No dia 8 de agosto, o Diretório Nacional (DN) do PSOL esteve reunido para debater a conjuntura nacional e a tática para as eleições. Apesar da unidade em torno da definição do governo Bolsonaro como genocida e de extrema direita, em meio a um dos momentos mais dramáticos do nosso país, o centro do DN foi preparar as eleições e afirmar a tática da frente “amplíssima” eleitoral.
Ao nosso ver, as resoluções aprovadas no DN contêm erros graves que aprofundam o recuo programático do partido e seu caráter de atuação por dentro do regime, em detrimento do projeto de ser uma alternativa de esquerda para a classe trabalhadora com um perfil de partido de luta. Um exemplo é o ponto 15 da resolução de conjuntura, aprovada no Diretório: “O PSOL está preparando uma atuação nacional, de oposição frontal a Bolsonaro e à direita nas eleições municipais de 2020. Nosso objetivo será ampliar nas urnas o rechaço aos governos de direita e à agenda liberal nas cidades. Ao mesmo tempo, continuaremos construindo as condições para termos um forte movimento de massas capaz de abreviar o sofrimento do povo e retirar o genocida da presidência.”
O equívoco da Frente Amplíssima
O DN do PSOL referendou a tática já deliberada em vários municípios: alianças com partidos como PT, PCdoB, PDT, PSB, Rede e PV. Esse arco pode se ampliar ainda mais, visto que uma das resoluções define como critério para alianças “ser oposição declarada ao governo Bolsonaro”, sem apresentar uma lista nominal de quais seriam esses partidos.
Porém, o arco já aprovado nos dá a dimensão do problema: teremos alianças com o PT, que compõe o governo de Helder Barbalho no Pará, com PCdoB, que relatou a MP 936 e elegeu Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, e com o PDT de Tabata Amaral. Esses três partidos governam ou compõem governos estaduais que não estão a serviço da classe trabalhadora ou conformam uma trincheira da luta pelo Fora Bolsonaro.
Se alguém de outro país lesse as resoluções, imaginaria que o poder executivo do Brasil se divide em presidência e prefeituras, já que é inexistente qualquer linha ou política sobre os governadores e o papel genocida que eles também cumprem. Acontece que a política de frente ampla eleitoral aprovada traz consigo essa contradição: nos estados e municípios onde esses “partidos de oposição a Bolsonaro” governam, também flexibilizam quarentenas, reprimem protestos e aplicam ajustes, como nas reformas da previdência votadas em 2019.
Nenhuma armação para as lutas
A reunião do Diretório Nacional do PSOL poderia ser uma oportunidade de preparar o partido, sua militância e seus parlamentares para intervir e fortalecer as lutas, na perspectiva da unificação dos processos parciais que estão ocorrendo em diferentes categorias, para assim construir um amplo movimento que de fato possa defender a vida, os direitos e colocar para fora Bolsonaro e Mourão.
Infelizmente, não foi essa a política encaminhada no Diretório. O setor majoritário, liderado pela Primavera, deixou evidente que na sua condução o centro do partido é a institucionalidade, as eleições e a construção de frentes amplas eleitorais. Por isso, aprovaram uma resolução que permite coligações e alianças com partidos que também atacam os direitos da classe trabalhadora e flexibilizam a quarentena onde governam. Uma contradição com a própria história do PSOL, que foi fundado justamente pelos radicais que não aceitaram a retirada de direitos e a corrupção daqueles que supostamente se diziam de esquerda.
Nós, da CST, apresentamos resoluções de conjuntura e tática eleitoral com o Bloco da Esquerda Radical, que reúne militantes e correntes como a LS, LRP, SoB, AS, GAS e PSOL Pela Base, parlamentares como Renato Cinco, Babá, Carlos e Celso Gianazzi e lideranças como Plínio de Arruda Sampaio Jr.
Defendemos em nossas resoluções e intervenções que o PSOL deveria apostar todas as suas forças para fortalecer as lutas que estão ocorrendo agora nas categorias, chamando setores como o PT e o PCdoB a se somarem nessa luta e, quando não o fazem, denunciá-los por conivência e imobilismo. Também batalhamos para que nas eleições se expresse um projeto alternativo que defenda mudanças radicais, que possam resolver os problemas mais graves da classe trabalhadora e do povo diante dos efeitos da pandemia e da crise econômica.
Apresentamos a única resolução que era estritamente contrária a qualquer aliança com partidos burgueses e/ou que aplicam ajustes e retiram direitos. Infelizmente, não conseguimos construir uma resolução comum com outros companheiros da esquerda do PSOL, como o MES, APS e Comuna, que apresentaram outras propostas. Ainda que críticas a determinadas coligações, tais propostas permitiam alianças com esses partidos em algumas situações.
Entendemos que é uma necessidade unir a esquerda do PSOL para mudar o rumo do partido, por isso chamamos esses setores a seguirem o exemplo da batalha das prévias em São Paulo, encabeçada pela deputada federal Sâmia Bomfim. O mesmo chamado fazemos aos companheiros da Revolução Brasileira, que se manifestaram contra a frente ampla eleitoral, mas se abstiveram na votação. Achamos que é preciso unir todos esses setores críticos à posição majoritária.
Seguiremos com essa batalha, fazendo um chamado aos demais militantes e companheiros da esquerda do PSOL para que fortaleçam, com o Bloco da Esquerda Radical, a defesa da independência de classe e a construção de uma verdadeira Frente de Esquerda Socialista, junto com outros partidos de esquerda como o PSTU, o PCB e a UP.
Artigo escrito por Danilo Bianchi e Joice Souza, Membros do DN do PSOL pela CST