Foi o Brasil que perdeu

A provação da independência do Banco Central pelo Senado Federal revela a estreita subordinação do governo às pressões do grande capital que há anos procura transformar a independência de fato do Banco Central – já existente – em uma independência de jure. Trata-se de mais uma contrarreforma destinada a aprofundar o neoliberalismo no Brasil.

Para o leigo, que não tem a menor obrigação de entender os labirintos da macroeconomia, a independência do Banco Central pode parecer uma questão secundária que deveria ser relegada aos especialistas em economia monetária. Não é. Como guardião da moeda nacional, o Banco Central estabelece as condições de acesso dos capitalistas e do Estado à moeda nacional e às divisas internacionais. Funciona como o quartel general do capitalismo.

As decisões das autoridades monetárias são cruciais na determinação das taxas de juros e de câmbio; no condicionamento da oferta de crédito; no estabelecimento das condições de pagamento das dívidas privadas e públicas; na defesa das reservas internacionais; na inibição de manobras especulativas que colocam em risco a solidez do sistema financeiro; na definição da relação de preços entre o país e o resto do mundo. Em outras palavras, o Banco Central é uma instituição-chave que permite ao poder público arbitrar a concorrência intercapitalista.

Ceder a independência do Banco Central às “forças do mercado” significa simplesmente renunciar à soberania do povo sobre os rumos da política econômica – uma usurpação de poder que fere a essência do regime republicano. Trata-se de uma medida inaceitável que aprisiona o futuro no passado, fechando as portas para qualquer tipo de política econômica alternativa aos imperativos do capital.

Plínio de Arruda Sampaio Junior

Professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp. Autor do livro Crônica de uma Crise Anunciada: crítica à economia política de Lula e Dilma.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *