Cortina de fumaça para o caos

Imagem retirada do clip: https://www.instagram.com/tv/CFHwydrABYW/?utm_source=ig_embed

Com mais de um ano de PANDEMIA de COVID-19, o Brasil vive um momento dramático. As novas variantes do vírus se espalham com velocidade inédita, os sistemas de saúde ensaiam colapso, faltam vacinas, oxigênio, kits para intubação, profissionais, falta auxílio econômico para a população mais vulnerável, famílias passam fome. Não há governo. Em resumo: rumamos a passos firmes para o caos sanitário e social! Em meio a tudo isso voltamos à uma discussão do ano passado: o futebol tem que parar…

O Campeonato Paulista é até o momento o primeiro a parar, para protesto da Federação Paulista e Clubes. Não é pra menos, o Estado de São Paulo vive um momento dramático e a despeito de seu “gigantismo” se transforma rapidamente em uma “Manaus” de proporções homéricas. Alguns clubes ensaiaram uma debandada, e por pouco não tivemos o primeiro “Campeonato Paulista no Rio de Janeiro”. A ideia mirabolante só não se concretizou pois o próprio Rio de Janeiro não está em situação melhor, e já se fala concretamente em paralisar o “Cariocão 2021”.

Os clubes e as Federações resistem à parada. Destacam que fazem muitos testes, que têm um tal de “protocolo”1, e afirmam que aprenderam a lidar com a doença em 2020. Na Mídia esportiva o único argumento “válido” para aqueles que ainda defendem a manutenção dos campeonatos estaduais é a insistência que o Futebol deve ser tratado como “um negócio”, “gerido como uma empresa”, como argumentam comentaristas esportivos desde a década de 90, isso em um momento em que até mesmo os banqueiros e economistas mais conservadores assinam manifesto em defesa do Lockdown!2

Os campeonatos estaduais poderiam optar por “bolhas” como aconteceu com a NBA, nos EUA, e com a Libertadores Feminina, que acaba de ser vencida pela aguerrida equipe da Ferroviária de Araraquara3, que bateu na final a equipe do América de Cali, as equipes se concentraram na capital argentina e evitaram espalhar o vírus em suas viagens. Seria uma solução possível dentro de um estado. Por que não adotar esse modelo?

O cúmulo do absurdo é a manutenção da Copa do Brasil, como bem frisou o Lisca, que de doido não tem nada. Por mais democrática que seja a competição, com 80 clubes, clubes grandes e pequenos de todo o país, etc…. não dá pra manter uma competição que movimenta centenas de pessoas por todos os aeroportos. E, no entanto, ela continua, com jogos estranhos4 como entre Marília e Criciúma no Espírito Santo. A ideia que os Clubes e Federações nos passam é que como em um bom circo, o “show” tem que continuar…

Muitos argumentam olhando para a Europa, onde os campeonatos estão de vento em popa. Mas o fazem esquecendo-se das inúmeras diferenças entre o momento da pandemia lá e aqui. Somos hoje simplesmente o epicentro da Pandemia! Batemos a cada dia recordes de novos casos, surgem por aqui livremente mais e mais variantes, não temos ministro da Saúde e excrementíssimo ocupante do Planalto é um GENOCIDA! Dá pra comparar com qual país da Europa? (sem contar o subdesenvolvimento, e nossa Reversão Neocolonial).

Todos sabemos que há forte pressão do governo federal para a manutenção dos jogos, que nesse caso funcionam como cortina de fumaça para o caos instalado em nossos sistemas de saúde. Mas há quem argumente que esta “distração” ajuda a suportar o isolamento, para aqueles que conseguem o fazer, há também quem argumente que não basta parar o futebol enquanto assistimos a ônibus, trens e metrôs lotados dia a dia, quando vemos centenas de trabalhadores por aplicativo se aglomerando por uma entrega e cruzando as cidades em velocidade frenética em busca de uma boa avaliação. Temos até aglomeração para tomar a vacina! Um ano depois do começo da Covid está tudo errado no Brasil, no esporte como na vida. Não há saída que não passe pela deposição de Bolsonaro! Não podemos esperar 2022. A contradição é justamente essa. Como fazer isso assistindo “da arquibancada”? Como fazer isso sem tomar as ruas e pedir pelo impeachment de Bolsonaro? Chegamos em Março de 2021 ao seguinte impasse: por um lado, temos que fazer isolamento social e, por outro, temos que tomar as ruas para derrubar Bolsonaro! Se ficarmos “distraídos” corremos o risco de não fazer nenhuma e nem outra coisa.

Referências

  1. Covid-19 deixa rastro de vítimas no futebol brasileiro, enquanto dirigentes pressionam por volta da torcida, ver: https://brasil.elpais.com/esportes/2021-01-23/covid-19-deixa-rastro-de-vitimas-no-futebol-brasileiro-enquanto-dirigentes-pressionam-por-volta-da-torcida.html
  2. Economistas assinam carta pedindo efetividade no combate à covid, ver: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,economistas-assinam-carta-pedindo-efetividade-no-combate-a-covid,70003655345
  3. Ferroviária bate América de Cali e é bicampeã da Copa Libertadores Feminina ver: https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol-feminino/2021/03/21/noticia_futebol_feminino,3907856/ferroviaria-bate-america-de-cali-e-e-bicampea-da-copa-libertadores-feminina.shtml
  4. 2 mil km e 36h de ônibus: Marília roda por três estados para jogar pela Copa do Brasil, ver: https://globoesporte.globo.com/sp/tem-esporte/futebol/times/marilia/noticia/mudancas-nos-locais-de-jogo-pela-copa-do-brasil-fazem-marilia-viajar-por-tres-estados-em-menos-de-48h.ghtml

Hélio Ázara de Oliveira

Doutor em Filosofia pela UNICAMP, professor de Filosofia, lateral do Ponta Firme FC (time de futebol amador de João Pessoa-PB).

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