As mais recentes pesquisas de opinião sobre o governo Bolsonaro indicam um surpreendente crescimento na popularidade do presidente, o maior índice de aprovação desde sua posse. Além disso, quase metade da população considera que Bolsonaro não é responsável pelo avanço da contaminação por coronavírus, nem pelas mais de 100 mil mortes, ao mesmo tempo em que aumenta a responsabilização de governadores. Apesar de a maioria relativa considerar que o país não fez o necessário para evitar a pandemia, este índice caiu comparativamente a pesquisas anteriores, e os índices dos que consideram que se fez o necessário ou que não havia o que fazer aumentaram. No mesmo diapasão, diminuiu a preocupação da população com os riscos de contaminação, enquanto os índices de isolamento social caem progressivamente, apesar das expectativas pessimistas quanto ao futuro da economia, com expectativa de aumento da inflação e do desemprego e queda no poder de compra da população. Ou seja, a popularidade de Bolsonaro não apenas não caiu por conta da crise econômica e de sua responsabilidade direta na catástrofe pandêmica, como subiu a níveis nunca vistos. Entre os que o aprovam, a maioria relativa se encontra entre os que ganham até dois salários mínimos, ou seja, os segmentos mais precarizados e pior remunerados da classe trabalhadora ─ as maiores vítimas do programa ultraliberal e antidemocrático de seu governo.
Muitos atribuem estes índices de apoio popular ao auxílio emergencial, que foi concedido à revelia do governo e num valor três vezes superior ao recomendado pela equipe econômica, mas que numa situação de gravíssima depressão econômica e total vulnerabilidade social significou para muitos segmentos sociais melhoria em seu poder de compra e mesmo sua saída da faixa da população que vive em extrema pobreza. Involuntariamente Bolsonaro tornou-se o principal beneficiário do auxílio emergencial em termos políticos, e não à toa já pensa em torná-lo permanente por meio do Programa Renda Brasil. As bases sociais do lulismo tendem a se bolsonarizar! Isso demonstra o enorme poder de cooptação dos programas de transferência de renda numa sociedade fortemente marcada pela desigualdade social e pela precariedade dos direitos sociais, fortalecendo a estatolatria independentemente da coloração política do governo. Também indica a fragilidade política e ideológica dos alicerces sobre os quais assentou o apoio popular aos governos petistas.
Por outro lado, apesar do forte apelo político do auxílio emergencial, é preciso considerar que a popularidade de Bolsonaro também cresceu por conta da postura acomodatícia da oposição de direita e da esquerda da ordem em relação ao seu governo. A primeira, em nome da manutenção do programa ultraliberal de Guedes, do aprofundamento do ajuste fiscal e do ataque aos direitos sociais e trabalhistas como eixos da política econômica, além do imperativo da estabilização política e da “normalização” da vida sob a catástrofe pandêmica para a retomada implacável dos “negócios”. A segunda, em nome de um cálculo político oportunista e eleitoreiro, que prefere manter Bolsonaro na cadeira imaginando que seu desgaste político vai favorecer a esquerda institucional nas eleições de 2022, em lugar da mobilização popular por seu impeachment.
O equívoco dessa estratégia evidencia-se cada dia mais, particularmente porque a pretensão de manter Bolsonaro sob controle é uma quimera e porque o apoio popular torna o sonho bolsonariano do autogolpe e do fechamento definitivo do regime político ainda mais plausível. Diante disso, que motivos tem ele para retroceder em sua escalada autoritária? Portanto, só a luta dos trabalhadores, mobilizados nos locais de trabalho e nas ruas, e uma oposição de esquerda consequente e radical serão capazes de barrar a ameaça bolsonarista e derrotar o ultraliberalismo. Todo apoio à greve dos trabalhadores dos Correios!
Contrapoder, 24 de agosto de 2020
Não creio que Bolsonaro vá precisar dar golpe algum. Ele já deu e de maneira legal. Com essa esquerda liberal que aí está e tendo sucesso em chupar as tímidas políticas dos governos petistas, inclusive se dando ao luxo de ampliar a abrangência dos beneficiados e de aumentar o valor dos benefícios, Bolsonaro, caso não surja uma candidatura, pela esquerda, contra o Sistema, tende a se reeleger.
Do jeito que está, e se nada for feito, Biroliro já está reeleito! O mais difícil é fazer a oposição moderada, sobretudo petista, descer do pedestal e parar de achar que Lula foi o maior estadista desde Júlio César.
Venho do futuro e bem, veja só: Bolsonaro não foi reeleito.