Notas sobre as alianças eleitorais em Belém-PA

Edmilson Prefeito, em aliança com o povo pobre e trabalhador de Belém

Quando realizamos o encontro de fundação do PSOL, em junho/2004, meses após o Partido dos Trabalhadores expulsar quatro de seus parlamentares, por terem votado contra a “reforma” da Previdência do governo Lula, deixamos registrado em nosso programa de fundação: “Lula entregou-se aos antigos adversários, e voltou as costas às suas combativas bases sociais históricas. Transformou-se num agente na defesa dos interesses do grande capital financeiro”. E avaliamos que o PT havia se transformado em “correia de transmissão” desse governo.
Quando fundamos o PSOL, deixamos claro que o PT, traidor da classe trabalhadora, havia deixado de ser nosso aliado. Criamos o PSOL para ser oposição de esquerda à política de conciliação de classes do PT, e não para ser seu partido-satélite, subserviente e bem comportado. Um ano depois, quando estoura o escândalo de corrupção do mensalão, Edmilson Rodrigues rompe com o PT e se filia no PSOL.

Aliança com o PT: desnecessária e perigosa

Qual a justificativa para nos aliarmos com um partido que fez a opção em governar para e com a burguesia? Nos quatorze anos em que esteve à frente do Poder Executivo nacional o PT deu um giro à direita e selou um pacto de governabilidade com setores da patronal que circularam com frequência nas páginas policiais: de Fernando Collor a Jader Barbalho, passando por José Sarney, Paulo Maluf e Gilberto Kassab. O PT fez a opção em governar com os latifundiários e os banqueiros, representados por Kátia Abreu, José Carlos Bumlai, Henrique Meirelles.
O PT ultrapassou o limite da decência e foi buscar aliados na antiga ARENA, da ditadura militar, chegando a ressuscitar Delfin Netto, ministro da Fazenda (Economia) no governo Médici, o qual se tornou conselheiro econômico de Lula. Defensor ferrenho do regime militar, não se envergonha em afirmar que “o AI-5 foi uma necessidade” e que “se as condições fossem as mesmas, assinaria de novo”. Sobre seu novo amigo, foi taxativo: “Lula salvou o capitalismo nacional”, afirmou em entrevista publicada em 2008.
Por que a direção majoritária do PSOL/Belém se presta a buscar um acordo de cúpula com um partido assim? A base petista já iria fazer campanha para Edmilson, como já fez antes, independente de acordos feitos entre as direções partidárias. Fazer um acordo superestrutural com a direção petista é completamente desnecessário. E considerando o trânsito dos dirigentes petistas entre políticos e empresários acusados de corrupção, esse acordo é um enorme perigo que pode descontruir a imagem que nosso PSOL goza diante da população: um partido limpo, que não está metido em esquemas de corrupção; um partido que está ao lado da classe trabalhadora e não se vende a empresários e patrões.
Ao privilegiar os acordos de cúpula, sem debates internos, sem plenárias, sem reuniões, a direção majoritária do PSOL opta em seguir por um caminho antidemocrático, pelo qual as instâncias partidárias e a base psolista tomam conhecimento das articulações pela imprensa e pelas postagens em redes sociais. Uma tática perversa, que agride ainda mais a nossa frágil democracia interna. Uma tática antidemocrática, que se utiliza da pressão de fora para determinar a política eleitoral do PSOL. Unidades podem até ser construídas em meio à divergências e diversidades, mas não se constrói unidade, sem confiança mútua.

O PT irá romper com Helder Barbalho?

Os setores do PT que estão no governo dos Barbalho, e foram contra o apoio à candidatura de Edmilson, irão fazer campanha para o PSOL? Irão romper com a família Barbalho, ou farão campanha para seus candidatos? O deputado estadual Carlos Bordalo/PT, que votou a favor da “reforma” da Previdência de Helder/Bolsonaro e, com o dedo em riste, mandou um cotoco para os professores e outros servidores públicos durante as manifestações nas galerias da ALEPA, irá fazer campanha para Edmilson? Ou vai mandar um cotoco para o PSOL, também?
Se esse acordo eleitoral se mantiver, nosso PSOL estará perdendo mais uma oportunidade em ocupar politicamente um espaço privilegiado à esquerda, como principal porta-voz das demandas da classe trabalhadora, do povo pobre, dos explorados e oprimidos. E ocupar esse espaço, abandonado pelo PT, é fundamental para superarmos a desastrosa experiência do “modo petista de governar”, que privilegiou os acordos com setores da burguesia e retirou direitos dos trabalhadores da cidade, do campo, e dos povos das florestas, negando diversas de suas reivindicações.

Quem rompe com a “unidade das esquerdas”?

Rejeitar a aliança eleitoral com o PT, para alguns, significaria “romper a unidade das esquerdas e fragilizar a campanha de Edmilson”. Refutamos isso. O que irá fragilizar a candidatura de Edmilson é justamente ter como vice-prefeito um partido envolvido em esquemas de corrupção; que é base aliada do governo Helder Barbalho; que construiu Belo Monte; que retirou direitos dos servidores públicos; que deu prosseguimento ao projeto de privatizações de FHC/PSDB.
Quem rompe com a “unidade das esquerdas” é o PT, quando Lula diz publicamente que não é hora do “Fora Bolsonaro”, pois teríamos que esperar até 2022 para mudar o país somente nas próximas eleições. Quem rompe com a “unidade das esquerdas” é o PT, que orientou seus três deputados estaduais a votarem a favor da “reforma” da Previdência estadual de Helder Barbalho, seguindo as diretrizes impostas pelo governo Bolsonaro; Quem rompe com a “unidade das esquerdas” é o PT, cujo governador Camilo Santana, do Ceará, manda helicópteros e a tropa de choque da PM para impedir a realização de atos antifascistas, jogando bombas de gás e balas de borracha. Quem rompe com a “unidade das esquerdas” é o PT, que com sua política de conciliação com a burguesia causou um retrocesso na consciência de classe dos trabalhadores.

Por um governo do PSOL com os movimentos sociais

Nossos principais aliados não tem que ser os partidos da ordem. Queremos aliança com os sindicatos de trabalhadores; com o movimento popular; com as entidades estudantis; com o movimento sem-terra; com as comunidades quilombolas; com os povos indígenas; com o movimento feminista; com as associações de bairros; com as agremiações culturais. Queremos a aliança do PSOL com o Povo, não com os poderosos.
Conquistaremos a governabilidade com a mobilização e pressão popular. Governaremos com o Povo na rua, lutando por seus direitos. A pressão que os empresários e lobistas fazem sobre os vereadores, para aprovarem projetos de seu interesse, faremos com os trabalhadores mobilizados. A pressão que os patrões fazem, nas sombras, nos gabinetes, às escondidas na calada da noite, faremos ao ar livre, sob o sol pleno, ocupando ruas e praças para fazer valer a vontade popular. Os debates e deliberações faremos nos Conselhos Populares, que governarão juntos com Edmilson e o PSOL.
Em tempos de pandemia e crise na Saúde pública, queremos Edmilson prefeito, com uma vice-prefeita indicada pelos trabalhadores da Saúde, que levante um programa onde estejam incluídas: a garantia da gestão democrática nas escolas e creches municipais; a garantia de condições dignas de trabalho para os profissionais da Saúde; a regularização das ocupações urbanas; a isenção do IPTU para a população com menor poder aquisitivo; a criação de uma frota municipal, rumo à estatização do transporte coletivo urbano; a eleição dos secretários municipais pelos servidores de carreira; a proteção ao meio ambiente e a implantação de um sistema de coleta seletiva; além de diversas outras demandas que atendam as necessidades do povo trabalhador.
É possível dar continuidade à construção de uma nova Belém, dando sequência às tarefas da Revolução Cabana, interrompida que foi, com sangue e traições. Mas somente seremos vitoriosos se aprendermos com os erros do passado e o povo assumir o poder, junto com o PSOL.


Edmilson Prefeito, em aliança com o povo pobre e trabalhador de Belém: ainda é tempo de se evitar uma catástrofe.

Depois da manifestação de apoio à pré-candidatura do PSOL à prefeitura de Belém pelo Diretório Municipal do PDT, Edmilson Rodrigues foi às redes sociais dizer que essa decisão foi “mais uma notícia que me alegra muito”. Infelizmente, essa alegria não é compartilhada por muitos filiados do PSOL. Pelo contrário, é motivo para muita preocupação.

O PDT tem um histórico de abrigar muitos latifundiários em suas fileiras. Desses que destroem as florestas, invadem terras indígenas, grilam terras públicas, mantém trabalhadores em situação análoga à escravidão em suas fazendas, e mandam assassinar lideranças sem-terra, indígenas, quilombolas e ambientalistas. Não nos alegra, em hipótese alguma, ter esse tipo de gente fazendo campanha para candidatos do PSOL.

Quem controla o PDT no Pará?

Giovanni Queiroz, ex-deputado federal, é o atual presidente do Diretório Estadual do PDT. Coordenou a campanha pela criação do estado do Carajás e é um dos porta-vozes dos ruralistas da região. Médico nascido em Minas Gerais, fez fortuna no sul do Pará, se tornando um dos maiores latifundiários do estado. Nos primeiros oito anos de mandato (1998 – 2006), seu patrimônio declarado cresceu de R$ 2,3 milhões para R$ 7,3 milhões. Nas últimas eleições declarou R$ 10,4 milhões (valor referente apenas a suas fazendas e sua criação de gado).

Dono de dois latifúndios que somam mais de 6 mil hectares (1 hectare equivale a 1 campo de futebol) em Rio Maria – PA, “é alvo de inquérito que apura crimes contra o meio ambiente e o patrimônio genético. É também alvo de ação civil de improbidade administrativa que apura danos ao erário”, segundo o site A República dos Ruralistas.

Giovanni Queiroz apoiou a construção de Belo Monte e as alterações no Código Florestal, e defende a soberania do Estado para impor a construção de hidrelétricas e a mineração em Terras Indígenas. Travou uma guerra para tentar impedir a demarcação da Terra Indígena Apyterewa, repetindo a velha ladainha dos agropecuaristas: “tem muita terra para pouco índio”. Em junho/2020 a APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil denunciou que a TI Apyterewa “tem mais da metade de sua área invadida por fazendeiros, grileiros, madeireiros e garimpeiros”.

Fora fascistas da campanha do PSOL!

O presidente estadual do PDT é oriundo da ARENA – Aliança Renovadora Nacional, o partido da ditadura militar no Brasil, de onde só saiu em 1982, quando o regime militar já dava sinais de esgotamento.

Seu caráter fascista ficou bem explícito durante audiência na Câmara dos Deputados para tratar de conflitos agrários, especialmente no Pará. Na ocasião, falou que daria um tiro na cara dos sem-terra que tentassem ocupar uma de suas fazendas: “Depois leva um tiro na cara… Se entrar na minha, quem vai dar o tiro sou eu na cara de cada um”, afirmou, para quem quisesse ouvir, revelando o tipo de relação que se propõe a ter com os movimentos sociais. Basta! Não podemos tolerar fascistas na campanha eleitoral de Edmilson/PSOL.

PSOL 2020, trampolim para Ciro Gomes 2022?

Mas o que o latifundiário do PDT do sul do Pará tem a ver com a eleição municipal em Belém? O Diretório Nacional do PDT definiu como tática eleger prefeitos nas eleições deste ano para se fortalecer e poder interferir com as estruturas municipais na campanha de Ciro Gomes para a presidência da República. No Pará, o PDT já está articulando as campanhas de outros ruralistas em cidades do interior. E quer usar o PSOL/Belém como trampolim eleitoral, para entrar na capital paraense com uma falsa roupagem de esquerda, ajudado pela coligação com o PSOL. Giovanni Queiroz, como presidente estadual, é um dos articuladores.

Não há nenhum “giro à esquerda” do PDT. É apenas oportunismo eleitoral para fortalecer a candidatura de Ciro às custas da influência de massas da candidatura de Edmilson/PSOL. Os filiados e simpatizantes do PSOL não podem ficar omissos diante dessa farsa.

Por um governo do PSOL com os movimentos sociais

Nossos principais aliados não tem que ser os partidos da ordem, como o PDT. Queremos aliança com os sindicatos de trabalhadores; com o movimento popular; com as entidades estudantis; com o movimento sem-terra; com as comunidades quilombolas; com os povos indígenas; com o movimento feminista; com as associações de bairros; com as agremiações culturais. Queremos a aliança do PSOL com o Povo, não com os poderosos.
Edmilson prefeito, em aliança com o povo pobre e trabalhador de Belém. E com uma trabalhadora da Saúde ocupando o cargo de vice-prefeita, indicada pelos próprios trabalhadores da Saúde. Governar com Conselhos Populares para retomar a luta da Revolução Cabana. Essa sim, será a vitória do Povo!

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LS

Luta Socialista - PSOL

Um comentário sobre “Notas sobre as alianças eleitorais em Belém-PA

  • 25 de julho de 2020 at 10:40 pm
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    Se o PSOL for coerente com o texto, acho que uma quantidade significativa do partido a nível nacional deveria pedir o boné e sair do partido. Preciso dar exemplos? Freixo, Chico Alencar, Erundina, Boulos, Luciana Gerdal, o próprio Edmilson na eleição passada.,etc. Sinto vontade de perguntar pelos puros…

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