. A recuperação da economia ainda não se faz sentir no mercado de trabalho. Apesar do efeito positivo da retomada da economia sobre o emprego, no mês de maio, o número de ocupados ainda registrava um déficit de 6,7 milhões de postos de trabalho em comparação com o momento imediatamente anterior à pandemia.
4. Como consequência, não há perspectiva de pronta reversão da crise de desemprego. No trimestre encerrado em maio, a taxa de desemprego foi de 14,5%, totalizando 14,8 milhões de desempregados.
Gráfico 9: Taxa de desocupação e População ocupada (maio de 2021)
5. Em maio, o IBGE registrou 33 milhões de pessoas subutilizadas, ou seja, 29,3% da força de trabalho encontrava-se desempregada, fora da força de trabalho ou trabalhando menos do que gostariam – um contingente superior a toda a força de trabalho da Argentina e da Venezuela juntos.
6. O crescimento econômico veio acompanhado de inflação. Em julho, o IPCA acumulado em doze meses alcançou 9%, levando a previsão de elevação dos preços em 2021 para o patamar de 7% ao ano.
7. A inflação tem sido puxada pela elevação dos preços de alimentos e transportes, implicando forte pressão sobre o custo de vida. Em consequência, a população nos estratos de renda mais baixos é a que tem mais sofrido o efeito do aumento da inflação.
Gráfico 10: Inflação por faixa de renda: variação acumulada em doze meses
Setor Elétrico
1. O Operador Nacional do Sistema (ONS) atualizou projeções da disponibilidade termelétrica, adotando “valores mais aderentes à realidade atual” que, em conjunto com o aumento da demanda por eletricidade, mostram “grave situação dos níveis de armazenamento ao fim do período seco”.
2. Os reservatórios localizados na bacia do rio Paraná, que respondem por 53% da capacidade de armazenamento do Sistema Interligado Nacional (SIN), devem chegar em novembro a uma situação hidroenergética desfavorável, com apenas 10% ou 12,6% da capacidade de armazenamento.
3. De acordo com o relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS): “Com relação ao atendimento aos requisitos de potência, observam-se sobras bastante reduzidas no mês de outubro, com o esgotamento de praticamente todos os recursos no mês de novembro”;
4. Mesmo diante da crise elétrica iminente, o governo insiste na privatização da Eletrobras, maior empresa de energia Elétrica da América Latina, utilizando a falsa alegação de que a Eletrobras não tem capacidade para investir.
5. Em relatório recente, a Eletrobras, que acumula lucro de mais de R$35 bilhões entre 2018 e 2021, afirma ter mais de R$20 bilhões em caixa e baixo índice de endividamento, ou seja, plena capacidade financeira para realização de investimentos.
6. Ao vender a Eletrobras, um dos principais instrumentos de políticas públicas para o setor, em meio a uma crise hídrica que exigirá ampliação da coordenação, da cooperação e investimentos públicos, o governo eleva a probabilidade de que a grave crise elétrica se torne crônica.
Latifúndio, Território e Meio ambiente
1. Novo estudo do IPCC aponta para cenário ambiental catastrófico que, para ser evitado, exige mudanças drásticas na economia mundial.
2. O agro é tóxico e destrói o planeta. De acordo com o mesmo estudo, a economia brasileira, que desmata cada vez mais, reduziu drasticamente sua capacidade de absorver carbono da atmosfera.
3. O semiárido brasileiro é uma das regiões mais afetadas no mundo pelas mudanças climáticas. Nos últimos anos as secas têm sido mais intensas e as temperaturas mais altas também pelo desmatamento. Avança a desertificação e a esterilização do solo de algumas áreas.
4. Belo Monte segue causando estrago nos povos amazônicos. A mais nova ameaça aos modos tradicionais de vida é uma crise hídrica numa das maiores bacias hidrográficas do mundo. O judiciário de Altamira-PA suspendeu a medida que impedia o monopólio do uso da água do rio Xingu.
5. A decisão, que viola a convenção 169 da OIT e o próprio condicionante de viabilidade ambiental de 2010, agrava os efeitos socioambientais da emergência climática e do desmatamento.
6. O programa Auxílio Brasil estimula a expulsão de camponeses, o que tornará ainda mais inchado o mercado de trabalho urbano. À medida que novos grupos se acomodarem aos centros urbanos, seguramente haverá aumento da informalidade e outros índices que rebaixam o nível de vida.