Economia mundial
1. Liderada pelo crescimento dos Estados Unidos e da China, a economia mundial tem registrado vigorosa recuperação. Após contração de 3,3% do PIB em 2020, o FMI estima que o mundo crescerá 6% em 2021 e 3,3% em 2022. Mesmo assim, as sequelas da recessão permanecerão por muitos anos.
2. A recuperação da economia mundial é bastante desigual, tanto entre os países como entre as classes sociais. Como consequência, espera-se forte ampliação da distância entre economias desenvolvidas e subdesenvolvidas e expressiva intensificação das desigualdades sociais.
3. O FMI estima que, entre 2020 e 2022, a renda per capita das economias desenvolvidas ficará 11% abaixo do nível de 2019 e a das subdesenvolvidas ficará 20%. Calcula-se que mais 95 milhões de pessoas engrossaram a pobreza absoluta em 2020.
4. Na América Latina, o FMI prevê que a expansão do PIB seja de apenas 4,6% em 2021, muito aquém do necessário para sequer compensar a queda de 7% no primeiro ano da pandemia.
5. Segundo dados divulgado no informe do Observatório COVID-19, da Cepal, a despeito da ALC representar apenas 8,4% da população mundial, concentramos 28,7% dos óbitos mundiais pelo coronavírus.
6. Segundo dados divulgado no informe do Observatório COVID-19, da Cepal, a região vive a maior contração econômica dos últimos 120 anos: -7,7% em 2020. Mesmo com forte elevação do preço das commodities, as exportações caíram 13%.
7. O fim da recessão não significa uma retomada sustentável do crescimento. Enquanto a tendência decrescente da taxa de lucro não for revertida, a economia mundial continuará prostrada. Mesmo a retomada do crescimento não está garantida. A situação é de grande incerteza.
8. O recrudescimento da pandemia de coronavírus e o abandono das políticas fiscal e monetária expansionistas dos EUA podem abortar a recuperação econômica. Se houver uma elevação abrupta na taxa de juros internacionais, o mundo assistirá a uma epidemia de crises de dívida externa.
9. A vacinação caminha lentamente. Johns Hopkins prevê que os países ricos do G-20 deverão imunizar toda sua população até o final do primeiro semestre de 2021, mas as economias “emergentes” que fazem parte do G-20 vacinarão menos de 50% da população neste ano, e o resto do mundo menos ainda, nem 40% da população.
10. O crescimento econômico não tem sido suficiente para absorver a massa de desempregados pela crise. Jovens, mulheres e negros, bem como trabalhadores menos qualificados são os segmentos mais penalizados da classe trabalhadora.
Economia brasileira
Setor externo
1. A altíssima volatilidade da moeda brasileira revela a forte dependência do Brasil em relação à entrada de capitais externos. Em 2020, o Real sofreu uma desvalorização de 22% em relação ao dólar, a sexta maior do mundo, ficando atrás apenas de países como Seychelles, Zâmbia e Angola.
2. Ainda que a forte recuperação do superávit na balança comercial tenha sido suficiente para financiar a colossal transferência de recursos ao exterior derivado do pagamento de juros, dividendos e royalties (em torno de US$ 57 bilhões em 2020), a estabilidade do balanço de pagamentos não está garantida.
3. A manutenção de uma elevada necessidade de financiamento externo (US$167 bi em 2020) e o elevado Passivo Externo (os investimentos reais e financeiros de estrangeiros no Brasil superam em quatro vezes as reservas internacionais) deixam a economia refém da lógica especulativa do capital internacional.
Nível de atividade
Crescimento
1.Em 2020, a renda per capita sofreu uma contração de 4,8%, situando-se em R$ 35.172. Foi o pior resultado desde 1996, quando o IBGE começa a série histórica.
2. A expectativa média dos banqueiros brasileiros, que tendem a superestimar o desempenho da economia, é que a expansão do PIB brasileiro em 2021 ficará em torno de 3%, bem abaixo da média da América Latina e muito aquém do necessário para compensar o tombo histórico de 4,1% em 2020. As projeções apontam para a recuperação do nível de atividade de 2014 apenas em 2023.
3. A agropecuária foi o único setor que em 2020 apresentou crescimento real da produção (2%), desempenho muito melhor do que a indústria que caiu 3,5% e dos serviços que caíram 4,5%.
4. Apesar do crescimento do valor da produção agropecuária, a geração de emprego no setor manteve-se estável e o rendimento médio dessas ocupações caiu, aumentando ainda mais a distância para o rendimento médio geral do trabalho no Brasil. Enquanto na agropecuária esse rendimento é de R$1440, no geral é de R$2521.
5. O aumento da produção agrícola também não contribuiu para abaixar os preços dos alimentos no Brasil. Pelo contrário. Enquanto o índice geral de inflação (IPCA) ficou em 4,52%, o dos alimentos (no domicílio) ficou em 18,15%, quatro vezes maior. O arroz, por exemplo, aumentou 76% apenas em 2020.
6. Assim, na maior crise sanitária dos últimos cem anos, a fome voltou a estar presente na vida de milhões de brasileiros. Segundo o estudo “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”, 59% dos domicílios entrevistados passaram por situação de insegurança alimentar no ano de 2020, sendo 15% com insegurança alimentar grave.
7. Seguindo as marcas estruturais da sociedade brasileira, o espectro da fome é ainda maior para as mulheres, os negros, os indígenas e nas regiões Norte e Nordeste. Quando o domicílio é chefiado por um homem o índice é de 60%, quando por uma mulher, 73,8%. Os chefiados por uma pessoa branca 48,9%, já por uma pessoa parda, 68,8%, negra, 66,8% e indígena 70,2%. Enquanto no Sul e no Sudeste o índice foi de 51,6% e 53,5%, respectivamente, no Norte foi de 67,7% e no Nordeste, 73,1%.
8. A propaganda “Agro é Pop” oculta a relação perversa entre agronegócio, desigualdade social e degradação do meio ambiente é direta. Enquanto a área plantada, sobretudo para produção de commodities para o mercado externo, continua crescendo, a área ocupada com alimentos para o mercado interno diminui sistematicamente.
9. O Censo Agropecuário de 2017, estima que, entre 2006 e 2017, a área ocupada com agropecuária aumentou em 5%, o equivalente aos estados de SC, RJ e SE, juntos.
Mercado de trabalho
1. O impacto da crise econômica sobre o mercado de trabalho foi devastador. Segundo a última PNAD Contínua trimestral, um contingente de 32 milhões de pessoas encontrava-se desempregado, desalentado ou subutilizado, cerca de 1 de cada três trabalhadores.
2. Sem opção de emprego, a classe trabalhadora fica numa situação de extrema vulnerabilidade. A proliferação do trabalho informal por conta própria, a precarização da relação trabalhista e o elevado contingente cuja sobrevivência material depende do Auxílio Emergencial são sintomas da grave crise social que germina na sociedade brasileira.
3. Em 2020, a ocupação industrial no Brasil, que já vem em quatro décadas de contração, perdeu quase 1,5 milhão de postos de trabalho. A construção civil, setor tradicionalmente responsável pela ocupação de grande parte da população masculina pobre, perdeu aproximadamente 700 mil postos de trabalho.
4. Segundo a Oxfam Brasil, 68% dos trabalhadores que perderam emprego no segundo semestre de 2020 tinham empregos informais. Não espanta que, mesmo com as transferências de renda do Estado, a fome tenha voltado a ser a realidade de 19 milhões de pessoas.
5. A pandemia provocou uma contração de 1,9 milhão de postos de trabalho em serviços domésticos, atingindo fortemente as mulheres e, sobretudo, as mulheres negras que respondem por aproximadamente 60% dessas ocupações.
6. A desigualdade regional faz com que a crise tenha um impacto muito diferenciado no território nacional. De acordo com dados do Dieese, observa-se que se no Sul, Sudeste e Centro-Oeste a remuneração média do trabalho doméstico gira em torno de R$ 1.000, enquanto no Norte e Nordeste ela é de aproximadamente R$ 700 a R$ 600, respectivamente.
Auxílio Emergencial
1. Considerando a importância do Auxílio Emergencial para mitigar os efeitos da crise sobre o mercado de trabalho, sua diminuição de R$ 600 para R$ 250 e sua menor abrangência devem agravar ainda mais as condições de vida dos trabalhadores brasileiros.
2. A população negra será a maior prejudicada. O Auxílio Emergencial de 2020 chegou à metade dos domicílios brasileiros, dois terços desses eram habitados por famílias negras.
3. Pesquisa da USP indica que a crise do coronavírus provocou um forte recrudescimento da pobreza, do desespero e da violência urbana.
Privatização da Eletrobrás
1. Contra a privatização da Eletrobrás. A Medida Provisória enviada pelo governo Bolsonaro deve provocar no setor elétrico problema similar ao dos combustíveis, causando aumento e maior volatilidade nas tarifas.
2. No centro do debate está a Descotização (mudança no regime de concessão de usinas + antigas) que certamente provocará aumento de tarifas. A energia dessas usinas da Eletrobras é vendida a R$60/MWh, enquanto o preço de mercado supera R$250/MWh.
3. A descotização beneficia grandes consumidores industriais e comercializadoras que especulam no mercado de energia. Caso aprovada, ela provocará substancial aumento da conta de luz para consumidores residenciais e o pequeno comércio, que representam 70% do consumo.
4. A privatização de mais de 50% dos reservatórios de hidrelétricas representa um grande salto no escuro, pois na maioria absoluta dos países com forte participação hidrelétrica (EUA, Noruega e Canadá), o controle dos grandes reservatórios é estatal.
5. O propósito da MPdoApagão é permitir a apropriação privada de gigantescas rendas extras a partir desses ativos estratégicos, em um processo que acarretará necessariamente no aumento das tarifas de energia elétrica e em sua maior volatilidade. Diante desse quadro, colocar a mobilização dos trabalhadores das estatais (Petrobras, Caixa, Correios), dos servidores e das massas pelo impeachment no centro da ação política é o único caminho capaz de barrar as privatizações e as reformas liberais.
Latifúndio e Território
1. O modelo primário exportador ameaça de forma acelerada a biodiversidade e centenas de povos tradicionais. A busca por minérios e novas fronteiras agropecuárias na Amazônia fazem da região o principal alvo da barbárie socioambiental do governo Bolsonaro e de grandes projetos de logística financiados pelo capital internacional.
2. A ofensiva do agronegócio sobre a natureza implica a desorganização da política de regulação do meio ambiente, para que a “boiada” possa passar, e ofensiva ideológica em defesa do latifúndio. Vale tudo para defender a tese de que o AGRO É POP.
3. Sob justificativa de promoção do desenvolvimento, acelera-se a elaboração e execução de obras de infraestrutura que ferem a autodeterminação de povos tradicionais em todo o mundo. Na América Latina, esta ofensiva resgata o famigerado IIRSA/COSIPLAN, que prevê a formação do Arco Norte e conexão dos oceanos Atlântico e Pacífico, atropelando camponeses, indígenas, ribeirinhos e tantos outros.
4. No Brasil, alguns destes projetos de morte são a pavimentação da BR-163, a construção da FERROGRÃO e a melhoria dos portos de Miritituba, Barcarena e Marabá.
5. O governo Bolsonaro também se mobiliza para destruir o Parque Nacional da Serra do Divisor (AC), território ocupado quase que inteiramente por povos tradicionais e considerado uma das regiões com maior biodiversidade no mundo todo.
6. Embora as queimadas e desmatamento tenham atingido todas as regiões do Pantanal e na Amazônia, alguns territórios foram mais afetados. Localizada próximo a Altamira-PA, impactada por inúmeros projetos de infraestrutura (Belo Monte, FERROGRÃO, BR-163, etc), a Terra da Cachoeira Seca, território do povo Arara, é o território indígena mais desmatado pelo sexto ano consecutivo.
7. A disputa de populações tradicionais com grileiros e, sobretudo, com grandes empresas que querem se beneficiar do aumento da fronteira agrícola, da mineração, da extração de madeiras e da posse de terras que serão desapropriadas para a construção de obras de infraestrutura faz com que a Amazônia concentre o maior número de assassinatos no campo brasileiro.
8. A Joint Venture entre UBS e Banco do Brasil acelerará a expansão do agronegócio em direção ao Pantanal e à Amazônia. A parceria, estimulada tanto pela posse de Bolsonaro, em 2019, quanto pelo crescimento de 24% do agronegócio em 2020, aguarda ansiosamente a aprovação da PL3729 no Senado Federal.