A China é, Sim, Capitalista e Imperialista

I. China: o Socialismo do Século XXI?

A China é, sim, capitalista, e pra lá de imperialista. Sua realidade nacional e ação internacional não deixam lugar a dúvidas. Para aqueles, é claro, que não se negam a reconhecer a realidade gritante. Apesar disto, comunicadores, intelectuais e assemelhados, que se dizem de esquerda e mesmo marxistas, defendem apaixonadamente que a República Popular da China seria socialista, em sabor chinês, e que jamais foi imperialista. Seria o novo socialismo do século 21.

Segundo eles, o desenvolvimento extraordinário do “socialismo com características chinesas” e muito mercado, provaria que, nos países de capitalismo atrasado, após a conquista do poder, para se construir o socialismo, se deve conviver, por um longuíssimo tempo, segundo Deng Xiaoping, até mesmo um século, com bilionários saindo pelo ladrão e trabalhadores explorados até a medula dos ossos, do nascer até a morte. [CARVALHO, 2013, p.51.]

Delfim Netto, o economista da ditadura militar brasileira, dizia o mesmo. Propunha aumentar o bolo servido em bandeja aos ricos, para dividi-lo, apenas mais tarde, com os famintos, o que jamais foi feito, folga dizer. Esse seria o único caminho possível para o desenvolvimento das forças produtivas materiais, o principal objetivo do socialismo, segundo Deng Xiaoping e os defensores da via chinesa para a felicidade. Tese defendida, entre outros, por Bruno Altman, em live recente. [ALTMAN, 11/2024.]

Em livro de 2021, escrito em parceria, Elias Jabbour, o principal propagandista das maravilhas da China socialista de mercado, reconhece a contra-revolução naquele país, em 1978, mas festeja o avanço das forças produtivas materiais: “As reformas orientadas para o mercado levaram a retrocessos no que diz respeito à natureza socialista do sistema social da República Popular da China, mas resultaram num extraordinário desenvolvimento de suas forças produtivas”, transformando sua natureza em uma “nova classe de formação econômico-social”. [JABBOUR & GABRIEKE, 2021.]

Nome é Tudo

Para os apologistas do “socialismo de mercado”, um partido que se diga pró-socialista, socialista e, ainda melhor, comunista, no governo, como o chinês, garantiria a construção do socialismo, no fim dos tempos, após décadas e décadas, e mesmo, um século, convivendo com a produção e a exploração capitalistas. Ele impediria a dominação da nação por uma burguesia em fortalecimento econômico constante, cada vez mais gulosa também de poder político.

No mesmo sentido, os defensores da “economia socialista de mercado” juram que a China não foi e não é capitalista e, muito menos, imperialista. Afirmam que, ao contrário, ela dirigiria um “campo anti-imperialista”, de “países de diversos sistemas”, em prol de um mundo multipolar, livre do tacão ianque. A China seria o futuro, seria a verdadeira “salvação da lavoura”, juram de pés juntos. [ALTMAN, 11/2024.]

Há os que afirmam que a China é capitalista, mas não imperialista. Enunciam, assim, um contradicto in terminis, ao articularem uma afirmação paradoxal. Uma economia capitalista de tal dimensão, extravasando importações e exportações de bens e de capitais pelos poros, é, necessariamente, imperialista, como veremos. Jones Manoel, jurando que falou após estudar o tema, reconheceu que a economia nacional chinesa é capitalista, e que ela segue o padrão imperialista internacional de exploração das nações atrasadas. Aceita, portanto, seu caráter imperialista, nas relações econômicas nacionais e internacionais. 

Entretanto, Jones Manoel propõe que, nas relações políticas internacionais, a China não é imperialista, mas, digamos, boazinha: não se serve da força; não tem bases militares no exterior; possui exército apenas defensivo; não promove operação mundial de convencimento, isto é, de soft power. Apoiado nessas afirmações, que não se sustentam minimamente, Jones Manoel deduz que a China não é imperialista! Salva, assim, raspando, o camarada Xi Jinping! 

O capital monopólico chinês explora as nações atrasadas e tira o couro dos trabalhadores de todo o mundo, entre eles, do Brasil, mas é absolvido por Jones Manoel por seu proposto bom comportamento diplomático e nas relações internacionais. Portanto, propõe que o imperialismo é uma categoria política e não econômica e manda Lênin, com a realidade objetiva, para a lata do lixo. [MANOEL, 13/06/2021.]

Apologias minúsculas

Para defender suas propostas estapafúrdias, os embeiçados pela China de Deng Xiaoping e Xi Jinping retorcem e ajustam à dimensão minúscula de suas apologias, sem pudor, a história, os fatos, o marxismo. Oferecem limões-amargos jurando serem laranjas doces. Mas qual seria a razão da proliferação desses sermões de pastores evangélicos sobre a China Milagreira e a sagrada teologia do “socialismo de mercado chinês”? Esses ideólogos são bem-intencionados que apenas erram por falta de informação e por incorreções no método de análise? Ou apenas falam sobre o que não sabem, enfático e despreocupados? Esses deslises grosseiros seriam apenas erros e enganos sem consequências políticas e ideológicas?

Nos últimos dez anos, a direção da China investe forte em um soft power de olhos de amêndoas que procura convencer a opinião pública mundial da excelência de sua ordem nacional e de seus objetivos mundiais que propõe serem bem-intencionados. Entre os financiadores do poder brando chinês se destaca o mega-Banco da China, que apoia atividades culturais e esportivas nacionais e internacionais chinesas, entre elas, o Instituto Confúcio de Cultura Chinesa e a Federação Chinesa de Literatura e Artes. [AZEVEDO, 2024, p. 163.].

Operações que o imperialista estadunidense desenvolve, igualmente, há muito mais tempo, com recursos astronômicos — como comprovam os dados revelados sobre a humanitária USAID, questionada atualmente pela administração Trump, favorável ao bastão e pouco simpático à cenoura nas relações internacional. Ao soft power, às palavras doces, o imperialismo ianque associa, quando necessário, o hard power, o convencimento pela força, em todos os sentidos, mais custoso e arriscado. Tema que abordamos em artigo recente, publicado nas revistas virtuais AComuna e Contracorrente – “China: um soft-power de olhos de amêndoas”. [MAESTRI, 8/12/2024, 19/12/2024.]

Comunicadores e apologistas das bondades e dos milagres da China Maravilha do “socialismo de mercado” raramente se afastam do jargão de Pequim. São meros repetidores, em geral, remunerados, de diversos modos, direta e indiretamente, quando persuasivos, é claro. Como acontece com os apologistas do bloco imperialista estadunidense, certamente estipendiados, em diversas formas e ainda mais amplamente. [CHAVES, 2019; SAUNDERS, 2008.] Há sempre, é claro, as multidões de obliterados pela ideologia ou pela confusão. São os bem-intencionados que pavimentam o caminho do inferno, segundo Marx.

O movimento de defesa da ordem capitalista, em suas diversas versões, por intelectuais, comunicadores, etc., que se reivindicam da esquerda e do marxismo, é impulsionado fortemente pelo enorme recuo histórico e perda de capacidade de convencimento sofrido pelo mundo do trabalho diante do capital, nas últimas décadas, sobretudo após a destruição da URSS, ao qual eles contribuem substancialmente, no plano político, ideológico, cultural.

Chegado dos céus

Para a narrativa apologética rasteira, proposta pelo Partido Comunista Chinês, o “socialismo com características chinesas”, com muito mercado, muita propriedade privada e muita exploração dos trabalhadores, teria nascido, segundo Deng Xiaoping, devido à “emancipação das mentes” dos membros da direção máxima do PCC, em fins de dezembro de 1978. Teria sido ela a abrir o país ao novo “socialismo”, nos fatos, para o capital mercantil nacional e internacional e a restauração capitalista. [CARVALHO, 2013, p. 48; Perspective Monde, 18/01/1992.] Mas, afinal de contas, existe esse estranho ser bifronte, o “dito socialismo de mercado”? Ele é referido na leitura do materialismo histórico da sociedade, proposta por Karl Marx e Frederico Engels? Ele aparece na narrativa marxista revolucionária que se inspirou, se apoiou e se desenvolveu no proposto por aqueles pensadores germinais e no devir objetivo da história?

Marx e Engels definiram de socialismo o modo de produção que sucederia ao capitalismo e antecederia ao comunismo. No primeiro, no capitalismo, o produtor direto é expropriado de parte de sua produção, por meio da captação de mais-valia, em favor do consumo e da acumulação de capitais pelos proprietários dos meios de produção, em uma sociedade de mercado. Os fundadores do marxismo previam uma eventual vitória inicial do socialismo em nações desenvolvidas de suas épocas, como a Inglaterra, a Alemanha, a França, os Estados Unidos, de onde a revolução e o socialismo se espraiariam através do mundo, esperava-se. [MARX & ENGELS, 1948.] 

A conquista do poder e a expropriação dos grandes meios de produção iniciariam uma era de avanço da produção das riquezas, permitindo uma melhoria incessante das condições de vida material e espiritual dos trabalhadores e de toda a população, ainda no reino da necessidade relativa. Com o crescimento da produção social, sob a direção dos órgãos de poder das classes trabalhadoras, se marcharia para uma sociedade sem classes e de abundância relativa, em um futuro indeterminado — o comunismo. V. Lênin sintetizou o socialismo, na Rússia Soviética de sua época, como a união da eletricidade, ou seja, o avanço das forças produtivas materiais, sob a direção dos sovietes, órgãos de poder dos trabalhadores. Destaque-se que ele citou os sovietes e não um partido revolucionário que se pretendesse expressão política dos trabalhadores, com ou sem razão.

O socialismo é uma talvez longa etapa histórica, e não um mero tempo de transição entre o capitalismo e o comunismo. Em verdade, o comunismo seria uma radicalização qualitativa do socialismo. Durante a vigência do socialismo, viverão e morrerão gerações de seres humanos. Ainda mais que, nas sociedades pré-capitalistas e capitalistas não desenvolvidas, o socialismo deve avançar as forças produtivas materiais escassas, sob a direção dos órgãos de poder dos trabalhadores organizados nos sovietes ou conselhos, locais onde se expressam os partidos revolucionários, como proposto. Nesse contexto, a elevação das condições gerais de vida do mundo do trabalho e da população, mesmo se dando de forma mais lenta, deve alcançar a todos os trabalhadores, no aqui e no agora. Não no amanhã ou depois do amanhã. E muito menos em um século! Nada de aumentar um bolo, para a mesa dos capitalistas, que, em teoria, apenas os bisnetos vão se regalar, em teoria!

Luta à Morte

Em geral, nas formações sociais coabitam modos de produção dominantes e dominados. O caráter de uma formação social é determinado pelo avanço do modo de produção hegemônico ou ascendente, em relação aos subordinados. [GORENDER, 2016.] No escravismo romano, através do colonato, o feudalismo tornou-se a forma de produção dominante, superada, mais tarde pela dominância política e econômica capitalista. No capitalismo, após a conquistas política do poder, os trabalhadores recuam as relações capitalistas e outras de produção, em favor das socialistas. 

Entretanto, as relações não-socialistas não desaparecem, de um dia para outro. “Aprendemos da mais elementar escola marxista que é impossível passar de um golpe do capitalismo a uma sociedade socialista” – lembrava León Trotsky em 1924. [TROTSKY et al, 1974, p. 27.] Mesmo nas sociedades desenvolvidas, após a conquista do poder, as formas mercantis de produção se mantém e, apoiadas pela organização capitalista mundial ainda dominante, permanecem em luta e em contradição tendenciais com a produção socialista em construção. A vitória da oposição entre as formas de produção capitalista e socialista, entre as antagônicas “lei do valor” [mercado] e “lei da acumulação socialista” [planejamento], depende de qual delas avança ou recua mais rapidamente, na perspectiva de reduzir a que lhe é oposta a uma situação residual. [PREOBRAZHENSKY, 1971.]

Pode haver recuo ou avanço de uma ou de outra forma de produção, mas não há a possibilidade de convivência ou equilíbrio pacífico entre duas formas de produção antagônicas e em disputa, como a história comprovou, inumeráveis vezes. Não há jamais equilíbrio homeostático entre os modos de produção capitalista e socialista, como propuseram, no passado, os defensores da coexistência pacífica e, hoje, os apologistas do “socialismo de mercado” no sabor chinês, apoiadores da restauração capitalista não apenas na China. [JABBOUR & GABRIEKE, 2021.] 

É uma comprovação dessa impossibilidade, entre tantas outras, a própria guerra da Secessão, nos Estados Unidos, de 1861-65, que confrontou, de modo incontornável, a produção capitalista, dominante no Norte, à escravista, hegemônica no Sul. Formas de produção incapazes de conviver em uma mesma formação social. Não há possibilidade de construir e estabilizar a ordem socialista em um país isolado, como propuseram os defensores da construção do socialismo na URSS isolada — “socialismo em um só país”. Tese contra a qual se levantou a Oposição de Esquerda, sob a direção de León Trotsky, e que foi impugnada, em suas raízes, quando da explosão da URSS, em 1991, com a vitória total da restauração capitalista. [MAESTRI, 07/04/2023] Muito menos quando, em uma mesma formação social, a produção socialista convive com a capitalista, em desenvolvimento contínuo.

II. O Movimento de Restauração capitalista na China

A restauração capitalista chinesa se caracterizou pela interrupção e retrocesso do movimento de ampliação da produção e acumulação socialista, iniciada em 1949, através da construção das empresas estatais, sobretudo industriais Ela se transformou em política oficiosa do PCC, em dezembro de 1978, e foi retomada, consagrada e institucionalizada, após breve pausa, quando do 14º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, em outubro de 1992.

Estagnação e retrocesso da impulsão socialista em favor da ampliação da acumulação pequeno-mercantil, já existente no campo, e implantação da produção capitalista industrial, extinta, ainda que gradualmente, pela vitória da revolução, em 1949. O que produziu uma poderosa burguesia nacional chinesa, até hoje em consolidação e expansão, explorando, primeiro, o mundo do trabalho na China e, a seguir, das nações e de seus trabalhadores e classes populares, com a gênese e desenvolvimento do capital chinês monopólico e imperialista. Tudo em associação com o capital internacional. [MAESTRI, 2021, p. 97 et seq.] 

O desenvolvimento econômico acelerado chinês jamais foi um milagre. A Coreia, Taiwan, Singapura e o próprio Brasil, este último durante a ditadura militar, viveram o mesmo crescimento capitalista intenso, permitido pelo aporte de capitais internacionais, pelo acesso ao mercado capitalista mundial, e por muita exploração dos trabalhadores, como ocorreu e ocorre na China. [MAESTRI, 2020, p. 220 et seq.] O recuo do socialismo em construção da China, desde a vitória da revolução, em 1949, em favor da acumulação e restauração mercantil-capitalista, não iniciou em 1978. Ele não chegou dos céus, materializando-se no “pensamento” inovador de Deng Xiaoping, que teria iluminado a direção suprema do PCC. Como propõem a atual direção desse partido e repetem no Brasil e através do mundo os divulgadores dos mantras do poder doce chinês, como assinalado. [ZEMIN, 2000.]

A restauração capitalista chinesa conheceu um salto de qualidade, em dezembro de 1978, ao se transformar em orientação oficiosa do PCC e do governo, quando do Terceiro Pleno do 11° Comitê Central do Partido Comunista da China, sob a direção da equipe de Deng Xiaoping. Ela foi produto, como veremos, de décadas de oposição violenta entre as leis do mercado e da planificação. Mais comumente, os advogados do “socialismo de mercado” em salsa chinesa são obrigados, para facilitar suas apologias, a uma obliteração quase geral da história da China pré-1978. Podem, assim, ignorar que a restauração capitalista acumulava forças havia décadas, no mundo urbano, em forma embrionária, mas consistente, e principalmente no mundo rural, sobretudo após o desastre do dito Grande Salto Adiante, de 1958-1960. Um movimento de acumulação de capitais sobre o qual, salvo engano, não temos estudos sistemáticos. [GUILLERMAZ, 1973.]

O Grande Salto Adiante foi projeto maoista de coletivização forçada do campo, no geral, no estilo do avançado pelo estalinismo, na URSS, em 1929, visando uma super-aceleração industrial do país, por meio de uma brutal transferência forçada da renda do campo e, mesmo, da força de trabalho do camponês, em favor da industrialização. Mao Tsé-Tung prometia que, com o Grande Salto, a China alcançaria, em poucos anos, o nível da economia da Inglaterra de então. Ao contrário da coletivização do mundo rural na URSS, com o Grande Salto chinês, a direção maoista pôs fim ao planejamento centralizado e secundarizou as grandes unidades produtivas industriais, dispersando-as pelo interior, enfraquecendo a ordem socialista. [ZEDONG, 1980; MAESTRI, 2021, p. 11 et seq.]

Revolução l Proletária sem Proletário

A desgraceira desse projeto utópico, voluntarista e milenarista agrário motivou um recuo dramática da economia chinesa, desorganizando a produção rural e urbana, impondo a necessidade do país de gastar parte de suas poucas reservas monetárias com a importação de alimentos. O chamado Grande Salto destruiu enorme parte das conquistas que a revolução garantira aos camponeses, desde 1949, e motivou a “Grande Fome” que, associada a desastres climáticos, motivou a morte de dez a doze milhões de camponeses. [DIKOTTER, 2017.] Após o desastre, foram feitas importantes concessões à economia pequeno-mercantil camponesa, em uma espécie de pequenina NEP, fortalecendo a acumulação de capitais, não capitalista, através do mundo rural e urbano. De 1961-1965, a sociedade chinesa conheceu movimento de recuperação, em relação aos anos do Grande Salto. Em 1966, a produção de alimentos já superava a alcançada em 1958. [GUILLERMAZ, 1973; MENDE, 1968; CARVALHO, 2013, p.30.]

A catástrofe do Grande Salto diminuíra a força do maoismo no governo e no PCC, obrigando Mao Tsé-Tung a ceder a presidência do país, em 27 de abril de 1959, para Liu Shao-chi, mantendo, porém, a direção das forças armadas e a posição de grande referência nacional da Libertação.[MAESTRI, 2021, p. 28.] Lutando para recuperar as porções perdidas de poder, em 1965, o núcleo maoista do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, sob a direção do “Grande Timoneiro”, lançou a Grande Revolução Cultural Proletária, em oposição aos contra-revolucionários. Apesar do nome, o núcleo maoista se esforçou para deixar o proletariado à margem do movimento e o reprimiu quando ele tentou se mobilizar. Sem poder se apoiar no campo e nos camponeses, escaldados pelo Grande Salto, a Revolução Cultura se amparou nos estudantes e no exército, sem raízes no mundo do trabalho. A Revolução Cultural jamais superou a crítica super-estrutural das forças que combati, como definia a denominação que assumiu. [BENNET & MONTAPERTO, 1971; BETTELHEIM, 1976. p. 103 et set.; MAITAN, 1969; MASSARI, 1999.]

Concluída em 1968, a Revolução Cultural obteve sobretudo o defenestramento da alta cúpula do PCC e da imensa maioria da velha direção comunista que participara da Grande Marcha e da conquista do poder, em 1949. Entre os “inimigos do povo” apeados do poder e do governo estava o prestigiado Xi Zhongxun, o pai do atual Xi Jinping, destacado dirigente quando da Grande Marcha. Para substituir os defenestrados, ascenderam ao poder quadros novos e, em geral, jovens, em tudo obedientes a Mao Tsé-Tung, sem raízes na luta revolucionária do passado, sem objetivos programáticos e, não raro, carreiristas sem princípios. “Quando o movimento concluiu-se, em 1968, dois terços dos membros do comitê central haviam sido substituídos” por fiéis ao maoismo. As direções regionais, em geral, opostas ao Grande Salto, haviam sido igualmente decapitadas. [JOYAUX, Mai 1969, p. 3; MAESTRI, 2021, p.33.] 

Mais lenha na fogueira

A Revolução Cultural aprofundou a desordem econômica e fortaleceu a acumulação pequeno-mercantil e mercantil em avanço, desde o fim do Grande Salto. E havia igualmente na China importantes capitais privados urbanos, fracamente rentabilizados, em uma semi-clandestinidade. Em 1949, a burguesia não fora totalmente expropriada pelo PCC. Nos anos, 1950-1953, a “fim de incentivar a produção nas indústrias privadas, o governo determinou que os empresários recebessem um lucro anual de cerca de 10% a 20%.” Surgiram empresas mistas de capital privado e público. De 1956 a talvez 1968, o governo pagou aos proprietários juros prefixados anuais de 5% sobre o capital fixo das empresas dos “empresários que colaboravam com o regime”. [SHU, 2012, p. 24.] Quando das nacionalizações empreendidas após a conquista do poder, “dois milhões e meio de proprietários teriam sido indenizados, entre eles, cem mil grandes capitalistas. Alguns deles recebiam dezenas de milhares de dólares anuais, em valores da época.” [MAESTRI, 2021, p. 21.] 

As indenizações polpudas foram feitas também para obedecer ao catecismo estalinista da “revolução por etapas”, em aliança com a “burguesia progressista”, que jamais teve qualquer papel no movimento revolucionário chinês. Comumente, esses possuidores de capitais administravam empresas estatais de grande porte. Salvo engano, não temos estudos sobre o destino dessas somas vultuosas recebidas por mais de uma década, até praticamente a Revolução Cultural, se não além dela, pelos neocapitalistas chineses.

É crível que esses capitalistas tenham aproveitado todas as brechas legais, semi-legais e ilegais para rentabilizar seus capitais. E intervieram na vida do PCC, sustendo e impulsionando as facções restauracionistas, até as vitórias definitiva, em dezembro de 1978, com a consagração de Deng Xiaoping, e, em outubro de 1992, com a entronização de Jiang Zemin, que apresentou informe ao plenário de título pra lá de autoexplicativo. “Acelerar a Reforma, a Abertura para o Mundo Exterior e a Condução da Modernização, para assim Alcançar um Grande Sucesso na Construção do Socialismo com Características Chinesas.”«The 14th National Congress – People’s Daily Online».

Abraço contra-revolucionário

Em 1971-2, três anos após o encerramento da dita Revolução Cultural, ocorreu o abraço antinatura de Mao-Nixon e a aliança informal do PCC com o imperialismo estadunidense, em um viés anti-soviético. Essa aproximação tinha também como objetivo central a abertura do mercado internacional para a China, cerrado até então pelo bloco imperialista ianque, por um lado, e pela disputa entre Pequim e Moscou, pelo outro. Portanto, as primeiras raízes da restauração capitalista foram avançadas por Mao Tsé-Tung e germinaram e se fortaleceram sob o mando de Mao Tsé-Tung, que faleceu em 1976, acredita-se que já senil. O “dezembro de 1978” de Deng Xiaoping, dois apenas após a morte do “Timoneiro”, foi salto de qualidade e consagração da orientação pró-capitalista da economia e da sociedade chinesa, em gestação acelerada nos tempos anteriores, como já proposto.

III. Restauração Capitalista: Movimento Contra-Revolucionário

A reorientação capitalista na China foi produto de um longo e duríssimo processo de luta de classes, jamais plenamente explicito, que assentou raízes na pugna entre a acumulação capitalista e a socialista. Confronto vencido pelos setores pró-capitalistas, apoiados na economia pequeno-mercantil do imenso campesinato; nos capitais disponíveis nas cidades, dos neo-capitalistas, apenas assinalados, e chegados do exterior; na ordem capitalista mundial hegemônica e na facção da burocracia do PCC favorável ao mercado. O mundo do trabalho, principal interessado na pugna, deprimido pelo imenso peso do campesinato chinês, foi mantido politicamente na submissão pela direita, pelo centro e pela esquerda do PCC, sem conseguir construir uma direção sua alternativa.[DINUCCI, 1975; MAESTRI, 2021.]

É, portanto, uma enorme mistificação apresentar as decisões da direção chinesa, de dezembro de 1978, como uma mera reorientação de política, para acelerar as forças produtivas. Também é manipulação rústica da história propor o movimento de restauração chinês como retomada da Nova Política Econômica russa, para lhe conferir raízes bolcheviques e, pior ainda, leninistas. Uma reorientação da economia soviética comumente apresentada, pelos propagandistas do “socialismo de mercado” chinês, como nascida da mente iluminada de Lênin, muito consoante com a retórica restauracionista denguista. A NEP foi, ao contrário, produto de uma intensa deliberação e discussão coletiva na direção bolchevique, realidade fartamente documentada.

Lênin, que teve importante papel na elaboração da NEP, a via como um recuo transitório, para a retomada plena da acumulação socialista e, jamais, como uma liberação da acumulação capitalista plena e de longo fôlego. Na Rússia soviética, a NEP foi motivada pela situação da produção industrial que, após o fim da Guerra Civil (1919-1922), encontrava-se arrasada. Naquele então, através dos imensos territórios russos, abundavam ruínas, fábricas paradas e arruinadas, famintos nos campos e nas cidades e os ossos dos revolucionários mortos em combate. O excedente camponês para alimentar as cidades era obtido na ponta das baionetas.

Sequelas da NEP

A NEP não foi uma opção, mas uma necessidade imperiosa. Trotsky, em 1924, lembrava que os bolcheviques convinham em que a NEP fora uma “retirad, sobretudo, diante dos camponeses, que retraíam a produção ao nível da autoconsumo, pois não havia razão para plantar para vender, já que não tinham o que comprar. E ela foi decidida após a revolta contra a direção bolchevique dos marinheiros de Kronstadt, em março de 1921, que dimensionou a enorme crise do país. [TROTSKY, et al.1974, p. 35; CARR, 1964.] Situação qualitativamente diversa à da China, em fins de 1978.

Na União Soviética, a NEP recuou o pouco de planejamento da economia de então, em favor de uma maior anarquia normal do mercado. O Primeiro Plano Quinquenal se daria apenas após a repressão da NEP, em 1929. [CARR & DAVUES, 1968.] Muito logo, com a consolidação da NEP, sendo já defendida, explícita ou implicitamente pela maioria do comitê central como política permanente, a Oposição de Esquerda, sob a direção de León Trotsky, apontava para o crescente perigo da restauração capitalista, nascido da estagnação da economia socialista, do avanço da produção capitalista, do fortalecimento da burocracia, com as classes mercantis se esbaldando e os trabalhadores vivendo pior que antes da guerra.

Não foi Lênin, falecido em janeiro de 1924, mas N. Bukharin, o Deng Xiaoping russo, em aliança com J. Stalin, que defendeu a extensão sem fim da NEP e a industrialização a “passos de tartaruga”. Em 17 de março de 1925, atacando a Oposição de Esquerda, N. Bukharin propunha enriquecer os camponeses como estratégia de industrialização. Se “facilitamos […] a acumulação na agricultura” asseguraremos “para amanhã uma maior demanda de produtos de nossa indústria”, propunha. [TROTSKY, et al.1974, p. 239; 2023.] Ele gritava, décadas antes que Deng Xiaoping, que promover o enriquecimento dos camponeses era política revolucionária. A produção industrial soviética, em 1925, já era incapaz de abastecer minimamente o campo e as cidades com os manufaturados necessários.

Reivindicando tudo

A manutenção da NEP, defendida pela maioria do CC do Partido Comunista da União Soviética, sob a direção J. Stalin e N. Bukharin, levaria inevitavelmente à restauração capitalista, como comprovou o caso chinês. Em fins de 1928, com já sete anos de acumulação capitalista e lenta industrialização socialista, os camponeses começaram a negar-se a enviar seus produtos aos mercados, pois não existiam mercadorias industriais a serem compradas. Passaram a exigir amplas concessões econômicas e políticas, que eram apoiadas pelos nepmen, que se enriqueciam com a manufatura e o comércio privados em meio urbano. Era a comprovação da “crise das tesouras”, proposta em 1923, por León Trotsky, devido ao descompasso entre a produção rural pequeno-mercantil, que avançava, e a fragilidade da produção industrial soviética, estagnada. [TROTSKY, 2026; CARR, 1968.]

Em fins de 1928, a burocracia do Partido, sob comando de J. Stalin, rompeu com N. Bukharin, pôs um fim violento à NEP, retomou o programa da Oposição de Esquerda, para o campo e para a cidade, servindo-se de métodos autoritários, vanguardistas, desorganizados. Tudo ao contrário do programa proposto pela Oposição de Esquerda de drenar parte da renda camponesa em favor da industrialização, de modo gradual e planificado, por meios pacíficos, servindo-se dos preços, de tributos, do oferecimento crescente de produtos industriais, etc. [COHEN, 1990.] O terrorismo estalinista imposto ao mundo rural desorganizou a economia, com sequelas que se mantiveram até o fim da URSS. Ele promoveu, igualmente, a repressão total da autonomia do mundo do trabalho, em favor da ordem burocrática. [CILIGA, 1938; MARIE, 2011; IOFFE, 1978.]

A burocracia destruiu a NEP, pois temia, com razão, perder os privilégios e a cabeça nas mãos da contra-revolução burguesa em marcha. Defendeu, com métodos burocráticos e brutais a natureza socialista da URSS— comprometendo-a no longo prazo. O fez, sobretudo, para manter seus privilégios, rompendo com N. Bukharin, que abria o caminho à contra-revolução. [TROTSKY, 1963.] Ao contrário, a restauração capitalista na China foi semi-oficializada, em dezembro 1978, e reafirmada, em 1992, quando já se consolidava, inicialmente com o apoio da URSS, um sólido e dinâmico núcleo industrial estatal chinês, em construção desde a tomada do poder, em 1949, privatizado mais tarde de maneira impiedosa.

Destruindo o socialismo

Em 1975, o setor industrial estatal representava 86% de toda a produção industrial chinesa, trabalhando com uma mão de obra infinitamente menor do que a do campo, o que registrava sua maior produtividade em relação à agricultura pequeno-mercantil. E assegurava, com sua produção, a transferência de valor do mundo rural pequeno-mercantil para o mundo urbano industrial socialista. Em 1978, a indústria era responsável por 36% do PIB e a agricultura por 37%. [ROSALES, 2008, p.17.] Portanto, muito logo ela superaria a produção rural.

Após 1978, com destaque para meados dos anos 1990, a produção industrial estatal chinesa foi amplamente privatizada, causando queda de salários, perda de direitos de dezenas de milhões de trabalhadores, forte inflação, etc. Entre 1998 e 2002, 26 milhões de trabalhadores foram demitidos de empresas estatais. “[…] em 2005, mais de 85% de todas as pequenas e médias empresas estatais foram reestruturadas e privatizadas.” [PROBSTING, 2014.] Concomitante, milhões de camponeses perderam suas terras para a expansão industrial, com indenizações miseráveis. [O mesmo ocorrera nas empresas rurais nascidas do Grande Salto, movimento impulsionado desde 1979. Na União Soviética, durante a NEP, não houve privatizações. Em dezembro de 1922, em discurso diante da Internacional Comunista, León Trotsky explicava: “Sob a NEP, todas as empresas, sem exceções, são propriedade do Estado. […] algumas empresas foram arrendadas.” E se tratavam de empresas de “segunda e terceira linha”. [TROTSKY et al, 1974, p. 44 et seq. Destacamos.] Não houve concessões, mesmo temporárias, a empresários de grandes empresas, de linhas ferroviárias, etc.

Na China, os direitos dos trabalhadores dependiam do emprego que tinham em suas respectivas empresas públicas. Eles eram, portanto, perdidos, quando os trabalhadores perdiam o emprego ou as empresas eram privatizadas. E não os retomavam, quando empregados em empresas privatizadas ou fundadas por privados. Centenas de milhões de camponeses chegaram do mundo rural para serem proletarizados sob condições de trabalho muito duras, recebendo “baixíssimos salários e vivendo em um contexto de ausência de regulação trabalhista, vácuo de direitos sociais, sem contratos formais de trabalho e dormindo nos dormitórios das próprias fábricas”. [NOGUEIRA & COLOMBINI, 2024.] Ao se afastarem de seus domicílios, não recebiam direito de residência nos novos locais de trabalho, o hukou, perdendo os poucos direitos que detinham — a alugar uma moradia, à saúde, à educação, etc. As interdições legais de residência obrigavam os trabalhadores a povoarem os dormitórios das empresas, sob o controle das mesmas. Inicialmente, esses migrantes tendiam a aceitar as duras condições de trabalho, já que pretendiam retornar às suas aldeias rurais, com o que haviam ganho na guaiaca, após cinco ou seis anos.

A restauração capitalista não surgiu de uma necessidade imperiosa, como foi o caso da NEP, na Rússia soviética, destruída pela Guerra Civil. A direção chinesa se negou a seguir um caminho, o socialista, e optou por outro, o capitalista, no qual se locupletou em todos os sentidos. Foram as insanidades do Grande Salto, de 1959-60, da Revolução Cultural, de 1965-1968; o abandono do planejamento centralizado e da industrialização socialista; a ruptura entre a República Popular da China e a URSS, etc. que criaram as condições para que prosperasse a restauração capitalista na imensa nação asiática. Ela impulsionou fortemente a contra-revolução mundial, que conheceu salto de qualidade, em 1991, com a explosão e restauração capitalista na URSS esfacelada. O que nos levou à patética situação atual.

Nome não é documento

É uma canção para ninar bebê a defesa do caráter socialista da China devido à denominação como comunista do partido que detém totalmente o poder, que garantiria um futuro socialista no meio do domínio da roleta capitalista, por, talvez, cem anos! Nos anos 1920, na Rússia, a luta entre a via socialista e a capitalista deu-se sobretudo no interior do Partido Comunista, onde todos batiam no peito se dizendo bolcheviques e leninistas. Em 1991, a restauração capitalista na URSS foi comandada por dirigente do Partido Comunista, ex-Partido Bolchevique, assim como ocorreu na China. A metamorfose da natureza do Partido Comunista da União Soviética, de revolucionário a burocrático e, mais tarde, pró-capitalista, ocorreu inexistindo uma classe burguesa no interior da URSS, antes de 1991. Sob o nome de Partido Comunista, procedeu-se à revolução em 1917 e sua liquidação em 1991. Na China, ao contrário, havia fortes facções sociais neo-capitalistas em consolidação, praticamente desde 1949, como apontado.

A natureza de um partido não é definida pelo seu nome e a sua qualidade ao ser fundado. São exemplos gritantes o PT, o PCdoB, o PCB-PPS. As naturezas do PCC eram diversas em 1949 e 1978. E ele jamais praticara a democracia proletária, como inicialmente os bolcheviques, tendo sido educado sob o dogmatismo e autoritarismo estalinista. Ao conquistar o poder, o Partido Comunista Chinês não tinha raízes no proletariado, que se entranhavam profundamente no campesinato. E tratou de forma carinhosa enormes facções da burguesia chinesa, permitindo que mantivessem suas indústrias, que as administrasse, indenizando-os quando expropriados, como visto. Ao contrário, o Partido Bolchevique nascera como um partido essencialmente proletário. O que nos ajuda a compreender a mais doce restauração capitalista plena na China, em relação à ocorrida na URSS.

Em 1965-1968, parte significativa dos membros da direção do PCC que lutara na guerra de libertação foi defenestrada quando da Revolução Cultural, sem ter sido dizimada fisicamente, como ocorreu na URSS, após 1929, com a antiga direção revolucionária bolchevique. Os defensores da orientação pró-capitalista puderam retornar ao governo e ao poder, ao serem reabilitados, como ocorreu com Deng Xiaoping, o pai de Xi Jinping e milhares de outros quadros em descrédito. Em 1978, o Partido Comunista Chinês, de natureza já diversa do que tivera, em 1949, abriu o país à produção capitalista e as suas filas aos novos burgueses. 

O PCC promoveu a reconstrução de uma burguesia industrial, então inexistente, que se esbaldou na exploração do mundo do trabalho. O peso real dos trabalhadores no Partido Comunista Chinês atual é desprezível. A fragilidade político-social do proletariado chinês, sem sindicatos classistas, sem liberdade política e sem representação autônoma no PCC, permitiu movimento de restauração capitalista que assegurou à burocracia remunerações e privilégios crescentes e, mesmo, tornar-se proprietária, direta ou associada, de meios de produção. Em forma se não igual, ao menos semelhante, ao que ocorreu na ex-URSS.

Monopólio do Poder

A direção do PCC não deu, porém, passo em direção à entrega do poder político diretamente às classes proprietárias burguesas chinesas, ao igual do que ocorreu, após 1991, na ex-União Soviética, com o advento de Yeltsin. Em 1989, ruíra o Muro de Berlim e M. Gorbachev avançava seu projeto de restauração capitalista na URSS, em fortíssima crise. Os segmentos favoráveis à radicalização da restauração capitalista na China e ao fim do monopólio político do PCC organizaram movimento de protesto para quando da visita de Gorbachev a Pequim, em 16 de maio de 1989. Ela seria o início da “revolução de veludo chinesa”, orquestrada pelo imperialismo, que contava com fim da centralização política chinesa, aceleração desorganizada da restauração capitalista, acirramento e se possível vitória das forças centrífugas no Tibete, em Xinjiang, etc., a não entrega prevista de Hong Kong.

No PCC, uma facção dirigida por Zhao Ziyang [1919-2005] defendeu o estabelecimento de um multipartidarismo no estilo liberal-burguesa. Zhao Ziyang e seus milhares de apoiadores foram derrotados e apeados do poder, do governo e de seus empregos. Deng Xiaoping fracassou parcialmente em sua defesa da manutenção do monopartidarismo e aceleração das reformas. Foi Chen Yun (1905-1995), um dos mais importantes dirigentes comunistas, que obteve maioria no comitê central favorável à manutenção do monopólio do PCC, como também defendia Deng Xiaoping, e à interrupção do ritmo das reformas restauracionistas, sem propor revertê-las.

A decisão em favor do monopólio do poder se deveu também à desordem que vivia então a URSS e que parecia querer se apossar da China. Caos político que conheceu, a seguir, salto de qualidade com a explosão territorial da União Soviética e a transformação da Federação Russa em “um negócio da China”, para o imperialismo, durante a Era Yeltsin [1991-1999]. [MOTOSI, 2020, p. 15; BERGÈRE, 2000, 212-221; ZIYANG, 2009.].

Retomando o trote-galope

A reação à suspensão do programa restauracionista aprovado sob a direção de Chen Yun foi, mais uma vez, comandada por Deng Xiaoping. Em viagens tornadas famosas sobretudo em direção ao sudeste, construiu uma nova maioria no comitê central que, em 1992, quando do 14º Congresso do PCC, sancionou para sempre a via capitalista, como vimos. Para tal, Deng Xiaoping apoiou-se na alta oficialidade, prometendo-lhe recursos para modernizar as forças armadas e, sobretudo, nos dirigentes comunistas das províncias do Sul, já envolvidos em negócios e negociatas permitidos pelas Zonas Econômicas Especiais [ZZEs]. [NOGUEIRA & COLOMBINI, 2024.]

Em 1993, retomada a orientação de 1978, Deng Xiaoping reafirmava a necessidade de manter ditadura do PCC sobre o país, para avançar o programa restauracionista que propunha. “A China está em um período em que deve se concentrar no desenvolvimento econômico. Se procurarmos formas de democracia, não atingiremos a substância e não desenvolveremos a economia também, mas apenas lançaremos o país em tumulto e prejudicamos a unidade do povo.” [CARVALHO, 2013, p.62.]

O novo PCC consolidou-se como um partido nacionalista, de corte bonapartista, representando os interesses do capital internacional e nacional em ação na China, em geral, e do capital monopólico, em particular. O centralismo do PCC defende a ordem capitalista e a unidade nacional, sob o ataque do bloco imperialista estadunidense. Nesse processo, mantém as classes trabalhadoras na submissão e na opressão, como necessidades econômicas e políticas da nova ordem. Nos últimos anos, o dinamismo do capital financeiro e monopólico chinês tende a pressionar o núcleo central do poder para obter reivindicações suas não raro em contradição com os interesses dos segmentos capitalistas nacionais retardatários.

IV. A gênese e Desenvolvimento do Imperialismo Chinês

Para melhor divulgar as maravilhas da via capitalista chinesa, dita socialista, comumente, se desconhecem a história e a realidade objetiva do país antes de 1978, como assinalado. Trapaceiam-se, igualmente, os dados do avanço, sobre a estatal, da propriedade privada, nacional e internacional, que cresce aceleradamente desde a restauração capitalista. Entretanto, mantém-se ainda o domínio do Estado quanto às principais empresas monopólicas em atividade no exterior, até porque faltava, inicialmente, capital privado nacional de porte para tais iniciativas.

Entretanto, nos últimos tempos, empresas chinesas monopólicas estatais abrem para a participação de capitais privados nacionais e internacionais e centenas de empresas monopólicas privadas chinesas avançam no mercado internacional — Alibaba Group, Huawei, Foxconn, entre outras. Propriedades estatais, na indústria e, em menor, mas significativa importância, no sistema bancário-financeiro construído após 1978, têm forte participação de capitais privados, incentivada a partir de 2012. [Embaixada da RPC, 25/05/2012; AZEVEDO, 2024 ]

O direito de veto governamental em decisões de grandes empresas chinesas, tão elogiado pelos apaixonados do “socialismo de mercado chinês”, não difere ao praticado nos USA e na União Europeia, sobretudo quando o capital privado negocia com a China e com a Federação Russa. Falsifica-se a realidade ao se propor como “planejamento da produção” as orientações gerais para a economia, não diversas das propostas em alguns outros países capitalistas, mais ou menos fortes, em diversos momentos de sua história. Hoje há literalmente milhões de empresas capitalistas na China regulando-se anarquicamente pelo mercado e um mastodôntico sistema bancário-financeiro à margem da legalidade — Shadow Baning. [CINTRA, 2015; AZEVEDO, 2024.]

Na China, dominam fortemente as tendências anárquicas tradicionais da economia de mercado, como comprovam os choques conhecidos pela economia chinesa, quando da crise das bolsas asiáticas, em 1997, e da grande crise de 2008; quando da regressão do impulso da economia, etc. e as medidas tomadas pelo governo chinês para superar esses sobressalto, como veremos. s. ou, a crise que vive ainda o setor imobiliário,, que não se reduz ao desastre da Evergrande. A China tem, hoje, dezenas de milhões de unidades habitacionais sem compradores. Bota planificação, nisso!

Área Privada e Pública

Não é a convivência entre uma área pública e outra estatal que define o caráter de uma economia, mas o crescimento de um setor sobre o outro, como avançado. No passado, no Brasil, Itália, França, Inglaterra, houve enormes conglomerados industriais estatais sob o governo de Estados capitalistas e burgueses. Com o avanço do neoliberalismo, eles foram total ou parcialmente privatizados, como a Petrobras e tantas outras grandes empresas estatais brasileiras.

A hegemonia dos interesses privados sobre o Estado e a sociedade chinesa se expressa também nos salários médios miseráveis pagos aos trabalhadores, não muito superiores aos praticados no Brasil e no México, onde dominam e avançam formas de escravatura assalariada. Muitos direitos dos trabalhadores chineses são inferiores aos da população do Brasil, inexistindo, na China, nos fatos, o direito à greve, retirado da Constituição, em 1982, no início da Era Deng Xiaoping. As greves, ilegais, são toleradas, em alguns casos, ou reprimidas, não raro duramente, mais comumente. [NABUCO, 2012; NABUCO, maio/agosto 2012; BARBIERI, 2020.]

Na China, não há nada semelhante ao SUS, devendo a população sustentar seus gastos de saúde. O ensino básico e médio é gratuito, mas os pais devem pagar cursos privados caros de reforço para que seus filhos cursem boas universidades. O ensino universitário é totalmente pago, dificultando a mobilidade social no interior da própria sociedade capitalista chinesa. Multidões de filhos de ricaços e altos burocratas estatais estudam no exterior, sobretudo na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas também na Austrália, Japão, Alemanha e Nova Zelândia. “Durante o ano lectivo de 2022-23, havia 289.000 estudantes chineses estudando nos EUA.” [DIÁRIO DO POVO ON LINE, 29/02/2024.] Sob falso nome, a filha de Xi Jinping matriculou-se, em 2010, na Universidade de Harvard, que cobra anuidades astronômicas. [O Globo Mundo, 21/09/2012.]

Capital Financeiro em Busca de um Destino 

 A proposta perneta de inexistência de ciclos recessivos não é, também, prova da natureza da economia “socialista de mercado” chinesa, ou seja, de seu caráter não capitalista. Na China capitalista, as crises depressivas e recessivas foram enviadas para debaixo do tapete lançando-se mão a incessantes políticas anticíclicas monetárias, apoiadas no endividamento público dos governos central, provinciais, municipais. Hoje, a dívida chinesa global é enorme, com destaque para a dos governos provinciais. [CEBC, 11/09/2020] Durante o dito Milagre Brasileiro, em sua fase pós-castelista, a economia nacional não conheceu igualmente recessão profunda. [MAESTRI, 2020.]

Após 1949, os investimentos públicos, planejados, eram financiados com recursos orçamentários, geridos pelo Banco Popular da China, que absorvera as instituições financeiras privadas, em grande parte estrangeiras, e desempenhava-se como banco central, comercial e de desenvolvimento. Após 1978, abandonaram-se os investimentos orçamentários por creditícios, que exigiam o pagamento de juros e do principal. Ou seja, alimentava o setor bancário-financeiro em detrimento do produtivo.

O Banco Popular da China [BPC] deu origem a quatro bancos públicos especializados: o Banco da Agricultural [ABC], mundo rural; o “Banco da China [BOC], mercado exterior; o Banco da Construção da China, infraestruturas e o Banco do Comércio e da Indústria da China [ICBC], indústria e comércio urbanos.[MENDONÇA, 2015, p. 343; CARVALHO, 2013, p.118.]

Esperando o momento da degola

Inicialmente sem participação privada, os “Quatro Grandes” eram supervisionados pelo Banco Popular da China, reduzido às funções de banco central. Os “Planos de Crédito” do governo central orientava suas concessão de créditos dos “Quatro Grande”, que emprestavam compulsoriamente a empresas públicas deficitárias, devido ao favorecimento das privadas, isentaz do pagamento de impostos e de obrigações trabalhistas que oneravam as estatais.

Pelo bem da paz social, o governo privatista manteve as empresas públicas à espera das condições gerais que permitiram as mega-privatizações de meados dos anos 1990, acompanhadas concomitantemente da transformação dos “Quatro Grandes” em bancos comerciais de capital aberto, mantendo em três deles o controle acionário majoritário do Estado.

A abertura de capitais das “Quatro Grandes” exigiu saneamento milionário pelo Estado das mesmas, soterradas em títulos podres, e constituiu a maior privatização financeira conhecida até hoje. A participação do Estado no Bocom, desde 2007, é minoritária — 26,52% em 2011. Os outros quatro grandes possuem controle acionário público substancial, mas em redução tendencial de 2007 a 2011. O maior controle acionário público é do ABC, de 87,70% e o menor é do CCB, de 57,03%, sempre em 2011. [DEOS, 2015, p. 397.]

Interesses estratégicos

Com a autonomia dos “Quatro Grandes” quanto à ingerência do Estado e a fundação de outras instituições financeiras comerciais nacionais e provinciais, o governo fundou, em 1993, três “bancos políticos”, de “desenvolvimento”. Subordinados ao Conselho de Estado, o Banco de Desenvolvimento da China [CDB]; o Banco de Desenvolvimento Agrícola da China [ADBC]; o Banco da Importação e Exportação da China [China Ex-Im].

Totalmente estatais, os bancos de desenvolvimento passaram a conceder empréstimos a setores de interesse da administração central. Eles se capitalizam com empréstimos do Banco Central e através da emissão de títulos financeiros, que deviam pagar. Mais tarde, exigiu-se deles que passassem a ser mais comerciais e menos políticos. [AZEVEDO, 2024, p.117.]

Desde 1978, impulsionou-se uma radical banqueirização do país, tendo como paradigma as finanças internacionais privadas, contratando-se amiúde consultorias internacionais. Toda a atividade econômica pública e privada passou a se apoiar em empréstimos. Como já referido, combateram-se as crises econômicas internacionais e as quedas da expansão da economia com medidas anti-cíclicas: aumento dos meios circulantes, lançando grandes empreendimentos, etc. Ou seja, apoiando-se em capitais fictícios.

Os capitais públicos e privados, bancários e financeiros, emprestavam sobretudo para as grandes empresas. Comumente, pequenas, médias, grandes e mesmo administrações provinciais, que não podem, por diversas razões, aceder ao sistema financeiro oficial, financiam-se junto a um imenso sistema bancário-financeiro informal, dito “sombra” — agiotas, casa de penhores, instituições clandestinas, empréstimos não escriturados de instituições oficiais.

Quebrando as amarras

As razões dos que emprestam são também claras. Tradicionalmente, é muito baixa a remuneração bancária dos depositantes e dos títulos de investimentos chineses. Multidões de investidores arriscam pequenos, grandes, imensos capitais em empréstimos inseguros e ilegais no “sistema bancário-financeiro” em busca de um maior remuneração que a oficial.

O Shadow Banking não é questão econômica marginal. Em fins de 2015, ele movimentaria em torno de nove trilhões de dólares, uns 84% do PIB chinês. Essas transações fogem a qualquer controle público e tornam-se uma força econômico-política de dimensão difícil de ser avaliada. [CARVALHO, 2013, p.152.]

Em 2018, Jack Ma foi recebido com banda de música como membro do PCC. O Diário do Povo, porta-voz do citado partido, o definiu como um dos “principais arquitetos do socialismo com características chinesas” na província-sede do seu grupo empresarial. [G1, 27/11/2018.] Já como militante comunista, o multi-bilionário defendeu que o trabalhador deve labutar das 9 horas da manhã, às 21 da noite, seis dias por semana, sem feriados e férias pagas, realidade a que são obrigados não poucos trabalhadores na China socialista de mercado. [BBC NEWS BRASIL, 27/11/2018; FSP, 12/04/2019.] Em 23/12/2024, parte da obra de construção da montadora de carros BYD chinesa, na Bahia, foi interditada por obrigar trabalhadores a “situações análogas à escravidão”. Eles teriam sido trazidos da China. [DW,24/12/2024.]

Jack Ma mostrando os dentes

Jack Ma foi duramente reprimido, em 2020, por intermediar, apoiado no sistema de pagamento da Alibaba Group, 500 milhões de empréstimos, em geral, pequenos e médios, sem maiores garantias, a juros superiores ao da rede oficial, que criticou publicamente por seu burocratismo e falta de arrojo. Sua tentativa de legalizar-se nos fatos como alternativa ao sistema bancário-financeiro oficial registrou a pressão crescente do grande capital na China para por fim ao tabelamento estatal das taxas bancária e outras.

O fim do tabelamento das taxas e juros bancários e financeiros, em favor das flutuações do mercado, é uma política definida como importante objetivo, mas avançada, gradualmente, pelo governo chinês. Ela é também exigida pelas instituições internacionais. O avanço das instituições bancário-financeiras privadas e a exigência de livre flutuação das taxas de juros faz parte da lógica de acumulação do capital financeiro que, ao ser concretizado, porá em cheque a prioridade dada ao investimento produtivo na economia chinesa, em favor do capital financeiro e rentista. [INFORMONEY, 28/12/2020.]

Um impulso fortalecido pelo imenso endividamento chinês, com destaque para as administrações provinciais, certamente em crescente tensão com a atual queda das taxas de crescimento do país nos últimos anos devido: ao refluxo tendencial do comércio internacional; a crise do COVID 19; às sanções econômicas e outras impostas sobretudo pelos Estados Unidos; às transformações internas da sociedade chinesa, etc. 2018: 6,1%; 2019: 6,0%; 2020: 2,2%; 2021, 8,4%; 2022: 3%; 2023: 5,2%; 2024. 5%. [DEOS, 2015, p. 407.]

Há perigo na esquina

Desde 2023, o governo tenta frear a voracidade do capital privado financeiro, já que o crescimento do custo dos empréstimos do setor produtivo debilitará o crescimento do país, já obrigado a conviver com o novo normal, o que fragilizará a hegemonia do PCC sobre o país. A China não dispõe do recurso político democrático-burguês de mudar incessantemente os governos para que tudo fique no mesmo, no fundamental.

Em 2023, o governo lançou uma ampla campanha contra a corrupção, os altíssimos salários, o “hedonismo”, o “culto ao dinheiro”, etc. dos dirigentes financeiros e bancários, públicos e privados. Alguns dirigentes dos maiores bancos públicos foram condenados à morte por corrupção, pena reversível em prisão perpétua.

Os diplomados em finanças bem pagos recebem, como salário inicial, uns trinta mil euros mensais. [LE MONDE, 144/12/2024, p.15.] O salário mínimo na China está em torno de 350 euros. Porém, o governo não empreendeu nenhuma modificação estrutural no sistema bancário-financeiro chinês, prosseguindo em sua liberação e privatização como metas.

A China é Pra Lá de Imperialista

A China é, sim, pra lá de imperialista, no sentido leninista do termo. Em 1916, Lênin escreveu um breve clássico da teoria marxista: Imperialismo: a fase superior do capitalismo. Nele, definiu como “imperialismo” o “capitalismo que chegou a um estágio de desenvolvimento no qual se afirmou a dominação dos monopólios e do capital financeiro; onde a exportação de capitais adquiriu uma importância de primeiro plano; onde […] se cumpriu a divisão de todo o território do globo entre os maiores países capitalistas”. [LÊNIN, 1984.]

Lênin registrava, assim, a superação da fase “mercantilista” do capitalismo, que, desde o século 16, unificou nações e construiu outras. Elas empreendiam incessantemente guerras pelo domínio territorial para escoar as mercadorias nacionais e dominar o mercado de matérias-primas. O imperialismo territorial dividiu enorme parte do mundo entre as grandes nações europeias.

O investimento direto de capitais bancários e outros na produção industrial, para rentabilização incessante, ajudou a alavancar empresas monopólicas de maior porte, mais avançadas tecnologicamente e, portanto, mais rentáveis. As empresas monopólicas ultrapassaram necessariamente seus mercados nacionais, para valorizar seus vultuosos investimentos. Trata-se de salto de qualidade na esfera da produção e acumulação do capital e não de um movimento superestrutural. Um processo que manteve, sempre, a dependência da esfera da circulação à esfera da produção.

Imperialismo malvado e bonzinho

Além da exportação de mercadorias e serviços, em sua fase imperialista, o capital monopólico tem como característica central a exportação de capitais, sob as mais diversas formas: empréstimos, compra de empresa, investimentos diretos, exploração de matérias-primas, etc. O imperialismo comumente se apoiou e se apoia na violência física e militar. Mas sua determinação essencial e suficiente é a violência econômica. O imperialismo de conquista e exploração territorial é um fenômeno qualitativamente diverso, que alcançou forte desenvolvimento na Antiguidade.

A existência de capital monopólico não é condição suficiente para que uma nação seja imperialista. Ela se torna imperialista quando o capital monopólico, industrial, bancário, tecnológico, etc., se constitui como a forma de capital dominante. A Federação Russa não é, ainda, uma nação imperialista, na acepção leninista do termo, pois exporta, sobretudo, matérias-primas e, até há pouco, importava capitais em grande parte, sobretudo europeus.

Quando o capital monopólico domina uma formação social, o Estado se organiza para expressar suas necessidades nacionais e internacionais, apresentadas como próprias a toda a nação. O fascismo, na Itália, e o nazismo, na Alemanha, constituíram formas de dominação político-sociais nacionalistas ditatoriais que se mobilizaram na defesa e expansão de seus respectivos capitais monopólicos. O mesmo podemos dizer da democracia liberal inglesas, estadunidense, etc.

Lênin destacou como característica do imperialismo a formação de alianças entre nações de capital monopólico hegemônico, para a repartição do mundo e de seus mercados – em sua época, sobretudo, Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos, Japão, Itália. No contexto da interpenetração de capitais nacionais e de capitais já supra-nacionais da globalização e de nações hegemônicas, surgem blocos imperialistas, sob a direção de uma nação, que domina as nações imperialistas subordinadas. Essas últimas aceitam ou são obrigadas a uma submissão consentida, em diversos níveis. A Coréia do Sul não deixa de ser uma nação imperialista, apesar de plenamente submetida aos Estados Unidos. A Inglaterra, a Alemanha, a França, a Itália, nações imperialistas desenvolvidas, se mantém sob à direção e às imposições gerais estadunidenses, em forma mais ou menos plena.

Nações Boazinhas, Nações Malvadas

É uma pataquada propor que a China não é imperialista por não ser violenta nas suas relações externas. Nações imperialistas, como a Suíça, nunca invadiram ou agrediram militarmente outra nação, ou não o fazem, há décadas, como o Japão. Estados imperialistas agressivos, como os Estados Unidos, estenderam a mão e apoiaram a reconstrução de nações aliadas e vencidas, ampliando sua hegemonia política e econômica nesse processo. Foram os casos do Plano Marshall europeu, de 1948-52; dos investimentos na Coreia, em Taiwan, no Japão. A China jamais fez algo de tamanho porte, em relação a uma nação não desenvolvida.

O dinamismo econômico da China imperialista permitiu que ela se servisse dominante sobretudo de instrumentos econômicos na sua expansão internacional. Sua materialização recente no cenário mundial, onde surgiu em clara inferioridade militar e diplomática em relação ao bloco imperialista ianque, impediu igualmente que ela apoiasse na força a sua luta pela conquista de posições no espaço internacional. Sua enorme dependência ao export-import a levaram também a privilegiar a acomodação quando entrou em conflito.

A China entra, atualmente, em uma nova etapa de desenvolvimento, com queda relativa de sua taxa anual de crescimento, para em torno de 5%, ainda elevada para o padrão internacional, devido a realidades internacionais e nacionais. Desde meados dos anos 2010, aumentou a produtividade e a renda rural e recuou a migração de trabalhadores do a cidade; subiram os salários reais praticados no país, em todos os setores; avançou relativamente a proteção do trabalhador [2008].

Grandes greves em 2010

Um movimento impulsionado também pela resistência do mundo do trabalho, iniciada em meados dos anos 1990, que desembocaram nas maciças paralisações e mobilização em multinacionais, dos anos 2010, de ampla repercussão no país e mundial. No contexto de encarecimento relativo do trabalho, sobretudo empresas industriais deslocaram-se para o Vietnã, Bangladesh, Índia, Tailândia, etc.; mudaram-se para o interior; aumentaram a automatização.

A partir de meados dos anos 2010, a China conheceu um fortíssimo recuo do trabalho industrial, com rápida expansão do setor terciário. “Em 2019, das 432 milhões de pessoas trabalhando nas cidades (setor formal e informal), 302 milhões estavam no setor de serviços, contra 68 milhões na manufatura”.

Houve um radical avanço dos contratos de curto prazo e sobretudo da informalidade e precariedade do trabalho, com destaque para os trabalhadores de aplicativos e de plataforma, importantes fontes da nova forma de rentabilização do capital. Multinacionais como Alibaba, Didia, Ele.me, Jingdong, Meituan, Taobao, Tencent utilizam intensamente esse tipo de mão de obra. [NOGUEIRA & COLOMBINI, 2024.]

A nova situação que tenderá a impor à China readaptação de sua intervenção internacional, sobretudo caso se cumpra a promessa do segundo governo Donald Trump de disputa comercial e tecnológica, baseada, no mínimo, em imposições e sanções.

Tibete, colônia chinesa

Atualmente, a China reconstrói suas forças armadas também em um sentido imperialista.

Em 1949, a China não tinha navios de guerra. Até os anos 1980, construiu armada sobretudo litorânea e defensiva, dita de águas verdes. A seguir, expandiu seus navios de guerra de portes oceânicos, de águas azuis, transformando-se, nos últimos vinte anos, na primeira marinha militar do mundo, à frente da dos Estados Unidos, quanto ao número de navios. A exteriorização mundial de sua economia em estágio imperialista exigia uma igual extroversão de seu poderio militar, em um sentido defensivo-agressivo. Voltaremos a essa questão.

Não é certo que a República Popular da China tenha sido, sempre, defensiva e pacífica. Desde 1951, a China ocupa o Tibete, região de povo, etnia, língua, cultura e história singulares e não chinesas. O Tibete surgiu como nação independente, tornando-se protetorado do império mongol, no século 13 e, mais tarde, do império chinês. Em 1911, quando da frágil república chinesa, o Tibete proclamou a independência, sendo invadido pela China popular em 1951. Em 1959, o exército chinês aplastou revolta armada pela independência do Tibete.

Grande parte do país tem sido incorporada às províncias chinesas vizinhas, em um projeto claro de absorção linguístico-cultural. A China fere, portanto, os direitos de autodeterminação e nacionais do povo tibetano. A defesa da absorção do Tibete devido ao desenvolvimento econômico propiciado pelo domínio chinês é a mesma que nações imperialistas como os Estados Unidos, a França, a Inglaterra, etc. avançam para justificar o domínio colonial de regiões extra-nacionais através do mundo – Porto Rico, Ilhas Virgens Americanas, Ilhas Marianas do Norte, baía de Guantánamo; Guiana Francesa, Guadalupe, Martinica, Nova Caledônia, Polinésia Francesa, Reunião; Escócia, Irlanda do Norte, Malvinas, Gibraltar, ilhas Virgens Britânicas.

China derrotada militarmente

De 17 de fevereiro a 16 de março de 1979, no início do movimento de restauração capitalista, o exército chinês invadiu o Vietnã, para apoiar o macabro regime milenarista rural do Khner Vermelho, sob o comando de Pol Pot, deposto por tropas vietnamitas. A expedição militar chinesa foi derrotada, com a perda de 20 mil soldados. No combate ao imperialismo estadunidense, o Vietnã fora apoiado pela URSS, com a qual a China se alienara em 1972, com o pacto Mao-Nixon.

Atualmente, a China se serve de sua poderosa marinha e de seu poder econômico na disputa pelo controle de regiões do Mar da China Meridional, reivindicadas também pelo Brunei, Malásia, Filipinas, Vietnã. Desde 2012, controla totalmente as ilhas Paracel, próximas de seus territórios continentais, e oito ilhas do arquipélago Spratly, mais distantes, onde construiu ilhas artificiais com portos e instalações militares. O bloco imperialista ianque se serve dessas contradições regionais para erodir as relações da República Popular da China na região.

À Procura de Bases Militares

Os apóstolos do capitalismo-socialista chinês, espécie de vaca com cabeça de porco, propõem o caráter não imperialista da China por não possuir bases militares através do mundo, ao igual que os USA, a França, a Inglaterra. Os EUA possuem 750 bases! O imperialismo estadunidense começou a colecioná-las em 1898, há quase um século e meio, com a ocupação da base de Guantânamo, em Cuba. A Suécia, a Suíça, o Japão, a Itália etc. imperialistas também não têm bases no exterior. Há apenas pouco mais de 10 anos, a China emergiu como uma nação imperialista global, em contradição ainda não fortemente demarcada com os Estados Unidos.

A China necessita de bases navais militares no exterior, de que não dispõe, imprescindíveis para que sua marinha de guerra defenda seus interesses e linhas comerciais através do mundo. As linhas marítimas de abastecimento-exportação da China serão cortadas, em caso de conflito com o bloco imperialista ianque. Os Estados Unidos fizeram o mesmo, com o Japão, durante a II Guerra Mundial. Sem bases, a poderosa marinha de guerra chinesa se torna um corredor com grande capacidade pulmonar, mas perneta. Tudo leva a crer que continuará a ofensiva de sucesso de Donald Trump, no Panamá, para fazer recuar os interesses chineses.

A China possui uma base naval em Ream, na Camboja, e outra em Djibouti, na África, na entrada do mar Vermelho, no caminho para o canal de Suez. Procura estabelecer outras, através do mundo, sob a permanente oposição do bloco imperialista estadunidense. A China dispõe de facilidades para sua frota militar em Cuba, na Venezuela, na Federação Russa e mantém relações comerciais ativas com uma infinidade de países marítimos. Acaba de inaugural o enorme complexo portuário de Chancay, no Peru, construído por uma estatal chinesa. São, entretanto, apoios não garantidos para sua armada, em situação de crise. A frota pesqueira chinesa, ativa em todos os mares, é a maior do mundo, fornecendo informações de uso militar para Pequim. [URBINA, 30.10. 2020.]

Plataformas imperialistas

Devido ao novo poder dos mísseis hipersônicos, dos drones submarinos e aéreos e das armas atômicas, os porta-aviões perderam a passada função militar determinante nos conflitos entre as grandes nações, quando se digladiavam entre si, como ocorreu na II Guerra Mundial. Hoje, em caso de conflito, os porta-aviões e suas escoltas serão retirados das zonas de combate devido à assinalada atual vulnerabilidade. Nos dias atuais, os porta-aviões funcionam sobretudo como meios de “projeção de poder” de um Estado, longe de suas fronteiras, protegendo suas linhas comerciais, atacando as do oponente, impondo seus interesses sobre nações de menor força.

Os Estados Unidos mantém sempre um porta-aviões ativo no Mediterrâneo na defesa da agressão sionista em curso. Os porta-aviões foram e são registros do caráter imperialista de uma nação. Os Estados Unidos têm 21. No início da II Guerra Mundial, o Japão tinha oito, a Inglaterra, três, e a URSS, voltada para a defesa de suas fronteiras, nenhum. A China construiu, a toque de caixa, três porta-aviões e espera lançar ao mar três outros, até 2035. A China já supera a Inglaterra e a França nesse domínio. O Fujian, o mais moderno porta-avião chinês, pode pôr no ar em torno de setenta diversas aeronaves.

A Invasão Chinesa da África

Em 2014, a China transitou de importadora a exportadora de capitais, com um superávit de em torno de dez bilhões de reais. Literalmente, já nas vestes de nação imperialista, na acepção moderna do termo, a China dedicou-se a “expandir-se para fusões e aquisições na Europa e nos Estados Unidos, em busca de marcas de tecnologia”. [LEÃO, 2015, 10.] No ano anterior, em 2013, o governo chinês lançava o projeto da Nova Rota da Seda, a fim de ampliar e garantir mercados para seus investimentos internacionais e abastecimento em matérias-primas.

Em 2024, o investimento direto não financeiro chinês no exterior avançou de 10,5% em relação a 2023 — US$ 143,85 bilhões — tendo como destinos principais a ASEAN, os Estados Unidos e o México, este último país, como meio de contornar as sanções estadunidenses. A China teria ultrapassado os Estados Unidos como principal exportador mundial de capitais não financeiros. [EXAME, 22/01/2025.] 

O ativismo do imperialismo chinês tem sido muito forte em relação à África, circunscrevendo a ação imperialista na sua versão doce. As empresas públicas e privadas chinesas financiam e executam inumeráveis obras de diversos partes e naturezas no Continente Negro. Tratam-se, sempre, de trocas desiguais, já que capitais, mercadorias, serviços, etc. chineses são pagos, direta ou indiretamente, por quantidades monumentais de matérias-primas.

Diplomacia da dívida

Os críticos das relações internacionais da China propõem que ela realize uma penetração imperialista profunda na África apoiada comumente no que definem como a “diplomacia da dívida” A China levaria nações africanas a contrair financiamentos sobre suas possibilidades, garantindo-se por contrato a propriedade ou o uso dos empreendimentos, em caso de falta de pagamento.

O bloco imperialista estadunidense usa essa denúncia para impugnar a afirmação que as relações da China com a África promovem harmonicamente os interesses mútuos, proposta avançada pelo soft power de olhos de amêndoas e retomada habitualmente pelos apologistas do “socialismo ao modo chinês”.

O caso do porto comercial de Hambantota, no Sri Lanka, é apresentado como um exemplo clássico da diplomacia da dívida. Na impossibilidade de pagar a construção das instalações portuárias, o governo do Sri Lanka entregou as instalações portuárias, em 2017, para ser administrada pela financiadora chinesa do projeto, por 99 anos.

O que talvez tenha sido, do ponto de vista econômico, um péssimo negócio para a empresa chinesa, já que o aporte comercial do porto é muito baixo. Propõe-se que a China planeje assinar acordo para a utilização do porto por sua marinha militar. A China tem repactuado os débitos de nações africanas inadimplentes.[PAUTASSO, Diego & MAIA, 2024.]

V. O Imperialismo Chinês e o Brasil

A República Popular da China é, igualmente, o primeiro destino das exportações brasileiras, ainda que tenha conhecido queda, nos últimos anos. Em 2020, 48% das exportações do Brasil partiram para China, sendo que elas se constituíam, em 82%, de matérias-primas, com destaque para a soja, o minério de ferro e o petróleo, que representavam 75% das exportações com destino àquele país.

Em 2024, 28,6% das exportações do Brasil tomaram o caminho da China, em uma diminuição de uns dois por cento, em relação a 2023 — 96 bilhões de dólares. Em sentido contrário, aumentaram as importações desde a China, em torno de 22%, 72 bilhões de dólares, com um saldo favorável de 31 bilhões em favor do Brasil.. 

Entretanto, na pauta de importações desde a China destacam-se os produtos industrializados — equipamentos de telecomunicações e elétricos, máquinas de diversos tipos, chips, peças automobilísticas, medicamentos, etc. Consequentemente, apesar do superavit comercial, o Brasil segue funcionando como uma espécie de colônia da China, na era da globalização.

No que diz respeito às trocas comerciais, mantém-se o deslizamento histórico do Brasil, da órbita do imperialismo ocidental, ainda fortemente ativo no país, para a órbita imperialista chinesa. O que determina, em forma inevitável, uma forte influência dos interesses da China na política interna do Brasil, independente da proposta da diplomacia daquele país de não se imiscuir nos assuntos de sala e cozinha das nações com as quais mantém relações comerciais. 

A China não brinca em serviço

A pressão econômica chinesa mostrou sua força quando do governo sinofóbico de Jair Bolsonaro, lembrando a dependência comercial do Brasil à China. E fez mais, agora, no relativo ao governo argentino de Javier Milei. Durante a campanha eleitoral, o candidato ultra-liberal e pró-estadunidense prometeu que daria as costas à China comunista. Prometeu, mas não cumpriu.

Ao assumir o governo, Milei reconsiderou o que dissera quando o governo chinês começou a desviar parte de suas compras na Argentina para o Brasil. Há alguns meses, ele se reuniu com Xi Jining, durante o G8, propondo retornar aos tempos de bom relacionamento. Xi e Milei trocaram afagos e convites de visitas aos respectivos países. [CNN Brasil, 19/11/2024.] A relação imperialista surge de modo límpido no que diz respeito aos investimentos diretos de capitais chineses no Brasil.

Nos anos 2002-2004, a China começou a se interessar pelo Brasil, quando da primeira administração petista. Em 2010, os chineses investiram 13 bilhões de dólares no Brasil. De 2006 a 2020, o grande capital chinês investiu no país pouco mais de 60 bilhões de dólares, 47% das aplicações totais chinesas na América do Sul no período. Ou seja, naquele então, o Brasil foi o alvo! O que transformou a China no segundo investidor, abocanhando 30,9% dos investimentos estrangeiros no país, apenas 0,3% atrás dos USA. [CARIELLO, 2021, p. 10, 17 et pas.]

Nos anos 2020, teria decaído os aportes chineses em investimentos diretos, tendo, porém, reagido, em 2023, em 17%, em relação ao ano anterior, quando os ingressos gerais de capitais estrangeiros no Brasil recuavam. Em 2024, entre outras coisinhas, a China comprou a maior reserva de urânio do Brasil, rica igualmente em outros minerais valiosos, em Pitinga, no Amazonas, por dois bilhões de dólares, e a Mineração de estanho Taboca, por 340 milhões de dólares.

A China está comprando o Brasil

A China realiza, hoje, o mesmo desembarque nas praias brasileiras realizado, no passado, pelos capitais ingleses, estadunidenses, alemães, holandeses, japoneses, etc., que continuam chegando. Mesmo em relação aos investimentos estadunidenses e europeus igualmente imperialistas, a ação deletéria dos aplicações chineses no Brasil é talvez superior, devido ao seu perfil, volume, natureza, concentração, etc.

Dos 66,1 bilhões de dólares chineses investidos no Brasil, de 2006 a 2020, 46,3 bilhões — 70% — foram por meio de fusões ou aquisições. As empresas fundadas pelo capital chinês, representaram 24% dos investimentos, e as joints ventures, criação de empresas ou associação, entre capitais chineses e brasileiros, em que ambas partes mantêm a autonomia—, 6%. Portanto, tratou-se de literal transferência de empresas públicas ou privadas do Brasil, de controle nacional ou não, para o domínio do capital monopólico chinês, prosseguindo a desnacionalização e internacionalização da economia brasileira, que se processo, em forma inexorável, praticamente desde a dita redemocratização do país.

Agrava a transferência que 82% dos investimentos foram feitos por apenas dezesseis das chamadas “estatais centrais” chinesas, de caráter monopólico, controladas pelo Conselho de Estado chinês. Portanto, de direção centralizada. Essas empresas têm, comumente, acionistas privados chineses e internacionais. Não se trata do desembarque no Brasil de centenas ou milhares de empresas, de grande, médio ou pequeno porte, de direções e orientações singulares ditadas por diversos e múltiplos interesses. De 2007 a 2020, 48% dos mega-investimentos chineses se concentraram no “setor de energia elétrica –(…)–, seguido por extração de petróleo e gás (28%), extração de minerais metálicos (7%), indústria manufatureira (6%), obras de infraestrutura (5%), agricultura, pecuária e serviços relacionados (3%) e atividades de serviços financeiros (2%).” 

A Luz Brasileira Ilumina a China

As grandes empresas públicas chinesas, com destaque para a suas grandes estatais, controlam, desde Pequim, o “equivalente a 10% do total nacional” da distribuição de energia. A SGBH, propriedade de estatal chinesa, foi responsável por 56% do capital da China investido na compra de empresas de energia brasileiras. Em 2023, ela abiscoitou o maior leilão brasileiro de transmissão de energia. 

Em consequência, somas avultadas arrancadas aos consumidores brasileiros, tomam hoje o rumo da China, cada ano, sem nada aportarem ao país. Os investimentos chineses cobriam, em 2022, 23 dos 27 estados da federação — SP, 31%, Minas Gerais, 8%, Bahia, 7,1%, RJ, 6,7%, Goiás, 5,4%, Pará, 4,6%. O capital chinês aplicado no Brasil, com decisões centralizadas na China, possui uma capacidade de interferência econômica e política espraiada através de praticamente todo o país. 

A importância do Brasil para o capital monopólico chinês é tamanha que justifica o crescente investimento que faz no desenvolvimento de movimento de simpatia para a intervenção de seus capitais imperialistas no país. No Brasil e no mundo, por detrás dos comunicadores e outros assemelhados que vendem a China Maravilha, cada vez mais amplamente impulsionados e financiados, direta ou indiretamente, encontra-se o grande capital capitalista e imperialista chinês sorrindo nada enigmaticamente.

  • Agradecemos a leitura da linguista Florence Carboni, da UFRGS.
  • Versão atualizada em 8/02/2025
  • Mário Maestri, 76, historiador, escreveu sobre o tema: O despertar do Dragão. Nascimento e Consolidação do Imperialismo Chinês (1949-2021).O conflito China-URSS no Mundo e no Brasil. Porto Alegre: FCM Editora, 2021. https://clubedeautores.com.br/livro/o-despertar-do-dragao-2

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Este texto não passou pela revisão ortográfica da equipe do Contrapoder.

Mário Maestri

Historiador, autor de: Revolução e contra-revolução no Brasil. 1530–2018.

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