O amanhã é nosso

Poesia

Vozes-Mulheres 

A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.

A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela

A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
        e
        fome.

A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.

– Conceição Evaristo

Não iremos embora

Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em vossas goelas
Como cacos de vidro
Imperturbáveis
E em vossos olhos
Como uma tempestade de fogo
Aqui
Sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Em lavar os pratos em vossas casas
Em encher os copos dos senhores
Em esfregar os ladrilhos das cozinhas pretas
Para arrancar
A comida de nossos filhos
De vossas presas azuis
Aqui sobre vossos peitos
Persistimos
Como uma muralha
Famintos
Nus
Provocadores
Declamando poemas
Somos os guardiões da sombra
Das laranjeiras e das oliveiras
Semeamos as idéias como o fermento na massa
Nossos nervos são de gelo
Mas nossos corações vomitam fogo
Quando tivermos sede
Espremeremos as pedras
E comeremos terra
Quando estivermos famintos
Mas não iremos embora
E não seremos avarentos com nosso sangue
Aqui
Temos um passado
E um presente
Aqui
Está nosso futuro

– Tawfic Zayyad

ALERTA

Lá vem o lança-chamas 
Pega a garrafa de gasolina 
Atira 
Eles querem matar todo amor 
Corromper o pólo 
Estancar a sede que eu tenho doutro ser 
Vem do flanco, de lado 
Por cima, por trás 
Atira 
Atira 
Resiste 
Defende 
De pé 
De pé 
De pé 
O futuro será de toda a humanidade.

– Oswald de Andrade

Filmes

Pedreira de São Diogo

O curta dirigido por Leon Hirszman faz parte do longa Cinco Vezes Favela, icônico trajetória do Cinema Novo brasileiro. Os operários de uma pedreira se organizam para barrar uma explosão que iria derrubar os barracos do morro São Diogo no Rio de Janeiro.

Nostalgia da Luz

O documentário chileno dirigido por Patrício Guzman é uma obra prima. Através do paralelo entre o trabalho dos astrônomos no deserto do Atacama e a busca incessante de um grupo de mulheres que resiste na busca dos restos mortais de seus filhos e companheiros, desaparecidos na ditadura militar, o filme discute a história chilena, os vestígios deixados pelo passado e o que eles podem nos dizer sobre o momento presente.

Terra e Liberdade

David Carr, um comunista inglês, deixa seu país na década de 30 para lutar na Guerra Civil Espanhola contra o fascismo. Quando ele morre, sua neta, Kim, encontra suas cartas e fotografias da época. Através desses registros, toda sua trajetória, sempre conduzida pela liberdade em que acreditava, é contada. O filme é uma feroz crítica ao fascismo e ao autoritarismo do stalinismo, mas também um grito de esperança que entoa em vários momentos do filme, “a batalha é grande e são muitos, mas nós somos muitos mais, sempre seremos muitos mais, o amanhã é nosso, companheiros”.

Martírio

Assista agora no #CinemaAoVivo "Martírio", longa-metragem de Vincent Carelli em co-direção com Ernesto de Carvalho e Tita.Premiado documentário sobre a insurgência pacífica e obstinada dos povos Guarani-Kaiowá frente ao Agronegócio. (Documentário, 162min, 2016, Brasil)Para assistir esse e mais vídeos do Vídeo nas Aldeias, acesse http://videonasaldeias.org.br/loja/

Posted by Mídia NINJA on Thursday, April 19, 2018

Vincent Carelli que já havia registrado os Guarani Kaiowá em 1980, volta ao Centro Oeste vinte anos mais tarde para registrar o genocídio e a constante repressão de uma das maiores populações indígenas do Brasil pelo mecanismo do agronegócio na avidez por mais terra.

Terra para Rose

Terra para Rose, documentário dirigido por Tetê Moraes discute a questão agrária na Nova República brasileira, a partir da incansável determinação dos camponeses que invadem a fazenda Annoni, em um arrastado processo de desapropriação. Através do depoimento das mulheres do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e com protagonismo de Rose, o filme retrata a batalha daqueles trabalhadores para se assentar naquela terra e construir um mundo novo.

Livros

México Rebelde

John Reed, jovem jornalista norte-americano, junta-se ao exército rebelde de Pancho Villa e narra o cotidiano e a luta dos bravos camponeses e homens simples que em busca de dignidade protagonizaram a revolução mexicana.

A guerra não tem rosto de mulher

Svetlana Aleksiévitch, jornalista bielorussa, recolhe durante anos relatos de mulheres que lutaram no exército vermelho durante a Segunda Guerra Mundial. Contar o que nunca foi contado, esse é o trabalho do livro que busca a experiência e os sentimentos, as memórias e os traumas, das mulheres que fizeram a guerra e tiveram suas vidas completamente transformadas por ela. Ao invés de heroicizar a guerra, a escritora procura o elemento humano massacrado por ela.

A guerra do fim do mundo

Inspirado por os Sertões, de Euclides da Cunha, Mario Vargas Llosa se debruça sobre a Guerra de Canudos e reconta sua história no romance, A guerra do fim do mundo. “Na caravana, que subia, descia, borboleteava pelo sertão escaldante, deixavam de viver envergonhados e assustados e partilhavam uma anormalidade que os fazia se sentir normais”.

Um comentário sobre “O amanhã é nosso

  • 31 de maio de 2020 at 9:36 pm
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    Excelente publicação do Contrapoder.

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