Seis meses de Bolsonaro na Reitoria da UFPB

Por Coletivo Cordel

Em 5 de maio de 2021, completaram-se seis meses de intervenção na UFPB! Os impactos têm sido graves no cotidiano da universidade gerida por alguém não escolhido pela comunidade universitária, mas escolhido pelo presidente genocida, anti-ciência e anti-universidade. Não tenham dúvidas, Valdiney Golveia representa quem o colocou lá! E não foram docentes, técnico-administrativos e estudantes da UFPB que o fizeram. 

É bom lembrar que o interventor não teve um único voto no colégio eleitoral e teve uma votação inexpressiva na consulta prévia à comunidade acadêmica. Na consulta, não paritária, o interventor recebeu cerca de 5% dos votos. Se tivesse sido respeitada a paridade, e se considerarmos ainda o não comparecimento à consulta, o apoio numericamente inexpressivo que o interventor teve e tem na UFPB ficaria ainda mais evidente. Portanto, é absolutamente objetivo afirmar que Valdiney Golveia não representa a comunidade da UFPB, mas sim aquele que autoritária e anti-republicanamente o nomeou.

Neste período, já se impõe uma grave repressão da liberdade de expressão, organização, manifestação e opinião na UFPB. Proibição de manifestações políticas no Campus I por entidades representativas… proibição de colocação de faixas e manifestações visuais na universidade pela ADUFPB… uso de forças repressivas contra manifestações… orientação de desconto em folha para quem cumprir paralisações decididas em assembleias sindicais… Estes têm sido atos da gestão intervencionista que lesam gravemente os princípios democráticos de pluralidade e liberdade garantidos pela Constituição, e particularmente essenciais para o espírito universitário.

Não nos esqueceremos que o interventor, em plena explosão da pandemia e do aumento do número de mortes, publicou portaria, sem respaldo em nenhuma instância representativa, estabelecendo o retorno às atividades presenciais de servidores técnicos, verdadeira ameaça às suas vidas de servidores, assim como do(a)s trabalhadore(a)s terceirizado(a)s, e de suas famílias. A exemplo de seu representado, o interventor voltou atrás em sua decisão. Porém, isto em nada diminui a repugnância à medida proposta inicialmente.

Não satisfeito, o interventor direcionou seu ataque às organizações estudantis e sindicais da UFPB e aos permissionários que mantêm pequenos comércios no campus, promovendo absurdas e autocráticas cobranças pela utilização de espaços da instituição pelas entidades representativas dos três segmentos. Isto explicita sua ignorância com relação ao papel vital destas representações para os segmentos da comunidade universitária, sua ignorância sobre o que seja a universidade, composta também por estas entidades. Mostra também a afinação perfeita à política anti sindical, anti trabalhadore(a)s e anti estudantes de seu representado Bolsonaro. O caso dos permissionários é ainda mais dramático, pois com o fechamento do Campus I e suspensão das atividades presenciais, os pequenos comerciantes, que atuam majoritariamente com a venda de alimentos ou serviços como fotocópias, perderam inteiramente a sua renda. Apesar disso, o interventor da UFPB manteve a cobrança dos aluguéis, com ameaças de despejo, algo não só juridicamente insustentável, mas moralmente desprezível.

Apoiado pelo seu fiel escudeiro, o procurador Carlos Mangueira, o interventor tem utilizado da imposição e do autoritarismo para submeter os conselhos superiores, a exemplo do caso da escolha para a ouvidoria.

Como se isso não bastasse, já se iniciaram perseguições por processos administrativos e ameaças a estudantes e professores que têm criticado a intervenção e sua política, principalmente na mobilização das forças repressivas e de judicialização contra a ocupação da entrada principal da reitoria no final de 2020, fechada desde a gestão anterior.

Soma-se a essas ações autoritárias a presença, sem máscara, deletéria e vergonhosa, em evento oficial da UFPB, do atual ministro da Educação, Milton Ribeiro, cuja inação escandalosa e abandono da educação deixam clara sua função de desmontar a educação pública. Diante de bajuladores, o ministro utilizou a oportunidade para atacar as universidades públicas e seus docentes, apontados como meros reprodutores de “discursos ideológicos”. Afirmou que o Brasil criou “universidades demais”, descuidando do ensino básico, levando a UFPB a receber analfabetos funcionais, como se o problema fosse ter mais universidades e não a falta de recursos adequados para todos os níveis da educação pública. Ainda acusou as escolas, e seus/suas professores e professoras, de não alfabetizarem as crianças para, em lugar disso, incentivar discussões sobre orientação sexual. A fala do ministro defende posição reacionária, já condenada inclusive pelo STF, além de politicamente inaceitável, ao incentivar a intolerância e o desrespeito contra a diversidade, reforçando opressões e violências históricas, estruturais e cotidianas. Em meio a toda a confusão de sua fala, o ministro conseguiu distorcer completamente o debate sobre os temas de gênero e sexualidade, alimentando a violência, omitindo a realidade das escolas brasileiras, marcadas por graves problemas de infraestrutura, superlotação de salas e professore(a)s mal remunerado(a)s e com formação deficitária, bem como a devastação, inclusive orçamentária, com que o desgoverno tem atacado as instituições de ensino e pesquisa, incluindo a coleta de dados pelo censo.

Essa regressão autoritária na UFPB tem se refletido também nos ambientes virtuais de aula e eventos. Assédios bolsonaristas e ataques misóginos, principalmente para com as docentes, assim como desrespeito à liberdade de cátedra, em nome do obscurantismo e do conservadorismo reacionários, estão sendo empoderados por uma interventoria associada e subalterna a Bolsonaro.

Não podemos permitir que toda essa violência à comunidade universitária e destruição da universidade pública no Brasil sejam aceitas ou normalizadas. As consequências são e serão gravíssimas! É preciso estarmos unidos, em resistência, não podemos permitir que o bolsonarismo na UFPB destrua os fundamentos que nos permitem a livre produção de conhecimento, cidadania e democracia, destrua a universidade pública e livre.

Diante deste cenário, conclamamos conselheiros e conselheiras, diretores e diretoras, e todo(a)s aquele(a)s representantes realmente eleitos pela comunidade acadêmica, a não minimizarem a gravidade do que representa esta intervenção

Como pode alguém não eleito presidir conselhos representativos? Como pode presidir conselhos representativos onde não teve nem um único voto? Que tipo de representação é esta? Cada conselheiro e conselheira do CONSUNI e do CONSEPE, cada direção de Centro, cada chefia departamental, coordenação etc., representa as pessoas que as elegeram! A intervenção significa uma violência contra a vontade expressa desta comunidade e que o(a)s representantes devem representar

Não queremos um interventor de Bolsonaro na UFPB, não escolhemos seu programa! Estamos vendo a destruição do país e de milhares de vidas pelo governo que Valdiney representa. Não queremos ver o projeto de Bolsonaro implantado na UFPB ou em qualquer outra instituição de ensino.

Até onde vamos normalizar o inaceitável?!

Precisamos fortalecer o COMITÊ CONTRA A INTERVENÇÃO NA UFPB (@comiteautonomiaufpb), construído por entidades representativas, movimentos, coletivos e indivíduos. 

Unidos na luta, a comunidade da UFPB restabelecerá a democracia na UFPB.

Para defender a ciência, a educação e a vida, chega de intervenção! 

É URGENTE acabar com esta intervenção e com este governo genocida que ela representa! 

#ForaBolsonaro-Mourão 

#ForaValdiney-Liana

Paraíba, 5 de maio de 2021.

Coletivo Representativo das e dos Docentes em Luta da UFPB

CORDEL - UFPB

Coletivo Representativo dos Docentes em Luta na UFPB

Um comentário sobre “Seis meses de Bolsonaro na Reitoria da UFPB

  • 13 de maio de 2021 at 2:25 pm
    Permalink

    Fosse alguém digno, esse professor-interventor teria recusado a indicação. É com isso que a direita avança a passos largos: usa um soldado e dois cabos. Como pudemos permitir essa situação nas universidades públicas federais?

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