Os atos contra Bolsonaro e a CPI da Covid: até onde podemos ir?

Foto: Mídia Ninja

O Brasil enfrenta a dureza de um gigantesco morticínio. São mais de 485 mil mortes, resultado da crise sanitária da Covid-19, agudizada e promovida pelo Governo Bolsonaro. Some-se a isto, o crescimento vertiginoso da miséria e do desemprego entre os brasileiros. Pesquisa da Rede Pressan aponta que mais de 20 milhões passam fome, enquanto que 43 milhões não têm alimentos suficientes. Os dados do IBGE mostram 14,4 milhões de desempregados e mais de 6 milhões de desalentados, o pior número da série histórica, desde que a pesquisa passou a ser feita em 2012. Em síntese, terra arrasada.

O arrefecimento da situação sanitária deve ocorrer na mesma gradação que cresce o número de pessoas imunizadas. Neste início de junho, pouco mais de 23 milhões de brasileiros tomaram as duas doses necessárias para se imunizar completamente, o que simboliza apenas 11% da população do país. Neste cenário de desalento, instalou-se recentemente a CPI da Covid no Senado, para apurar omissões do Governo Federal no enfrentamento à pandemia. O trabalho da Comissão revelou através do depoimento de Carlos Murillo (executivo da Pfizer) que o Brasil recebeu formalmente em 15 de agosto de 2020 uma oferta para aquisição de 70 milhões de vacinas. O Governo Bolsonaro ignorou a oferta e notoriamente mostrou que joga ao lado do vírus e da morte.

O Governo Bolsonaro, apesar de todos os esforços para frear investigações, foi derrotado nos embates sobre a instalação da CPI da Covid. A Comissão que atua na coleta de documentos e na tomada de depoimentos de ex-ministros e autoridades, já demonstrou que o Governo brasileiro esteve divorciado da comunidade internacional no combate a pandemia, não fez aquisição de imunizantes no momento adequado, não socorreu a cidade de Manaus que passou por um completo colapso no sistema de saúde, estimulou irresponsavelmente a imunidade de rebanho, atuou na distribuição de medicamentos ineficientes para o combate a Covid-19. O presidente pessoalmente estimulou aglomerações e o resultado não poderia ser outro senão a hecatombe que assola o país.

Tem crescido a insatisfação e a reprovação popular ao Governo Bolsonaro, mas as bases de sustentação de seu governo se espraiam dentro da institucionalidade no fisiologismo do Centrão que lhe empresta o exército mercenário-parlamentar e nas Forças Armadas,. Apesar dessa blindagem, o barco do bolsonarismo tem rachaduras e faz água. É por esse motivo que é importante que o movimento social brasileiro, o PSOL, os setores de esquerda, as Centrais Sindicais, os trabalhadores organizados e os explorados, entrem na ofensiva contra Bolsonaro, ocupando as ruas para afirmar que não podemos terceirizar nossas apostas na institucionalidade e que abreviar o Governo Bolsonaro é uma necessidade para frear uma tragédia que não pode aguardar as eleições de 2022 para ter fim.

Neste sentido, o vigoroso ato nacional no último dia 29 de maio pelo Fora Bolsonaro foi completamente acertado e vitorioso. Interromper o Governo Bolsonaro tornou-se numa necessidade de primeira hora para preservar a vida de brasileiros. Com o uso de máscaras e tentando garantir o distanciamento social, mais de 80 mil ocuparam a Avenida Paulista em São Paulo, no Brasil houve atos em 213 cidades, em todas as capitais e no Distrito Federal. No mundo, brasileiros e estrangeiros se reuniram em 10 cidades, o que expressa o rechaço internacional à política de morte tocada por Bolsonaro. O ato levou aproximadamente meio milhão às ruas. 

No próximo 19 de junho um novo ato nacional contra o Governo Bolsonaro deve ocorrer em todo o país. É preciso manter os trabalhadores na ofensiva, sufocar e derrotar o Governo Bolsonaro. Para isso, dialogar com o conjunto da classe é fundamental. É preciso empunhar uma linha política em defesa da vacinação de todo povo, pela criação de frentes de trabalho e emprego imediatas para enfrentar o desemprego, combate incessante à proliferação da fome e da miséria, revogação das contra-reformas que tornaram o Estado brasileiro um serviçal do clube fechado da burguesia, atuando em duas frentes: garantir o lucro dos bancos e companhias e conter revoltas e impulsões sociais com o autoritarismo da coerção oficial. 

É muito provável que a CPI da Covid servirá para responsabilizar agentes públicos por omissão e estas medidas serão bastante progressivas, porém insuficientes. É preciso colocar todas as fichas nas mobilizações que tenham como horizonte derrotar o Governo Bolsonaro. As lutas e ebulições da América Latina apontam um caminho. Os ventos sopram forte. Sem ilusões com a institucionalidade, poderemos ir mais longe. Bolsonaro terá o fim que merece: na lata de lixo da história. Lutemos para antecipar esse momento, o Brasil precisa.

Modesto Neto

Modesto Neto é historiador, mestre em Ciências Sociais pela UFRN, Professor da E. E. Juscelino Kubitschek em Açu (RN) e Direção Nacional da Revolução Socialista-PSOL

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