A ofensiva do Hamas, desde a faixa de Gaza, sobre vastas regiões palestinas ocupadas por Israel, despertou sentimentos contraditórios, não apenas no Brasil, no espectro político-ideológico definido como esquerda. Em 7 de outubro, por quatro dias, em direta, o mundo assistiu perplexo o Hamas e grupos de resistência menores penetrarem, como faca em brasas na manteiga, o coração mole do exército sionista tido como invencível. O que não se deveu, apenas, como veremos, à surpresa permitida por operação longa e meticulosamente preparada.
O surpreendente feito de armas fogueou as esperanças e a combatividade de milhões de apoiadores da libertação da Palestina, não poucos desesperançados pela descrença em uma vitória, vista como impossível, diante dos poderosos exércitos sionistas. Forças armadas sustidas ferreamente pelo imperialismo USA e seus aliados-súcubos e contando com o apoio quase geral dos israelenses, desapiedados para com o que resta da população palestina. Palestinos que, em Gaza, na Cisjordânia e no interior de Israel, agarrados à terra natal, resistem, à sua erradicação, como a mais renitente erva dita daninha. [DARWICH, 2021; SAID, 2012.]
Respondendo à humilhação sofrida, o Estado de Israel lançou operação genocida contra a faixa de Gaza que, após mais de três meses, já supera os vinte e cinco mil civis mortos e mais de meia centena de milhares de feridos, setenta por cento crianças e mulheres. Uma hecatombe humanitária executada através de bombardeios selvagens de moradias, de escolas, de museus, de hospitais, de praças e de logradouros com o apoio dos USA e da União Europeia, para além dos tradicionais muxoxos humanitários. Apenas na quinta-feira, 18 de janeiro, depois de mais de três meses de massacre, o Parlamento Europeu aprovou, por 312 votos a favor, 131 contra e 72 abstenções, apelo em favor de “cessar-fogo permanente” na Faixa de Gaza, exigindo, porém, o desarmamento do Hamas e a libertação dos reféns, sem qualquer referência aos palestinos aprisionados em Israel. [Euronews, 18/01/2024; Le Monde, 26/01/2024.]
Os Estados Unidos e a União Europeia reafirmam, assim, o direito de Israel imperialista, colonialista e racista de manter-se nos territórios palestinos conquistados pelas armas. Justificam uma colonização de povoação, que não objetiva explorar os nativos, mas deslocá-los e eliminá-los para que colonos se estabeleçam em seus territórios, como novos senhores de uma terra que jamais foi sua. Uma operação ao igual que outros movimentos coloniais idênticos do passado, como no oeste dos Estados Unidos; na Austrália; no Brasil, sobretudo ao longo do litoral, etc. [FERRO, 2017; MAESTRI, 2013.]
A Colonização de Gaza
Com bombardeio geral indiscriminado e a redução da população da Faixa de Gaza à fome, à sede, ao frio, à falta de assistência médica, o Estado de Israel procura ferir indiretamente uma resistência que surge, golpeia e desaparece, por entre as ruínas urbanas fantasmagóricas a que foram reduzidas as cidades de Gaza, uma das regiões de maior densidade demográfica no mundo – 2.106.745 habitantes, 6.500 habitantes por quilômetro quadrado.
O verdadeiro massacre da população de Gaza persegue, igualmente, a curto prazo, ferir indiretamente os combatentes palestinos e levar populares desesperados a denunciá-los e a seus refúgios. A largo prazo, o Estado sionista sonha empurrar os habitantes de Gaza para o deserto do Sinai, para a Jordânia, para deus sabe onde. Tudo, para que no gueto palestino floresçam estabelecimentos israelenses de ocupação, os kibutz, continuação do Grande Israel prometido pelo sionismo. “A única conclusão lógica é que a operação militar de Israel em Gaza visa deportar em massa a maioria da população civil”, propõe Paula Gaviria Betancur, relatora especial das Nações Unidas para os direitos humanos dos deslocados internos. [CNN, 26/12/2023.]
O massacre e as pretensões de colonização territorial de Gaza não são hiatos históricos, surgidos da vontade dos sionistas de maltratar os palestinos. A ação colonial-imperialista da Inglaterra, da França, da Itália, da Holanda, da Bélgica, da Dinamarca, dos Estados Unidos, do Japão, da Espanha, de Portugal ceifaram dezenas de milhões de nativos nas Américas, África, Ásia, Oceania e, em alguns casos, nos seus próprios territórios, sempre com objetivos materiais objetivos.
Não raro, atos do colonialismo e do imperialismo são propostos como produzidos por maldade pura. Entre tantos, destacam-se o bombardeio de Dresden, em 13-15 de fevereiro de 1945, com em torno de 22 mil civis mortos, e as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto de 1945, com mais de duzentos mil civis siderados. Esses assassinatos multitudinários lançados, respectivamente, contra a Alemanha e o Japão já derrotados militarmente, perseguiam objetivos precisos, entre eles, impor o terror dos vencedores aos vencidos e aos inimigos e aliados ainda por serem derrotados.
II. O Combate Imperialista pelo controle das consciências
Apenas iniciava o martírio de Gaza, organizou-se poderosa ofensiva imperialista e sionista procurando desarmar o movimento de apoio à Palestina e o fortalecimento geral da disposição de luta contra a opressão. Uma campanha, como sempre, apoiada por narrativas desmobilizadoras e derrotistas da esquerda como a direita gosta, para não falar das declarações dos sionistas ditos progressistas, verdadeiras contradictio in terminis. [AVRITZER, FSP, 2.dez.2023; SCHUCMAN et al., FSP, 21/11/2023.] O aríete atual da operação de desqualificação da resistência palestina em Gaza é a acusação do Hamas como movimento terrorista ensandecido e irresponsável. Organização que, com a operação de 7 de outubro de 2023, sem qualquer possibilidade de vitória, afirma-se, teria justificado a resposta defensiva de Israel, ainda que exagerada.
Derramam-se rios de lágrimas pelos sofrimentos da população de Gaza, nos quais navegam, sempre, a definição do Hamas como seita fundamentalista islâmica. Movimento que, cego pelo ódio anti-semita e despreocupado para com as consequências de iniciativa destinada ao fracasso inelutável, aprofundou o sofrimento da população de Gaza, facilitando a expansão colonial semi-final sobre o pouco que resta da Palestina semi-independente. Portanto, o Hamas seria a origem do desastre humanitário que vive a população palestina em Gaza.
Essa metabolização da narrativa imperialista,por intelectuais que se pretendem progressistas, foi apresentada exemplarmente no artigo “Dilúvio de Al-Aqsa e erro de cálculo”, assinado pelo acadêmico libanês Gilbert Achcar, no passado trotskista no sabor Secretariado Unificado, paradoxalmente traduzido pelo meu amigo e companheiro Waldo Mermelstein, um tradicional defensor da resistência palestina, e publicado em 15/12/2023, no sítio Esquerda.net, da Tendência Resistência do PSOL.
Achcar Pergunta e Responde
O articulista em questão pergunta-se o que “pode ter passado pela cabeça daqueles que idealizaram a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, […] embora fosse possível prever o que aconteceria como resultado”. Ou seja, como foi possível aos aluados do Hamas lançarem a mega-ofensiva, estando previsto [nos astros, certamente] que resultaria em um desastre terrível. E, mais ainda, sabendo que a dimensão-sucesso do ataque tornaria “inevitável [sic] que a reação israelense excedesse” todos os crimes praticados por Israel na Palestina até hoje.
Gilbert Achcar, com a bola de cristal à mão, que lhe permitia prever, em 5 de dezembro, a conclusão de conflito armado — ainda em curso, extremamente complexo e com um número crescente de protagonistas—, responde à pergunta que ele mesmo faz sobre as razões da operação do Hamas que propõe como suicida. As respostas que dá em seu artigo são dignas da perspicácia analítica do acadêmico libanês socialista, hoje professor em Londres.
A primeira hipótese que avança não é a sua preferida. Ao atacarem Israel, os membros da direção militar interna do Hamas, ou seja, das brigadas Izz Al-Din Al-Qassam, -a direção política, externa, foi surpreendida pela ofensiva- “estavam cientes de que [a operação] resultaria em uma catástrofe, […], e não se preocuparam com o assunto; ou calcularam mal.” Seriam, portanto, um bando de fanatizados indiferentes à sorte da população palestina. Ou uma cáfila de incompetentes, para “calcularem mal”, durante um período tão longo, uma operação de tamanha dimensão e consequências.
Vidente com Doutorado
A segunda explicação, que seduz mais o nosso vidente com doutorado, é que a direção militar do Hamas não considerou a radicalização direitista da população e do Estado israelenses e, portanto, a resposta genocidaque ele considerouinevitável, naturalizando-a. Inconsequência que nasceria de o Hamas tomar os seus “desejos como realidades” e contar com a intervenção de “milagres divinos” que levantariam o mundo islâmico em defesa de Gaza. Uma realidade, para Achcar, nascida da “lógica religiosa” do Hamas.
E como prova dessa lógica, cita declarações inflamadas do Hamas, de vieses religiosos, ao iniciar o Aluvião de Al-Aqsa. E conclui suas elocubrações propondo que o máximo que se poderia esperar, hoje, é “obter de Israel” que ponha “termo à agressão e ao genocídio e impedir”, assim, o “Estado sionista de tomar toda a Faixa de Gaza”. Salvar, portanto, o possível, após a ação do Hamas, grupo fundamentalista religioso, irresponsável e despreocupado para com a população da Palestina, como propõe.
Hamas é movimento de libertação nacional
O Hamas não é grupo terrorista. É, ao contrário, movimento lutando pela libertação nacional da Palestina, contra um Estado colonialista, imperialista, teocrático e racista. Tem, portanto, a legitimidade, que lhe é concedida pela população oprimida regional, de se servir das armas contra o opressor. Direito reconhecido pela jurisprudência internacional. O caráter religioso do Hamas certamente dificulta um programa político-social mais avançado para a libertação da Palestina. O que não o desqualifica como movimento de libertação nacional. [SEURAT, 2024; FONTANESI, 2023.]
Após o 7 de outubro, o imperialismo e o sionismo serviram-se de narrativas aterrorizantes sobre militantes do Hamas cortando cabeças de crianças, estuprando mulheres, realizando atos escabrosos sobretudo contra os membros de festival musical amalucado. Tudo planejado minuciosamente, já que os militantes do Hamas teriam fechado os caminhos de fuga dos participantes de rave de música eletrônica realizada no deserto. Falou-se em 1.200 e mesmo 1.500 mortos. Essa seria a prova cabal do caráter terrorista e pervertido do Hamas.
Não temos investigação independente dos sucessos que envolveram a celebração musical israelense, com denominação condizente com o desatino da inciativa – Universo Paralelo – Supernova! Apenas seres humanos vivendo não em nosso mundo organizariam e participariam de festival a poucos quilômetros do muro que aprisiona a população de Gaza. Mutatis mutandis, qualquer coisa como tomar uma cervas estupidamente geladas e assar uma carninha nas brasas ao lado da cerca do campo de Dachau, na Alemanha! O Fradinho do Henfil, nada solidário, e pouco dado à linguagem politicamente correta, diria: – Eles pediram!
Bebês Degolados, mulheres estupradas
A mídia tem filtrado, em surdina e em doses homeopáticas, os fakes mais gritantes do imperialismo e do sionismo. A notícia dos quarenta bebês mortos e decapitados na comunidade de Kfar Aza, a um quilômetro de Gaza, teve como fonte Nicole Zedeck, jornalista de televisão israelense que acompanhava as tropas do exército, esforçando-se para atiçar a cólera contra combatentes palestinos do Hamas, descritos como surgidos do mais terrível pesadelo. A notícia pegou e foi confirmada pelo exército israelense que, a seguir, voltou atrás ao não reafirmar o que propusera.
Biden aproveitou para abraçar alegre a história. Em evento em Washington, ele “discursou que teria visto imagens de crianças israelenses mortas durante os ataques do grupo extremista […]. Entretanto, a Casa Branca afirmou que ele não viu imagens, mas apenas estava se referindo a relatos vindos de Israel.” E o mundo perdoou o velhinho macabro. [BBC, News, 12/10/2023.] Apesar de reconhecida como fake, a invencionice sinistra rodou e segue rodando o Brasil e o mundo. [LERIA, 2023.]
Não há, igualmente, até agora, provas de estupros coletivos. Como não houve ataque planejado ao Festival. Os combatentes palestinos sequer tinham conhecimento da celebração maluca, ao se depararem com ela, quando se dirigiam para assaltar o kibutz Ra’im, entre outros. O festival no “mundo paralelo” se encerraria em 6 de outubro, mas recebera autorização do exército para continuar no sábado fatídico. Ou seja, fora esticado. [CGN. 19/11/2023]
Quantos e quem morreram?
Os até 1.500 participantes do evento mortos propostos inicialmente foram reduzidos a 260 falecidos, entre eles, um número talvez significativo de soldados e reservistas israelenses. Os três brasileiros que morreram no evento viviam em Israel e tinham a nacionalidade israelense. Dois deles eram reservistas das forças armadas e o terceiro, uma mulher, tinha um filho servindo no exército. [CNN, 13/10/2023.] Os 1.500 trucidados seriam, agora, todos os mortos, soldados e civis, durante os quatro dias de combate nos territórios palestinos então libertados.
E, junto aos combatentes do Hamas, com as fronteiras livres, penetraram nos territórios ocupados militantes de outros grupos de resistência e populares, todos embalados por ofensiva que certamente procurava incutir medo e terror, para que os colonos não retornassem aos territórios palestinos. O ataque de 7 de outubro teria motivado o recuo de oitenta mil colonos de regiões próximas às fronteiras de Gaza que, a seguir, elevaram-se a duzentos mil, com os que abandonaram a fronteira norte com o Líbano e o Hezbollah. A disciplina e a consciência dos combatentes palestinos teriam impedido violências mais amplas, reações compreensíveis de população há décadas sob o tacão sionista, objeto de todo tipo de violência e crimes. E, agora, sabe-se que talvez não poucos dos mortos no festival no deserto foram metralhados por helicópteros israelenses, como veremos.
As violências pontuais eventualmente praticadas não desqualificam o Hamas. A revolta Mau-Mau, movimento anti-colonial no Quênia, com forte componente étnico-religioso, em 1952-1960, massacrou alguns poucos colonos ingleses e familiares. O levante é valorizado como movimento pioneiro negro-africano de libertação. Mal organizado e escassamente armado, sem apoios externos, ele foi sufocado em banho de sangue, sobretudo de africanos desarmados, pelo exército inglês. Naqueles anos, filmes imperialistas abordaram as atrocidades africanas, como “Mau-Mau”, de Elwood Price, de 1955.
Terror Argelino
A luta pela libertação da Argélia conheceu, em 1955, alguns casos de massacres de colonos franceses e de suas famílias, com atentados sexuais a mulheres, praticados por aldeões e camponeses armados não raro com apenas seus instrumentos de trabalho. O ódio popular à colonização francesa era imenso. Em ataques terroristas, a Frente de Libertação Nacional argelina dinamitou cafés, cinemas, restaurantes, etc. frequentados por militares e civis franceses, sobretudo em Argel.
O que não desqualifica o caráter da gloriosa guerra de libertação nacional argelina, dirigida pelo FLN, de 1954 a 1962. A França abandonou o país após massacrar em torno de quatrocentos mil argelinos, combatentes e civis. A tortura de resistentes argelinos pelo exército francês primou pelo requinte, como registra o filme clássico ítalo-argelino “A batalha de Argel”, de Gillo Pontecorvo (1909-2006), proibido por longos anos na França. Em 1947 e 1948, sobretudo, em operações planejadas, tropas irregulares sionistas aterrorizaram e massacraram civis palestinos para que abandonassem suas casas e terras, a serem ocupadas, em um movimento, não de libertação nacional, mas de colonização de povoação, em tudo ilegítimo.
Podemos criticar as concepções do Hamas, liberais, no plano econômico, conservadora, no civil, preferindo que ele fosse um movimento laico, feminista, ecologista e, melhor ainda, marxista. [GRESH, 2006.] Para além de nossos desejos, no mundo real, e não no universo paralelo, o Hamas é o principal movimento de libertação nacional dos territórios palestinos ocupados, em luta heróica contra o imperialismo e o sionismo, apoiado pela imensa maioria da população de Gaza e, cada vez mais, da Cisjordânia. [SAMAAN, 2023.] Merece o amparo de todos os socialistas, anti-imperialistas, anti-colonialistas e mulheres e homens de bem.
III. O que pretendia o Hamas ao atacar Israel?
O assalto do Hamas e das demais organizações da resistência palestina iniciou-se na madrugada, às 6:30, de 7 de outubro, precedido e apoiado pelo lançamento de 2.200 mísseis sobre cidades israelenses, desorganizando a defesa do Domo de Ferro – Iron Dome. Mais de vinte localidades foram ocupadas pelos combatentes palestinos. Dezenas de oficiais, soldados, civis israelenses, estadunidenses etc. foram capturados e levados como reféns para Gaza, com o objetivo de trocá-los pelos milhares de palestinos aprisionados em duríssimas condições em Israel. Por quatro dias, o exército israelense lutou para recuperar os territórios palestinos dos quais fora expulso. Israel sofria a maior derrota militar de sua história, que procurou afogar com um banho de sangue em Gaza. [SAMAAN, 2023; ENDERLIN, 2024.]
Mas, afinal de contas, o que queria o Hamas com o Aluvião de Al-Aqsa? Procurava, apenas, um martírio nascido de explosão incontida de ódio, despreocupado com as sequelas que o ataque motivaria à sofrida população de Gaza, que governa e da qual seus militantes fazem parte? Esperava vencer batalha, em guerra proposta como perdida desde o início, contando com a pouco crível ajuda dos anjos celestiais muçulmanos? Ou foi operação magistral procurando reverter as derrapagens que a causa palestina vive, empurrada ladeira-abaixo por sionistas e imperialistas? Uma operação, sendo assim, com objetivos políticos táticos e estratégicos e real possibilidade de sucesso.
A direção militar “interna” do Hamas manteve o plano de ataque na total ignorância da direção política “externa”; da imensa maioria de seus militantes e combatentes; do Hezbollah libanês -“Partido de Deus”-; do Irã e de seus financiadores e apoiadores médio-orientais e europeus. Para tal, teve que acelerar a ampliação dos hoje talvez quinhentos quilômetros de túneis, com a ajuda de engenheiros iranianos, sírios, norte-coreanos – o exército de Israel trabalha, hoje, com a possibilidade de setecentos km2! Alguns túneis afundariam-se oitenta metros no solo; outros, desentocavam no Egito, permitindo a entrada de armamentos, um elemento determinante no levante e para a sua duração. O Hamas seguiu produzindo armas em Gaza; treinou de 25 a 30 mil combatentes; criou depósitos de abastecimento; estudou as possíveis formas da invasão de Gaza pelos sionistas e as táticas para enfrentá-las.
No combate livrado atualmente, o Hamas serve-se amiúde do lança granada Yassine [RPG], projetado por seus armeiros, em 2004, para atacar blindados e a infantaria israelense, que evoluiu até o atual Yassine 105, de 4,5 kg, e menos de um metro de comprimento. O Yassine 105 é arma de baixo custo, de forte impacto, de fácil manutenção e manejo, com um alcance máximo de 500 metros, que supera em menos de dois segundos. Uma arma ideal para o combate entre escombros, livrado por tropas irregulares, diante de um exército regular.
Na segunda-feira, 22 de janeiro, às 14:00, no centro de Gaza, um tiro de um Yassine, disparado por combatente palestino, contra um tanque israelense, levou que a explosão do mesmo contaminasse os explosivos que um pelotão de soldados depositava para pôr abaixo duas residências, causando a morte de, no mínimo, 21 soldados reservistas ocupados na pretendida demolição. Outros três israelenses teriam sido mortos no mesmo dia. [Euronews, 23/01/2024.]
Em 7 de outubro, com o Aluvião de Al-Aqsa, o Hamas assentou o mais duro golpe material e moral sofrido até hoje pelo exército de Israel e pelo Mossad, pondo por terra o mito da invencibilidade militar sionista. Isso porque o que foi feito pode sempre ser refeito. A destruição cega de Gaza não é prova de fortaleza e coragem, mas de fraqueza, vergonha e de medo.
Palestina, uma Ave Fênix
O ataque do Hamas não objetivava apenas golpear e desmoralizar as forças armadas sionistas, despreocupado com continuidade da operação e com a esperada resposta terrorista de Israel, apoiada pelo bloco imperialista USA. Ele almejava, sobretudo, relançar o movimento pela libertação da Palestina, em semi-agonia, após a farsa do tratado de Oslo e rendição da OLP, em 1993, que abriram caminho para uma longa ofensiva, até então vitoriosa, dos Estados Unidos e de Israel, pela reacomodação do Oriente Médio sob o controle pleno imperialista.
Uma reformatação imperialista e sionista da região médio-oriental que avançava, a trote-galope, sobre o pouco que restava da esfarrapada autonomia palestina, política e territorial. Ao desorganizar profundamente essa operação em marcha, como veremos, e registrar a fragilidade militar relativa de Israel, o Hamas alcançou indiscutivelmente uma grande vitória para a luta pela libertação da Palestina, após ela sofrer um rosário de derrotas, nesta guerra que já supera os setenta anos.
A Palestina independente tem desaparecido diante da fome pantagruélica do sionismo, que iniciou seu banquete, cuidadosamente planejado, ao avançar sobre os territórios palestinos, desde antes de 1948, quando da fundação do Estado de Israel, por decisão da ONU, servil organismo sob o controle dos Estados vitoriosos da II Guerra. Nesses 75 anos, milhões de judeus, sobretudo europeus, desembarcaram na dita Terra Prometida, participando de movimento de expulsão violenta de centenas de milhares de populares nativos, com dezenas de milhares de mortos, com o permanente apoio imperialista, sobretudo inglês e estadunidense. Depois do 7 de outubro, 17% dos israelenses com dupla nacionalidade já se escafederam de volta aos seus países de origem.
Os primeiros desembarques maciços na Palestina foram de judeus escapados dos massacres anti-semitas alemães, poloneses, franceses, ucranianos, gregos, iugoslavos, etc., dirigidos e inspirados pelo nazismo, quando da II Guerra Mundial. Um crime de facções das classes dominantes europeias que motivaria, como reparação, em 1948, a fundação do Estado de Israel, com as terras e o sofrimento palestinos. A criação de Israel recebeu, também, o impulso de sentimentos anti-semitas favoráveis à exportação da população judia europeia. [DEUTESCHER, 1970.]
Com Israel, no imediato pós-guerra, sobretudo, o imperialismo construiu-se uma poderosa fortaleza no coração dos estratégicos territórios petrolíferos medio-orientais. Sob a retórica sionista de uma “terra sem dono, para um povo sem terra”, hipócritas narrativas religiosas, racistas e manipulação rústica e cínica da história procuraram justificar o direito de conquista armada e de operações de limpeza étnica que transformaram milhões de palestinos de “um povo com terra, em um povo sem terra”. [PAPPÉ, 2023, 2022; CLEMESHA, 2023.]
A Reconstrução Imperialista do Oriente Médio
A destruição da URSS, em 1989-91, abriu as portas para uma década de hegemonia unipolar estadunidense [1990-2000]. Em agosto de 1990, os USA lançaram o primeiro ataque ao Iraque, absolutamente isolado, concluído, em 2003, com destruição do país, apoiado apenas pela OLP de Yasser Arafat, fiel, mesmo na desgraça, a um governo e a um Estado iraquianos que haviam sustido solidária e fortemente o movimento palestino.
Com a submissão do Iraque e da OLP, apenas a Síria e o Irã resistiam na região ao domínio imperialista-sionista. Desde 1979, o Irã foi mantido sob bloqueio econômico e político, radicalizado a partir de 1995. Em 2011, iniciou-se a impiedosa e meticulosa destruição da nação e do Estado sírios independentes, que sobreviveram à operação, duramente golpeados, devido apenas ao apoio russo e iraniano. Tropas do Hezbollah libanês lutaram igualmente na defesa da Síria.
A operação estadunidense avançou a consolidação de sua hegemonia sobre as nações árabes conservadoras, através do reconhecimento por elas do Estado de Israel e do abandono da causa palestina, para além de declarações piedosas. Em 26 de março de 1979, por primeiro, em Camp David, residência de verão dos presidentes estadunidenses, o Egito reconheceu Israel, em troco da devolução da península de Sinai e de polpuda mesada aos militares egípcios, que se mantinham e se mantém até hoje no governo de fato do país.
A Rendição da OLP
Em 1993, em Oslo, a OLP de Yasser Arafat renunciou à luta armada pela libertação da Palestina e reconheceu Israel, em troca de manter um governo fajuta sobre a Cisjordânia, que seguiu sendo pontilhada de colônias israelitas, que tornavam irrealizável até mesmo um Estado palestino liliputiano. A Cisjordânia tem sido comparada a uma pele de onça, pintada por colônias israelenses se alastrando em patológica metástase. [VIDAL, 2017.]
Sobretudo sob a direção do colaboracionista Abu Abbas, desde janeiro de 2005, a Autoridade Nacional Palestina e o Fatah transformaram-se em uma burocracia corrupta, indiferente à situação de seus governados e à libertação da Palestina, sustida no governo pelas tropas de Israel e pelos repasses avaros que o governo sionista lhe concede, já que controla a sua vida econômica e as suas fronteiras.
Em 2020, a porteira abriu-se com o reconhecimento de Israel pelos governos reacionários e ditatoriais dos Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão. Todos jurando apoio eterno à causa palestina. [SEURAT, 2024.] Nesse processo de enfraquecimento da luta palestina pela libertação, um hiato positivo foi a aplastaste vitória eleitoral do Hamas, na Faixa de Gaza, “nas eleições de 25 de janeiro, que conferiram 74 deputados para o Hamas e apenas 45 para o Fatah de Abu Abbas, num parlamento de 132 cadeiras”. [MAESTRI, 2006.]
A consolidação final do Estado sionista, de seu expansionismo territorial e da política nacional-fascista de Benjamin Netanyahu conheceria salto de qualidade com o esperado reconhecimento de Israel pela rica Arábia Saudita e, sobretudo, com o abraço cínico entre Ancara e Tel Aviv, ambos movimentos a serem oficializados em fins de 2023. Mas as celebrações foram interrompidas pelo Hamas, inoportuno penetra, interessado não em participar no banquete, mas em estragar a festa.
A Sede de Império da Turquia
Fortalecido pela sua reeleição, pelas vitórias na Líbia e na Síria e, sobretudo, no Azerbaijão, na segunda guerra de Nagorno Karabakh, em setembro de 2023, Erdogan, presidente da Turquia, aprestava-se a dar um passo estratégico em seu projeto da reconstrução de uma “Grande Turquia”, uma reprodução econômica, diplomática e militar do Império Otomano, derrotado e esfacelado quando da I Guerra Mundial. Para tal, a Turquia deve surgir, no Oriente Médio, como o eixo de sustentação de Israel e protetor das perro-monarquias e dos interesses ocidentais e estadunidenses, com a deslocação parcial forçada dos Estados Unidos.
A aliança Turquia-Israel seria cimentada e justificada com a construção conjunta de um ambicioso duto energético — petróleo, gás natural, eletricidade, água, fibra ótica, etc. – que levaria sobretudo o gás israelense à Europa, o que fragilizaria a posição russa de grande fornecedor regional daquela energia. O novo eixo Turquia-Israel, apoiado nas petro-monarquias, enfraqueceria e isolaria fortemente o Irã e engessaria o movimento palestino. Para qualquer iniciativa mais ambiciosa na região, a União Europeia deveria se apoiar na Turquia, que ela esnoba tradicionalmente. [SANTORO, 11/2023; 3/2023.].
Duas semanas antes do Aluvião de 7 de outubro, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan se fizeram fotografar, sorridentes e amigáveis, em uma mesinha de um bar ou restaurante, diante de duas garrafas de água mineral, quando da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. As visitas triunfais do turco a Israel e do israelense à Turquia se dariam em continuação ao fraternal encontro. [Israel de Fato, 20/09/2023.]
De amigo do peito à Açougueiro
E foi assim que Erdogan se encontrou, com Bibi no colo, quando Israel iniciou o massacre genocida da população de Gaza, e, em resposta, literalmente milhões de turcos saíram enraivecidos às ruas sobretudo de Ancara e de Constantinopla, cercando legações diplomáticas sionistas e a Base Aérea de Incirlik, da Otan-USA no país. Exigiam que o exército turco interviesse em defesa da Palestina massacrada e se ofereciam para partir para lutar ao lado do Hamas e dos combatentes palestinos.
Em 27 de outubro, em uma pirueta de saltimbanco, Erdogan arengou a uma maré enfurecida e indignada de cidadãos turcos, responsabilizando Israel e os Estados Unidos pelo infame massacre e esculachando seu amiguinho da véspera, espinafrado de racista, de açougueiro e de terrorista! Definiu-o, na continuação, como um Hitler dos nossos dias. E, foi mais longe, reconheceu o Hamas como movimento de libertação palestino. [AFP, 29/11/2022.]
A operação “Aluvião de Al-Aqsa”, lançada pelo Hamas, e, a seguir, o bárbaro massacre da população civil de Gaza, ainda em curso, devido à reação multitudinária de indignação não apenas regional, fizerem saltar, igualmente, no pior dos casos, por alguns anos, as articulações entre Israel e os demais países árabes conservadores, com destaque para a Arábia Saudita. Em Riad, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman congelou a aproximação com Israel, sem prazo para retomá-la. E sinalizou a necessidade de Israel de acatar exigências palestinas para retornar a ela. [Jornal do Brasil, 2023.]
Repúdio Internacional
Em sentido contrário, com destaque para a Alemanha, a França, a Itália, os governos europeus tudo fizeram e fazem para criminalizar o Hamas como organização diabólica e justificar a ação de Israel, como um direito de defesa de sua autonomia sobre as terras conquistadas aos palestinos. Na França, Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, hoje o político de esquerda mais prestigiado, com condições de sonhar com a presidência do país, vem sendo denunciado pela grande imprensa como anti-semita, por negar-se a qualificar o Hamas como terrorista e por seguir em sua defesa corajosa da população palestina. [Le Monde, 13/01/2024.] Na Alemanha, a repressão estatal à solidariedade com Gaza é ainda mais virulenta.
A denúncia do sionismo e a do genocídio perpetrado contra Gaza são anatemizadas, e, não raro, perseguidas judicialmente como anti-semitismo, como houvesse um fio vermelho unindo os judeus massacrados pelos nazistas, no passado, aos carrascos sionistas do povo palestino, de hoje. Os defensores de Gaza e de uma Palestina livre são caluniados como anti-semitas, mesmo quando são reconhecidos e respeitados militantes e intelectuais de esquerda, não raro, de origem judia, como no caso de Breno Altman, pateticamente investigado pela Polícia Federal, sob instigação da Confederação Israelita do Brasil, por sua denúncia do genocídio em Gaza. [Brasil de Fato, 31/12/2023.]
A mesma polícia federal que fez um papelão ao se deixar usar pelo Mossad e por Netanyahu, ao anunciar ter reprimido célula terrorista do Hezbollah, ao prender dois cidadãos nacionais sem qualquer envolvimento com a resistência palestina. Um deles, segundo seu advogado, não era libanês, não tinha parentes no Líbano, não falava árabe e nem sabia o que era o Hezbollah ou Hamas! O que é o caso de uma boa parte da desinformada população brasileira. [UOL, 11/11/2023.]
Como sempre, após a badalação reacionária da grande mídia, tudo sob instigação do governo de Israel, que anunciou a presença de terroristas libaneses e palestinos prontos a atacar judeus no Brasil, eles foram libertados, quase na surdina, sem que a Polícia Federal pedisse desculpas por detê-los gratuitamente, expondo-os à fúria da grande mídia. E sem pedir, igualmente, desculpas à população brasileira. E sem que, finalmente, o governo atual fizesse uma investigação sobre os responsáveis por essa violência da Polícia Federal, punindo assim os responsáveis de orquestração caricata, para não dizer mais.
IV. O Massacre de Gaza: Israel Acuado e sob Pressão
Devido ao massacre de Gaza e à resistência do Hamas, jamais, como hoje, Israel esteve mais isolado no mundo, não apenas muçulmano. Tem-se consolidado, igualmente, a percepção da responsabilidade dos Estados Unidos no massacre da população civil, devido ao seu indiscutível apoio a Tel Aviv, radicalizado, agora, com o ataque geral ao Iêmen independente, como veremos. Dando um corajoso passo à frente, o governo da África do Sul compareceu diante do mais elevado tribunal das Nações Unidas, pedindo a condenação de Israel por crime contra a humanidade e a interrupção dos ataques assassinos.
A diplomacia israelense, temendo a aproximação crescente de suas ações às mais sinistras cometidas quando da II Guerra Mundial, com a petulânciados Estados imperialistas, acusou a África do Sul de promover um “dos maiores espetáculos de hipocrisia da história” e de ser o “braço jurídico” do Hamas. Jurou que tudo fez para alimentar e curar as dores dos civis de Gaza, não fazendo mais devido apenas à negativa do Egito. A denúncia sul-africana de Israel foi abraçada pelos governos da Turquia, da Jordânia, da Bolívia, da Colômbia, da Venezuela, da Malásia, da Turquia e, finalmente, do Brasil, que, porém, não registrou oficialmente sua adesão à denúncia. [O Globo, 01/11/2023.]
Como proposto, a ofensiva de 7 de setembro fez as petro-monarquias e estados conservadores do Oriente Médio afastarem-se de Israel. Desorganizou as articulações de Washington e de Tel Aviv para uma nova conformação da região; para o isolamento diplomático e militar do Irã e da Síria; para o olvida eterno da questão palestina. Ofensiva imperialista e sionista que pretendia e pretende pôr fim à questão palestina através do avanço das colônias israelitas sobre o que resta da Palestina e submissão plena de suas populações, vivendo fora e no interior de Israel.
A ofensiva e a vitória militar do Hamas e o genocídio em curso da população de Gaza contribuíram, igualmente, para foguear o ardor e a disposição de luta em favor da Palestina dos jovens libaneses apoiadores do Hezbollah. A última campanha militar frontal do Hezbollah contra Israel ocorreu em 2006, há quase vinte anos. Esse distanciamento temporal e a profunda crise econômica atual do Líbano contribuíam para que a questão palestina fosse sentida como algo do passado, sobretudo pelas novas gerações da região, agoniadas pela necessidade de lutar pela sobrevivência material. Hoje, esses jovens se impacientam com a contemporização da direção do Hezbollah e se oferecem para irem lutar contra as tropas sionistas, em apoio a Gaza e ao Hamas. [RÉMY, 2024.]
Sobretudo, o feito militar palestino e a bestial resposta de Israel contra a população civil recolocaram a questão palestina no centro do debate internacional, impulsionada pelo apoio de centenas de milhões de habitantes das mais diversas regiões do mundo, inclusive os USA e a União Europeia. Um feito único, difícil de ser visto e explicado como devido à intervenção dos anjos celestiais muçulmanos! A nova situação consolidou a aliança entre as resistências xiita e sunita, como jamais ocorrera até agora. Até há poucos anos, elas defrontavam-se militarmente na Síria. [SEURAT, 2024.] Definitivamente, jamais poucos fizeram tanto.
No Norte: Fumo de Canhões
O Estado israelense se vê envolvido nos combates em Gaza e na manutenção da repressão da população palestina da Cisjordânia, em crescente agitação. A grande ameaça atual é anunciada pelo fumo de pólvora cada vez mais denso que chega do sul do Líbano, onde o Hezbollah, mobilizado, obriga que boa parte das tropas israelenses mantenha-se imobilizada, à espera de eventual entrada do “Partido de Deus” no conflito. Ataques de drones, mísseis e disparos de canhões do Hezbollah obrigaram em torno de cem mil israelenses a abandonarem territórios palestinos ocupados no norte de Israel. O governo de Israel tem que sustentar economicamente o alojamento de ocasião de boa parte desses deslocados.
E, para Israel, as lembranças do confronto entre Israel e o Hezbollah, em 2006, não podem ser piores. Naquele ano, quando da Segunda Guerra do Líbano, que durou pouco mais de um mês, o exército israelense invadiu os territórios libaneses defendidos pela milícia libanesa xiita, o que não fazia desde inícios dos anos 1980. A proposta da força armada de Israel era, como agora, em relação ao Hamas, erradicar o Hezbollah para todos os sempre, enviando-o para as profundezas do inferno muçulmano, caso exista. Entretanto, os israelenses, que entraram confiantes, saíram tosquiados.
Nos 34 dias de conflito, morreram em torno a quinhentos soldados israelenses e um número maior de combatentes e civis libaneses. Os quase sessenta modernos e caríssimos tanques Merkavas, propostos como os melhores do mundo, destruídos ou postos fora de combate, sobretudo por rústicos RGP, espécie de avós dos utilizados hoje em Gaza, foram a grande surpresa. Naquele então, era enorme a desigualdade entre o armamento israelense e o do Hezbollah, que retirava sua força de combatentes treinados e galvanizados pela defesa dos territórios libaneses contra o sionismo. [CHAMMA,2018.]
Quando daqueles sucessos, analistas militares perguntaram-se se a Segunda Guerra do Líbano não teria encerrado a era da hegemonia dos carros blindados nos combates terrestres, veículos cada vez mais couraçados, pesados e custosos. Um Merkava custaria, hoje, em torno de cinco milhões de dólares cada, e segue podendo ser posto fora de combate por mísseis leves e de baixo preço, manejados por infantes, o que vem ocorrendo amiúde em Gaza. E os combates no Líbano não se deram entre ruínas urbanas, excelente apoio para a destruição de blindados por pequenos grupos de irregulares. Na época, não se conheciam, ainda, os múltiplos tipos de drones suicidas, que fizeram igualmente o Leopard 2 alemão descer do salto alto e a Inglaterra condicionar a entrega de alguns blindados Challenger 2 à Ucrânia a não serem expostos na frente de combate, para não serem destruídos ou capturados pelos russos!
As armas da resistência anti-sionista e imperialista
Em 2006, Putin mantinha ainda a ilusão em poder incorporar-se ao mundo imperialista europeu. Por sua vez, o Irã, isolado, prosseguia construindo sua atual poderosa indústria bélica, apoiada no início fortemente na engenharia reversa. Os avanços tecnológicos-militares do Irã foram socializados com o Hezbollah, seu aliado prioritário na região. Atualmente, em relação a 2006, o “Partido de Deus” dispõe de uma avançada panóplia de armas, entre elas foguetes e mísseis dirigidos capazes de alcançar qualquer ponto de Israel.
Em relação a 2006, estreitou-se o hiato entre o armamento do Hezbollah e o do Estado sionista, que, segundo parece, desmobilizou, relativamente, nas últimas duas décadas, seus exércitos como força de combate frontal, como veremos. Também em 2006, o Hamas ganhou em forma inapelável as eleições legislativas em Gaza, sob os olhos de quase um milhar de observadores estrangeiros, passando a governá-la, para o desencanto dos USA e da União Europeia, como vimos. O sucesso do Hamas registrava a clara rejeição, por parte da população da Faixa de Gaza, da OLP e da Autoridade Palestina, no poder na Cisjordânia, devido à corrupção e ao colaboracionismo desenfreados. [GRESH, 2006; MAESTRI, 2006.]
O 7 de outubro e o ataque criminoso à Gaza ensejaram igualmente uma ampla e multifacetada ofensiva regional contra o sionismo e o imperialismo. E ela não nasceu da reza forte do Hamas, nem de espíritos que baixaram do além muçulmano. Foram respostas previstas pelo Hamas à sua ofensiva, de 7 de outubro, e à resposta de Israel, dias mais tarde. Respostas nascidas dos vínculos já existentes entre o Hamas, o Hezbollah, a resistência antiimperialista armada na Síria, no Iraque e no Iêmen. Movimento geral animado sobretudo pelo Irã, e apoiado pela Síria, que lutam para defender suas independências nacionais.
Na Síria e no Iraque, desde o início do conflito, bases militares ianques e de seus aliados têm sido atacadas sem interrupção por movimentos de resistência – mais de 150 ataques sobretudo de drones e foguetes, até o momento. No Iraque, as três principais bases estadunidenses contam com uns 3.500 militares e, na Síria, nas duas principais bases, encontram-se outros novecentos soldados. Os ataques da resistência na Síria, com o apoio governamental apenas velado, privilegiam as bases estadunidenses próximas aos campos petrolíferos, onde elas roubam, em forma sistemática e despudorada, o petróleo sírio. [LE MONDE, 14/01/2023.]
Ataques cinematográficos
Temendo expansão do conflito, que exija sua intervenção, quando se encontra semi-empanando na Ucrânia, e preparando-se para conflito com a China, os USA responderam, aos disparos contra as suas bases, com limitados ataques missilísticos e aéreos a acampamentos da resistência na Síria e no Iraque. Entretanto, em 4 de janeiro, o Pentágono anunciou a execução, através de drones estadunidenses, de Mushtaq Jawad Kazim al-Jawari, dirigente de milícia xiita iraquiana. A execução extra-judiciária foi perpetrada em Bagdá, onde ele nascera, na sede das Forças de Mobilização Popular, a qual pertencia. [PODER360, 13/01/2004.]
O ataque tinha como principal objetivo mostrar firmeza à população estadunidense que vê as bases USA na região bombardeadas em forma incessante, sem respostas. Uma ação publicitária que teve um custo elevado, Muhammad al-Sudani, o primeiro-ministro do Iraque, pediu, no dia 10 de janeiro, a retirada das tropas dos Estados Unidos e de seus aliados do país, que ali se mantém sob a justificativa de combater o Estado Islâmico, já derrotado. O Pentágono prometeu não sair do país. [TERRA, 10/01/2024.] Entretanto, iniciou, a seguir, discussões para uma retirada organizada, a mais demorada possível, de dois a cinco anos, para não parecer que cede aos ataques da resistência e para não repetir o fiasco do fim da intervenção no Afeganistão. O governo de Bagdá exige uma retirada mais rápida, já que a presença das bases é motivo de conflitos militares e de desestabilização do pais. [Le Monde, 26.01.2024.]
Prometeu, mas não cumpriu. Em outra importante vitória da resistência antiimperialista no Oriente Médio, os USA iniciam já saída à francesa da base militar de Hemo, no Iraque, próximo ao nordeste da Síria, uma das mais importantes de suas posições militares regionais. Na base, em torno de 350 militares vigiavam a região, apoiavam o roubo do petróleo, treinavam milícias anti-governamentais sírias. [Sputnik, 16/01/2024.]
Israel tem se servido também da execução cinematográfica de dirigentes do Hamas e do Hezbollah, incapaz de apresentar à sua população e ao mundo vitórias objetivas sobre as milícias palestinas, libertando israelenses reféns, ou de responder, substancialmente, aos duros golpes da artilharia do Hezbollah. Em 2 de janeiro, Saleh al-Arouri, dirigente político do Hamas, vivendo em Beirute, morreu quando a sua residência foi atingida por míssil israelense. [g1, 03/01/2024.]
Em 8 do mesmo mês, Wissam al-Tawil, um dos comandantes do grupo de combate de elite do Hezbollah, foi morto por míssil israelense que golpeou o veículo em que viajava, no sul do Líbano. Além dos objetivos propagandistas dessas ações, ameaçando o Hezbollah com um conflito geral, Israel tenta obrigá-lo a se retirar mais para o norte, como veremos. [Poder360, 08/01/2024.]
O que quer o Hezbollah
O Hezbollah já obteve muito com o conflito entre Israel e o Hamas. Nele, o exército sionista conheceu inicialmente derrota vergonhosa. Israel foi obrigado a pôr sob tensão suas forças armadas e a economia – recuo das exportações, do turismo, das receitas; aumento dos gastos públicos, etc. – , e conhece isolamento internacional. O tiroteio entre os exércitos sionistas e o Hezbollah puseram em fuga em torno de cem mil colonos que desertaram os kibutz e aldeias do norte aos primeiros disparos após o 7 de outubro.
O Hezbollah em armas e atirando sobre o norte de Israel em forma cada vez mais frequente e seletiva, obriga o Estado palestino a imobilizar forças na sua fronteira norte, formadas sobretudo de inábeis reservistas, incapazes de enfrentar um ataque frontal das milícias xiitas e, sobretudo, de suas tropas de elite. Em operação no estilo “despir um santo para vestir outro”, o governo Netanyahu tem retirado tropas do norte de Gaza para enviá-las para o norte. As tropas atuais da região não assustam definitivamente o Hezbollah.
A direção do “Partido de Deus” parece preferir que Israel sangre, reservando-se uma maior participação no conflito para o caso em que o Hamas se encontre em difícil situação. Israel teme uma ofensiva xiita libanesa, preferindo o atual conflito local controlado. Entretanto, não pode aceitar um status quo pautado pelo Hezbollah, que bombardeia, mais ou menos fortemente, segundo sua vontade, as posições militares e as aldeias desertadas israelenses.
O governo de Netanyahu, tensionado pelos gastos e pela incapacidade de normalizar a vida em Israel, ameaça retirar os subsídios aos deslocados, para forçá-los a retornar ao norte de Israel, ainda sob o fogo xiita libanês. Eles, por sua vez, não aceitam abandonar a segurança no interior de Israel, caso se mantenha a ameaça do Hezbollah. Para por a fronteira norte de Israel sob segurança ainda que parcial, as tropas do “Partido de Deus” deveriam recuar, por mais de vinte quilômetros, para além do rio Litani, que atravessa o vale do Bekaa de norte ao sul, o que protegeria melhor o setentrião israelense.
O Estado sionista desejou sempre, ocupando territórios históricos do Líbano, transformar o rio Litani na divisa entre os dois países. A volta à tranquilidade no norte de Israel seria, portanto, possível apenas com uma vitória total sobre o Hezbollah, hoje mais forte do que nunca, ou, o que mais factível, mas rejeitado totalmente pelo sionismo, através de acordos políticos. E, uma negociação, hoje, para chegar a um bom porto, exigiria que Israel concordasse com reivindicações do Hezbollah, do Líbano e dos palestinos. [SALLON, 2024.]
V. Hutis: Um aliado que chegou de longe
O Hamas e os palestinos receberam robusto e ativo apoio militar da resistência huti do Iêmen, país a 2.200 km de Gaza! As costas meridionais da península Arábica são regiões estratégicas por estarem debruçadas sobre a apertada passagem marítima entre o oceano Pacífico e o mar Vermelho-Mediterrâneo. A interrupção da navegação no estreito de Babelmândebe [Bab al-Mandeb], com apenas trinta quilômetros de largura, apenas parcialmente navegável, impede a chegada dos navios ao canal de Suez.
O Iêmen do Norte, antigo domínio do Império Turco, alcançou sua independência após a I Guerra Mundial, mantendo-se à sombra da Arábia Saudita e do imperialismo anglo-estadunidense. O Iêmen do Sul foi mantido como protetorado inglês até 1967, quando movimento de libertação nacional marxista libertou a região e fundou a República Democrática Popular do Iêmen. O Iêmen do Norte e do Sul mantiveram boas relações.
Temendo que o movimento socialista se espraiasse, a República Democrática Popular do Iêmen foi mantida pelo imperialismo anglo-estadunidense sob permanente assédio, através de intervenção militar financiada pela Arábia Saudita, pelos Emirados Árabes Unidos e pelas petro-monarquias regionais, que se serviam para tal do Iêmen do Norte. A Arábia Saudita, com uns 35 milhões de habitantes, possui em torno de 1.500 fronteiras com o Iêmen, com 32 milhões de habitantes .
Unificação Conservadora
No contexto do fim da URSS e da derrota militar da então isolada República Democrática Popular, empreendeu-se a unificação dos dois Estados na República do Iêmen, sob o tacão de uma ditadura presidencialista de obediência ocidental. Surgido em 2007, o movimento Ansar Allah, “Combatentes de Deus”, com o apoio da maioria da população, prosperou, conquistando militarmente, em 2014, o controle sobre dois terços da população, sobre a capital e sobre vastas regiões no norte e no oeste do país, onde se mantém até hoje. Para tal, contou com o apoio do Irã.
O imperialismo anglo-estadunidense combateu o movimento huti e o novo Estado em consolidação, novamente através de coalização de Estados conservadores da região, dirigida, outra vez, pela Arábia Saudita, com destaque para a participação do Egito e dos Emirados Árabes Unidos. O bombardeio selvagem dos territórios controlados pelos hutis causou a destruição geral de instalações infraestruturais e a morte direta e indireta de dezenas de milhares de civis, sobretudo mulheres e crianças. A situação criada foi definida pela ONU como uma das maiores crises humanitárias de então. Os ataques foram justificados pela coalizão saudita como imprescindível para derrotar os rebeldes.
Em setembro de 2019, ataque huti de drones e mísseis a campos petrolíferos sauditas da Aramco, superando as defesas anti-aéreas do país, causou a queda temporária da metade da produção saudita e a disparada do preço do petróleo. Após o ataque, nada seria como antes, já que o ataque registrava que os iemenitas podiam causar duros danos à economia saudita.
Em abril de 2020, foi estabelecida trégua provisória e, em 2023, representantes da Arábia Saudita e dos hutis firmaram acordo de cessar-fogo que reconhecia nos fatos a autonomia do Iêmen rebelde. O fim dos combates deu-se no contexto da aproximação da Arábia Saudita e do Irã, intermediada pela China, em março de 2023. Atualmente, os dois países se aprestam a entrar no Brics.
No novo contexto, o governo saudita passou a privilegiar a impulsão da economia do país, procurando atrair investidores estrangeiros, o que não é possível com um estado de beligerância aberta com os belicosos vizinhos yemenitas. Paradoxalmente, na atual situação, enquanto os USA e a Inglaterra procuram acirrar o choque entre os hutis e os países da região, Riad opta até onde lhe é possível por política de apaziguamento. [PARIS, ZERROUKY, 2024.]
As Razões Hutis
Os hutis não são mercenários ou tributários incondicionais do Irã. Eles colocaram-se decididamente ao lado do Hamas e da resistência palestina sobretudo por que uma reacomodação do Oriente Médio sob a hegemonia estadunidense, israelense, turca e saudita, em detrimento do Irã e da Síria, significará a perda, cedo ou tarde, de tudo que conquistaram com sacrifícios indescritíveis.
Sem o armamento moderno abundante fornecido pelo Irã, a resistência iemenita será inexoravelmente derrotada. O confronto ativo contra o sionismo e o imperialismo fortalece também o apoio interno ao movimento huti por parte da população do Iêmen. Em 5 de janeiro, uma multidão de iemenitas tomou as ruas de Sannaa, capital do país, para sustentar o governo na sua luta anti-imperialista e anti-sionista. [TROMBETA, 4/12/2023.]
Inicialmente, os hutis lançaram mísseis contra o distante Israel. Desde novembro de 2023, promoveram trinta e três ataques, sobretudo com drones, contra cargueiros israelense ou que se dirigiam aos portos de Israel, que passavam pelo estreito. Os disparos ensejaram dificuldades no abastecimento do Estado hebreu e perdas para as companhias de navegação, obrigadas a optarem por rotas alternativas mais longas. Os ataques teriam diminuído em 14% o tráfico de petroleiros no canal de Suez.
Os Estados Unidos, presentes também no mar Vermelho, em apoio de Israel, inicialmente, abateram drones iemenitas e multiplicaram pronunciamentos intimidatórios contra o governo huti. Cada míssil estadunidense disparado para abater um rudimentar drone, de alguns milhares de dólares, custa entre 1,7 e 4,3 milhões de dólares. [Quincy Institute, 19/2023.]
Em 18 de dezembro, os USA anunciaram força naval, em associação com aliados, batizada com título muito monetário e pouco bélico, “Operação Guardiã da Prosperidade”. A rápida adesão do Reino Unido, Bahrein, Canadá, França, Itália, Holanda, Noruega, ilhas Seychelles e Espanha resultou em uma ainda mais veloz renúncia ao convite envenenado, em registro olímpico do isolamento relativo estadunidense. [ZERROUKY, 2024.]
Guardiã a ver navios
Fora da Grã-Bretanha, que segue tentando manter a pose de Estado sub-imperialista, os mais fiéis aliados negaram-se a embarcar na operação estadunidense, para não identificar-se totalmente com o apoio USA a Israel e não ter seus navios cargueiros também visados. Em 11 de janeiro, quase um mês após o anúncio da operação, forças navais estadunidenses, com alguma participação inglesa, lançaram mísseis contra o território iemenita, procurando destruir depósitos de munição, instalações de lançamento de mísseis, etc., na capital e através do país.
A operação, bastante limitada, era inevitável, apesar dos USA a terem retardado, em busca de apoio que não chegou. Os estadunidenses já haviam afundado três barcos ligeiros hutis, causando oito mortos, e o destróier USS Gavely fora atacado por dois mísseis iemenitas, que não chegaram a atingi-lo. As forças hutis esperavam e se prepararam para o ataque, não muito diverso aos infindáveis lançados pelos sauditas no passado recente. Esse primeiro ataque estadunidense teria causado a morte de cinco iemenitas.
O bombardeio anglo-americano fortalece o prestígio do movimento iemenita no mundo muçulmano, sem conseguir que ele interrompa os ataques aos navios que passam pelo estreito dirigindo-se para Israel ou propriedade de israelenses. Os principais depósitos de armas e de mísseis hutis encontram-se nas entranhas das montanhas, em abrigos praticamente inatingíveis. E os USA não se podem dar ao prazer de bombardear populações civis, como é muito de seu agrado.
Para interromper os ataques aos cargueiros, seria necessário bombardeio pesadíssimo e geral seguido de ocupação territorial obrigatória. Ou interrupção permanente do fornecimento de armas do Irã ao Iêmen, apôs os hutis esgotarem suas armas ofensivas. Soluções impossíveis de serem realizadas atualmente pelo imperialismo anglo-estadunidense. Talvez devido aos limitados resultados, os ataques foram repetidos e se intensificaram nos dias seguintes. Os hutis seguiram e seguem atacando os navios dirigidos a Israel e, agora, de propriedade de estadunidenses e ingleses.
Sobretudo os estadunidenses temem, como o Diabo a cruz, eventual ataque huti, dificilmente defensável, à enorme base estadunidense de Campo Lemmonier, em Djibuti, pequeno país africano localizado diante do Iêmen. A base, com em torno de 250 hectares, quatro mil militares, aeroporto, estações de radar e escuta, tem servido para bombardear e espionar o Iêmen, a Síria, o Iraque, o Oriente Médio e o norte da África. Uma língua de mar de … 26 quilômetros separam as costas do Djibuti e do Iêmen.
VI. Israel: um poderoso exército … enferrujado?
Do ponto de vista militar, a situação de Israel não é fácil. O ataque de 7 de outubro e a intervenção militar em Gaza teriam revelado deficiências relativas estruturais das suas forças armadas, já esboçadas na Segunda Guerra do Líbano, em 2006. Tel Aviv mantém ainda um total domínio dos céus no Médio Oriente, possivelmente questionado nos próximos tempos com o fornecimento de aviões de combate avançados ao Irã pela Rússia, que tem recebido de Teerã milhares de drones e outros armamentos. A Rússia tem tomado distância de Israel, país com o qual mantinha há anos acordos de segurança e alguma cooperação.
Tel Aviv possui uma forte defesa antiaérea, apoiada no celebrado Domo de Ferro, construído em 2010, parcialmente desacreditado ao falhar em proteger todo o país dos ataques missilísticos do Hamas. Fragilidade do Domo de Ferro acrescida pela recente descoberta de que o Hezbollah possuí foguetes de médio alcance —dez quilômetros—, de trajetória reta e não parabólica, difícil de ser interceptada. O Domo de Ferro, assim como o sistema antiaéreo estadunidense Patriot, mostraram-se relativamente impotentes quando atacados por enxame de mísseis e drones.
Analistas apontam que, após 2006, sem ser ameaçada pela Jordânia, pela Síria semi-destruída, pelo Líbano mergulhado na crise, com o Irã duramente sancionado e encurralado, com a OLP domesticada, reconhecida pela Jordânia e pelo Egito, aproximando-se da Arábia Saudita e reaproximando-se da Turquia, Israel despreocupou-se com a capacidade de combate de seus exércitos a tropas inimigas regulares, ao não antever inimigo provável, talvez fora o Hezbollah. Dedicou-se a destruir, sistematicamente, com a aviação e mísseis, envios de armas do Irã para o “Partido de Deus” e para o Hamas, através sobretudo da Síria.
Confiando no seu armamento moderno e nos tanques Merkavas IV, as forças armadas de Israel, fortemente apoiadas em reservistas e não em tropas regulares permanentes, dedicaram-se, em boa parte, por longo tempo, a controlar o trânsito legal e infiltrações nas fronteiras; à proteção das colônias israelenses em territórios palestinos; à repressão de pequenos levantes populares desarmados na Cisjordânia, etc. Passaram a comportar-se como tropas de ocupação de território já plenamente submetidos.
Ocupado em avanços high tech dos seus armamentos, vendíveis no exterior, e vendo nos seus vizinhos reprodução do que haviam sido no passado, Israel despreocupou-se relativamente de Gaza, onde privilegiara e financiara o advento do Hamas, para enfraquecer a OPL e a Autoridade Palestina, de Mahmoud Abbas, em aceleradas perda de apoio entre a população palestina da Cisjordânia. Era ali onde avançava a expansão territorial ininterrupta sionista, através do estabelecimento de novas colônias, despertando desesperada resistência palestina de civis desarmados. [ENDERLIN, 2024.]
Em busca da honra perdida
Após o 7 de outubro, Israel fechou os portões aos trabalhadores palestinos super-explorados que chegavam diariamente da Cisjordânia, um dos esteiros da economia israelense; pôs em situação de combate seu exército relativamente pequeno – sessenta mil soldados; convocou trezentos mil reservistas, que acorreram numerosos da Europa, dos USA e, em menor número, de diversos outros países, entre eles o Brasil, para tornarem-se terroristas e genocidas, ao se dedicarem sobretudo a matar civis em Gaza. A convocação multitudinária de reservista constituiu medida publicitária, para demonstra decisão e poder, de pouco significado militar.
Para penetrar, combater e manter eventual domínio sobre Gaza não são necessárias centenas, mas apenas algumas dezenas de milhares de combatentes treinados nos duros e não raros choques urbanos de proximidade, de breve duração, onde é difícil o apoio imediato da aviação e de blindados. Tropas que Israel não dispunha. Jornalista francês entrevistou, no norte de Israel, oficial da reserva, com experiência militar, de retorno ao serviço ativo, dedicado a ensinar aos reservistas ali aquartelados, sob seu comando, os mais rudimentares conhecimentos da arte militar: cavar um buraco para se proteger, avançar sem levar um tiro de um franco-atirador, etc. [RÉMY, 2024.]
A aglomeração de centenas de milhares de reservistas, verdes, aumenta os gastos com as tropas e dificulta a agilidade das ações militares e das operações de logística. Muito logo se comprovaram os limites do envio ao combate de reservistas e jovens israelenses prestando o serviço militar, não treinados para combater tropas irregulares palestinas fogueadas pela vitória de 7 de outubro e dispostas a todos os sacrifícios. Milicianos palestinos lutando entre as ruínas em que Gaza foi transformada pelo bombardeio criminal sionista, para atingir a sua população. Combatentes que nasceram e viveram em Gaza, onde se movem, portanto, com relativa facilidade. Esse cenário lunar é o melhor possível para tropas irregulares enfrentarem um exército regular.
Eu quero a mamãe!
O despreparo das tropas de Israel se filtrou através da imprensa, das ações paradoxais dos seus soldados, de informações fornecidas por dados indiretos, etc. Jovens israelenses apalermados se filmaram profanando mesquitas; moqueando-se de destroços humanos; imitando burlescamente mães e pais chorando filhos mortos; surrando e roubando civis, etc. Tudo em um claro sinal de indisciplina, de falta de profissionalismo e de fanatização. [FARINAZZO, 2024.] Enquanto isso, os combatentes palestinos se concentram em atacar de surpresa os veículos e as tropas sionistas e desaparecer ainda mais rapidamente.
Esse descontrole juvenil irresponsável produziu material publicitário excelente, em favor da resistência palestina, e registrou o baixo profissionalismo e a falta de disciplina dos reservistas, se comportando não raro como universitários em férias. Altos oficiais do exército, envolvidos por sentimentos de vendeta e concepções supremacistas e racistas, repetiram e incentivaram esses tropeções irresponsáveis, filmando civis semi-despidos e humilhados, aprisionando crianças, golpeando mulheres e idosos, profanando cemitérios e túmulos palestinos, etc. Ações que reverberaram, na memória coletiva, recordando filmes e fotos de atos semelhantes, pelas tropas nazistas na II Guerra Mundial, contra civis e prisioneiros, com destaque para os odiados judeus.
Os jovens israelenses pouco treinados, enquadrados por sub-oficiais também jovens e pouco qualificados para um tal combate, seguiram atirando assustados sobre tudo que se movia, inclusive suas próprias tropas. A execução fria, em 15 de dezembro, de três reféns que haviam escapado ao Hamas e que se aproximaram de dorso nu, braços levantados, gritando em hebreu, prefigura o medo e a disposição assassina de uma juventude fanatizada, embriagada por concepções racistas e relatos de vitórias gloriosas, contra os árabes, no passado, em guerras em geral rápidas e com poucas baixas. Jovens militar e psicologicamente despreparados para os combates terríveis contra palestinos que não pedem e não dão quartel. Relatos propõem que milhares de soldados israelense teriam requerido apoio psicológico, por verem a morte de companheiros, temendo por suas vidas, traumatizados pelos crimes que cometem.
Sargentos e sub-oficiais
A juventude dos sargentos, tenentes e oficiais israelenses mortos e feridos em combate registra a falta gritante de sub-oficiais maduros e treinados, os responsáveis para dirigir pelotões pequenos e médios, de quinze a trinta soldados, que entram em contato direto com as tropas inimigas. [FARINAZZO, 2024.] Em tempos de guerra tecnológica, o treinamento de um sargento pode se alongar por uns cinco anos e ele deve sair, se possível, do seio das tropas, após dar provas de predisposição para essa função militar central.
O bombardeio terrorista sobre Gaza também encontra explicação na falta de informação sobre a resistência palestina, em geral, e sobre o Hamas, em particular. Aprisionam-se moradores civis em massa, para obter, através de chantagem, maltrato, tortura – choques elétricos, pancadas, queimaduras com cigarros e isqueiros, privação de sono e alimentos, execuções, etc. – a informação que falta dolorosamente ao exército e a um serviço de informação já tidos como onisciente. [ABRAHAM, 2024.]
Para além dos números somíticos apresentados pelo governo, acredita-se que o exército israelense tenha tido, , nos territórios ocupados por Israel, em Gaza e no norte de país, até fins de fevereiros, em torno de mil e quinhentos soldados mortos, com cinco mil outros feridos de média e elevada gravidade, muitos deles amputados. O que tem posto sob tensão a capacidade hospitalar israelense. Mais de duzentos tanques e outros veículos blindados ou semi-blindados teriam sido destruídos ou danificados. Israel já depende do fornecimento sobretudo de munição chegado dos USA. Talvez duzentos mil israelenses continuam refugiados, longe de seus locais de residência localizados nas proximidades das fronteiras da Faixa de Gaza e do norte do país, como vimos. [MONITOR DO ORIENTE MÉDIO, 8.12.2023.]
Um Indiscutível Recuo
Mais de três meses após o Aluvião de Al-Aqsa, as tropas israelenses não conseguiram libertar sequer um dos em torno de 150 reféns que estariam em mãos do Hamas. O que sugere que o movimento palestino mantém ainda incólume parte importante de sua estrutura central e tropas, segundo parece, descentralizadas. Há notícias de de uma ou duas dezenas de prisioneiros mortos em túneis, eventualmente descobertos e destruídos pelos israelenses, temerosos de explorá-los, para resgatar os prisioneiros.
Após o 7 de outubro, israelenses escapados ao ataque e reféns libertados posteriormente acusaram as tropas de seu país de bombardear casas onde estavam presos junto a combatentes do Hamas e de serem metralhados quando estavam sendo transportados para Gaza. Não poucos dos mortos durante a rave eletrônica do deserto teriam sido alvejados por helicópteros israelenses. Essa execução impiedosa de nacionais obedeceria ao “Protocolo Aníbal”
O sinistro Protocolo Aníbal, secreto, ao qual a imprensa do país por longos anos não pode se referir, teria sido produzido pelo alto comando militar, em 1986, devido à vontade de impedir que o Fatah, o Hamas, o Hezbollah, etc. capturassem soldados ou civis israelenses para trocá-los por combatentes e civis palestinos aprisionados em Israel. Em 1983, 4.700 palestinos e libaneses foram trocados por seis israelenses nas mãos do Fatah. Em 2011, sob a pressão da população de Israel, o soldados Gilad Shalit, após cinco anos de sequestro, foi trocado por mais de mil prisioneiros palestinos. Nas últimas décadas, o Protocolo, que teria conhecido diversas modificações, permitiu que mesmo um sub-oficial ordenasse a execução de um soldado ou civil israelense, capturado ou em perigo de ser capturado. São conhecidos as datas e os nomes de diversos soldados mortos em tais condições, sem que o alto comando jamais reconheça essas execuções. [MARSHALL, 25/01/2024.] Israel cumpriria, em um sentido mórbido, a badalada promessa das forças armadas estadunidenses de “não deixar nenhum de seus soldados para trás”.
Israel sob Pressão
No contexto dos poucos resultados alcançados sobre o Hamas, atacado pelo genocídio que submeteu a população palestina, o governo de Israel se vê obrigado a arrefecer ainda que relativamente o bombardeamento da população civil, retirar tropas do norte de Gaza, desmobilizar dezenas de milhares de reservistas inúteis. E, com a retirada parcial das tropas do norte de Gaza, enviadas para a fronteira norte, combatentes palestinos estariam se infiltrando no setentrião da Faixa.
Tel Aviv sofre igualmente a pressão estadunidense para moderar a matança, que os USA apoiaram até agora, e pôr um fim próximo à campanha militar, que o fanfarrão Netanyahu afirma que se alongará por anos, se necessário. Por razões políticas e industriais, os estadunidenses se vêem impossibilitados de seguir abastecendo as necessidades militares de Israel e da Ucrânia, sobretudo em munição e mísseis.
E Biden não quer enfrentar a campanha eleitoral com as manchetes tomadas pelos ataques cegos a escolas, a hospitais, à população de Gaza, que já teria alienado o voto de estadunidenses de credo muçulmano ou de origens palestina, árabe, etc., no passado, tradicionais eleitores do Partido Democrático. E para deixar claro que quer fatos e não promessas vazias, o USS Gerald R. Ford, o maior e mais letal porta-avião do mundo, enviado para as proximidades de Israel após o início do conflito, iniciou o caminho de volta para seu porto de ancoragem, em Norfolk, Virgínia, apesar dos resmungos israelenses.
Além das razões políticas, parece ter pesado na opção da volta ao ninho materno do USS Gerald R. Ford, o custo e o risco em manter o poderoso porta-avião apoiando campanha militar. Desde o início do conflito, em torno de quinze mil marinheiros, uma vintena de navios de superfície, alguns submarinos foram mobilizados pelos USA para defenderem Israel. O custo? Uma nota preta! [LE MONDE, 14/01/2023.]
VII. Hamas pode avançar suas vitórias?
O Hamas já alcançou, como vimos, importantes conquistas sobre o imperialismo e o sionismo, ao desmoralizar os exércitos israelenses, desarticular a operação de reformatação do Oriente Médio e colocar na pauta internacional a questão palestina. Vitórias que independem, relativamente, do resultado militar do confronto. Entretanto, essas conquista podem ainda ser ampliada? Questão impossível de ser plenamente respondida, sem a tal bola de crista do nosso Gilbert Achcar, inapelavelmente desmentido pelos fatos. Até porque o desenvolvimentos dos sucessos em Gaza dependem também do fracasso ou sucesso dos USA-Otan na Ucrânia, do conflito entre a China e Taiwan, etc.
Alguns desdobramentos do conflito parecem, porém, previsíveis. A proposta da erradicação do Hamas é irrealizável, à margem de uma longa e sangrenta guerra que resulte em ocupação territorial semi-permanente da Faixa de Gaza. O que dilaceraria Israel, econômica, política e socialmente, e levaria, possivelmente, o Hezbollah a entrar no combate, pois a liquidação do Hamas o fragilizaria fortemente.
Uma guerra de aniquilação de Gaza e do Hamas não é provável, pois dificilmente executável. Apesar de ser defendida por Netanyahu e a extrema direita israelense, ela não é unanimidade no governo de unidade nacional, com partidos em paz armada com o primeiro-ministro; pressionado por parte da população pela liberdade dos reféns; com os estadunidenses exigindo um plano para pôr fim aos combates; com o número de israelenses mortos e gravemente feridos aumentando; com a economia sob tensão; sendo acusado diante da ONU por genocídio.
Mobilizações de milhares de israelenses pedem a demissão de Netanyahu, mesmo apoiando o massacre de Gaza. Pedido reforçado pelo The Economist, porta-voz do capital financeiro internacional. [The Economist, 03/01/2024.] Mais grave, em 18 de janeiro, o general Eisen Kot, ministro no governo de unidade nacional, em entrevista à televisão, pediu eleições legislativas que elejam um governo que seja apoiado pela população, o que propõe não ser o presente caso. Ele teme que Netanyahu prossiga a guerra para manter-se no poder. Pede “interrupção” longa nos combates, sem a qual não crê possível libertar os reféns com vida. [Le Monde, 18.01.2024.]
O governo Netanyahu já recuou nos devaneios verbais de expatriar os moradores de Gaza para o Egito, para a Palestina, para a África. No mesmo sentido, avançou discretamente não pretender ocupar militarmente Gaza definitivamente ou por longo tempo, após a hipotética derrota total do Hamas, sugerindo o governo da Faixa por colaboracionistas, sob estrito controle israelense. Anunciou que, reorientando as operações, encerraria os bombardeiros gerais indiscriminados que agora tenta justificar, diante do principal tribunal da ONU, com argumentos capazes de corar a Esfinge de Gizé, nas margens do Nilo.
Novos e sadios ventos sobe a Palestina
Seria uma derrota, ainda maior, se Israel interrompesse os combates em troca da libertação dos reféns, por razões humanitárias, mesmo após destruir parte substancial da rede subterrânea da resistência, mas deixando em Gaza um núcleo substancial das forças do Hamas e palestinas. Derrota acrescida se o Hezbollah se mantiver em suas posições, no sul do Líbano, fortalecido por uma ofensiva israelense frustrada ou a falsa promessa de sua realização. O que comprovaria, para a população israelense, a impossibilidade de uma solução final para a questão palestina.
O fim do conflito parece prefigurar o isolamento de Israel, por um período ainda difícil de se prever. O que o obrigaria a assumir cada vez mais sua essência, “desde seu nascimento”, a de ser um “corpo estranho no Oriente Médio”. [FONTANESI, 2023.] Nesse novo contexto, o Estado de Israel sofrerá enormes pressões internacionais, mesmo dos USA, para materializar nem que seja um arremedo de Estado palestino, o que se negou a realizar até agora. Fora de uma vitória substancial sobre Gaza e o Hamas, o que parece difícil, é eventualmente possível a radicalização das enormes divisões políticas e sociais que dividem hoje Israel, após o fim do conflito.
O governo Biden, após o atual acirramento dos ataques contra o Iêmen e à resistência no Iraque e na Síria, apoiada pelo Irã, parece tender a procurar um apaziguamento no Oriente Médio, para enfrentar as eleições que balançam perigosamente em favor dos Republicanos e de Trump. No frigir dos ovos, sequer tem condições atualmente de radicalizar o conflito, com a intervenção direta no Iêmen, aumento de tropas no Iraque, apoio a um confronto geral de Israel com o Hezbollah. Uma articulação com os Estados conservadores da região em favor da pressão à concessão de um Estado palestino de faz de conta seria a melhor solução para Biden e a facção globaliza do imperialismo estadunidense.
Uma longa interrupção do conflito em Gaza, com a libertação de reféns, que interrompesse a ofensiva israelense, seria um novo cenário que abriria uma fresta na janela até agora cerrada, ensejando que um pouco de ar fresco e novo penetre nas masmorras em que estão encerradas as populações palestinas da Cisjordânia, de Gaza e vivendo no interior de Israel. O que permitiria avanços mais substanciais em direção da construção de uma sociedade livre, laica e democrática para todos os povos da região, “desde o rio até o mar”. Por tudo isso e o demais, permitam a esse ateu empedernido concluir esse artigo com um compreensível Insha’Allah.
[atualizado em 23.01.2024.]
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