O mês da visibilidade lésbica surgiu na luta e na realização do primeiro seminário nacional de Lésbicas em 1996, lembrando que existimos e resistimos as violências lesbofóbicas. Durante muitos anos a luta contra a homofobia esteve centrada no movimento GGG e acabava apagando a existência de outras identidades e sexualidades. A mudança da sigla GLS para LGBT foi uma tentativa de avançar na visibilidade lésbica, para que tivessem voz e o movimento pudesse progredir na sua unidade contra a homofobia.
O dia 29 de agosto marca ações coordenadas pela ABL, ABGLT, Rede Afro LGBT, Rede de Lésbicas Negras e outras entidades. A data foi escolhida para lembrar a primeira grande manifestação de lésbicas no Brasil, ocorrida em 1983, em São Paulo, no que ficou conhecido como o “Stonewall brasileiro”. Cansadas dos abusos e homofobia sofrida no local, o Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF) ocupou o Ferro’s Bar para protestar e exigir o fim da homofobia no local, onde era um ponto de encontro para ativistas LGBTs e artistas. Além de abusivos, os donos do bar proibiram a distribuição do boletim ChanacomChana e expulsaram as autoras, considerada a primeira publicação do movimento lésbico no Brasil.
Como é ser lésbica no Brasil? O que é lesbofobia?
O crime de lesbocídio foi incluído no dossiê do Núcleo de Inclusão Social (NIS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) de 2018, sendo este um dos graus mais elevados de homofobia contra lésbicas, surge da necessária denuncia dos assassinatos de mulheres que se relacionam com mulheres. A lesbofobia é o preconceito que causa consequências imensuráveis a vida dessas mulheres, que deriva da repulsa, da misoginia e da discriminação da existência lésbica. Entendemos que a heterossexualidade é compulsória, apesar de ao longo da história a relação entre pessoas de mesma identidade ter sido natural, no capitalismo o estado assume cada vez mais a cruzada patriarcal e os interesses da igreja, se utilizando da homofobia para criminalizar identidades para atender aos seus interesses econômicos.
As consequências são graves, mulheres lésbicas convivem com o apagamento da sua sexualidade, a fetichização e objetificação dos seus relacionamentos. É comum ouvir frases como: “Diz que é lésbica porque nunca transou com o homem certo”, “quem é o homem da relação?” ou “posso participar? Ou ficar olhando?”, violências reverberadas na negligência da área da saúde, existe uma completa ausência de políticas públicas para o sexo seguro e um completo despreparo para atender mulheres que se relacionam com mulheres. A violência é ainda maior quando se trata de mulheres negras, lésbicas, travestis e transsexuais.
A iniciativa do NIS é extremamente importante, pois até recentemente não havia dados sobre essa violência. Segundo o dossiê, 71% dos crimes acontecem em locais públicos e 81% deles são causados por homens, revelando também a intrínseca relação entre lesbofobia e machismo. Tais dados revelam uma sociedade patriarcal, que além de não “meter a colher” é conivente com os crimes.
Luana Barbosa, presente! Lembrar dos nossos significa não parar de lutar contra os fundamentalistas religiosos, o estado e seus governos. O assassinato de Luana, uma mulher negra, periférica e lésbica, espancada pela PM na frente de seu filho, nos diz que a nossa luta ainda não terminou.
O Bolsonarismo é inimigo das mulheres lésbicas e todo o movimento LGBTQIA
No dia da sua posse em 1 de janeiro de 2019, o governo Bolsonaro assinou a MP 870 que retirou a população LGBT das diretrizes de políticas públicas do novo “Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Assumidamente “homofóbico com orgulho” e que prefere um filho morto a um filho homossexual, Bolsonaro passou do discurso de ódio às práticas governamentais de exclusão, inviabilização, e fomento a homofobia, essa medida demonstra a tentativa do governo de nos eliminar, lavando suas mãos em relação a proteção das LGBTs.
Quase dois anos depois houve outras práticas de apagamento, como a retirada da cartilha dirigida a homens trans do ar, bem como o desmantelamento das políticas de saúde relacionadas ao HIV. Por isso é preciso reviver o Stonewall brasileiro para defender as nossas vidas, com organizações sociais, políticas e sindicais que defenda:
- Educação sexual e de gênero nas escolas para combater o machismo e a homofobia desde a primeira infância.
- Aborto legal, seguro, legal e gratuito para todas as mulheres e homens trans.
- Pela separação efetiva da Igreja e do estado, exigindo à laicidade do Estado e fim da influência religiosa nos processos políticos.
- Fim dos estereótipos LGBTs na mídia.
- Leis e políticas públicas que garantam o fim da discriminação em lugares públicos e privados, como escolas e empresas.
- Construção de casas abrigos voltadas às populações LGBTs vítimas de violência física e psíquica.