Com a confirmação das eleições municipais para o mês de novembro, esquenta o debate na esquerda socialista sobre qual deve ser nossa tática eleitoral. Um amplo setor de esquerda, que hoje inclui a maior parte da direção do PSOL (o bloco ao redor da Aliança), aposta na construção de frentes amplas, defendendo essa política com o argumento de que é o melhor meio para derrotar e enfraquecer Bolsonaro, derrotar a extrema direita e o fascismo. Assim, costuram alianças eleitorais com partidos chamados “progressistas”, como o PT e o PCdoB, mas também siglas como PDT e PSB. Entretanto, será mesmo que uma frente ampla eleitoral com esses partidos é o melhor caminho para derrotar Bolsonaro, lutar por quarentena geral, em defesa dos direitos e pôr fim ao autoritarismo do governo?
PT e PCdoB não apostam na luta contra Bolsonaro
Uma ampla unidade de ação nas ruas é uma forma fundamental de lutarmos nessa conjuntura de COVID-19, crise econômica, ajuste e governo autoritário. A unidade de ação para lutar nas ruas hoje é uma grande necessidade para os trabalhadores e o povo que estão sofrendo com o avanço da pandemia, com os ataques do governo e com o aumento da miséria e do desemprego. Mas a verdade é que o PT e o PCdoB, que dirigem a CUT, a CTB e a UNE, não estão engajados nessa unidade de ação. Esses setores não apostam nas lutas, não estiveram nas manifestações de rua e, nas categorias onde atuam, fazem de tudo para evitar o necessário enfrentamento, ajudando os governos e patrões na retirada de direitos, como recentemente fizeram com os metroviários em São Paulo.
O PT e PCdoB aplicam ajuste, flexibilizam o isolamento social e reprimem manifestações
É evidente também que, onde governam, esses partidos – com quem setores do PSOL defendem fazer coligações atualmente – atuam com uma política contra os trabalhadores. No Maranhão, na Bahia e no Ceará, por exemplo, os governos do PT e do PCdoB estiveram em sintonia com Bolsonaro e Paulo Guedes, aprovando reformas da previdência e outras medidas de ajuste, e hoje seguem a mesma linha do bolsonarismo, flexibilizando a quarentena para defender os interesses empresariais.
No Congresso Nacional, os parlamentares do PT e PCdoB votaram pelo congelamento dos salários de servidores. Na Bahia, no final do ano passado, o governador Rui Costa do PT mandou a PM bater em professores que lutavam contra a reforma da previdência e, já em 2020, foi o governador do Ceará, Camilo Santana do PT, que mandou reprimir os atos antifascistas.
Também é preciso mencionar que o PT governou o país por mais de dez anos em parceria com capitalistas, banqueiros, corruptos, empreiteiras, agronegócio e com o fundamentalismo religioso, por isso também não é possível apresentar uma nova alternativa de esquerda tendo política de aliança com esses que já governaram, atacaram os trabalhadores e reprimiram lutas.
Onde não saem coligações, eles querem alianças
Até mesmo em locais nos quais existem dificuldades para que o PSOL concretize a frente ampla eleitoral, como em São Paulo onde o PT terá candidatura própria, os principais setores da direção do PSOL atuam com uma política de parceria e boa vizinhança, bloqueando o caminho para que o PSOL se postule de fato como uma nova alternativa política.
E o pior é onde o partido é muito forte, como no RJ. Marcelo Freixo, que é a maior figura nacional do PSOL/RJ, desistiu da disputa por não conseguir coligar todos os partidos da oposição ao seu redor. Ao final, declarou até mesmo que a política do PSOL, num eventual segundo turno que nem ao menos sabemos se vai ocorrer, será com voto em Eduardo Paes (ex-prefeito pelo MDB de Michel Temer e do corrupto Cabral, e atualmente do DEM, de Rodrigo Maia). Ou seja, já há de antemão toda uma aliança em curso.
Os companheiros do MES deveriam encabeçar a oposição à Aliança
Os companheiros do MES não compõem o campo majoritário do PSOL. Em SP, com a deputada federal Sâmia Bomfim, eles vêm enfrentando a política majoritária nas prévias contra Boulos. A política de SP e da deputada Sâmia é fundamental para a disputa nacional do PSOL. Por isso somos parte dessa batalha. Infelizmente, no RJ, contraditoriamente o MES e o deputado David Miranda apoiaram a política de coligação majoritária. E o que é pior, votou sozinho no Diretório Municipal carioca pela ampliação das alianças para PDT, REDE e outros partidos burgueses. No âmbito do Diretório Nacional, os companheiros do MES também não organizam um bloco radical contra a Aliança. Acreditamos que o MES precisa refletir e mudar de posição, fortalecendo nacionalmente a linha da deputada Sâmia.
Por uma Frente de Esquerda e Socialista
Em um momento como este em que ficam escancaradas as mazelas que os governos capitalistas impõem ao conjunto do povo e dos trabalhadores, é fundamental a postulação de uma verdadeira alternativa política, mas para isso a esquerda anticapitalista precisa manter sua independência de classe. É impossível postular uma alternativa estando juntos e misturados com essas organizações que hoje traem as lutas e atacam os trabalhadores onde governam.
Nós, da CST, que somos parte do Bloco da Esquerda Radical do PSOL, entendemos que a melhor forma de postular essa alternativa é unificando os setores do nosso campo de classe, por isso batalhamos pela construção de uma Frente de Esquerda Socialista, a exemplo da FIT-U na Argentina, que tem se consolidado como uma importante referência e polo dos socialistas e revolucionários e que também se apresenta nas eleições, se consolidando enquanto quarta força nas eleições presidenciais na Argentina e elegendo dezenas de parlamentares.
Achamos que no Brasil o PSOL deveria seguir esse caminho, chamar o PSTU, PCB e UP e os movimento combativos como a CSP-Conlutas, a Intersindical e o MTST, e construir uma Frente de Esquerda Socialista que toque as lutas e construa uma real alternativa política e programática de esquerda e socialista. É preciso expressar um projeto de independência de classe, partindo da necessidade da imediata suspensão do pagamento da dívida para reverter os recursos e garantir quarentena geral com salário integral. Também nas eleições de 2020 entendemos que esse é o caminho que o PSOL deve seguir, assim seria possível construir uma tão necessária e urgente alternativa política de esquerda.