O plano é criar a Grande Israel, diz James Petras

Entrevista com James Petras – 22 de Julho, 2006 

Que perspectivas tem o conflito no Médio Oriente? Qual é o plano de Israel?

O plano de Israel – e há que o dizer com toda a franqueza – é a criação do que chamam Grande Israel. Há já meio século que os principais líderes de Israel têm uma visão megalomaníaca: a de que Israel deve ir do Canal de Suez até o Eufrates. Parece uma visão apocalíptica, bíblica e imperial, mas é nela que acreditam os principais políticos de Israel. Não querem ficar simplesmente com a metade de um pequeno país. A partir desta visão, com diferentes graus de agressividade, primeiro conquistaram territórios da Palestina, ocuparam o Sul do Líbano e tiveram de sair à força em razão da resistência do Hezbollah. E agora voltam à carga, destruindo totalmente a economia de Gaza, para forçar o que alguns trabalhistas sionistas chamam de “as condições para a saída voluntária da população palestina” (dizem assim, com todo o cinismo), o mesmo que estão fazendo no Líbano agora, sob o pretexto de um conflito provocado pela prisão de dois soldados. Com este pretexto, estão destruindo toda a economia do Líbano, atacando até mesmo um governo que é cliente de Washington e soldados fiéis à liderança política pró-Washington.

Isto mostra que Israel não é um simples agente do imperialismo norte-americano, mas sim que realmente tem suas próprias ambições imperiais e sua própria estratégia. O fato de os Estados Unidos tolerarem que Israel esteja atacando seus clientes tem a ver com o lóbi judeu nos EUA, que não permite que Washington defenda seus próprios clientes, nem os investimentos norte-americanos no Líbano ou os projetos de reconstrução de Gaza.

Vocês devem saber que a central elétrica de Gaza foi construída por homens do governo Bush, numa forma de tentar estabilizar o que existe em Gaza. A primeira coisa que Israel fez foi destruir esta central, que custou mais de 50 milhões de dólares. E, como é habitual, todo o lóbi, todas as organizações comunais judaicas apoiam Israel contra a política de Washington, o que indica que aqui temos uma comunidade cuja primeira lealdade é com o governo de Israel e não com o país onde vivem, e que têm uma enorme força e controlam os congressistas. Bush sabe disso e tem medo, neste ano eleitoral, de mostrar divergências com Israel, apesar de estar subvertendo sua política de estender a influência norte-americana a partir das mudanças de regime, como fez no Líbano.

Recordo que a política dos EUA, a partir do assassinato de uma figura política [o primeiro-ministro Rafik Hariri], foi forçar a Síria a abandonar o Líbano e, a partir desse êxito, construir um governo no Líbano favorável aos interesses de Washington. O mesmo que agora Israel está destruindo. E está provocando a polarização a favor da Síria, a favor do Hezbollah e contra os EUA. Como podemos explicar que Israel possa fazer coisas assim? Porque a extensão do poder e a ocupação do território do Líbano por parte de Israel são apoiadas pelos presidentes das principais organizações judias que, junto com os milionários judeus, financiam mais de 60% das contribuições que recebe o Partido Democrata e 35% das contribuições que recebe o Partido Republicano. Se quiserem analisar o impacto da política dos sionistas aqui nos EUA, devem estudar – eu construí um dossiê que documenta a penetração dos Comitês de Ação Política, o que aqui chamam PAC – como contribuem com dinheiro, ativistas e participação nos comitês de assessores. Aqui, estamos “sionizados” em relação à política do Oriente Médio.

Nesta perspectiva, não estou vendo nenhuma intervenção pela paz por parte dos Estados Unidos, e, como consequência de sua influência na Europa e de seu poder de veto nas Nações Unidas, esta guerra vai continuar. Não há qualquer possibilidade de que se negocie, de que haja trocas de prisioneiros ou se resolva o conflito, porque os prisioneiros são pretextos para Israel estender seu poder e influência.

Este cálculo de Israel é muito perigoso para todo o mundo. Porque se Israel lançar um ataque contra a Síria, vai provocar uma reação do Irã. O Irã tem mísseis que podem alcançar Haifa e até mesmo Tel Avive, e isso implica uma guerra generalizada, porque aqui a influência sionista vai empurrar os EUA contra o Irã e a Síria, e aí estaremos numa guerra mundial generalizada.

Esse é o grande perigo do fanatismo judeu fundamentalista que apoia este estado terrorista de Israel. Não é um simples problema entre Israel e Palestina e os direitos dos palestinos.

Estamos dizendo que há um perigo mundial, como as pesquisas de opinião na Europa apontam. Várias vezes nas pesquisas pergunta-se qual é o principal perigo para a paz, e o estado que nomeiam primeiro é Israel. A resposta de Israel é que toda a Europa é antissemita! Em vez de refletir e perguntar “o que estamos fazendo?”, a resposta automática de Israel é culpar os que estão preocupados e não se questionar internamente.

O mesmo acontece com as organizações sionistas, judeus que no mundo automaticamente respondem na mesma linha, como papagaios do que diz Israel. É como o stalinismo nos piores momentos. São correias de transmissão automática. Um dia Israel diz uma coisa, nos dias seguintes repetem-na dentistas, médicos, advogados, especuladores, meios de comunicação, todos repetem palavra por palavra.

Não tenho nenhuma visão otimista pela paz. Enquanto Israel estiver governado por uma visão megalomaníaca, com uma arrogância e uma prepotência espantosas, não haverá paz. Vamos para uma guerra prolongada.

Nota do editor: Mapa da grande “Israel

Publicado originalmente em Esquerda.net

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