Natália Granato e Eduardo Protázio1
As eleições municipais foram marcadas por um massivo voto antirracista e de protesto contra o genocídio do povo negro. Nas vésperas do processo eleitoral, o STF havia decidido acerca da divisão do fundo eleitoral que deveria incentivar candidaturas negras ao pleito. A ADPF foi apresentada pelo PSOL e foi aplicada nas eleições seguintes, um passo importante para avançar contra a sub-representação dos negros e negras na política. Movimentos na justiça que de alguma forma refletiram os atos antirracistas e antifascistas do primeiro semestre.
A bancada negra do partido, presente nas mobilizações antirracistas e antifascistas, cresceu. Para citar apenas alguns exemplos: Karen Santos (RS), professora negra, foi a candidata mais votada em Porto Alegre e Érica Hilton, negra e trans, a mais votada em São Paulo. Também temos os jovens Matheus Gomes (RS), Luana Alves (SP), Vivi Reis (PA) e Iza Lourença (MG) que são parte das mais de 40% de candidaturas negras eleitas este ano. Essas fortes votações mostram uma indignação que também se expressou nas mobilizações contra o assassinato de mais um homem negro na Rede Carrefour. É fundamental que os mandatos negros e socialistas do PSOL se coloquem como linha de frente no enfrentamento ao genocídio e a precarização que a maioria do povo brasileiro enfrenta no dia-a-dia, convocando e apoiando as mobilizações.
Carrefour racista: sem mediação com quem nos mata
Desde 2009, há registros de violência racial nas dependências da rede de supermercado. No dossiê apresentado pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra 2, temos acesso a casos emblemáticos do racismo institucional do Carrefour, como por exemplo o espancamento a um homem negro, suspeito de roubar seu próprio carro, e rejeição às orientações do MPT acerca do racismo no grupo.
Nas vésperas do Dia da Consciência Negra, mais uma vez não tivemos nada a comemorar, já que foi assassinado o trabalhador negro João Alberto, que fazia suas compras e não pôde voltar para casa. Ele foi espancado por 5 minutos por dois seguranças, sem qualquer chance de reagir, até a morte. Rapidamente foram convocadas manifestações em todo o país, no dia seguinte do ocorrido, exigindo a punição do Carrefour, boicote e cassação de seu alvará na cidade de Porto Alegre.
A luta antirracista não pode parar, parem de nos matar!
Diante dos recentes fatos, positivamente, reações radicalizadas têm respondido à violência racista praticada por essa rede multinacional e contra as declarações do governo Bolsonaro. Tal como vimos nos protestos em Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e em outras cidades, em que tamanha indignação produziu até mesmo saques e depredação de lojas. Esses exemplos são determinantes para que haja prosseguimento na ação direta, nas ruas, por parte do movimento negro e demais movimentos sociais em repúdio ao racismo que arranca nossas vidas.
Entendemos que importantes direções do movimento, como a Coalizão Negra Por Direitos e outras, devem construir um permanente calendário de lutas antirracistas, empalmando com movimentos sindicais e estudantis, mirando o fortalecimento dessas lutas em 2021. Uma importante data seria o dia 14 de março, que marca mais um ano do assassinato de Marielle Franco. Tomar como exemplo os levantes antirracistas nos EUA e em todo o mundo é parte fundamental da necessidade de fortalecermos o movimento no Brasil.
Perante o histórico racista da rede Carrefour, com assassinatos e espancamentos a pessoas negras, exigimos a sua imediata expropriação e estatização, e que a rede francesa seja proibida de atuar no país. Que o estado garanta que suas lojas sejam administradas por seus trabalhadores e baseados em uma perspectiva de relações amparadas nos direitos humanos e antirracista.
Referências
- Coordenação Nacional da CST
- (https://www.geledes.org.br/racismo-no-carrefour/