Economia Mundial
1. Aumentam os economistas que acreditam que a circulação descontrolada da variante Delta possa arrefecer o crescimento da economia mundial. A Oxford Economics reduziu a previsão de expansão do PIB global em 2021 de 6,4% para 5,9%.
2. Apesar da recuperação, a economia mundial permanece imersa na instabilidade. O risco de novas variantes de coronavírus e o desconhecimento do prazo de proteção das vacinas não permitem vislumbrar o fim da pandemia e a normalização definitiva da vida econômica.
3. A recuperação da produção não aponta para um novo ciclo de expansão. Trata-se de fenômeno conjuntural, provocado, basicamente, pela agressiva política de gasto público.
4. A depressão da taxa de lucro não coloca no horizonte a retomada sustentada dos investimentos e, como consequência, não indica a presença de um ciclo longo de crescimento. Michael Roberts, https://thenextrecession.wordpress.com/2021/06/17/profits-call-the-tune-2/
5. Foi a intervenção do Estado na Economia que evitou que a crise se transformasse numa depressão sem precedentes. (Sobre o papel da política econômica na recuperação ver, https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/47192/16/S2100393_es.pdf)
6. A CEPAL aponta que, em 2020, as economias centrais dispenderam US$ 6,3 trilhões (12,7% do PIB) em medidas fiscais de gasto público e isenção tributária e US$ 5,2 trilhões (11,3% do PIB) em medidas monetárias de injeção de liquidez no sistema financeiro.
7. Sem reverter a tendência decrescente da taxa de lucro, a contrapartida da política de socorro incondicional aos grandes bancos é a expansão exponencial do capital fictício – uma massa de papeis que representam direitos de propriedade que dão acesso a rendimentos futuros.
8. Na ausência de uma frente de expansão do desenvolvimento capitalista, a injeção ilimitada de dinheiro alimenta uma indústria de fabricação de bilionários.
9. Conforme estudo da CEPAL, em 2020, enquanto a riqueza mundial aumentou 7,4% (em função do aumento das cotações das bolsas de valores, valorização imobiliária e outros expedientes especulativos), mais de 140 milhões de empregos foram perdidos no mundo.
10. A hipertrofia do capital fictício aumenta a disparidade entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. A elevação da riqueza foi de 12,4% no Canadá e Estados Unidos; 9,2% na Europa; e 4,4% na China. Mas houve redução de 4,4% na Índia; e 11,4% na América Latina e Caribe.
11. A política monetária de socorro permanente ao grande capital gera vulnerabilidades estruturais que ameaçam a estabilidade da economia mundial, deixando-a fortemente dependente da continuidade da injeção de liquidez pelos Bancos Centrais.
12. No entanto, pressionadas pelo aumento dos preços, as autoridades monetárias dos países desenvolvidos começam a cogitar a possibilidade de pôr fim a flexibilização monetária.
13. Ainda que a Reserva Federal dos Estados Unidos tenha protelado o anúncio de qualquer mudança imediata, o Banco Central Europeu já dá sinais de que poderá pôr fim à política monetária expansionista.
14. Teme-se que um ciclo de elevação de juros nas economias centrais provoque: estouro da bolha especulativa; desvalorização das moedas dos países subdesenvolvidos; problemas de sobreendividamento em grandes corporações; e crises de dívida externa nas economias periféricas.
15. A América Latina está em situação particularmente vulnerável. Estudo da CEPAL adverte que quase 1/3 das empresas não financeiras da região (de uma amostra de 28.820) encontra-se em situação de vulnerabilidade financeira.
16. Nos Estados Unidos a reação do mercado de trabalho tem sido lenta. Mesmo com expansão do PIB no segundo trimestre à taxa anual de 6,6%, em agosto, a taxa de desemprego (5,2%) e o número de desempregados (8,4 milhões) ainda permanecem acima de 2020 (3,5% e 5,7 milhões, respectivamente).
17. Na América Latina a recuperação do emprego tem sido mais lenta ainda. No final do primeiro trimestre de 2021, o número de trabalhadores ocupados encontrava-se 12,3 milhões abaixo do patamar anterior à pandemia.
Economia Brasileira
Produto Interno Bruto (PIB)
1. A retração do PIB (-0,1%) no segundo trimestre de 2021 fez com que as projeções de crescimento recuassem. De acordo com as projeções do IPEA, o crescimento de 2021 ficará abaixo de 5%, bem abaixo da média mundial e latino-americana. Para 2022, as projeções de crescimento ainda se mantêm abaixo de 2%.
2. Mesmo com a leve queda do PIB no segundo trimestre, os setores construção civil, extrativista, comércio e outras atividades de serviços tiveram desempenho positivo. A indústria de transformação (-2,2) e o setor agropecuário (-2,8) tiveram os piores desempenhos no período.
3. A indústria de transformação foi prejudicada pela escassez de matérias-primas e pelo aumento dos custos (transporte e energia elétrica), enquanto a agropecuária foi afetada pelas condições climáticas adversas.
4. O consumo das famílias manteve-se estáveis no segundo trimestre de 2021. Mesmo com o retorno do auxílio emergencial, a elevação inflacionária prejudicou as famílias. Depois do resultado negativo do primeiro trimestre, o consumo do governo teve um leve aumento (0,7%).
5. O investimento teve variação negativa (-3,6%), apesar do bom desempenho da demanda da construção civil (11,2%). As importações também apresentaram taxa negativa (-0,6%) no segundo trimestre quando comparado ao trimestre anterior, enquanto as exportações vêm crescendo (9,4%).
6. Além das incertezas em relação à evolução da pandemia e ao comportamento da economia internacional, o desempenho da economia brasileira pode ser prejudicado pela crise energética; pela elevação dos juros internos; e pelo efeito negativo da crise política sobre as expectativas.
Inflação
1. Apesar do leve recuo da inflação entre julho/2021 (0,96%) e agosto/2021 (0,87%), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/IBGE) acumula uma alta no ano de 5,7%. As projeções inflacionárias para 2021 estão acima de 7,0%.
2. A elevação acumulada dos preços nos últimos doze meses foi de 9,7%. A pressão sobre a inflação não decorre de pressões de demanda que justifiquem um aperto monetário e fiscal.
3. O aumento dos preços é provocado por: pontos de estrangulamento na cadeia produtiva; desvalorização do Real em relação dólar; aumento dos preços das commodities; expressiva elevação de preços administrados, especialmente combustíveis e energia elétrica.
4. A elevação dos preços de produtos consumidos pelos pobres é muito maior do que a inflação oficial. O aumento dos preços de alimentos, por exemplo, foi mais do que cinco vezes a elevação dos preços de serviços.
Salário e custo de vida
1. De acordo com o DIEESE, em agosto, o salário mínimo para cobrir as necessidades estabelecidas pela Constituição de 1988 deveria ser de R$ 5.583,90 (1,2% acima que o mês de julho). Isso corresponde a 5 vezes o piso nacional, de R$ 1.100,00.
2. O custo médio da cesta básica entre as 17 capitais analisadas pelo DIEESE equivale a 56% do salário mínimo líquido (depois do desconto de 7,5% da Previdência Social).
3. Em agosto, o tempo médio necessário para conseguir os produtos da cesta básica foi de 113 horas e 49 minutos, correspondente a 71% de uma jornada mensal de 8 horas de trabalho diárias.
Emprego e desigualdades
1. A recuperação do crescimento não tem sido suficiente para reverter a depressão do mercado de trabalho. Ainda que o número de ocupados venha aumentando, no final do 2o trimestre de 2021, ele permanecia muito abaixo – 6,8 milhões – do verificado no 4o. trimestre de 2019.
2. Como consequência, o desemprego permanece elevadíssimo. No 2o. trimestre do ano, 14,4 milhões de pessoas encontravam-se desempregadas (14,1% da força de trabalho). Se a taxa de participação tivesse ficado no patamar anterior à pandemia, o desemprego seria de 21%.
3. A dimensão da crise de desemprego pode ser aquilatada considerando-se que 32,2 milhões de pessoas – quase 1 de cada 3 trabalhadores – encontra-se desempregada, subocupada ou fora da força de trabalho potencial. Trata-se de um contingente superior à população urbana do Canadá.
4. A população fora da força de trabalho está estimada em 74,9 milhões de pessoas. Esta população é composta, em sua maioria, por trabalhadores negros e trabalhadoras mulheres.
5. As ocupações geradas pela recuperação do crescimento são de baixa qualidade. Dos 5,3 milhões de postos gerados a partir do 4o trimestre de 2020, 4,4 milhões (83%) eram ocupações informais do setor privado, trabalhadores domésticos e trabalhadores por conta própria.
6. Os postos de trabalho gerados pela recuperação foram basicamente de trabalhadores de baixa qualificação. Como consequência, em junho de 2021, a proporção de pessoas que ganham até 2 salários mínimos aumentou de 58% em para 67% do total dos ocupados.
Desigualdades regionais
1. A recuperação das ocupações é regionalmente desigual. No 2o trimestre de 2021, Nordeste e Sudeste registraram elevação superior à média nacional quando comparada ao mesmo período do ano anterior.
2. A taxa de desemprego no segundo trimestre de 2021 foi mais intensa nas regiões Nordeste (18,2%) e Sudeste (14,5%), ficando acima da taxa de desemprego registrada no Brasil (14,1%). A região Sul registrou a menor taxa de desemprego (8,2%).
Raça, classe e gênero
1. Dados do IBGE sobre o nível de ocupação segundo a cor ou raça revela claramente que os trabalhadores negros (pretos e pardos) foram os mais atingidos pela crise da pandemia.
2. As taxas de desemprego persistem mais elevadas entre os trabalhadores negros, perpetuando uma desigualdade racial no centro da classe que vive do próprio trabalho.
3. A recuperação da taxa de ocupação em relação à população em idade de trabalhar tem sido liderada pelos homens. A proporção de mulheres ocupadas no 2o trimestre de 2021 encontra-se praticamente no mesmo nível do 1o trimestre de 2020.
4. No segundo trimestre de 2021, as mulheres registraram a maior taxa de desemprego (17,1%) entre os sexos.
Setor Elétrico
1. Mesmo na hipótese, cada vez mais remota, de ocorrência de uma hidrologia muito favorável nos próximos meses, a crise hidroenergética, que já pesa no bolso do consumidor e afeta o meio ambiente, deve se estender para 2022 e 2023.
2. O acionamento da bandeira tarifária de “escassez hídrica”, ocorrido em setembro, representa um aumento médio de 7% nas contas de energia elétrica. Mesmo assim, a ANEEL prevê um déficit na conta das bandeiras e implica aumento médio adicional de 16,7% em 2022.
3. Para evitar o apagão, o governo autorizou a entrada em operação de usinas térmicas movidas a Diesel, um dos combustíveis mais caros e poluentes do planeta.
4. Os custos com a importação de energia elétrica e com o acionamento de térmicas serão repassados ao consumidor pelas bandeiras tarifárias e pelo reajuste anual das distribuidoras de energia elétrica, que deve ocorrer em 2022.
5. O acionamento das Térmicas e a importação de energia elétrica possuem custo variável superior a R$ 2 mil/MWh, enquanto hidrelétricas da Eletrobrás custam R$60/MWh – uma diferença de 33,33 vezes.
6. A crise também afetará duramente a população do entorno das usinas e o meio ambiente nos próximos anos. A recuperação dos reservatórios de água das hidrelétricas, que em muitos casos está abaixo dos 20% de sua capacidade, não deve ocorrer em prazo inferior a 3 ou 4 anos.
7. Com a criação da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG), instituída pela MP 1.055/21, o governo retirou poderes do IBAMA e da Agência Nacional de Águas (ANA).
8. O objetivo é que o uso das águas privilegie a geração de eletricidade, em detrimento dos demais usos (como abastecimento, irrigação e navegação) e do meio ambiente.
9. Chamadas pelo governo de “flexibilização das restrições operativas das hidrelétricas”, as medidas já apresentam impactos ambientais na bacia do Rio Paraná. A flexibilização de restrições impostas pelo Ibama afeta a preservação de peixes e a piracema.
Seria interessante um parágrafo ou dois de conclusão, fechamento da análise. E que inclusive apontasse algumas questões a serem enfrentadas, a partir da análise, no processo de enfrentamento político (caminhos de mobilização, bandeiras de reivindicação e programa alternativo, impactos eleitorais e perspectivas de construção de processos de mudança – sempre o horizonte socialista). Esta claro que a proposta é trazer os elementos de conjuntura econômica mensal, mas um breve fechamento que os colocasse em perspectiva acho que contribuiria com o debate.
Obrigado pela ótima sugestão. Vamos tentar incorporar nos próximos boletins, na medida que a nossa limitação de pessoal e tempo de discussão nos permita.