A terra nos é estreita

POESIA

A poesia é o gênero mais popular da literatura palestina e se constituiu como um importante instrumento de resgate da pátria invadida e da própria existência do povo palestino. Mahmud Darwich, poeta palestino que fez parte dos chamados “poetas da resistência ou “poetas da terra ocupada”, refugiado no Líbano com a família ainda na juventude, elabora em sua obra a questão do enraizamento e do exílio – fora e dentro do território palestino.

A TERRA NOS É ESTREITA
(تضيق بنا الارض – محمود درويش)

A terra nos é estreita. Ela nos encurrala no último desfiladeiro
E nós nos despimos dos membros
Para passar
A terra nos espreme. Fôssemos nós o seu trigo para morrer e ressuscitar.
Fosse ela a nossa mãe para se compadecer de nós.
Fôssemos nós as imagens dos rochedos
que o nosso sonho levará como espelhos.
Vimos os rostos daqueles que, na derradeira defesa da alma,
o último de nós matará.
Choramos pela festa de seus filhos e vimos o rosto
dos que precipitarão os nossos filhos pelas janelas deste último espaço.
Espelhos que a nossa estrela polirá.
Para onde iremos após a última fronteira?
Para onde voarão os pássaros após o último céu?
Onde dormirão as plantas após o último vento?
Escreveremos os nossos nomes com vapor
carmim, cortaremos a mão do canto para que a nossa carne o complete.
Aqui morreremos. No último desfiladeiro.
Aqui ou aqui… plantará oliveiras
Nosso sangue

Mahmud Darwich

*****

No deserto, o desconhecido me disse:
Escreve!
Respondi: falta-me ausência
Não domino a palavra
Disse-me então: escreve, conhece
Sabe onde estavas, onde estás
Como vieste, quem serás
Põe o teu nome na minha mão
Escreve, sabe quem sou
E espalha nuvens no céu
Escrevi por fim:
Aquele que escreve sua história
Herda a terra das palavras
E se apossa do sentido
Completamente!

LIVRO

Homens ao Sol

O romance “Homens ao Sol”, publicado em 1963 por Ghassan Kanafani, conta a história de três palestinos, de diferentes gerações, que, exilados no Iraque, tentam cruzar ilegalmente a fronteira para o Kuwait em busca de uma vida melhor. Sem dinheiro para pagar um contrabandista, os três resolvem fazer a travessia do deserto dentro do tanque de água de um caminhão. No calor do deserto, eles divagam com saudosismo sobre o passado e a possibilidade de dias mais felizes.

FILMES

Memória Fértil – Michel Kleif *

Segundo Michel Khleifi, diretor do longa-metragem, “Memória Fértil é um filme sobre como viver sob ocupação através do retrato de duas mulheres que sofrem, cada uma de sua maneira, para defender seu direito como uma Palestina e como uma mulher”. Romia é uma senhora, cuja família se refugiou em vários lugares do mundo e que permanece batalhando, por mais de 30 anos, por sua terra ancestral expropriada pelas autoridades Israelenses. Sahar Khalifeh é uma escritora divorciada e mãe, que batalha para construir uma nova vida em uma sociedade patriarcal. A rememoração dá corpo ao filme, que combina elementos narrativos e ficcionais para traçar o paralelo da humanidade vivido diariamente pelas duas mulheres.

5 Câmeras Quebradas – Emad Burnat e Guy Davidi

Em uma pequena cidade na Cisjordânia um muro, que prepara o terreno para o estabelecimento de um assentamento judeu, começa a ser construído. Emad, agricultor e morador do povoado, tinha recebido sua primeira câmera para filmar o filho nascido há poucos meses. Com o ataque israelense, o povoado organiza a resistência e Emad passa a documentar os protestos. O movimento é reprimido pelo exército sionista, que quebra câmera após câmera. A obstinada necessidade de testemunho é sintetizada pelo nome do filme – 5 Câmeras Quebradas – que concorreu ao Oscar e ganhou melhor direção em documentário do Festilval de Sundance em 2012.

O Paraíso deve ser aqui – Elia Suleiman

Através do humor, “O Paraíso deve ser aqui” explora os significados do exílio e da procura de um lar. O cineasta palestino Elia Suleiman, interpreta a si mesmo, viajando por Paris e Nova York. Em outros cantos do mundo, as questões palestinas parecem segui-lo. Segundo o diretor, “O mundo se tornou uma Palestina global”. Elia Suleiman, ao longo de toda sua obra trabalha a questão palestina, além do seu último filme, indicamos toda sua cinematográfia.

Êxodo no Espaço – Larissa Sansour *

Dirigido por Larissa Sansour, o curta de apenas 5 minutos é protagonizado pela própria diretora em uma ficcional viagem ao espaço. Parte de uma trilogia de curtas de ficção científica, Êxodo no Espaço reinterpreta a chegada do homem à lua. Através de construções profundamente metafóricas, o filme reivindica a bandeira da Palestina e denuncia a condição de refugiado em seu próprio território pela “fuga” ao espaço.

Sobre Futebol e Barreiras – João Carlos Assumpção, Arturo Hartmann, Lucas Justiniano, José Menezes

O documentário trata do conflito entre Israel e Palestina através das ideias e reações de árabes e judeus durante a Copa do Mundo na África do Sul, em 2010.

*Infelizmente, alguns dos filmes só conseguimos encontrar os links abertos com legendas em inglês.

VISUAIS

Nakba – a catástrofe – é como chamam os palestinos a profunda depopulação a que foram submetidos em 1948. Os inúmeros registros fotográficos da violência são profundamente reveladores da violência da ocupação, mostrando uma população desarmada, em desespero e consternação. Mais de 725 mil palestinos deixaram suas casas ou foram expulsos pelas forças sionistas, para tornarem-se refugiados em Gaza, Cisjordânia e outros países vizinhos do que viria a ser Israel.

On the Edge , 1985

Jamal Al Mahamel II (2005) A obra de Sliman Mansour (1947), um dos mais destacados pintores contemporâneos palestinos, é tida como uma expressão visual do conceito do “Sumud” – estratégia política e cultural de resistência à opressão. A pintura “Jamal Al Mahamel” mostra um velho palestino carregando Jerusalém nos ombros, adquire uma importância simbólica para a luta, tornando-se um ícone da Intifada. A tela original foi pintada em 1973, pertencia a Muammar Gaddafi e foi destruída durante os ataques americanos contra a Libia de 1986. Aqui está reproduzida a segunda versão, um pouco maior, feita em 2005

Temporary Security Zone, 2004

Nesta imagem, a fotógrafa francesa Anne-Marie Filaire – autora de uma série de registros de diferentes territórios – sintetiza com grande força o caráter opressivo das zonas de segurança temporárias. A foto faz parte de uma pesquisa de mais de 25 anos sobre a paisagem e sua dimensão política.

“Grater Divide”, 2002

Hot Spot III”, 2009

Mona Hatoum (1952)

Nascida no Líbano, Mona Hatoum é filha de refugiados palestinos e atualmente vive em Londres, onde estava por um período curto quando eclodiu a Guerra no Líbano. Sua obra, um dos destaques da cena contemporânea internacional, mantém intensa relação com as noções de conflito, deslocamento e contradições geopolíticas da atualidade, como mostram trabalhos como Mona Hatoum  Grater Divide (2002) e “Hot Spot III” (2009), potentes metáforas visuais da tensão e violência contemporâneas.

The green line (Francis Alÿs, 2000)

“Às vezes, fazer algo poético pode se tornar político e, às vezes, fazer algo político pode se tornar poético”: com esta frase que sintetiza de forma contundente seu trabalho ao mesmo tempo crítico e potente, Francis Alÿs, artista belga radicado no México, dá início ao registro da ação que realizou em 2004, percorrendo e retraçando em tinta verde 24 quilômetros da “linha verde” que corta o município de Jerusalém. A performance também se desdobra em comentários e leituras de pessoas convidadas pelo artista a reagirem espontaneamente à ação. O vídeo e os depoimentos estão disponíveis em http://francisalys.com/the-green-line/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *