Política e olimpíadas

Rio de Janeiro – Cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016, no Maracanã ( Fernando Frazão/Agência Brasil)

1 – O Esporte:

Sabe-se que a cultura corporal, incorporada no esporte, é fundamental para o ser-humano. Seja para o lazer ou para a saúde, o esporte democrático, para todos, é uma meta a ser alcançada em sociedades que olham para o ser humano e será fundamental no socialismo. Portanto, o esporte para todos, a educação física praticada nas escolas ou nos momentos de puro lazer e brincadeiras, são atividades que devem ser incentivadas. Neste sentido, as praças e clubes públicos, a educação física escolar voltada para a cultura corporal emancipada, os esportes de baixa competição, as danças, devem ser palco do corpo emancipado. 

Por outro lado, o esporte de alto rendimento e alta competitividade, de atletas quase sempre profissionais, coexistem nas relações sociais. São atividades bem antigas que acompanham as sociedades e deveriam ter um caráter de “lazer, festa e confraternização dos povos”. Atualmente, viraram atividades bastante mercantilizados, visando patrocínios e vultuosos recursos, com clubes, associações, federações, confederações altamente capitalizadas. É o híper-capitalismo adentrando a toda velocidade nos esportes de rendimento.

2 – As Olímpiadas e a Política:

As Olimpíadas se enquadram nos esportes de alto rendimento. Mas o caráter de lazer, festa e confraternização dificilmente existem em sociedades como a capitalista, que busca a reprodução do capital em todas as atividades e, assim, também se apresentam as Olímpiadas. Mas, também neste espaço, o capitalismo encontra seu oponente, o socialismo e a contradição, que até os anos 1990, pelo menos, levou este embate para os jogos.

Mas a relação e o embate político são constantes nos jogos olímpicos e, muitas vezes, o capitalismo é confrontado. Nos jogos de Berlim, de 1936, Hitler queria mostrar a superioridade ariana também no corpo e, assim, investiu muito para que os arianos mostrassem sua superioridade. Porém, um corredor dos 100 metros rasos, o americano dos EUA Jesse Owens, negro, venceu a prova, fazendo Hitler sair do estádio onde a competição era realizada.

Ao terminar a II Grande Guerra, a aliança entre americanos e soviéticos feita durante a Guerra, terminou e foi instaurada a “guerra fria”. Os dois lados passaram a competir em todas as áreas e este fato também vai transparecer na luta por medalhas nas Olimpíadas.  Desta forma, os países do chamado “socialismo real” investiram na formação de atletas de alto rendimento, buscando mostrar que, mesmo destroçados pela Guerra, conseguiam vencer também nos esportes. Aqui devemos fazer um parêntesis para o fato de estas disputas foram importantes no contexto da “guerra fria” e foram uma verdadeira resistência por parte do leste europeu. Soviéticos, alemães orientais, húngaros , tchecoslovacos ou iugoslavos (depois Cuba, principalmente no contexto Latino-Americano) investiram e colheram frutos. Até o início da Olímpiada do Japão, a URSS ainda era o país com o segundo maior número de medalhas olímpicas, mesmo já tendo 30 anos de seu desaparecimento.1

A partir dos anos 1990, com o fim do bloco soviético e a difusão e implementação do capitalismo neoliberal, os esportes de rendimento se mercantilizam e as olimpíadas perdem muito o caráter de embate político ( o caso atual da China ainda é passível de muitos debates). Tornam-se, como tudo, mercadorias. A disputa política desde então é para ganhar medalhas e conseguir grandes patrocinadores. A vitória pessoal e o dinheiro, passam a ser a meta. O que existia de “espírito olímpico” cede espaço para a luta pelo reconhecimento do esporte em busca de ganhos materiais. 

Lógico que não é generalizável, pois o sistema é contraditório em si. Assim, vejamos como se dá a participação do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio.

3 – O Brasil em Tóquio:

O capitalismo é um sistema que cultiva a desigualdade por “natureza”. Com gestões social-democratas ou neoliberais nos campos sociais e econômicos, aceita e incentiva estas desigualdades, indo também para o incentivo da opressão racial e de gênero.

Assim, a diversidade de esportes em uma olimpíada mostra também a desigualdade entre esportes e atletas. Esportes elitizados tem se saído bem no Brasil, como as medalhas que a modalidade iatismo tem ganhado. Esportes com grande patrocínio fora das Olimpíadas como o futebol, vôlei e surfe, possuem grandes estruturas profissionais e atletas olímpicos muito bem pagos. É a mercantilização do esporte, onde aqueles que são mais aceitos pelas massas conseguem maiores patrocínios. No entanto, no outro lado da moeda, temos competidores que vivem da bolsa-atleta, de valores pequenos (ou melhor, diferenciados, pois variam de R$370,00 a R$ 3100,002) e que “disputam estas bolsas no seu dia a dia para conseguirem se profissionalizar. Duas empresas já registraram o nome “Fadinha do Skate” e agora uma advogada conseguiu o registro e passou os direitos a família de Rayssa Leal, cuja mãe recebe o Bolsa-Família.3 Atletas mais pobres sonham com grandes patrocínios.

4 – Qual o caminho?

Sem dúvidas, se queremos uma sociedade emancipada do capital, temos de investir no esporte de formação, formação humana, onde a maioria das pessoas, que não desejam ser atletas (creio que a grande maioria) possa brincar, ter lazer e saúde com suas atividades de esporte. Deve ser público, oferecer condições a todos de praticarem (sem exceção e sem exclusão) e servir para sociabilidade humana e a saúde corporal.

Já os esportes de alto rendimento devem servir para as festas de confraternização, para o lazer de quem acompanha os jogos e incentivo a prática de todos, mesmo que não seja no sentido da profissionalização.

No capitalismo será só disputa, e mercantilização. Se queremos um esporte como confraternização, lazer e saúde, temos de lutar para ultrapassarmos o capitalismo e construirmos o socialismo.

Referências

  1. FONTE: www.globoesporte.globo.com
  2. FONTE: www.agenciabrasil.ebc.com.br
  3. FONTE: www.uol.com.br

Antonio Julio de Menezes Neto

Sociólogo e doutor em educação.

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