Começamos mais um semestre acadêmico imersos num contexto terrível dentro e fora da Universidade. Não podemos nos alienar deste cenário, trabalhando como se nada houvesse, porque ele diz respeito direto a nossa vida e nosso cotidiano na universidade, no presente e no futuro. As ameaças à vida, à democracia e à educação não vêm apenas de Brasília, mas estão aqui dentro, porque Bolsonaro tem um interventor na reitoria da UFPB.
No Brasil estamos sob o jugo de duas grandes catástrofes, ambas humanitárias e políticas: a pandemia de Covid-19 e o governo autoritário de Jair Bolsonaro. Ambas se encontram para enterrar mais de meio milhão de mortos no Brasil. A pandemia no país não é apenas uma catástrofe humanitária, mas também político-econômica em função da sua deliberada escassez: vacinas, testes, leitos hospitalares, empregos, e o mais elementar, alimentação para milhões de brasileiros/as empurrados para a fome. A condução da crise pelas elites econômicas/políticas do país criou um falso antagonismo entre o controle da pandemia e a economia, desestimulando o isolamento social. A redução do auxílio-emergencial e a ausência de uma política nacional de retomada do crescimento, pautada na geração de emprego e renda, aprofunda o desalento da população. Este quadro devastador foi agravado por ações fisiológicas e oportunistas reveladas na CPI da Covid no Senado, envolvendo indícios consistentes de ações criminosas na estrutura do governo e da sua base de apoio. A demora na aquisição de vacinas, para além do negacionismo, se relaciona a tratativas espúrias, em desfavor da população, bem como da preservação do interesse público.
E aqui na UFPB? Iniciamos agora nosso quarto semestre letivo remoto igualmente sob dois jugos, ambos insuportáveis: a pandemia e a intervenção. Já se passaram 3 semestres do ensino remoto e a constituição de uma atmosfera de pseudonormalidade escamoteia as condições de adversidades enfrentadas por professores/as, técnicos-administrativos e por estudantes. Estes, o segmento mais vulnerável, diante da piora das condições de vida e sobrevivência da população brasileira.
Quais diagnósticos temos desses períodos que possam orientar iniciativas pedagógicas e administrativas para atender as demandas da comunidade acadêmica, em especial os estudantes que necessitam de políticas de assistência? Como uma comunidade acadêmica pode abrir mão da apresentação clara e transparente da condição concreta das matrículas, abandono, adoecimento de alunos e professores? Qual a situação orçamentária da UFPB diante do sistemático estrangulamento de recursos promovidos pelo governo Federal? Há condições para conclusão do semestre? Haverá condições para retomada presencial das atividades no próximo ano, em observância aos protocolos de biossegurança impostos pela pandemia?
Por outro lado, não faltam coerções: coerção do direito constitucional de liberdade expressão e opinião, de associação política e de manifestação (como a cobrança espúria das entidades representativas ilustra). Não faltam questionários enviados via sistema, que não nos permitem expressar críticas ou contribuir verdadeiramente com um debate aberto e franco. Não nos faltam ameaças, como no caso da mensagem do dia 03 de julho da STI, que menciona suposta denúncia feita pela Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR). Ao contrário de chamar a comunidade para ampla discussão do problema e busca de soluções coletivas (a própria nota reconhece a dificuldade de acesso a materiais por estudantes), incita professores e alunos a fazer denúncias, além de ameaçar os professores com punições.
Não nos falta a hipocrisia de uma gestão que ao mesmo tempo em que nos pede respostas para uma pesquisa sobre integridade pública, mantém um interventor na cadeira na reitoria. Não nos falta controle e perseguição, expressos por meio de processos administrativos, judicialização de conflitos político-acadêmicos e resoluções descabidas, como aquela da retirada autoritária do UniVERciência, intervenção na ouvidoria e convênio com a Universidade de Belarus, que tem perseguido professores e estudantes, enquanto universidades do Brasil e do mundo fazem o contrário em resposta à repressão.
Também não pode nos faltar coragem para lutar contra Bolsonaro no Brasil e na reitoria da UFPB. Não podemos normalizar essa situação porque ela se reflete diretamente na qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão. Não podemos normalizar essa situação porque ela se reflete na nossa saúde mental e física. Não podemos normalizar essa situação porque ela incide diretamente na sobrevivência da universidade pública, gratuita e de qualidade. Mas, o mais importante, não podemos normalizar essa situação porque ela se reflete nas condições de vida e permanência das/os nossas/os estudantes, principalmente quanto aos mais vulneráveis, razão fundamental pela qual nos tornamos professoras e professores.
Até quando vamos normalizar o inaceitável?!
Precisamos fortalecer o COMITÊ CONTRA A INTERVENÇÃO NA UFPB (@comiteautonomiaufpb), construído por entidades representativas, movimentos, coletivos e indivíduos.
Unidos na luta, a comunidade da UFPB restabelecerá a democracia na UFPB.
Para defender a ciência, a educação e a vida, chega de intervenção!
É URGENTE acabar com esta intervenção e com este governo genocida que ela representa!
#ForaBolsonaro-Mourão
#ForaValdiney-Liana