W. Reich (La psicologie des masses du fascisme, Payot, 1972) observa que a massificação torna os homens cada vez mais irracionais. Essa irracionalidade se caracterizaria por um processo de descompressão de forças emocionais sufocadas. E esse processo teria na situação de crise social, quando o pânico se instaura, o momento propício para deflagrar.
Ao formular a sua teoria, Wilhelm Reich (1897-1957) tinha em vista nada menos que a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha.
S. Moscovici (L’âge des foules, Fayard, 1982) é peremptório: “As massas não tendem espontaneamente para a democracia, mas para o despotismo”.
O persuasor das multidões é o condutor das massas despóticas. Ele tem um perfil psicológico com os traços de um estrategista nato, ousado, um ser à parte, que foge às normas, excepcional, neurótico, excitado. A par disso, ele é, paradoxalmente, um “conduzido”, no sentido de um apóstolo hipnotizado por um ideal, um fanático (um louco da fé) imbuído de uma missão.
Essa personalidade faz do condutor das massas uma espécie de demiurgo da multidão. Demiurgo: segundo o filósofo grego Platão (428-348 a.C.), o artesão divino ou o princípio organizador do universo que, sem criar de fato a realidade, modela e organiza a matéria caótica preexistente através da imitação de modelos eternos e perfeitos.
Diferenciando-se do manipulador-persuasor, cujo arquétipo seria o Príncipe de Maquiavel (indivíduo lúcido, desprovido de princípios, calculista, sutil, atuante nos bastidores, dado aos objetivos dúbios), o condutor-persuasor seduz a massa, mas, ao seduzi-la, emociona-se com ela e deixa-se seduzir por ela.
G. Le Bon apontou a massificação como um processo análogo ao da hipnose. Para ele, “tudo o que é coletivo é inconsciente”. As brigas entre torcidas de futebol parecem dar razão a Le Bon.
Segundo a primeira teoria da psique formulada pelo neuropsiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939), o inconsciente é constituído por conteúdos recalcados. Inconsciente: conjunto dos processos e fatos psíquicos que atuam sobre a conduta do indivíduo, mas escapam ao âmbito da consciência e não podem a esta ser trazidos por nenhum esforço da vontade ou da memória, aflorando, entretanto, nos sonhos, nos atos falhos, nos estados neuróticos ou psicóticos, isto é, quando a consciência não está vigilante.
O presidente norte-americano George W. Bush exemplifica a personalidade do condutor-persuasor de nossa época.
A guerra do Iraque ilustra bem o deslocamento, que ele opera na sociedade norte-americana, da esfera da racionalidade para a da emoção.
Bush justifica a invasão para destruir os meios de destruição em massa que os iraquianos disporiam, porque constituiriam uma ameaça à segurança dos Estados Unidos. O argumento não tem pé nem cabeça (inclusive porque o país com o maior arsenal de armas de destruição em massa do planeta é o próprio Estados Unidos e o único país do Oriente Médio que estoca bombas atômicas é Israel), mas galvanizou o apoio da maioria dos norte-americanos, que sequer se questionou por que se atacaria um pequeno país do Oriente Médio em vez de potências atômicas como a Rússia ou a China?
As armas de destruição em massa jamais foram encontradas (e tampouco utilizadas pelos iraquianos contra a invasão norte-americana). Como não encontra as tais armas, Bush justifica a invasão porque o regime de Saddan Hussein seria uma ditadura. A maioria dos norte-americanos acolhe bem a justificativa: a invasão seria uma libertação dos iraquianos. Mas essa maioria não questiona por que, então, o governo dos Estados Unidos apoia ditaduras na região, como os regimes repressivos da Arábia Saudita e do Kwait?
Quanto à propalada “libertação”, decorrido mais de um ano de ocupação militar, a manchete do jornal O GLOBO, de 28 de abril de 2004, dizia tudo: “De volta aos bombardeios. EUA atacam Faluja com artilharia pesada e enfrentam rebeldes em Najaf, matando 64”.
Todavia, no âmbito da irracionalidade, o que menos conta são os fatos. E, de resto, o mundo já se esqueceu de Hiroshima e Nagasaki. Daqui a pouco, ninguém vai se lembrar mais do Iraque. Não é à toa que o 11 de setembro deixou de ser o dia do sanguinário golpe militar promovido pelo imperialismo norte-americano no Chile, para se tornar o aniversário do ataque de Bin Laden às Torres Gêmeas.
O fascínio que o condutor exerce sobre a multidão pode ser explicado em termos da “estrutura da horda selvagem”, tal como foi formulada por Freud. Isso explica a adoração e a submissão das multidões aos seus chefes.
Nesse viés, a essência da comunicação persuasiva com a multidão está relacionada ao mecanismo do inconsciente, vinculada à libido erótica e à libido narcísica, fundando-se no primado do psíquico e das forças afetivas. É por isso que a propaganda (a política ou a comercial, tanto faz) não se dirige à opinião pública, mas sim à afetividade pública.
Na eleição de 2018, o fenômeno do bolsonarismo emerge com a projeção de um ex-capitão que virou político profissional, uma personalidade precária, tosca e sem brilho intelectual, mas capaz de despertar os sentimentos de ódio recalcados em massas frustradas e inferiorizadas, e de dirigi-los na direção idealizada de um poder que tudo pode e ao qual todos devem subordinar-se. Assim, esse homem-massa, despersonalizado, corroído pelo complexo de inferioridade, tem a sensação de que supera a sua frustração individual ao torná-la geral: incapaz de exercitar sua liberdade pessoal, ele se compraz em tolher a liberdade dos demais.
,A eleição de 2018 foi manipulada pela mídia e fraudada de forma reles por operadores bandidos nacionais e estrangeiros representados no poder,.,Sabemos disso e os tribunais “superiores” também.O exército(ou as forças armada como um todo?) ,sustentou o golpe,,.,Não,existe líder nem comandante de massas nesse desgoverno que declarou ,vagamente estar aqui para destruir.A nossa ,desgraça vem mesmo de onde não escolhemos,:o judiciário ,, as forças armadas e a mídia das famílias.São os ini migos, sempre foram os inimigos e nos estão destruindo.,ESSA É A ,,NOSSA ,TRAJ,ÉDIA QUE TEMOS DE SUPERAR
(obs.a profusão de vírgulas no texto é defeito ainda não identificado)