Lições da Luta pela Democracia em Hong Kong

Entrevista com um ativista da linha de frente em Hong Kong1

Anthony Wallace / AFP

Traduzido por Sean Purdy, Departamento de História, Universidade de São Paulo

Anônimo

O que aconteceu com o movimento de protesto de Hong Kong que enfureceu e preocupou a atenção global por muitos meses em 2019? Inflamado pela tentativa do governo de Hong Kong em forçar a aprovação de um projeto de extradição no Legislativo, o movimento evoluiu em várias fases. Na primeira fase, a luta contra o projeto de lei mobilizou milhões de moradores comuns de Hong Kong em manifestações de massa. Nas batalhas de rua, militantes logo assumiram a frente e se tornaram a face mais visível do movimento.

O movimento apresentou 5 demandas:

  • retirada total do projeto de lei anti-extradição;
  • retirada da caracterização de “motim” para os protestos;
  • anistia total para manifestantes presos;
  • uma investigação independente sobre a conduta policial;
  • verdadeiro sufrágio universal.

Apesar da retirada do projeto de extradição, o governo de Hong Kong não concedeu nenhuma das outras demandas do movimento.

Em vez disso, sob pressão do estado chinês, lançou uma furiosa contraofensiva tendo como alvo os manifestantes. O movimento sofreu uma série de reveses graves: o cerco policial à Universidade Politécnica de Hong Kong, em novembro, exauriu e desmoralizou muitos dos manifestantes mais radicais; as restrições da COVID-19 a reuniões públicas permitiam que a polícia prendesse pessoas em qualquer reunião política; a imposição da Lei de Segurança Nacional em julho de 2020 criminalizou ainda mais o discurso e a organização; e a desqualificação de quatro legisladores pan-democráticos (dos partidos a favor de democracia) e a renúncia de 15 outros em protesto que deixaram o Conselho Legislativo de Hong Kong sem qualquer oposição.

Então, no início de 2021, o governo prendeu e deteve 47 conselheiros legislativos e ativistas da oposição por violarem a Lei de Segurança Nacional. Eles agora enfrentam julgamento e sentenças severas se forem condenados. Os protestos de rua cessaram e ativistas da linha de frente estão fugindo de Hong Kong. Finalmente, Beijing começou a reformular o sistema eleitoral de Hong Kong, tornando as eleições cada vez mais uma farsa.

O que podemos aprender com o movimento? O movimento transformou profundamente relacionamentos, radicalizou pessoas e treinou uma nova geração de ativistas em Hong Kong. A estratégia e táticas de protesto do movimento encontram repercussões em outros protestos da Catalunha à Tailândia e agora em Mianmar.

Falei com um ativista que participou do movimento desde os primeiros estágios e estudou suas estratégias e táticas. Por razões de segurança, o ativista pediu o anonimato.

Para começar, conte-nos sobre sua própria experiência no movimento. Como você se envolveu nos protestos de 2019?

É uma pena que eu não estava em Hong Kong e perdi a importante manifestação de massa em 12 de junho para impedir que o projeto de lei fosse aprovado. O primeiro protesto de que participei foi o de 16 de julho de 2019 e, desde então, participei da maioria dos protestos nesse ano.

Naquela época, eu trabalhava com uma organização de defesa dos direitos humanos quando o projeto de extradição foi apresentado. Estava trabalhando na construção de solidariedade com ativistas da China continental que sofreram prisões em massa. O projeto de lei que permitiria a extradição de suspeitos para o continente foi particularmente alarmante para mim. Parecia que ameaças políticas estavam se aproximando.

Todo o movimento foi uma surpresa para mim. Achei que isso só seria preocupante para um grupo relativamente pequeno de pessoas. No entanto, no início do verão, antes mesmo de acontecer a primeira manifestação em massa, as pessoas lançaram centenas de petições, fizeram seus próprios panfletos e organizaram barracas de informação em todos os distritos.

Logo percebi que este era definitivamente um movimento de massa. A recusa do governo em retirar o projeto de extradição e a brutalidade policial contra os manifestantes desencadearam uma ampla mobilização. Esses protestos atraíram dezenas de milhares de pessoas comuns em Hong Kong, muitas das quais eram novas na luta política. As pessoas experimentaram uma variedade de ações diretas e desenvolveram redes sociais massivas de ajuda mútua que transformaram e sustentaram o movimento.

Quais foram as principais estratégias e táticas de protesto que você observou? Como eles mudaram com o tempo? E qual é a sua avaliação sobre a eficácia deles?

A primeira e mais importante estratégia foi “descentralizar” e “distribuir” a organização. Desde o início, o movimento anti-extradição rejeitou ter uma liderança formal. O movimento adotou isso, em parte, em reação à derrota da última expressão do movimento democrático de Hong Kong – o Movimento Guarda Chuva de 2014.

Os ativistas queriam evitar dois problemas com a liderança nessa luta – sua falta de responsabilidade e a repressão política de seus líderes públicos. Então, dessa vez, ninguém foi realmente identificado como líder ou porta-voz do movimento.

As pessoas acreditavam que sem organizações, líderes ou estrelas políticas, elas poderiam ter mais controle da luta. Quando houve a necessidade de avaliar a situação e planejar como recuar com segurança, os manifestantes desenvolveram suas próprias equipes de batedores e “patrulhamento da multidão” para relatar e marcar a localização da polícia em um mapa digital em tempo real.

Quando as pessoas ficaram feridas e não puderam ir ao hospital devido ao risco de serem presas, os manifestantes formaram redes de médicos voluntários para tratá-los. Quando o transporte público foi fechado ou não foi mais seguro, os motoristas de ônibus escolares deram carona gratuita aos manifestantes.

Quando há manifestantes adolescentes sendo expulsos por seus pais devido ao envolvimento no movimento, “pais adotivos” foram encontrados para abrigá-los e foram providenciados recursos para mantê-los seguros e bem alimentados. Estes são apenas alguns exemplos dos incontáveis ativistas de sistemas participativos auto-organizados, crowdsourced (financiados por vaquinha online) e abertos, criados para partilhar informações, conhecimento e recursos uns com os outros.

A “equipe de campanha política” é um bom exemplo. Teve um papel importante na distribuição de informações, na consolidação dos rumos do movimento e na mobilização. Existem canais do Telegram que coletaram e carregaram centenas de milhares de pôsteres para espalhar nas redes sociais, Lennon Walls (muros de grafites políticos), barracas de rua e lojas pró-movimento em todos os distritos.

Vale ressaltar que, ao invés de reivindicar o crédito pelo design, todos os materiais foram feitos de forma anônima, sem atribuição, e foram disponibilizados para download livremente. As plataformas de crowd-sourcing possibilitaram a capacidade de resposta e flexibilidade da campanha.

Deixe-me dar um exemplo que mostra esta rede transmitindo informações com uma velocidade considerável. Na noite de 11 de agosto, um médico levou um tiro no olho e ficou cego. Em resposta, os manifestantes convocaram uma ação para paralisar o aeroporto na tarde seguinte. Na manhã seguinte, quando desci para tomar café, o túnel do meu bairro já estava coberto de cartazes sobre o incidente. Vários homens de meia-idade estavam lendo e discutindo sobre isso.

Passei até por um jovem parado no metrô segurando um quadro de papel com o slogan “olho por olho”, pedindo que as pessoas participassem da ação à tarde. Quando cheguei ao saguão do aeroporto, milhares de pessoas já estavam reunidas e alguns dos manifestantes distribuíam folhetos para informar os turistas sobre a situação.

Os manifestantes foram capazes de reagir ao incidente e organizar uma resposta tão rapidamente porque nenhum indivíduo ou entidade foi responsável por projetar, imprimir, postar ou distribuir. Em vez disso, essas funções importantes foram desempenhadas por diferentes pessoas trabalhando juntas organicamente. Quando as pessoas encontram papéis que podem desempenhar ou maneiras de contribuir, ficam mais motivadas a participar.

A segunda estratégia principal era um compromisso com a distribuição geográfica. Desde os primeiros meses do movimento, os protestos se expandiram para vários locais em Hong Kong, passando dos centros financeiros e políticos para as comunidades periféricas. Na minha opinião, este desenvolvimento é muito importante, porque permitiu aos manifestantes construírem redes e bases de organização em suas próprias comunidades.

Essas bases permitiram que as pessoas conectassem o movimento político ao seu cotidiano. Também permitiu que os ativistas alcançassem mais pessoas, ajudando o movimento a crescer e se sustentar quando a reunião no centro da cidade se tornou cada vez mais difícil.

A terceira estratégia importante foi usar a ação direta militante e protestos pacíficos, construindo a solidariedade entre eles. A ação direta não é nova na história de Hong Kong. Desde meados dos anos 2000, mais pessoas abandonaram a ideia de que o povo de Hong Kong poderia alcançar por meio de barganhas políticas entre os partidos “pan-democráticos” (partidos a favor de democracia) e o governo de Beijing e, em vez disso, passaram a agir diretamente nas ruas.

No Movimento Guarda Chuva, a ação direta atingiu uma maior escala ainda. No entanto, esse movimento experimentou rachas entre grupos e marginalização como resultado de táticas radicais de protesto. Surgiu uma grande divisão entre os defensores de protestos pacíficos e os partidários da ação direta radical.

Em contraste, os altos níveis de brutalidade policial justificaram táticas radicais no movimento deste ano. Em uma pesquisa realizada em outubro passado, mais de 90% dos manifestantes concordaram que o movimento só pode atingir o efeito máximo por meio de uma combinação de ações pacíficas e radicais. Esta porcentagem muito alta reflete uma profunda solidariedade entre todos os manifestantes e um entendimento comum de que a solidariedade e a cooperação entre todas as alas do movimento eram necessárias.

Mas os manifestantes não chegaram a um consenso sobre quais estratégias e táticas funcionaram melhor – confrontos de rua, greves, eleições ou os Círculos Econômicos Amarelos (YEC), que organizaram negócios pró-democracia. No entanto, a solidariedade entre os manifestantes permitiu-lhes explorar diferentes frentes e construir solidariedade entre eles. Por exemplo, quando o movimento enfrentou desafios para organizar manifestações em massa em julho de 2019, os manifestantes adotaram táticas mais radicais, incluindo arrombamento de prédios do governo, fechamento de aeroporto, bloqueio de estradas e greves.

E em novembro de 2019, quando os confrontos radicais de rua enfrentaram prisões em massa e a repressão foi intensificada, os ativistas se voltaram para as eleições distritais, a construção de Círculos Econômicos Amarelos e a sindicalização como formas de contra-atacar. Usar todas essas táticas e construir solidariedade entre as diferentes redes que as organizam ajudou o movimento a se sustentar e tornou mais difícil sua supressão.

Como as ideias dos manifestantes evoluíram? As ideias de direita se tornaram mais dominantes no movimento devido à repressão?

Isso é difícil de responder. Considerando o quão grande se tornou o movimento e quão ampla e diversa foi a participação nele, é realmente difícil tirar conclusões gerais sobre suas diferentes tendências ideológicas.

Assim como em Taiwan, as pessoas em Hong Kong nunca realmente romperam com a estrutura ideológica da Guerra Fria. As pessoas comuns ainda associam a esquerda ao Partido Comunista na China e seus agentes em Hong Kong.

Desde o início de 2000, tem havido mais discussões e ações diretas críticas ao capitalismo, mas o anticapitalismo ainda não é uma força forte na sociedade de Hong Kong. O que é pior, após a derrota do Movimento Guarda Chuva, ativistas de esquerda foram culpados por seu fracasso. Nos anos seguintes, vimos uma onda emergente de gente local da direita que têm promovido uma agenda anti-imigrante e prioridade para questões locais.

No entanto, em 2019, devido à natureza e ao tamanho do movimento, nenhum grupo político ou corrente individual poderia dominar o movimento. Eu diria que a terminologia tradicional de esquerda e direita não oferecem lentes úteis para olhar para a luta deste ano.

A participação diversificada e ampla significou que as pessoas entraram na luta sob a influência de ideologias hegemônicas – abraçando o capitalismo, mantendo ideias confusas e contraditórias sobre o comunismo e sem compreensão e empatia com as lutas em todo o mundo. Eles se juntaram à luta para proteger seus direitos democráticos com quaisquer ideias em que acreditassem.

Mas o movimento mudou as pessoas: os participantes se tornaram muito críticos e resistentes ao governo e à polícia; as ações sindicais desencadearam novas discussões sobre direitos trabalhistas, solidariedade e ação sindical; a luta cultivou uma nova solidariedade com as minorias étnicas; houve muitas tentativas de ação direta e ajuda mútua. Há um grande potencial para a esquerda nesses aspectos do movimento.

No entanto, algumas partes da luta permaneceram conservadoras ou ecoaram a ideologia da direita local, como a discriminação contra os continentais chineses e o apoio ao Trump. Mas a maioria dos participantes não se encaixava em nenhuma categoria nítida e tinha ideias contraditórias. Portanto, não foi surpresa encontrar pessoas muito comprometidas com o movimento democrático pensando que deveriam se sindicalizar para paralisar a economia e pressionar o governo, mas ao mesmo tempo aceitarem estereótipos anti-imigrantes sobre os continentais chineses em Hong Kong e pensar que os ativistas do Black Lives Matter são encrenqueiros.

Qual tem sido o humor dos ativistas da linha de frente em Hong Kong nos últimos meses? Ainda há impulso para continuar voltando às ruas, apesar das restrições da pandemia e das táticas policiais endurecidas?

Os confrontos de rua na linha de frente aumentaram desde o final de julho de 2019 até atingir seu pico em meados de novembro. Essa foi uma época em que havia uma variedade de ações nas ruas a cada dois dias. A polícia respondeu com violência crescente, reprimindo protestos e realizando prisões em massa.

Em meados de novembro de 2019, a polícia prendeu mais de mil pessoas em um único dia durante as batalhas em duas universidades; muitos dos manifestantes da linha de frente ficaram feridos e sofreram traumas psicológicos graves. Esses confrontos violentos revelaram as limitações da mudança para táticas violentas em resposta à polícia.

As bombas improvisadas que os manifestantes usaram para se defender não tiveram chance contra a polícia armada com suas armas, balas de borracha e canhões de água. Assim que as pessoas perceberam isso, elas abandonaram a ação radical de rua, pois era difícil ver a possibilidade de que isso pudesse avançar na luta por mudanças.

Embora tenha havido menos ações de confronto nas ruas depois de novembro, ainda havia manifestações em massa pelo menos até o surto de COVID em janeiro de 2020. Essas ações foram importantes no sentido de que os manifestantes podiam se ver, o que mantinha o ímpeto.

Em 1º de janeiro de 2020, mais de um milhão de pessoas compareceram em um dos maiores protestos até então. No entanto, a pandemia e a repressão policial tornaram extremamente difíceis organizar quaisquer outras manifestações. O governo usou a pandemia como álibi para tornar todos os protestos ilegais e reprimir todas as ações de rua com prisões arbitrárias em massa.

A imagem abaixo mostra a rapidez com que o governo posicionou a polícia antes dos protestos. Eles se infiltraram em redes de ativistas, descobriram seus planos e posicionaram a polícia em cruzamentos e ruas importantes antes que os manifestantes chegassem, evitando que se reunissem em grande número.

Mobilização policial na manifestação de 1º de janeiro de 2020, marcada nos círculos vermelhos na imagem.

Com o declínio nos confrontos de rua, os ativistas se voltaram para outras frentes. Eles iniciaram campanhas sindicais, Círculos Econômicos Amarelos (YEC), e tentaram concorrer às eleições. Essas frentes não são novas para o movimento. Os ativistas os usavam desde os primeiros estágios do movimento, mas sua importância cresceu com o declínio dos protestos em massa.

Como a nova Lei de Segurança Nacional em Hong Kong impactou o movimento em Hong Kong?

Tem sido um período de tempo sufocante para as pessoas em Hong Kong desde a implementação da Lei de Segurança Nacional, em julho de 2020. O governo prendeu pessoas por terem pôsteres “separatistas” e por fazerem declarações “separatistas” nas redes sociais.

Emitiu mandados de prisão para ativistas no exterior e ex-conselheiros legislativos no exílio. Lojas e restaurantes retiraram cartazes pró-democracia e as pessoas começaram a deletar suas contas nas redes sociais.

Acho que é importante notar que a Lei de Segurança Nacional é mais do que apenas uma lei; é uma declaração política, orientação ideológica e, o mais importante de tudo, é uma campanha de intimidação. O governo pretendia fazer com que parecesse que todo tipo de comportamento político era crime, de forma que as pessoas mal conseguissem descobrir se, e de que maneira, suas ações poderiam violar a lei.

Isso tem levado as pessoas a se envolverem em autocensura e autodisciplina. O governo explora isso para quebrar a solidariedade entre os manifestantes, especialmente entre militantes da linha de frente e manifestantes regulares. Como resultado, os militantes ficaram mais isolados e ainda mais vulneráveis a prisões e repressão.

Como os ativistas devem avaliar e gerenciar o risco?

Existem medidas práticas que podemos tomar: adote medidas de prevenção de risco para você e sua própria rede; aumente a segurança da informação e da Internet; estude casos de supressão política de ativistas do continente para que possamos estar mais preparados mentalmente sobre isso. Além dessas medidas bastante óbvias, há duas coisas que devemos fazer.

Em primeiro lugar, os manifestantes devem fortalecer nossas conexões, trocar informações e permanecer solidários uns com os outros. Isso é essencial para que possamos organizar respostas eficazes e coordenadas à escalada da repressão política.

Isso pode parecer abstrato, mas essa solidariedade é fruto do que as pessoas de Hong Kong têm feito no ano passado. Nos protestos de rua, aprendemos que, se não houvesse manifestações em massa para apoiar os confrontos na linha de frente, a polícia poderia ter facilmente identificado e apreendido os frontais.

Em várias greves, aprendemos que formar sindicatos e fazer greve com base em decisões coletivas protege melhor os trabalhadores de enfrentarem sozinhos a repressão. Mais importante de tudo, aprendemos que “eles não podem matar todos nós.”

As redes de crowdsourcing e frentes de movimento que organizamos nos conectaram, construíram redes de ajuda mútua e estabeleceram as bases para uma solidariedade mais profunda. Isso é exatamente o que temos que fortalecer para arcar com o risco e sobreviver à contraofensiva do governo contra nós.

Em segundo lugar, devemos aprender com as lutas em lugares como a China continental, outros países do Sudeste Asiático, Turquia e tantos outros locais onde os ativistas enfrentaram vigilância, encarceramento extrajudicial e tortura. Devemos aprender com suas lutas, estratégias e táticas para ter uma melhor compreensão da repressão política, como enfrentá-la e como derrotá-la.

Os ativistas estão procurando uma saída de Hong Kong ao buscar refúgio em outros países? Isso é realista para a maioria dos manifestantes?

Centenas de manifestantes fugiram para Taiwan no ano passado. E não parece se limitar à ativistas. De acordo com uma pesquisa realizada no final de junho, pouco antes da introdução da Lei de Segurança Nacional, mais de 50% dos habitantes de Hong Kong consideravam emigrar. E 29% deles escolheram Taiwan como seu principal destino.

Mas não acho que seja uma opção realista para a maioria das pessoas em Hong Kong. Esta onda de refugiados políticos é muito diferente daquela após a repressão aos protestos da Praça Tiananmen em 1989.

Naquela época, os requerentes de asilo eram algumas figuras proeminentes e abertas. Desta vez, os números que consideram buscar refúgio são muito maiores e muitos deles nasceram em famílias com origens menos privilegiadas. Então, eles não podem se dar ao luxo de deixar Hong Kong.

Além disso, a maioria das políticas de imigração de estados favorece as pessoas “procuradas” com dinheiro e “especialização”. É altamente improvável, especialmente quando estão implementando políticas anti-imigrantes, que aceitem milhares e milhares de ativistas de Hong Kong em seus países.

Aqueles que saem têm a oportunidade de se conectar com outros imigrantes e requerentes de asilo em todo o mundo. Eu também espero que eles alcancem os movimentos locais em seus novos países, e não (só) os políticos (formais). Dessa forma, o movimento de Hong Kong e sua diáspora mundial podem construir solidariedade com outras lutas e fortalecer tanto estas como as nossas próprias lutas no processo.

Referências

  1. Publicado originalmente na Spectre: A Marxist Journal, 26 de março de 2021, https://spectrejournal.com/lessons-from-hong-kongs-fight-for-democracy/

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