Debate com a esquerda do PSOL

MES, COMUNA e APS deveriam encabeçar um polo consequente contra a Aliança,

Na última reunião do DN do PSOL (https://cutt.ly/qfUySOZ), foi aprovada a política de frente ampla, que permite as coligações eleitorais com partidos como PT, PCdoB, PDT, PSB e Rede. Uma expressão dessa política é a chapa formada em Belém onde Edmilson, mais importante liderança do PSOL no Pará, vai estar coligado com PT, PCdoB e o PDT com a direção majoritária do PSOL se eximindo, até agora, de fazer críticas públicas ao governo Helder Barbalho (MDB), cuja composição conta com o PT e PCdoB. Essa política também se reflete em cidades como Recife e Campinas onde o PSOL vai apoiar as candidaturas do PT.

Felizmente em capitais como São Paulo, BH e Rio de Janeiro, a direção do PSOL não conseguiu concretizar essas coligações, embora tenha se esforçado para tal. Isso coloca a oportunidade de debater como atuar nacionalmente para construir uma alternativa de independência de classe em nosso país. O PSOL com Boulos, Renata e Áurea poderia batalhar por uma outra política, de esquerda e socialista. Porém a direção do partido mantém a política de parceria e atuação comum com os lulistas, como em MG, onde dirigentes do PT estiveram na convenção do PSOL BH. Ou seja, um caminho que leva a uma ausência de diferenciação e crítica e, consequentemente, abandona a postulação de uma nova alternativa de esquerda.

Unificar as forças que não integram o campo majoritário

Diante desse quadro, nós da CST junto ao Bloco Radical temos travado esses e outros debates. Nos fóruns e instâncias do PSOL, temos defendido a necessidade de unificar os setores críticos e de oposição à atual maioria da direção, hoje o setor denominado “PSOL de Todas as Lutas” (Primavera, Resistência, Insurgência e Subverta). Propomos, há muito tempo a unidade com MES, APS, COMUNA, e outras forças como a Revolução Brasileira, Esquerda Marxista e CS. É necessário construirmos juntos uma verdadeira oposição no partido que lute contra esse curso de domesticação e conversão a um novo partido da ordem, hoje, expressa na política de frente ampla e de parceria com o PT conduzida pela maioria da direção do PSOL. Porém, até agora, isso não ocorreu.

Devemos retomar o caminho iniciado em SP. Um bom exemplo desse combate se deu nas prévias da principal capital do país, onde a pré-candidatura de Sâmia, do MES, polarizou o partido com o apoio da APS, COMUNA, CST e diversos filiados independentes vinculados aos núcleos de base da cidade, expressando essa batalha contra o curso imposto pela maioria da direção, em defesa de um PSOL militante que não seja linha auxiliar do petismo. Esse processo mobilizou a militância e impôs a realização de prévias na capital paulista. Posições que seguimos defendendo.

Devemos batalhar contra o silêncio em relação aos governos estaduais. Essa mesma postura de não ser oposição ao governo central e regional já tinha sido tomada quando Clécio se elegeu prefeito em Macapá pelo PSOL e disse que não seria um front de oposição ao governo federal. Passados 8 anos, a prefeitura de Clécio ajudou a eleger Alcolumbre ao Senado, se aliou às oligarquias regionais, depois os principais dirigentes da ala majoritária romperam com o PSOL e agora estão alinhados diretamente com a direita clássica.

Construir um polo consequente contra a ala majoritária

Entendemos que para essa batalha, os companheiros do MES, que possuem peso no partido, com três deputados federais e diversos outros parlamentares, poderiam cumprir um papel decisivo encabeçando essa oposição, mas infelizmente no DN defenderam a possibilidade de alianças amplas sob determinadas condições: “possibilidades de exceção onde haja deslocamento de setores da oposição”. Nos estados e municípios os camaradas do MES em muitos casos coincidiram com o campo majoritário na política de alianças. Em Belém, defenderam as alianças com PT, PCdoB e PDT e propuseram ampliar ainda mais. Em Belo Horizonte, se abstiveram na votação que encaminhou coligação com o PT e PCdoB, que felizmente fracassou. No Rio, retiraram a candidatura de David Miranda para apoiar a candidatura de Renata Souza que tinha como eixo fechar uma chapa com Benedita da Silva do PT e antes haviam votado na resolução que autorizava coligação inclusive com PDT e PSB. Em São Gonçalo-RJ, estão coligados com o PCdoB que tem o candidato a prefeito. Abriram mão de lançar a principal figura pública que tem na cidade, em troca de apoiar o PCdoB a prefeito em função das pressões de legenda, visando um posto de vereador. Abdicam, assim, da construção de um polo independente por pressões eleitorais.

Um dos argumentos do MES em vários estados era de que essa frente ampla era pra “derrotar o Bolsonarismo”, porém nem PT e nem PCdoB tem disposição de enfrentar de forma radical a extrema direita. Em algumas cidades, o PCdoB se coliga até mesmo com o PSL. No parlamento, o PCdoB e parlamentares do PT votaram a favor do perdão das dívidas do fundamentalismo religioso que é base de apoio do Bolsonarismo.

Também entendemos que os companheiros da APS e da COMUNA, que estão atuando como bloco nos últimos diretórios, devem contribuir com essa luta que vai seguir no partido. Mas infelizmente, em nível nacional ainda não foi possível configurar com eles um polo real de oposição. Na resolução que apresentaram no último diretório nacional, defenderam, com algumas restrições, a possibilidade de alianças eleitorais com o PT e PCdoB: “a possibilidade de coligação ou apoio a candidatos do PT ou do PC do B só pode ser avaliada em casos muitos específicos”, sendo que em Belém a APS defendeu a coligação com PT e PCdoB, coincidindo, fundamentalmente, com a ala majoritária. 

Esses companheiros dizem que não aceitariam as coligações onde o PT e PCdoB compusessem o governo. Porém, em Belém aceitaram a coligação com o PT e PCdoB num estado onde esses partidos integram o governo Helder Barbalho (MDB). Entendemos que essas posições debilitam a perspectiva de fortalecer uma oposição que dispute os rumos do PSOL e mude o atual curso imposto.

Fortalecer o Bloco Radical do PSOL

Desde 2018, estamos conformando o Bloco da Esquerda Radical, tendo como referências Plínio Jr, Renato Cinco, Babá e grupos como CST, LS, LRP, AS, SoB, GAS e PSOL Pela Base. Para fortalecer a batalha dentro do PSOL, nós da CST seguimos defendendo a unificação das correntes de esquerda e da militância combativa contra a política de colaboração de classes da direção majoritária do partido. Há forças mais à esquerda com as quais seria fundamental atuar em conjunto. Os companheiros do Revolução Brasileira, por exemplo, apresentaram posições corretas contra a frente ampla no DN, porém terminaram se abstendo na votação, o que foi um equívoco. Já os companheiros da CS, que chegaram a construir resoluções do Bloco Radical até alguns meses atrás, agora se posicionaram junto com a Resistência, defendendo resolução de tática eleitoral com alianças com o PT e PCdoB. Entendemos que essas forças precisam rever essa posição e ajudar o Bloco da Esquerda Radical a fortalecer uma batalha de forma mais coesa e forte contra o curso de liquidação do PSOL enquanto alternativa de esquerda e socialista.

A crise do capitalismo poderá acirrar a luta de classes, portanto, começar a construir um polo de independência de classe é uma necessidade. Nenhuma organização da esquerda tem influência sozinha para ser esse ponto de atração, por isso, a unidade em torno de um programa anticapitalista e contra o setor majoritário do PSOL é importante. Seguimos defendendo a necessidade de construir um polo alternativo, o que transcende o tema eleitoral e não está amarrado às coligações. 

Por isso seguimos explicando que a esquerda socialista precisa construir uma nova direção para a classe trabalhadora e os setores populares, construir uma Frente de Esquerda e Socialista nacional, com PSOL, PCB, UP, PSTU, contra a conciliação de classes das direções do PT e PCdoB. O PSOL não foi fundado para ser um “puxadinho” do PT e sim para se postular como uma verdadeira alternativa de esquerda e socialista. O exemplo da FIT-U na Argentina demonstra que é possível avançar na construção de uma alternativa no terreno das lutas e também das eleições.

Danilo Bianchi

Professor de história, militante da CST.

Um comentário sobre “Debate com a esquerda do PSOL

  • 18 de setembro de 2020 at 11:40 pm
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    bom saber que a ala esquerda já está tentando se unir contra a direitização do partido
    mas é uma lástima que isso somente ocorra em vespera de eleição

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