O PSOL chega às eleições de 2024 em Natal em condições reais de ampliar sua representação na Câmara Municipal e continuar se forjando como referência política crítica e independente na cidade para a juventude e a classe trabalhadora. Para perseguir esse objetivo, o partido deve lançar candidatura à Prefeitura da capital. Entretanto, parte da direção partidária cogita o apoio à deputada federal Natália Bonavides, do PT, buscando a indicação do candidato a vice-prefeito, o que aparentemente é bastante improvável.
É verdade que Natália é a candidatura mais competitiva do PT nas últimas três eleições municipais, e difere dos perfis de Fernando Mineiro e Jean Paul Prates, respectivamente candidatos em 2016 e 2020. Natália pertence a uma organização que está localizada na esquerda do próprio petismo, mas sua candidatura expressa a política convencional de conciliações do PT. É diferente na aparência, mas idêntica na essência.
Se o horizonte estratégico é enfrentar a direita sem se confundir com os partidos da ordem, apresentando uma nominata robusta ao Legislativo, apoiar Natália Bonavides e a Frente Ampla junto com setores da direita (MDB e PRD) será descredibilizar totalmente o PSOL, ferir de morte a imagem do partido e minar o potencial das candidaturas proporcionais. O PRD é a fusão do PTB com o Patriota, um partido bolsonarista que abriga figuras do esgoto do fascismo brasileiro e que tem uma bancada que votou na Câmara Federal pela soltura do deputado Chiquinho Brazão, o mandante do assassinato da nossa vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018.
Optar por Natália é se incorporar a uma frente eleitoral com as oligarquias Alves e abdicar de apresentar o programa partidário, numa aliança que não beneficia a tática do PSOL em absolutamente nada. É também romper com a tradição de sempre lançar candidaturas majoritárias à prefeitura, as quais, acrescente-se, sempre ajudaram a ampliar o alcance de interlocução e intervenção social do partido, mesmo com limitações e problemas.
Nas últimas três eleições, o PSOL conseguiu, com suas próprias forças, garantir presença no Legislativo em Natal. Em 2012, obteve-se 3.729 votos, numa Frente de Esquerda que pôs dois parlamentares na Câmara, também pela força do fenômeno Amanda Gurgel; em 2016, foram 17.852, a maior votação da história do partido na capital, em 2020 chegou-se a 9.594.
A candidatura de Robério Paulino em 2012 à Prefeitura permitiu projetar o professor da UFRN e o PSOL – apenas dois anos depois, em 2014, o partido conseguiu 130 mil votos na eleição para governador, tendo o mesmo Robério como candidato, lançando a disputa ao segundo turno e contribuindo com a derrota da candidatura multimilionária de Henrique Alves, do PMDB. Dez anos depois desse feito histórico, seria coerente o PSOL abraçar a família Alves sob o pretexto de apoio a Natália? Em nossa opinião, não.
Se em 2018 o PSOL conquistou seu primeiro mandato parlamentar na Assembleia Legislativa do RN – com Robério Paulino e Sandro Pimentel, ambos com votações parelhas na casa dos 18/19 mil votos – isso se deve também às candidaturas majoritárias e à referência que ambos acumularam ao longo dos últimos anos.
Todos os indícios apontam que neste pleito de 2024 o partido alcançará a maior votação proporcional numa série histórica. Hoje o partido dispõe de uma lista que reúne lutadores que encampam pautas do funcionalismo, da juventude, das periferias e da diversidade, com inserção real no cotidiano da cidade e peso eleitoral significativo. É com Sônia Godeiro, Thabatta Pimenta, Tati Ribeiro, Robério Paulino, Camila Barbosa (Candidatura Coletiva da Juntas) e Fernando Lucena, dentre outros, que será possível ampliar a bancada de esquerda.
A direita tradicional e a centro-direita, que lideram todas as pesquisas eleitorais, estão representadas pelo ex-prefeito Carlos Eduardo Alves do PSD e o deputado Paulinho Freire do União Brasil, que encarna o bolsonarismo, mas permanece estanque na corrida eleitoral. Neste cenário, Natália Bonavides e o PT surgem como uma candidatura de centro-esquerda que reivindica o modo petista de governar, o que significa: conciliação de classes, medidas pró-empresariado, sem ruptura com a lógica que aprisiona os interesses populares ao ritmo dos governos amplos de coalizão, reféns da dita governabilidade, que se limita aos trâmites da institucionalidade burguesa. Nestes termos, é possível reverter o draconiano Plano Diretor de Natal? Opinamos que não!
É essa lógica de governabilidade de coalizão com o parlamento majoritariamente de direita que fez o Governo Lula liberar 14 bilhões de reais em Emendas Parlamentares Pix entre janeiro e abril de 2024. O valor é o triplo do que Jair Bolsonaro liberou no mesmo período em 2020. Em março deste ano, o governo petista, pela primeira vez na história, teve maior reprovação que aprovação: o Atlas Intel registrou 40% de reprovação e 38% de aprovação. O Governo Lula, que não revogou as contrarreformas draconianas aprovadas pelos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, continua apostando em políticas compensatórias mínimas que não garantem dignidade, mas sim a acomodação da classe às condições de exploração do capitalismo.
Some-se a este cenário de desaprovação do Governo Federal uma vigorosa greve de professores e técnicos das instituições federais de educação aberta em abril. Um levantamento do ANDES-SN mostrava, até a última sexta-feira (3), 46 instituições em greve em todo o país, mais quatro com deflagração prevista contra a política de reajuste 0% aos servidores públicos da educação federal para o ano vigente. Somam-se 79 institutos federais e 15 campi do Colégio Pedro II paralisados.
Os recursos aos interesses populares estão escassos em decorrência da política de ajuste fiscal do Governo Lula, e vale lembrar que a deputada Natália Bonavides votou favoravelmente ao Arcabouço Fiscal por “lealdade ao presidente Lula e pela unidade da bancada do PT na Câmara”, em detrimento dos anseios imediatos e legítimos do povo brasileiro.
Se foi correto o PSOL e toda a esquerda somarem-se à candidatura de Lula no segundo turno de 2020 para derrotar a ameaça fascista de Bolsonaro, não é correto silenciar diante da poderosa greve da educação e apoiar a candidatura deste governo à Prefeitura da capital.
Natália Bonavides é a candidata da governadora Fátima Bezerra e do vice-governador Walter Alves (hoje o principal líder do MDB e da oligarquia Alves). O Governo Fátima, que tem como único feito o pagamento dos salários do funcionalismo, tem produzido uma gestão marcada pelo colapso da infraestrutura (em especial da malha viária do Estado), desmantelamento dos serviços públicos, ausência de políticas sociais e alianças com a direita, tendo como aliado prioritário o presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Ezequiel Ferreira, do PSDB.
A miséria cresce vertiginosamente no RN. São 989.646 potiguares que vivem com renda média mensal de até R$ 109, de acordo com dados do Cecad e do IBGE, valor que representa apenas 25,5% do preço médio de uma cesta básica em Natal, que fechou o mês de março em R$ 427,13, segundo o Procon Natal. Não é produto do acaso que a Consult revele que em abril de 2024 o Governo Fátima Bezerra amargará a reprovação de 70,12% do povo potiguar. Na grande Natal, esse índice é mais avassalador: 79,4% de reprovação. É com esse governo da Frente Ampla que o PSOL deve se associar? Opinamos que não.
O PSOL não deve deixar-se domesticar pelo Partido dos Trabalhadores e a Frente Ampla, integrando-se à candidatura de Natália Bonavides junto com a direita. O PT conduz uma política hegemonista no campo da esquerda, silencia contrapontos, dita os interesses prioritários no processo eleitoral e tenta fazer de seus aliados satélites de sua política. É por esse e outros motivos que lançamos o Manifesto Por um PSOL de cara própria em Natal, com nossa pré-candidatura à Prefeitura.
Acreditamos que nosso partido precisa disputar a consciência da classe trabalhadora e da juventude para um projeto civilizacional de superação da exploração e das opressões, com combate à crise climática e emancipação dos de baixo. O PSOL não pode ombrear-se com os Alves e confundir-se com o que existe de mais reacionário. Não é aliando-se às oligarquias de sempre que o PSOL estará pronto para disputar um outro futuro possível.
Continuaremos exigindo prévias partidárias, decisão tomada pelo 7º Congresso Estadual do PSOL no Rio Grande do Norte. É em defesa de um PSOL como ferramenta política dos socialistas que a Revolução Socialista e o Avança PSOL apostam em nossa pré-candidatura a Prefeito de Natal, e em nome dessa convicção levaremos a pré-candidatura até a Convenção Eleitoral. Iremos até o fim.
Sem tempo para o medo, o futuro só se escreve com coerência, coragem e ousadia.