O desastre social produzido pela soma do avanço da crise econômica com uma pandemia mundial é um fato consolidado. Dia após dia vemos aumentar significativamente o número de contaminados e o número de mortos, algumas cidades já chegaram ao colapso como evidencia as valas coletivas e o caos no sistema de saúde. Enquanto avança a crise no governo o conjunto dos partidos burgueses seguem com uma unidade fundamental, que é seguir com a retirada de direitos e fazer o povo trabalhador pagar toda a conta da crise. Ao mesmo tempo Bolsonaro segue participando de manifestações reacionárias, que além de criminosas comprovam seu projeto autoritário, o presidente deseja, em meio a pandemia, acabar com qualquer medida de isolamento social e sonha com uma nova ditadura no Brasil. Já a direita tradicional de Rodrigo Maia/DEM e dos governadores Doria e Witzel, criticam verbalmente alguns aspectos do projeto autoritário, enquanto aplicam um forte ajuste fiscal no congresso nacional e nos estados.
Diante de toda essa situação nos cabe algumas perguntas: O que a oposição e as Centrais Sindicais devem fazer? Qual é o desafio e as tarefas que a esquerda socialista tem nessa conjuntura? Como defender a vida dos trabalhadores, enfrentar o projeto autoritário de Bolsonaro e construir uma saída em favor dos de baixo?
O principal partido da oposição, o PT, poderia cumprir um papel importante na luta contra o autoritarismo, a retirada de direitos e em defesa da vida, ainda que com declarações defendam o Fora Bolsonaro, essa palavra de ordem ainda não foi colocada em prática. A carta de 30/03 assinada por lideranças da oposição como Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Ciro Gomes e Manoela D’Ávila é reveladora, se restringe a pedir que Bolsonaro renuncie, não fazem um chamado para um plano de lutas unificado e centram toda sua intervenção na busca de pactos com os setores que estão diretamente envolvidos nos ataques contra a classe trabalhadora. Aplicam essa política porque seguem apostando no velho projeto de conciliação de classes, em negociações com setores da burguesia e se colocando em defesa de uma suposta unidade nacional, que hoje nada mais é do que aplicar o receituário de despejar a conta nas costas do povo trabalhador. Ao mesmo tempo esses setores estão ausentes no terreno da luta de classes, não chamam a continuidade dos panelaços e deixam as ações espontâneas que começam a ocorrer no movimento de massas jogadas a própria sorte.
Assim as centrais sindicais como a CUT convocaram Maia e Acolumbre para o 1º de Maio e dividiram a possibilidade de uma ação unitária em defesa dos direitos. No senado os parlamentares do PT votaram a favor do congelamento de salários do funcionalismo e no movimento sindical pactuam a retirada de direitos com os patrões. Também não estão propondo a continuidade e a coordenação das ações da classe trabalhadora que estão ocorrendo nos hospitais ou por meio de panelaços, protestos virtuais e etc.
Infelizmente também tem sido essa a postura da maioria da direção do PSOL, depois de esperar a posição do PT para finalmente se posicionar pelo Fora Bolsonaro, toda a ação do partido se dá única e exclusivamente por ações institucionais. O presidente do PSOL Juliano Medeiros disse em sua coluna do dia 20/04 que a principal tarefa é pressionar o centrão e os presidentes da câmara e do senado para que toquem alguma medida institucional que garanta a saída de Bolsonaro. Bem agora com o avanço a crise política e o aumento da desaprovação do presidente a única saída que aponta para colocar Fora Bolsonaro e defender os direitos é através do velho e decrépito regime político da burguesia, de ajustadores e corruptos. Por isso não fala nada sobre seguir os panelaços e apostar nas ações da classe trabalhadora.
Ainda que desde o início da pandemia não surgiram grandes e generalizados processos de luta em defesa dos direitos, da vida e contra o governo, é um fato que o avanço do colapso tem produzido lutas de resistência, sobretudo a luta dos trabalhadores da saúde, que em diversos hospitais do país estão protestando e denunciando as péssimas condições de trabalho e caos na saúde. Os sucessivos panelaços em repúdio ao governo e outras manifestações espontâneas de setores populares ou de trabalhadores que estão surgindo também demonstram a indignação e a disposição de protestar da população. Temos de seguir o exemplo das trabalhadoras da saúde do DF, do HU da USP, do HUAP no RJ e demais protestos que estão ocorrendo em vários hospitais.
Os principais partidos e movimento da oposição precisam ter um plano de ação comum para denunciar o intento autoritário de Bolsonaro. Para tal é necessário um amplo movimento unitário contra a escalada do autoritarismo e do projeto ditatorial do presidente, se apoiando nas pautas da classe trabalhadora, da juventude e dos setores populares, unindo a luta pelas liberdades democráticas, a luta por medidas de contenção ao coronavírus e a defesa dos direitos da classe trabalhadora. Um exemplo é ação da Frente Povo Sem Medo, tendo a frente o MTST, que organizou uma manifestação em São Paulo, por quarentena aos trabalhadores, mais leitos e renda básica.
Seria urgente, que nos marcos da mais ampla unidade de ação, os principais partidos de oposição, as centrais sindicais e movimentos sociais lançassem um contundente plano de luta, fortalecendo as paralisações e protestos da saúde e unificando a indignação popular nos atos em frente as unidades de saúde. Infelizmente não é esse o combate que tem feito a maioria dos setores da esquerda.
Nós da CST, que integramos bloco da esquerda radical do PSOL e construímos a CSP-CONLUTAS, entendemos que a esquerda anticapitalista e o sindicalismo combativo não deve seguir a reboque da direção majoritária do PT e da CUT, não deve esperar os movimentos de Maia e do Centrão, pois esses aguardam na verdade a posição dos banqueiros e da grande burguesia. É preciso uma campanha real de denúncia contra Bolsonaro e suas medidas autoritárias, num amplo movimento em defesa dos trabalhadores da saúde, dos direitos da classe trabalhadora e por medidas de contenção ao Covid-19, com panelaços, campanhas virtuais e solidariedade às lutas que estão ocorrendo.
Nessa batalha a esquerda anti-capitalista deve garantir sua independência, apresentar o seu projeto com uma saída de fundo. A catástrofe que está colocada escancara as mazelas do sistema capitalista e coloca em evidência a insuficiência desse sistema em resolver o drama social da maioria da população, por isso nossas propostas não podem estar delimitadas pelos marcos do atual regime político burguês, pois este é incapaz de resolver os problemas da população. Assim, segue a necessidade de construir uma Frente de Esquerda Socialista, que agrupe os partidos de esquerda (PSOL, PSTU, PCB e UP), que apresente um programa econômico alternativo, partindo da imediata suspensão do pagamento da dívida para destinar os recursos na contenção do Covid-19, garantir quarentena geral com salário integral, verbas para a saúde e renda aos trabalhadores.
No imediato a esquerda socialista deve lutar por quarentena geral com salários integral, por EPIs e condições de trabalho para trabalhadores da saúde e limpeza, pela suspensão do pagamento da dívida junto com a taxação das grades fortunas para investir pesado no SUS e em renda básica aos desempregados. Um plano de luta por ventiladores mecânicos, equipes de saúde da família, por utilização estatal de todos os leitos do país. Pela revogação da PEC 39 (que congela o salário dos servidores) e PEC 10 (que salva os banqueiros parasitas).
Ao mesmo tempo é necessário não se limitar a saída de Bolsonaro para que outro político da burguesia siga com os planos de despejar toda a conta nas costas dos trabalhadores, pois dessa forma o drama vai seguir. Um ponto programático fundamental para batalhar é a necessidade de um governo da classe trabalhadora e do povo. Por isso a esquerda anti-capitalista também deve dizer que quem deve governar são os que nunca governaram, a classe trabalhadora, o povo pobre e a juventude.