Desde a Greve Internacional de Mulheres, em 2017, o 8 de março tem inaugurado o calendário de lutas, com massivas manifestações pelo mundo todo.
Esse ano de 2020 não será diferente. As pautas internacionais, de maior apelo político, que tem encontrado eco em uma parcela cada vez maior de mulheres, permanecem sendo a luta contra a violência sexista e a legalização do aborto, essa última uma forma derivada de violência contra os corpos das mulheres.
As trabalhadoras e estudantes chilenas, que enfrentam ao lado dos homens o governo assassino de Piñera, são atingidas pela repressão com contornos específicos pelo fato de serem mulheres. Vários relatos de crimes sexuais como método de repressão política revelam uma agenda misógina de Piñera. A resposta veio das ruas, há alguns meses a principal arena política do Chile. A performance “El violador eres tú”, que denuncia o Estado e suas instituições que não enfrentam a questão, ganhou as ruas chilenas e depois se espalhou pelo mundo. Como esse é um tema que permanece latente, ao que tudo indica permanecerá tendo uma centralidade na luta feminista internacional de 2020.
O feminicídio na América Latina segue sendo um flagelo de nossa sociedade.
Mulheres seguem morrendo por serem mulheres e o Estado não enfrenta as origens da violência sexista. A diminuição de serviços públicos, em geral mais acessados por mulheres, a piora nas condições de vida, baixos salários, demissões, privatizações, fragilizam ainda mais as mulheres em sua busca por autonomia financeira. Sem condições financeiras de romper o ciclo de violência sexista, as mulheres ficam ainda mais submetidas aos caprichos patriarcal e não podem romper o ciclo que as massacra cotidianamente. É preciso fortalecer a luta contra a violência, exigindo dos governos que garantam as condições mínimas de sobrevivência às mulheres e seus filhos.
A pauta da legalização do aborto, bastante inspirada na luta das feministas argentinas nos últimos anos, segue sendo uma pauta que terá centralidade nas manifestações do 8 de março. As mulheres, que dependem do serviço público de saúde para acessarem o procedimento com alguma segurança, não podem mais viver com o fantasma da criminalização.
Retomar o protagonismo das mulheres no 8M
As mulheres seguiram dando o tom das mobilizações, após 1 ano de mandato de Jair Bolsonaro e uma catastrófica ministra à frente do Ministério da Família, uma mulher reacionária empoderada para destruir os poucos direitos das mulheres. Para enfrentar os crescentes números de feminicídios e a certeza da impunidade em casos de violência doméstica e sexual, como recentemente debochou o cantor sertanejo Victor Chaves, após agredir sua esposa grávida, precisamos retomar as mobilizações, como fizemos nas multitudinárias marchas do #EleNao e por justiça por Marielle.
A luta contra o governo Bolsonaro é capaz de unificar o movimento feminista e os setores da oposição, porém é urgente estarmos conectadas com a necessidade de derrotar nas ruas este governo que massacra mulheres negras, pobres e trabalhadores brasileiros. Não podemos aceitar ou torcer para que Bolsonaro não destrua o país até 2022, é preciso retomar os calendários unificados e passar das palavras a ação, dar um basta aos feminicídios, à impunidade e à destruição das políticas públicas para mulheres.
No ano passado a indignação contra Bolsonaro provocou um arrastão de protestos pelo país nos blocos de rua e na Sapucaí — Paraíso do Tuiuti, Mangueira e Beija-flor cantaram a plenos pulmões nosso NÃO à intolerância e às elites. Provocativos, os sambas politizados voltam a questionar a desigualdade social e o abandono dos pobres. Desde que o samba é samba é assim, e as mulheres voltaram a dizer não à violência patriarcal e ao entreguismo dos governos.
Justiça para Marielle, 2 anos de impunidade!
O próximo 8 de março — Dia Internacional de luta das mulheres, acontecerá no mês em que se completam 2 anos de assassinato político da vereadora Marielle Franco. Até agora esse crime não foi desvendado. Os últimos fatos divulgados dão conta de uma linha de investigação que aponta para o envolvimento de assassinos profissionais, milicianos, policiais e a família Bolsonaro. Diante desses elementos gravíssimos, posto que envolvem poderosos que facilitam a obstrução das investigações, é urgente que se instaure uma investigação ampla e independente que possa alcançar os verdadeiros mandantes desse bárbaro crime. Para isso, seria necessário compor uma comissão independente, formada pelos familiares de Marielle, a ABI, OAB, Anistia Internacional, representantes do movimento de negros e negras, LGBTQI+ e feminista, a comissão de Direitos Humanos da ALERJ e o PSOL para que acompanhem as investigações.
Seguiremos nas ruas exigindo justiça para Marielle e Anderson, até que as autoridades respondam porque foram brutalmente assassinados e quem são os mandantes do crime.