Greves sacodem o início do ano

Em menos de 2 meses uma série de greves e paralisações explodiram no país. Trabalhadores da DATAPREV, da educação de Minas Gerais e Piauí, Casa da Moeda e a poderosa greve dos petroleiros mostraram a força da mobilização da classe trabalhadora. Para ampliar esse quadro as duas federações dos trabalhadores dos Correios (FENTECT e FINDECT) marcaram uma greve para o dia 3 de março. Só em 2020 já foram registradas 74 greves em todo o país. Apesar da força de muitas greves, a burocracia sindical, sobretudo a vinculada à CUT, buscou desmontar a mais importante greve desse ano que foi a dos petroleiros.

Petroleiros fizeram sua maior greve desde 1995

Durante 20 dias, a forte greve petroleira defendeu a Petrobras, combateu as privatizações, denunciou as demissões e o fechamento da fábrica de fertilizantes no Paraná FAFEN-PR, e enfrentou Bolsonaro, Guedes e o seu plano de desmonte da maior empresa pública do país.

Em número de setores da empresa paralisados, essa greve só é comparável à greve de 1995. A força da greve chegou ao ponto de romper o bloqueio da mídia e durante alguns dias se tornar o principal fato da conjuntura nacional. A mobilização levou o governo e a justiça a tentarem criminalizar o movimento. Foi completamente absurda a resolução do TST de declarar a greve ilegal, além de impor multas milionárias aos sindicatos.

Porém, além da justiça, do governo e da grande imprensa, que atacaram a greve o quanto puderam, os trabalhadores ainda tiveram pela frente um obstáculo: a direção majoritária do movimento sindical petroleiro, vinculada à FUP (Federação Única dos Petroleiros), que é dirigida pela CUT e foi responsável pelo desmonte prematuro da greve. As ameaças de repressão da justiça e demissões foram enfrentadas com a unificação das bases; a medida de ilegalidade da greve foi respondida com o crescimento do movimento e um forte ato nacional nas ruas do RJ. O movimento crescia e estava atingindo quase a totalidade das plataformas. Porém, a saída da greve do sindicato da FAFEN, em meio a um acordo parcial de suspensão temporária das demissões, e posterior orientação de fim da greve por parte da cúpula da FUP (corrente Articulação Sindical/PT), foi o fato objetivo que pesou nas assembleias de base. Um operário leitor de nosso jornal, numa refinaria do RJ, resumia o tema assim: “quando o pessoal da FUP orienta sair da greve eles saem mesmo e eu não vou ficar sozinho”. Infelizmente, esse desmonte, enquanto o movimento estava forte, foi apoiado por setores como a Resistência-PSOL e PCB. Além disso, foi aceito um acordo rebaixado, que mantém o fechamento e as demissões da FAFEN-PR. Apesar da política errada de sua direção, essa greve foi um exemplo de mobilização e força no principal setor da classe trabalhadora. Mostrou também que os próximos planos do governo Bolsonaro de vender as refinarias podem sofrer bastante resistência. A base suspendeu a greve e voltou ao trabalho de forma unificada e está tirando conclusões, e possivelmente pode se manifestar novamente mais adiante. Uma nova camada de ativistas se testou e teve seu batismo de fogo nessa greve, e uma parte deles testou algumas lideranças e dirigentes, comprovando que dentro do movimento sindical também há adversários e obstáculos a serem enfrentados.

Exigir das centrais a unificação das lutas e ao calor das mobilizações construir uma nova direção para o movimento sindical

As centrais sindicais (CUT, CTB) as confederações e as federações e os sindicatos de base devem construir atividades unificadas para derrotar o governo Bolsonaro. Infelizmente, a cúpula das centrais não vem cumprindo esse papel.

A greve dos petroleiros era a oportunidade de potencializar essa política e foi desperdiçada com o desmonte da greve por parte de uma federação da base da CUT.

O alerta da greve petroleira deve estar presente sempre, é preciso superar a política conciliadora e entreguista das direções majoritárias do movimento sindical e ao calor das lutas construir uma nova direção. O resultado da greve petroleira já poderia ter sido bem maior se a política das direções do movimento fosse de seguir a greve e unificar com outras categorias.

A partir da CSP-Conlutas impulsionamos a Corrente Sindical Combate para dar a batalha por um novo sindicalismo antiburocrático, que surja ao calor das lutas e supere a atual direção majoritária do movimento sindical, que na greve petroleira e em outros tantos momentos mostrou que não está à altura da luta que temos que fazer contra o governo Bolsonaro e a patronal.

A conjuntura de greves demonstra que existe disposição de luta, e que deve ser melhor aproveitada para colocar os trabalhadores nas mobilizações e avançar na construção de uma greve geral que barre de vez o ajuste fiscal do governo e do congresso e o autoritarismo da extrema direita. É fundamental que a direção da CUT, CTB, Força Sindical, CGT e demais centrais, federações e confederações avancem nessa política colocando a necessidade de continuidade do calendário após o dia 18 de março convocando urgentemente uma nova greve geral no país.

Adriano Diaz e Diego Vitello.

Adriano Diaz

Trabalhador cipista dos correios no Rio de Janeiro, militante do Combate e da CST.

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