Não esqueceremos!

No dia 8 de fevereiro de 2019 o país assistia em choque as notícias do incêndio no “Ninho do Urubu”, centro de treinamento do Flamengo onde dormiam 26 garotos entre 14 e 17 anos. Foram ao todo três feridos e dez mortos. Athila Souza Paixão, 14 anos,  Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, 15 anos, Bernardo Pisetta, 14 anos,  Christian Esmério, 15 anos, Gedson Santos, 14 anos, Jorge Eduardo Santos, 15 anos, Pablo Henrique da Silva, 14 anos, Rykelmo de Souza Viana, 17 anos, Samuel Thomas Rosa, 15 anos, Vitor Isaías, 15 anos. 

Como em tantos outros casos de crimes desta natureza, houve comoção, manchetes de jornais, alguma repercussão, mas nada de Justiça, ainda. Passados dois anos, o Ministério Público denunciou onze pessoas, entre prestadores de serviço, funcionários e o ex-presidente do clube Eduardo Bandeira de Mello. O julgamento não começou. O Flamengo fez um acordo de indenização com oito famílias. Duas não aceitaram. 

Como destacou o jornalista Mauro Cezar Pereira, as famílias foram vencidas pelo cansaço1. O atual presidente do clube tem, aliás, experiência naquilo que chamam de “gestão de crise” e que consiste em vencer pelo cansaço aqueles que pedem justiça. Quando esteve à frente da Petrobras ele já utilizou a mesma “técnica” de protelação, de “vencer pelo cansaço”. Em 2000 um vazamento de petróleo na Baía da Guanabara afetou milhares de pescadores, Landim, então diretor da estatal, esteve à frente das “negociações”, o que equivale a dizer que “enrolou” os pescadores o quanto pôde (até hoje não foram pagas as indenizações) e muitos dos pescadores até faleceram e suas famílias ficaram a ver navios. O que aconteceu com Landim? Foi promovido2, por defender os interesses da companhia e fez muitos amigos, incluindo Dilma Roussef, então ministra de minas e energia. O canalha está usando a mesma técnica novamente e aposta na impunidade, esse patrimônio tão estável das elites brasileiras. 

A postura de Landim e demais dirigentes do Flamengo envergonha sua torcida e provoca um ódio mortal dos torcedores de outros times, como é compreensível, mas o triste nessa história é perceber que no Brasil casos assim são normalizados, esquecidos ou lembrados como um “trunfo esportivo” contra o time rival, numa demonstração de desumanidade que é de fazer inveja a “Landins”… É certo que nada vai amenizar a dor das famílias e qualquer discussão em torno de valores beira o escárnio. Mas é preciso gritar por JUSTIÇA! Ainda mais nos país de Brumadinho, de Mariana, onde os poderosos contam com o tempo e a morosidade dos tribunais e não sei quantas instâncias a que recorrer. 

Passados dois longos anos do incêndio que vitimou 10 garotos do Ninho, é preciso que a torcida exija dos dirigentes uma mudança de postura nas negociações com as famílias! É preciso que os culpados sejam julgados e punidos! É imperioso não esquecer, pois o esquecimento é a arma dos poderosos contra as vítimas. Nós não esquecemos!

Referências

  1. – Vencida “pelo cansaço”, família de garoto do Ninho aceita acordo com o Fla – https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/mauro-cezar-pereira/2020/06/09/vencida-pelo-cansaco-familia-de-garoto-do-ninho-aceita-acordo-com-o-fla.htm
  2. Rodolfo Landim, o cartola novo que já nasceu velho – https://brasil.elpais.com/brasil/2019/12/06/deportes/1575659190_636564.html

Hélio Ázara de Oliveira

Doutor em Filosofia pela UNICAMP, professor de Filosofia, lateral do Ponta Firme FC (time de futebol amador de João Pessoa-PB).

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