Notas sobre a conjuntura econômica JULHO 2021

Economia Mundial

1. Condicionado pela imunização em massa contra o coronavírus e pelo expressivo aumento dos gastos públicos dos países centrais, sobretudo dos Estados Unidos, a economia mundial registra vigorosa recuperação do crescimento.

2. O Banco Mundial prevê expansão de 5,6% da economia mundial em 2021. A recuperação será liderada pelo aumento da economia chinesa (8,5%) e norte-americana (5,4%). Mesmo assim, o PIB mundial ficará 3,2% abaixo da tendência anterior à eclosão da pandemia.

3. A recuperação da economia mundial é desigual entre as regiões. O crescimento das economias subdesenvolvidas, sobretudo o das regiões mais pobres, será medíocre.  Espera-se que 100 milhões de pessoas se somem ao contingente populacional em extrema pobreza em 2021.

4. Puxada pela forte expansão de 8,3% no comércio internacional, provocada em grande medida pelo aumento especulativo dos preços das commodities agrícolas e minerais, a América Latina deve crescer 5,2% em 2021 – um pouco abaixo da média mundial.

5. A recuperação conjuntural da economia mundial não significa o fim do espectro da recessão nem muito menos uma expansão sustentável do crescimento. O aparecimento de cepas de coronavírus resistentes às vacinas, o aumento dos juros norte-americanos e o risco de instabilidade financeira são ameaças à recuperação da economia mundial. 

6. A vigorosa recuperação da economia mundial não significa o fim do desemprego nem a diminuição das desigualdades sociais. Nos Estados Unidos, em junho de 2021, a geração de emprego (em torno de 15 milhões de postos) ainda estava muito aquém do necessário para repor os mais de vinte e dois milhões de empregos perdidos no início da pandemia.

7. Os mais ricos têm aproveitado a pandemia para ficar ainda mais ricos. Enquanto os trabalhadores sofriam uma devastadora deterioração nas condições de vida, a riqueza dos bilionários norte-americanos praticamente dobrou, passando de US$ 2,9 a 5,5 trilhões, nos treze primeiros meses da crise sanitária.

8. Em abril de 2021, a riqueza dos 719 norte-americanos mais ricos era superior à dos 165 milhões de seus compatriotas mais pobre. https://inequality.org/great-divide/updates-billionaire-pandemic/

11. A desigualdade social está incrustada na estrutura tributária do neoliberalismo. Nos Estados Unidos, entre 2014 e 2018, enquanto o imposto de renda efetivo de quem ganha a renda média (de US$ 70 mil por ano) era de 14%, os quatro homens mais ricos pagavam apenas 1,4% em média.

Economia Brasileira

1. A vigorosa recuperação do comércio internacional impulsionou o crescimento da economia brasileira. No primeiro trimestre de 2021, o PIB alcançou o patamar do final de 2019. A expectativa é que a expansão anual fique em torno de 5%.

2. Puxada pelo expressivo aumento das exportações, sobretudo de produtos agrícolas e minerais, o crescimento será insuficiente para recuperar as perdas dos últimos oito anos. Em outras palavras, no final de 2021, a produção brasileira estará no nível de 2014.

3. O desempenho do setor exportador brasileiro é impulsionado pela China – a locomotiva das commodities. Em 2020, ¾ de todo grão de soja e minério de ferro exportado no mundo desembarcou no território chinês; além de aproximadamente metade do petróleo bruto e da carne bovina congelada. 

4. Esses 4 produtos ligados ao agronegócio – soja, minério de ferro, petróleo e carne bovina – representaram 80% de tudo que o Brasil vendeu à China em 2020, representando 1/3 das nossas exportações. Por outro lado, importamos uma gama de produtos intensivos em tecnologia, como celulares (e acessórios), semicondutores e circuitos eletrônicos.

5. A recuperação do PIB brasileiro é frágil e pode ser abortada a qualquer momento. Entre os fatores de risco, destacam-se o recrudescimento da pandemia de coronavírus; a crescente ameaça de uma crise energética; o aumento da taxa de juros norte-americana e o risco de crises financeiras internacionais.

6. O maior dinamismo da economia não tem sido suficiente para recuperar o mercado de trabalho. No primeiro trimestre de 2021, as taxas de desemprego (14,6% – 14,8 milhões), de desalento (5,9% – 6 milhões) e subutilização do trabalho (8,2% – 7 milhões) continuam batendo recordes.

7. O custo de vida continua corroendo o salário do trabalhador. Em abril de 2021, pesquisa do Dieese mostra que em 7 das 17 principais capitais, a cesta básica de alimentos sofreu um reajuste de quase 20% nos últimos doze meses.

8. As negociações coletivas não têm conseguido repor as perdas salariais com a inflação. O Dieese aponta que, em 2021, quase 2/3 dos reajustes salariais têm sido abaixo do INPC e apenas 13% acima da inflação.

9. A crise do coronavírus tem aumentado a pobreza e a desigualdade social. Pesquisa da FGV aponta que no primeiro trimestre de 2021, a renda per capita caiu 11% em relação a 2020. Os 50% mais pobres perderam o dobro, 20,8%.

Setor Elétrico

1. A retomada do crescimento econômico pode ser problematizada pelos efeitos negativos da crise hídrica sobre o setor elétrico. No momento, é baixa a probabilidade de uma recuperação suficiente dos reservatórios das hidrelétricas que dê conta de um aumento na demanda por eletricidade mais substancial.

2. A crise hídrica acirra a disputa pela água, colocando em oposição interesses dos integrantes do setor elétrico, turismo, meio ambiente e irrigação. A demora para admitir o problema no setor elétrico e começar a tratá-lo só agrava a crise por vir.

3. A população, que, na prática, já vive um racionamento, imposto pelo segundo preço de energia elétrica mais caro do mundo, deve sofrer ainda novos aumentos, com reflexos altistas sobre os preços de alimentos.

IEA, Residential electricity prices in selected economies, 2018, IEA, Paris https://www.iea.org/data-and-statistics/charts/residential-electricity-prices-in-selected-economies-2018 

4. Segundo levantamento da Abrace, o custo com energia elétrica representa 48% do preço do leite, 34% do valor da carne, 28% do que pagamos na cerveja e 10% do gasto em materiais de construção e açúcar.

Latifúndio, Território e Meio Ambiente

1. O INPE registrou que o desmatamento da Amazônia teve, em junho de 2021, o pior índice para esse mês desde o início da série histórica: 1.061,9 km2. Com a aceleração do desmatamento, fundamentalmente operado sob bases ilegais, pela primeira vez na história, a floresta amazônica emite mais carbono do que absorve.

2. O Plano Amazônia, organizado pelo BID, visa integrar comunidades tradicionais à economia de mercado. O objetivo é construir grandes eixos logísticos com o intuito de ligar a Amazônia brasileira ao Pacífico e a outros portos mais ao norte do país. 

3. O avanço do Arco Norte, articulado para sustentar a expansão do agronegócio, acelera a destruição da natureza e de comunidades tradicionais. A defesa da bioeconomia em detrimento da biodiversidade pavimenta o caminho para transformar comunidades autônomas em força de trabalho barata.

Retrato da plutocracia brasileira

1. Artigo de Alexandre Sampaio Ferraz, baseado nas declarações do Imposto de Renda de Pessoa Física em 2018, mostra o perfil da extrema riqueza. https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2021/VIP-o-perfil-da-extrema-riqueza-brasileira

2. Os plutocratas são muito poucos. Os contribuintes que compõem o 1% mais ricos do Brasil, ganhando mais de R$ 20 mil por mês, não passam de 360 mil pessoas. Seu patrimônio está distribuído assim: 76% em ativos financeiros; 18% em imóveis, e o resto em bens móveis.

3. O 1% mais ricos, que detém 70% de todo o lucro e dividendo declarado ao IRPF, praticamente não paga impostos. A isenção de impostos sobre lucros e dividendos, uma dádiva do governo FHC aos plutocratas, permite que o grosso da renda seja evadida do fisco.

4. A concentração de renda é grande mesmo entre os ricos. Os 30 mil mais ricos detêm 70% dos bens e direitos dos 1% mais ricos e 58% de seus lucros e dividendos. Eles pagam em média um IR efetivo de apenas 2,5% de sua renda real – muito abaixo da média dos contribuintes.

GEFF - Conjuntura Econômica

Grupo de Estudos Florestan Fernandes - Conjuntura Econômica

Um comentário sobre “Notas sobre a conjuntura econômica JULHO 2021

  • 4 de agosto de 2021 at 2:52 am
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    Parabéns ao GEFF – Conjuntura Econômica pelo trabalho apresentado.

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