Um panorama do fim do mundo. A marcha forçada da ultradireita fascista contemporânea: a antidemocracia radical e os dilemas da democracia radical popular.

1 – A ascensão da China como nova grande potência do capital na arena mundial, em vias de superar economicamente os EUA, a primeira e mais antiga potência hegemônica, aponta para a possibilidade e necessidade de uma nova ordem mundial capitalista que melhor atenda às necessidades nacionais dos países que orbitam o campo imperialista, assim como das economias maiores.1 Nova potência industrial e militar evoluída sob as asas de uma aliança com a potência imperialista agora em declínio, a China vê-se agora a braços com a rejeição de seu novo estatuto de poder mundial, que flerta com a possibilidade de uma guerra imperialista contra si que necessariamente tomaria um caráter mundial. 

2 – Novas e velhas ordens de interesses mundiais passam a se posicionar de modo cada vez mais diferenciado diante do processo de ascensão da nova ordem. Todo o campo capitalista passa a evoluir em acréscimo de tensão até que surgiu uma nova composição de nações que passou a disputar a hegemonia mundial.2

3 – Esta clivagem mundial acabará por produzir uma cisão no coração da potência imperial dominante entre o Partido Democrático e o Republicano dos EUA que, dada a força centrífuga de seus interesses universais, passará a contaminar o alinhamento mundial de países e, dentro deles, das forças mais ou menos adeptas da nova ordem. Entretanto, a estratégia de cerco e destruição da Rússia promovida pelo imperialismo dos EUA e seus aliados da União Europeia encontra-se em estágio de extrema exacerbação belicista, ao tentar completar o cerco daquele país incorporando a Ucrânia à União Europeia e nela podendo, então, colocar mísseis que minariam definitivamente a soberania nacional russa. Isso sem falar na organização do golpe de estado que deu início ao nacionalismo antirrusso exacerbado e à expansão do fascismo interno. A operação militar da Rússia contra a Ucrânia foi resultado da ação deliberada dos EUA para que ela ocorresse.3 Aliada ao cerco e destruição da Rússia está a tentativa de impedimento e possível reversão da hegemonia chinesa sobre a nova ordem internacional, o que eleva em muitos graus a ameaça de uma guerra mundial.4

4 – Tal situação se apresenta dotada de uma dinâmica avassaladora que, por seu turno, alterará, à direita e esquerda, os complexos ideológicos do pós-II Guerra Mundial no sentido de polarizar de modo crescente dois campos de luta: um campo democrático e outro antidemocrático mais ou menos radical. No campo democrático, observaremos a necessidade e extrema dificuldade de unidade operacional dessas forças alinhadas em graus distintos à ordem conservadora, ao passo que a unidade da ultradireita abandeirada sob a revolução antidemocrática abrigará todas as correntes e matizes da ultradireita e conduzirá às portas do fascismo declarado. Ambas essas forças, entretanto, expressam estratégias alternativas de conservação e defesa da velha ordem mundial, de perenização da hegemonia norte-americana. 

5 – Tal polarização se apresenta no palco histórico como avanço da ultradireita e dos fascistas e perda crescente de poder político do bloco democrático conservador, até há pouco amplamente majoritário, tal como ocorrera antes das primeira e segunda guerras mundiais.5 A guerra genocida de Israel contra o Hamas e os palestinos bem explica essa afirmação. Derivada da estratégia da ultradireita no poder de expandir o estado fascista aos limites da Grande Israel, ocorre com indisfarçado consentimento da potência imperialista dominante, ávida por novas fontes de energia.6 A democracia conservadora se mostra hoje, tal como no século XX, incapaz de deter a barbárie fascista. As forças contrárias a este desfecho ainda são geralmente minoritárias.

6 – A dinâmica desse processo se apresentará como ascensão da ultradireita sob o empuxo de um projeto revolucionário regressivo, negador da democracia e da cultura democrática acumulada, em luta à morte contra a democracia conservadora, burguesa e impotente, decadente e frágil, incapaz de oferecer resistência à altura dos desafios impostos pelos bárbaros revolucionários da antidemocracia radical.7

7 – No século XX, a Itália fascista e a Alemanha nazista foram modelos exemplares desse processo. Todo o campo das revoluções burguesas conservadoras europeias marchará ao fascismo ou a formas regressivas de sociedade, de Portugal à Alemanha, passando pelos Balcãs. O campo democrático conservador será derrotado pela ultradireita e seus países serão facilmente conquistados pelas hordas nazistas. Somente as forças revolucionárias e democráticas populares – comunistas, socialistas, anarquistas, católicos de esquerda –, embora minoritárias e desunidas no início, souberam construir uma força bélica poderosa que enfrentará a ascensão do fascismo com proposta de alcançar uma democracia popular e radical. Somente a Iugoslávia, com ajuda da URSS e dos aliados, sob a direção de Tito, derrotou o exército nazista contando com suas próprias forças.8 Não fosse o desfecho dos acordos de Yalta, que dividiram o mundo entre as potências aliadas vitoriosas depois do fim da II GM, o campo das democracias populares seria significativamente mais expandido9.

8 – O papel do povo e Exército soviéticos foi decisivo para a vitória aliada, e assim o projeto mundial do fascismo foi derrotado, à custa de dezenas de milhões de perdas humanas e incalculáveis perdas materiais. Tal como ocorrido no século passado, hoje a estratégia fascista é radicalmente antidemocrática e mundial, ao passo que a estratégia democrática não é radicalmente democrática e o campo revolucionário popular e democrático radical é hoje ainda mais frágil que seu congênere do século XX, sendo que, para mal dos pesares, a estratégia vital de conquista de uma democracia popular radical como estratégia contra o fascismo foi há muito esquecida. 

9 – São muitas as razões, atuais e passadas, para o esquecimento dessa estratégia. De modo primordial, está o fato de o nazifascismo colocar o anticomunismo e a liquidação da URSS como carro-chefe de sua estratégia. Isso fez com que o caráter antidemocrático radical do fascismo ficasse restrito à teoria fascista e aos sofredores diretos dessa ordem social. A segunda razão, não menos importante, é o fato de a teoria oficial soviética ter elegido a construção do socialismo e não do comunismo como momento central da evolução dessa sociedade, relegando o comunismo a um futuro indeterminado.

10 – A negação da existência de um futuro cuja realização implicasse a superação da sociedade de classes presente sempre foi ideologia da conservação a todo custo do passado. A evolução da sociedade europeia demonstra tal afirmação. O anticomunismo permanecerá sendo, desse modo, o centro da ideologia de afirmação do capitalismo como relação social eterna. A revolução russa, por sua vez, promoverá esquecimentos, lapsos historiográficos que obscureceram o processo histórico e que contribuíram e ainda contribuem à criação de obstáculos ao movimento de emancipação dos trabalhadores.

11 – Para Marx e Engels, dada a particularidade de constituição da sociedade capitalista mundial, seja na Europa ou no Novo Mundo, poderiam ocorrer, como de fato vieram a ocorrer, revoluções proletárias em nações ainda não plenamente capitalistas, ainda longe de abrigarem revoluções imediatamente comunistas. Já no Manifesto Comunista de 1848, os jovens revolucionários abordam esta questão relativa à Alemanha, que realizaria uma revolução burguesa conservadora ocorrida na presença de um proletariado altamente desenvolvido, organizado e consciente, de tal forma que “a revolução burguesa alemã será o prelúdio imediato de uma revolução proletária”10. Leia-se, uma revolução anticapitalista e comunista. Mais tarde, ambos tratarão mais precisamente desse tema em várias oportunidades, em cartas a seus amigos e camaradas, precisando que, dada a acomodação burguesa em sua revolução conservadora, era bem possível que os trabalhadores fossem levados ao poder na Alemanha e tivessem que promover uma revolução que ainda teria que resolver questões não propriamente proletárias até atingir estágio avançado de seu desenvolvimento. Ou seja, ocorreria uma revolução comunista prematura até aquele momento ainda não teorizada, para a qual, a fim de levá-la a bom termo, seria imprescindível promover o surgimento dessa teoria.11

12 – Essas revoluções populares e proletárias seriam revoluções democráticas radicais e já revoluções anticapitalistas, que transitariam ao comunismo de uma forma particular, pois prematuras, o que pressupõe uma longa transição. Assim ocorreu com a revolução russa e, na segunda metade do século XX, com os casos exemplares das revoluções iugoslava, chinesa e cubana. Estas transitariam, de fato, ao comunismo e não a outro tipo de sociedade, muito menos ao capitalismo, do qual eram negação. 

13 – Afirmar que transitariam ao comunismo implica exigir, obrigatória e conseguintemente, protagonismo da classe trabalhadora, sua evolução como classe, seu controle do estado e da economia, de modo a garantir a expansão da emancipação dos trabalhadores e consequente decréscimo correlato do campo da mercadoria e, portanto, do capital.
Contudo, por azares da história, esta transição não foi concebida como sendo comunista, mas, sim, socialista, contrariando a posição de Marx e Engels sobre este assunto. Este é o sentido da observação de Marx no capítulo 4 da Crítica do Programa de Gotha, sua carta- testamento12. Pior, esta revolução consolidou-se teórica e praticamente como sendo uma transição ao socialismo, forma teórica exaltadora e maximizadora do papel do estado e sua real emancipação vis-à-vis com a vital hegemonia trabalhadora na transição comunista, assim reduzida à sua alienação dessa transição. O resultado foi a inexorável transição ao capitalismo ao invés da transição comunista. Esta é a verdadeira razão do fim da URSS e da experiência contemporânea da sociedade chinesa, assim como do fim das sociedades socialistas do leste europeu.

14 – Também é esta a razão da falência do comunismo político, da perda de sua outrora grande influência no movimento operário e entre as vanguardas intelectuais de todo o mundo. As consequências do abandono e repressão das tarefas da emancipação proletária pelo estado socialista e partido comunista seu reitor, cuja expressão sintética é a teoria da revolução socialista e a operação de transmutação desta em suposta continuação da herança de Marx, minaram radicalmente o prestígio do movimento emancipador e da revolução que o expressa. 

    15 – Deriva daí o bloqueio, temporário, porém de média duração, da vertente emancipadora das lutas de classes, dado a maioria dos adeptos do polo contemporâneo mais radical desta ter como proposta universal monocórdica a revolução socialista, declarada santo e senha do futuro, desconhecendo mediações, ou seja, uma maior apreciação de momentos particulares e singulares do processo histórico, das situações nacionais. 

      16 – Exemplo vivo do afirmado acima foi o ocorrido com a Revolução Cubana. De início, sucederam-se apreciações desabonadoras da luta dos jovens guerrilheiros, sejam as denunciadoras de seu caráter pequeno-burguês, sejam as denunciadoras de sua suposta pouca visão histórica do processo, do esquecimento do socialismo ou então da impossibilidade de vitória, dado não estar dirigida por um partido comunista. Vitoriosa a revolução, apresentou-se ao mundo como revolução democrática popular e radical. Vetada em seguida pelo imperialismo dos EUA, esta viu-se constrangida a assumir seu rumo anticapitalista e anti-imperialista. Entretanto, de acordo com a ideologia oficial da experiência soviética, autoproclamou-se socialista, como se esta fosse um sinônimo de comunista. 

      17 – Ora, uma e outra denominação são radicalmente diferentes. A transição ao socialismo pressupõe a emancipação do estado e a transição comunista, a emancipação dos trabalhadores. Só esta última estaria de acordo com Marx, podendo chamar-se de revolução comunista, ainda que tenha pela frente uma longa e difícil transição, por ser prematura13. A proclamada via socialista necessariamente conduz a um pós-capitalismo que transita a um novo patamar do próprio capitalismo, tal como ocorreu na ex-URSS e em todos os demais ex-países socialistas europeus. Não ocorreu ainda em Cuba, dado o caráter profundamente popular e anti-imperialista da revolução. A China, por seu lado, optará por ser um capitalismo de estado fortemente controlado pelo partido comunista, e uma potência bélica – semelhante ao que Lenin sugerira à Rússia soviética após a NEP e, a certa altura, após Mao, naturalmente abraçará o abandono do exercício do internacionalismo proletário e da pregação revolucionária comunista (ou socialista, melhor dizendo). A Coreia do Norte optará por um comunismo de guerra defensivo, dado viver ainda em armistício com sua outra metade capitalista subordinada aos EUA.

      18 – Rússia, muito embora capitalista, pobre e miserável nos marcos neoliberais ainda vigentes14, obriga-se a ser uma potência bélica, pois centro nevrálgico do cerco imperialista sobre si, voltado à sua liquidação, conquista e desmembramento. A operação militar especial defensiva da Rússia contra a Ucrânia e a frente única imperialista contra a Rússia já são, de fato, como sabemos, processos do desenrolar da IV Guerra Mundial, movida pela OTAN contra a Rússia.15 Nova guerra mundial híbrida dentro da Guerra infinita proclamada pelos EUA, necessária para a manutenção a ferro e fogo da ordem mundial capitalista sob sua exclusiva hegemonia. 

      19 – Guerra cujo centro motivador será o desejo imperialista de liquidar o eixo Rússia-China, que, por sua vez, por via do extraordinário crescimento do poderio econômico chinês, congregará em torno de si um novo bloco de nações, desejoso de autodeterminar-se e, assim, liquidar a subordinação imperial aos EUA e seus aliados. O nascimento do BRICS e, agora, sua expansão, que parece tendente a ampliar-se ainda mais, revela a emergência de um bloco concorrente à hegemonia mundial e alternativo aos desatinos da potência declinante16.

      20 – Guerra derivada da perda de hegemonia dos EUA sobre a ordem mundial, impactada irreversivelmente pela revolução tecnológica derivada da expansão da microeletrônica nos processos produtivos, que resultará no surgimento do 4º órgão da máquina,17 do nascimento de novo capital produtivo (financeirizado, é claro) e, consequentemente, de novas forças produtivas já incapazes de realizar seu pleno desenvolvimento dentro dos marcos do capital, sentido maior de sua crise insuperável18.

      21 – Daí resultará um fantástico desenvolvimento dessas novas forças produtivas a abalar definitivamente o reino da mercadoria e, consequentemente, dos mercados, sob a forma de verdadeira guerra do capital contra os trabalhadores.19 Processo que conduzirá inexoravelmente ao desemprego em massa e, aliado à opção pelo capital financeiro e abandono do Estado do Bem-Estar, à miserabilização e degradação mundial dos trabalhadores, à expansão da fome e das guerras civis dilacerantes, ao tsunami de refugiados atravessando fronteiras e continentes, à violência urbana desenfreada ligada à expansão das máfias e milícias, à redução consciente do universo da emancipação social20 e, consequentemente, à expansão da antidemocracia radical e ao fascismo como sua expressão ideológico-política ancestral.21 Aliado a isso, o trânsito da crise ambiental do estágio de catástrofe ao de colapso, a colocar em perigo a existência da vida no planeta22.

      22 – Estamos, portanto, a falar sobre o avanço da ultradireita, da contrarrevolução mundial, através de seus veios políticos bélico e institucional, cujo centro é a fratura política norte-americana e o persistente bloqueio da via democrática revolucionária popular radical. E, como razão maior dessas ocorrências, a perda de dinamismo de seu capitalismo23, devida à sua impossibilidade de acompanhar a marcha da revolução tecnológica do novo capital produtivo financeirizado, pautada pela sucessão de etapas escaladas pelo quarto órgão da máquina.24

      23 – Em nosso vasto mundo neocolonial, dos nossos capitalismos da miséria, a situação é mais dramática do que a vivida na Europa. Ali, os trabalhadores ainda têm meios mais poderosos de resistência, embora o fascismo político avance. Na América Latina, o bloco da ultradireita, pregador da ultrassubordinação aos EUA e do império absoluto do capital financeiro, do desmantelamento das políticas sociais e do consequente incremento da miséria e regressão social, a marcha da revolução democrática popular radical está bloqueada. O avanço das esquerdas por dentro da democracia conservadora é sempre instável, pois a contraofensiva reacionária é sempre implacável. Constatemos a marcha à direita da revolução bolivariana25, as dificuldades da revolução boliviana26, o surpreendente processo democrático chileno27, a extrema dificuldade dos avanços democráticos da América Central e do México28, a imprevisibilidade da política argentina29 e a extrema fragilidade da democracia conservadora no Brasil30. Enquanto a democracia conservadora é defensiva relativamente ao fascismo, este se encontra na ofensiva, é revolucionário, promove a revolução da ultradireita (forma específica da contrarrevolução, portanto). 

      24 – O obscurecimento da revolução popular democrática radical como antessala da revolução comunista prematura revela-se poderosa força conservadora, a imprimir sua marca no ziguezaguear dos avanços democráticos em nossas nações. Não nos esqueçamos que a revolução é a principal força de contenção da barbárie capitalista, fator civilizador de primeira linha. O espectro do comunismo a abrigar-se nas massas operarias obrigou o capitalismo a abraçar o estado de bem-estar social no século XX, como resposta ao prestígio da URSS no pós-II Guerra. Por sua vez, o fim da URSS permitiu-lhe desfazer-se dele e marchar à guerra contra todas as forças que se opunham ao império unilateral dos EUA e do novo capital financeiro na ordem mundial que se seguiu, em sua mundialização neoliberal

      25 – Desse modo, desimpedir o caminho da revolução democrática popular e radical e do comunismo revela-se não uma plataforma retórica, mas sim uma estratégia política central para o alcance de uma nova era de emancipação social, de paz e preservação da vida em nosso planeta comum.

      26 – Epílogo: O colapso da sociabilidade sob o capital e a necessidade da emancipação humana
      O surgimento do novo capital produtivo sob a forma do quarto órgão da máquina estabelece o centro vital do colapso desta relação social. A microeletrônica, ao permitir a superação técnica das limitações da etapa anterior da revolução industrial, promove nela uma outra revolução, a revolução tecnológica que levará ao surgimento desse novo capital produtivo financeirizado e, consequentemente, de novas forças produtivas cuja expansão não terá mais limites técnicos, mas, pela primeira vez na história do capital, limites sociais. Estas novas forças produtivas, para seu pleno desenvolvimento, exigirão novas relações sociais, ver-se-ão impedidas de expandir-se em quantidade e qualidade, na dimensão de sua potencial dinâmica adquirida. Esta subversão da ordem do capital impregnará todos os processos da reprodução social e se apresentará como crise do capital ou sua crise estrutural. Tal subversão, dentre outras dimensões, colocará a humanidade no limiar de sua extinção, seja pela conquista da multiplicada capacidade bélica31, seja pela subversão das condições climáticas de existência da vida humana seja, mais recentemente, pela conquista da capacidade multiplicada de retroagir os degraus sociais emancipatórios já percorridos pela sociedade humana através da ilimitada capacidade de abdução intelectual pela mentira, pela produção planejada e sistemática do caos, permitida pelo fenômeno da multiplicação das redes sociais até o momento institucionalmente incontroláveis. Ao rebaixamento intelectual e degradação das relações sociais, incluída a educação, resulta o ressurgimento de uma era de barbárie. Sob tais condições e processos adversos de descivilização declarada, a luta pela emancipação humana adquire centralidade dramática, absoluta, inadiável, imperiosa.

      Referências

      1. GLAZYEV, Sergey. A última guerra mundial. EUA começa a guerra e perde. (2016): “Uma ampla integração euroasiática que inclua a Europa, a China e a Índia, bem como o Médio e Próximo Oriente, poderia tornar-se um poderoso fator estabilizador anti-guerra, ajudando a superar a crise económica global e a criar novas oportunidades de desenvolvimento. A parte pensante e mais responsável da comunidade mundial percebeu que, para evitar uma nova onda de confronto autodestrutivo e garantir o desenvolvimento sustentável, é necessária uma transição para um novo paradigma baseado nos princípios do respeito mútuo pela soberania, uma regulamentação global justa e mutuamente cooperação benéfica. A Rússia tem uma oportunidade histórica única para recuperar o seu papel como centro unificador global, em torno do qual um equilíbrio de poder fundamentalmente diferente começará a formar-se, uma nova arquitetura de relações monetárias, financeiras, comerciais e económicas globais baseadas na justiça, harmonia e cooperação no interesse dos povos da Eurásia [265]”. Vide também Glazyev, S. Integração Eurasiática como Direção Chave da Política Moderna da Rússia. Revista Izborsk Club, n. 1, 2014.
      2. É o caso dos BRICS
      3. SACHS, Jeffrey. A guerra na Ucrânia foi provocada – e por que isso é importante para alcançar a paz. Disponível em: https://www.jeffsachs.org/newspaper-articles/wgtgma5kj69pbpndjr4wf6aayhrszm 
      4. CARVALHO, Bernardo. O impasse dos Estados Unidos diante da China. Revista Fim do Mundo, n. 5, p. 158-184, maio-ago. 2021. Disponível em: http://www.revistas.marilia.unesp.br/index.php/RFM
      5. Como breve ilustração, tomemos a ascensão do fascismo italiano, na obra de Antonio Scurati, O homem da Providência, Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, onde lemos que, em 1926: “O que resta da velha Itália, portanto, é pouca coisa. Alguns generais do Exército se mantêm afastados e ainda esperam do rei uma ordem que não será dada. No Senado, poupado da demolição do Estado liberal, apesar dos pequenos focos de desdém, nada consegue sacudir as múmias do Palazzo Madama do seu torpor. Na Câmara, os últimos seguidores de Giolitti se submetem ou se escondem. Até ontem, os opositores esperavam poder vencer com as armas legais o adversário que já havia vencido no campo da força. Ofuscados pelo mito da cautela, esperaram por anos uma jogada do rei e, nessa espera, se esgotaram. Agora a barra está limpa. Nas praças das cidades pequenas, procissões seguem atrás de imagens de Mussolini; na foto tirada recentemente no Sacrário do Castel Sant’Angelo, quatro marechais da Itália em uniforme de gala disputam um sorriso seu enquanto ele posa de cartola e fraque; os jornais do mundo inteiro competem entre si ao tecer elogios ao Duce, e os bajuladores italianos, pela boca de Leo Longanesi, até começaram a difundir o slogan “Mussolini tem sempre razão”. […] Eis o que resta da liberdade, daquela ilusão verbal oferecida aos ingênuos da qual tanto se fala na democracia”. (p.212-213).
      6. CHOSSUDOVSKY, Michel. War and Natural Gas: The Israeli Invasion andGaza’s Offshore Gas Fields. Disponível em: https://www.globalresearch.ca/indepthreport/palestine.
      7. LIMA FILHO, Paulo Alves; GENNARI, Adilson Marques; CAMPOS, Fabio A. Revolução e contrarrevolução na vanguarda capitalista da barbárie. Revista Fim do Mundo, n. 5, p. 21-76, maio-ago. 2021. Disponível em: http://www.revistas.marilia.unesp.br/index.php/RFM
      8. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Frente_Iugoslava
      9. HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. O breve século XX 1914-1991. 2. ed. São Paulo: Cia da Letras, 1995. p. 224-225.
      10. MARX & ENGELS, OE. Manifesto del Partido Comunista. Moscú: Editorial Progreso, 1976. Tomo I, p. 140.
      11. MARX & ENGELS, OC. T. 28, Carta n. 42 F. ENGELS A IOSSIF WIEDEMAYER, 12 DE ABRIL DE 1853, p. 486-493. 2. ed. em russo. Moscou: Editora de Literatura Política, 1962.
      12. A Crítica ao Programa de Gotha, escrita como carta aos dirigentes alemães, em 1875, dizia: “[…] Pergunta-se, então: por que transformação passará o sistema de estado numa sociedade comunista? Em outras palavras, que funções sociais permanecem então, que sejam análogas às funções atuais do estado? Há que responder a esta pergunta apenas cientificamente, e por mais que se combine de mil maneiras a palavra “povo” com a palavra “estado”, isso em nada alteraria e não faria avançar a solução do problema. Entre a sociedade capitalista e a comunista fica o período da transformação revolucionária de uma na outra. Corresponde a esse período de transição política um estado que não pode ser outro senão a ditadura revolucionária do proletariado. Ora, o programa nem se ocupa desta última nem da futura estatalidade da sociedade comunista.As suas reivindicações políticas não contêm senão a velha litania democrática, conhecida de toda a gente: sufrágio universal, legislação direta, direito do povo, exército do povo, etc. […] Isso seria nada mais que a voz burguesa do Partido Popular e da Liga da Paz e da Liberdade. São nada além de reivindicações que, uma vez que não se tornem exageradas em representações fantásticas, já foram realizadas. Só que o Estado ao qual elas pertencem não está dentro das fronteiras do Império alemão, mas na Suíça, nos Estados Unidos, etc. Esta espécie de «Estado do futuro» é o estado contemporâneo, embora existindo fora «do quadro» do Império alemão. […] Uma vez que se não teve a coragem de reclamar a república democrática, como os programas operários franceses fizeram, sob Louis-Philippe e sob Louis-Napoléon — e sensatamente, pois as condições pedem precaução —, também foi inútil recorrer ao subterfúgio – nem “honesto” nem honrado – de exigir coisas que só têm sentido numa república democrática de um estado que foi nada mais que cosido em formas parlamentares, mesclado a apêndices feudais, não é senão um despotismo militar, burocraticamente organizado, policialmente guardado e, ao mesmo tempo já influenciado pela burguesia e, além disso, jurar solenemente a esse Estado que supõem conseguir dele tais coisas por “meios legais.” (Marx, K. Criítica ao Progama de Gotha. Moscou: Politizdat, 1975, p. 21-22, em russo, tradução e destaque PALF). Disponível em: http://www.marxists.org. Esta citação abreviada bem explica a posição já citada de Engels em 1853. Note-se a evidente filiação desta posição de Marx com o ensaio de Lenin, O estado e a revolução.
      13. Como Marx afirma, inquestionavelmente, no Manifesto Comunista, cap. II.
      14. BUZGALIN, V. A. Economia russa: pobreza, estagnação, alternativas. Revista Fim do Mundo, n. 9, p. 175-189, jan.-jun. 2023. Disponível em: https://www.elibrery.ru/item.asp?id=49289699
      15. ADAMS, Mike World War III Has Already Begun, but the Truth Is Being Withheld from the Public Until the Very Last Moment, Natural News.com 23 set 2022. Global Research, August 27, 2023. Disponível em: https://globalresearch.ca/indepthreport/nuclear-war.
      16. FIORI, J. L. Os desatinos da potência que perdeu o rumo. Disponível em: https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/os-desatinos-da-potencia-que-perdeu-o-rumo/ 
      17.  BACCHI, Sérgio. A crise geral do capital. Revista Fim do Mundo, n. 1, p. 23-38, jan.-abr. 2020. Disponível em: http://www.revistas.marilia.unesp.br/index.php/RFM
      18. LIMA FILHO, Paulo Alves. A emergência do novo capital. In: IANNI, Octavio; DOWBOR, Ladislau; RESENDE, Paulo E. Almeida. Desafios da globalização. Petrópolis: Vozes, 1998. p.237-247.
      19. ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
      20.  FISHER, Max. A máquina do caos: Como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso mundo; DA EMPOLI, Giuliano. Os engenheiros do caos. São Paulo: Vestígio, 2019.
      21.  MATTEI, Clara. The capital order. How economists invented austerity and paved the way to fascism. The University of Chicago Press, 2022.
      22. MARQUES, Luiz. Entrevista à Revista Fim do Mundo, n. 5, p. 358-38, maio-ago. 2021. Disponível em: http://www.revistas.marilia.unesp.br/index.php/RFM ; VON WERLHOF, CLAUDIA et al. Geoengineering Is Wrecking Our Planet and Humanity. Disponível em: https://www.globalresearch.ca/global-war-ning-geoengineering-is-wrecking-our-planet-and-humanity/5753754
      23. MASON, Paul. Capitalismo. Um guia para o nosso futuro. São Paulo: Cia das Letras, 2017.
      24. O quarto órgão da máquina, descoberto por Sérgio Bacchi, é o órgão de controle do processo de produção, expressão da microeletrônica, que irá permitir a ação coligada e infinitamente crescente de processos de produção e sistemas de máquinas, constituindo nova força produtiva.
      25. GUERRERO, Modesto Emilio. Que busca el gobierno Maduro? Revista Fim do Mundo, n. 9, p. 256-260, jan.-jun. 2023. Disponível em: http://www.revistas.marilia.unesp.br/index.php/RFM
      26. LINERA, Garcia Álvaro. Moderação prejudica a esquerda. Deixou de transformar para administrar. Disponível em: https://dialogosdosul.operamundi-ALVARO-GARCIA-LINERA/ ; MOLINA, Fernando. Evistas versus Arcistas. Guerra abierta en el MAS boliviano. Nueva Sociedad, n. 307, sept.-oct., 2023. ISSN: 0251-3552. Disponível em: https://www.nuso.org
      27. CARAMORI, Patrício Soto. Chile, 1520 dias, de la ilusión a la esperanza. Revista Fim do Mundo, n. 9, p. 246-255, jan.-jun. 2023. Disponível em: http://www.revistas.marilia.unesp.br/index.php/RFM
      28. JOSEPH, Lazaro C. R.; Miriam G. de Moraes. Nicarágua e o fracasso das tentativas de revolução colorida no período de 2018 a 2023. Revista Fim do Mundo, n. 9, p. 100-138, jan.-jun. 2029. Disponível em: http://www.revistas.marilia.unesp.br/index.php/RFM
      29. AHARONIAM, Aram. Argentina. La ultraderecha avanza, el bipartidismo retrocede, el dinosaurio sigue ahí. Resumen Latinoamericano files. In: Resumen Latinoamericano, agosto 2023. Disponível em: https://nuso.org
      30. LIMA FILHO, Paulo Alves. Alguns elementos de economia política da reindustrialização: o caso do Brasil. Revista Fim do Mundo, n. 9, p. 22-29, jan.-jun. 2023. Disponível em: http://www.revistas.marilia.unesp.br/php.RFM
      31. CHOSSUDOVSKY, Michel. “Preemptive Nuclear War”: The Historic Battle for Peace and Democracy. A Third World War Threatens the Future of Humanity. Global research, jul. 2023. Disponível em: https://globalreseearch.ca/indepthreport/ukraine.report

      Paulo Alves De Lima

      Coordenador do IBEC, Economista e Cientista Social. Professor aposentado, UNESP - FATEC. Escreveu Pensando com Marx, Associação dos comunistas unitários.

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