Conjuntura econômica – novembro 2021

Economia Mundial

1. A redução do crescimento da produção na China e o efeito perverso da inflação sobre o poder de compra das famílias arrefeceram o ritmo de recuperação da economia mundial. A Oxford Economics prevê expansão de 5,7% em 2021 e 4,5% em 2022 na produção global.

wepm-oct-nov

2. Pressionada pela elevação dos preços de energia e por choques de custo provocados por descontinuidades nas cadeias produtivas, a inflação mundial continua aumentando. A expectativa da Oxford Economics é de que o nível geral de preços aumente em 3,6% em 2021.

3. Nas economias subdesenvolvidas que sofreram forte desvalorização cambial, a elevação dos alimentos foi muito superior ao aumento da inflação, com forte impacto sobre o custo de vida das famílias. É o caso da Turquia, Brasil, Colômbia, Rússia e México.

4. A inflação mundial é um fenômeno temporário e não significa uma mudança qualitativa no regime de preços. Mesmo assim, a pressão inflacionária deve antecipar a mudança na política monetária expansionista dos países centrais em 2022, à frente os Estados Unidos.

5. A recuperação da economia mundial não reverteu o desemprego provocado pela crise. A OIT – Organização Internacional do Trabalho – adverte que, no 3o. trim. de 2021, o número de horas trabalhadas em escala global permanece bem abaixo do verificado no 4o. trim. de 2019.

6. No cálculo da OIT, o déficit de emprego no 3o. trim de 2021 (em relação ao 4o. trim) é equivalente à perda de 137 milhões de postos de trabalho em plena jornada.

7. A estimativa é que no final de 2021 tal déficit ficará em torno de 125 milhões. A recuperação de empregos é substancialmente menor nas economias subdesenvolvidas.

7. A OIT alerta que o impacto desigual da crise na economia mundial sobre a produtividade do trabalho amplia dramaticamente o abismo entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. 

8. O contraste entre o caráter internacional da crise capitalista e a absoluta incapacidade de uma atuação conjunta dos Estados nacionais para enfrentá-la, patente nas recentes reuniões do G-20 e da COP-26, revela a crise de comando inerente à crise estrutural do capital.

América Latina

1. AL e Caribe representam 8,4% da população mundial, mas responderam por 18,5% dos casos mundiais confirmados e 30% das mortes totais por Covid-19 – até set/21. A discrepância entre população, casos e mortes evidenciam a histórica desigualdade e vulnerabilidade da região.

2. Os efeitos da pandemia na AL e C agravaram-se em função: da extrema desigualdade social; da fragilidade do sistema de proteção social; da precariedade dos sistemas de saúde (fragmentados e subfinanciados); e da dependência da importação de insumos, medicamentos e equipamentos.

3. Há dois grandes obstáculos para a superação da crise sanitária: o baixo investimento público em saúde – em média, um quarto do valor gasto pelos países da OCDE (7% do PIB); e o acesso desigual às vacinas desenvolvidas, com os países avançados à frente nessa corrida.

Economia brasileira

1. Pesquisa de atividade do IBGE registra que, em setembro, a indústria, o serviço e o comércio varejista tiveram retração. O índice de atividade do BC – que estima a variação do PIB – mostra que a economia repete o fraco desempenho dos últimos dois trimestres.

2. A indústria continua patinando. Dados da PIM-PF (IBGE), mostram queda da produção de 0,4% em setembro (em relação ao mês anterior). Essa é a quarta queda consecutiva.

3. Após uma recuperação acelerada no segundo semestre de 2020, recompondo a significativa queda dos primeiros meses da pandemia, o ano de 2021 apresenta resultados desanimadores, apenas corroborando a crise estrutural que a indústria atravessa há anos.

4. A situação é pior para a Indústria de Transformação, setor mais dinâmico da indústria, como pode ser visto no gráfico abaixo.

5. A modesta recuperação da economia brasileira, abaixo da média latino-americana, não altera a tendência estrutural à estagnação. Os condicionantes do dinamismo da economia brasileira são objeto do artigo de Eleutério Prado, “O futuro da economia capitalista no Brasil”. (https://aterraeredonda.com.br/o-futuro-da-economia-capitalista-no-brasil/?utm_term=2021-11-17&doing_wp_cron=1637248320.6397149562835693359375)

Salário e custo de vida

1. Em outubro, segundo o DIEESE, o salário mínimo para cobrir as necessidades estabelecidas pela Constituição de 1988 deveria ser de R$ 5.886,50 (4% acima que o valor do mês de setembro e representa 5,35 vezes o piso nacional, de R$1.100,00).

2. Atualmente, o piso nacional corresponde a 18,69% do salário mínimo necessário. A diferença aumentou quando comparado ao mês anterior. Percentual análogo só foi observado em dezembro de 2005.

3. Como resultado da depressão do mercado de trabalho e do elevado custo de vida, o poder aquisitivo dos trabalhadores vem sendo progressivamente deteriorado. Em Out/21, o salário mínimo real registrou o menor valor dos últimos doze meses e regrediu para o mesmo nível que Dez/16.

4. Em outubro, o trabalhador que recebe o salário mínimo líquido (após desconto da previdência) gasta 58,35% de sua renda para adquirir alimentos da cesta básica (1,5% acima do mês anterior).

5. Segundo o DIEESE, a maioria dos salários está sofrendo uma perda real. Entre janeiro e setembro deste ano, 49% dos reajustes salariais por meio de negociações coletivas ficaram aquém da inflação.

Inflação

1. A inflação em outubro apresentou alta de 1,25%, segundo o IPCA. No ano, o índice acumula alta de 8,24% e, nos últimos 12 meses, de 10,67%. As projeções inflacionárias em 2021 estão em 9,77%. Para a população de baixa renda, no entanto, a situação é muito pior.

2. Segundo o IPEA, em outubro, pelo sétimo mês consecutivo, a inflação foi mais acentuada para as famílias de “renda muito baixa” (1,35%). Já para a faixa de “renda alta”, a inflação foi de 1,20%. 

3. No ano, a inflação para as faixas de renda média-baixa e muito baixa, está em 8,59% e 8,57%, respectivamente. Já para a renda alta o acumulado está em 7,5%. 

4. Nos últimos doze meses, a diferença é ainda maior, sendo 11,39% para a renda muito baixa e 9,32% para renda alta. Ou seja, a inflação para quem tem uma renda muito baixa é mais de 20% maior do que para quem tem a renda alta.

5. Além da desvalorização cambial e da subida dos preços das commodities, a pressão sobre a inflação resulta de: pontos de estrangulamento na cadeia produtiva; e forte aumento dos preços administrados, sobretudo combustíveis e energia elétrica.

6. Ou seja, a inflação brasileira não decorre de pressões de demanda que justifiquem um aperto monetário e fiscal. Tais ajustes apenas intensificam a crise econômica e social do país, e tiram do horizonte uma saída dessa situação.

Emprego e desigualdades

1. A recuperação do crescimento não reverteu os danos provocados no mercado de trabalho. Os ocupados permanecem abaixo do período anterior a pandemia. O recuo desemprego e na população fora da força de trabalho vem acompanhado de uma ampliação da informalidade.

2. De acordo com o IBGE, em jun-ago, 13,7 milhões de brasileiros encontravam-se desempregados (13,2% da força de trabalho).

3. No mesmo período, 31,1 milhões estavam desempregados, subocupados ou fora da força de trabalho potencial (27,4% da força de trabalho ampliada)- apenas 2,1 milhões abaixo do mesmo período de ano anterior.1

4. Com o baixo dinamismo do emprego, resta aos trabalhadores a busca por quaisquer fontes de renda, o que se associa ao aumento da informalidade. Em jun-ago, 37,1 milhões eram informais, o que representa 41,1% dos ocupados – a 3ª maior taxa de informalidade desde 2016.

5. A monumental crise social fica evidente quando observamos que 68,2 milhões de trabalhadores (60% da força de trabalho ampliada) são informais ou subutilizados. Trata-se de um enorme exército de trabalhadores submetidos a estratégias de sobrevivência.

6. Atualmente, o padrão de geração de postos de trabalho formais está associado à propagação de ocupações de baixa qualidade. Nos últimos doze meses, contados a partir de setembro de 2021, os salários médios de admissão ficaram abaixo de dois salários mínimos.

7. No mesmo período, do saldo dos novos trabalhos formais gerados, 128.821 (4,0% destes novos trabalhos gerados) são trabalhos intermitentes ou de regime parcial, segundo o CAGED. 

8. Pesquisa da CEPESP(FGV)/TETO realizada em favelas de 6 estados brasileiros, entre os meses de maio e junho de 2020, revela que 45% dos moradores pesquisados relataram estar desempregados. No mesmo período, a taxa de desemprego no Brasil havia ficado entre 12,3% e 13,1%.

9. Apesar da metodologia ser distinta da utilizada pelo IBGE, os dados reforçam as análises que apontam a intensificação da desigualdade a partir da pandemia.

10. A mesma pesquisa aponta que 80% dos entrevistados disseram ter algum incômodo de ficar em casa devido ao espaço reduzido das casas ou pela baixa infraestrutura, sem possibilidades de lazer e até mesmo falta de energia e de água.

11. Tais fatores contribuíram para que essa população seguisse menos as recomendações de isolamento, ficando mais suscetível ao vírus. A desigualdade, então, se mostra tanto no alto desemprego, nas condições precárias de moradia, como na maior vulnerabilidade à Covid-19.

COP26 e Imperialismo Ambiental

1. Com a COP26, o principal vilão do aquecimento global deixa de ser a queima de combustíveis fósseis e passa a ser a agropecuária, principal responsável pelo desmatamento, pelas queimadas e pela emissão de gás metano. É o modelo do agronegócio posto em cheque.

2. As metas para garantir um aumento do aquecimento global em no máximo 1,5ºC até 2100 estabelecidas em Paris (2015) não têm sido cumpridas. Nesse ritmo, o aumento deve ser de 2,7ºC até o final do século. Após a recessão nos anos de pandemia, o acordo de garantir US$100 bi por ano para mitigar os efeitos do aquecimento global feito em Paris (2015) fica ainda mais improvável. 

3. O Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite fez “pedalada climática” e mentira deslavada. Sumiu com 400 mi de ton de carbono em seus cálculos, prometeu reduzir pela metade a emissão de gases poluentes até 2030 e neutralizar a emissão de carbono até 2050, mas sem dizer como.

4. Entre 2000 e 2016 a América Latina representou 91% da perda total de florestas do mundo. No entanto, é do desmatamento na periferia que se sustenta o padrão de consumo no centro capitalista. Os 10% mais ricos no Brasil emitem, em média, menos CO2 per capita do que os 50% mais pobres dos EUA. 

page1image2326736

5. Certos de que as injustiças socioambientais causadas pelo imperialismo ambiental tendem a se intensificar, a participação dos movimentos negros brasileiros na COP26 esteve no sentido de denunciar a ausência de controle sobre o capital e suas consequências socioambientais.

6. A agenda política apresentada pelos movimentos negros contou, sobretudo, com pontos referentes à redução do aquecimento global, ao fim do desmatamento no Brasil e à defesa da titulação das terras e dos territórios quilombolas.

Colonialismo ambiental

1. Na América Latina, uma das grandes soluções oferecidas por governos e capitais privados é a Iniciativa Amazônica, programa de financiamento de projetos “verdes” e organizado pelo BID em parceria com o Fundo Verde do Clima.

2. A partir de uma visão distorcida de proteção socioambiental, o horizonte é a mercantilização de economias indígenas, quilombolas e ribeirinhas em benefício do lucro. Nenhuma comunidade foi chamada para decidir seu próprio futuro.

3. O avanço do latifúndio e da bioeconomia bancado pelas finanças internacionais não apenas destruirá a biodiversidade como também ameaça os povos tradicionais de proletarização num futuro próximo.

4. Um dos principais instrumentos financeiros é a Coalizão LEAF, que é formada por governos de países industrializados, como Noruega, EUA e RU, e também por empresas poderosas como Amazon, Unilever, Nestlé, E.On, Bayern e outras.

5. A LEAF é uma nova oportunidade para que grandes poluidores transformem emissões de CO2 em títulos que lhes rendem lucro. Acima dos defensores da floresta (comunidades tradicionais), os beneficiados serão suas próprias marcas e as finanças.

6. Essa engenharia financeira não apenas não é transformada em benefício às populações locais, que são quem realmente protegem a natureza, como tampouco contribui com a redução do aquecimento global.

7. Em suma, o capitalismo não tem condições de propor um freio a si próprio. O máximo que ele pode oferecer é mitigar o dano ambiental, o que não resolve o problema estrutural. Pelo contrário, mais capitalismo nos tem levado a mais problemas.

Referências

  1. Força de trabalho ampliada seria, segundo as definições do IBGE: Força de Trabalho + Força de Trabalho Potencial.

GEFF - Conjuntura Econômica

Grupo de Estudos Florestan Fernandes - Conjuntura Econômica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *