Acordamos hoje com a triste notícia da partida de Danilo Carneiro, o Nilo do Araguaia. Danilo não foi só um ex-guerrilheiro, foi sindicalista eletricitário, rompeu com o PCdoB no fim dos anos 70 e começou a atuar no PRC. Nos últimos anos, reivindicava-se militante do Grupo Torura nunca Mais do Rio de Janeiro.
Tive a honra de viver muitos anos com a sua presença. Era um ávido professor, falava pelos cotovelos, sempre ensinando e sempre muito paciente com perguntas. Era impossível não gostar de ouvi-lo falar. Lembro uma vez que o entrevistei e disse: “Danilo, o vídeo vai ter 3 minutos.” Ele falou por 30, mas parece que foram 10.
Danilo me ensinou coisas que não se aprendem facilmente:
Na escola, aprendemos que a guerrilha atuava pela democracia, coisa em que a esquerda ainda acredita. Danilo me falou: “você acha que eu ia perder tudo que perdi pela democracia burguesa? Lutei pelo socialismo!”
Falava sobre a importância da organização e da paciência histórica. “Marinho (como me chamava, mesmo eu o tendo corrigido por anos), nenhuma organização é perfeita. Todas precisam ser construídas.”
Falou-me muito e lembro de chorar litros quando ouvi o que fizeram com ele quando ele foi capturado. Para se ter uma ideia. “Eu estava sendo arrastado, amarrado, atrás de um jipe. O jipe atolou, usaram minha cabeça para desatolar o jipe, lembro de sentir a roda girando na minha cabeça”. Esse é um dos relatos, mas feito com a emoção de um senhor franzino, de setenta e muitos anos, que tinha enormes problemas de saúde por conta do que sofreu nas mãos dos Estado burguês.
Por fim, Danilo me ensinou o conceito de retaguarda, que na verdade é que cada um tem seu papel. Ele falava: “já não tenho mais idade para ser a vanguarda revolucionária, estou mais para rede de apoio”.
Ele gostaria que lembrassem que ele brigou com o Lula porque o grupo do Lula entregou uma greve grande de eletricitários nos anos 80, no RJ.
Ele ia a todas as manifestações de rua que podia em Florianópolis. Era uma referência na UFSC, em especial dentro do IELA.
Danilo nos deixou aos 80 anos – exatamente no dia da Revolução Cubana, da Revolução Haitiana e do Levante Zapatista -, junto com um vazio que podemos tentar traduzir como a perda de um dos nossos nossos verdadeiros heróis. Danilo foi um daqueles que dedicou sua vida à liberdade da nossa classe.
Danilo, Presente!
Marino Mondek