Resquícios do Golpe de 64: Desafios do Presente

O Golpe de 1964 no Brasil não pode ser compreendido apenas como uma questão de militares versus civis. Embora os eventos desse período tenham sido marcados pela presença e ação das Forças Armadas, a verdadeira contradição é entre Capital e trabalho. O golpe foi uma resposta da classe burguesa à crescente organização da classe trabalhadora, especialmente no campo, onde políticas de distribuição de renda e terra ameaçavam seus interesses. A contrarrevolução preventiva, comandada pelas burguesias e executada pelos militares, não visava apenas consolidar o poder, mas também garantir a supremacia da burguesia brasileira, submetida ao imperialismo sobre a classe trabalhadora brasileira, estreiando a onda de golpes na América do Sul, reprimindo qualquer movimento que desafiasse essa ordem estabelecida.

A ditadura empresarial-militar que se seguiu ao Golpe de 1964 deixou um legado de repressão, violência, corrupção e injustiça que ainda ecoa na sociedade brasileira. Tortura, perseguição política e violações dos direitos humanos foram alguns dos instrumentos utilizados para manter a hegemonia do Capital sobre o trabalho. Enquanto a propaganda oficial justificava essas ações em nome da segurança nacional, na prática, elas visavam a perpetuação do domínio econômico e político das classes dominantes sobre as classe trabalhadora.

Até que o Estado brasileiro abra os arquivos dos porões da ditadura, permaneceremos na obscuridade quanto à verdadeira extensão dos abusos cometidos contra os trabalhadores brasileiros. A contrarrevolução preventiva não se limitou a reprimir movimentos populares; ela visava também a destruição de qualquer possibilidade de resistência organizada que ameaçasse os interesses do Capital. A ideologia de um suposto projeto nacional, propagandeada pela ditadura, nada mais era do que uma cortina de fumaça para encobrir a brutalidade do regime e sua submissão aos interesses do Capital nacional e internacional.

A história do Golpe de 1964 deve ser rememorada como parte de um processo histórico mais amplo de luta de classes no Brasil. A dicotomia entre Capital e trabalho, e a estratégia da contrarrevolução preventiva para manter o domínio do Capital sobre o trabalho, são temas centrais que devem ser enfatizados. Somente compreendendo o contexto histórico e as implicações desses termos podemos entender a verdadeira natureza do golpe e suas consequências para a sociedade brasileira. É essencial responsabilizar os envolvidos nesse período cruel de nossa história e buscar um futuro mais justo e democrático para o País.

É crucial reconhecer que as contradições que culminaram no fatídico 1º de abril de 1964 ainda não foram resolvidas. O golpe foi apenas o início da implementação de uma política, que, com suas ramificações, culminou no que conhecemos como neoliberalismo, modelo que rege a lógica até os dias de hoje. A luta entre o capital e o trabalho continua intensa, e as questões sociais se tornam cada vez mais evidentes. Superar os resquícios da ditadura é importante, mas mais crucial ainda é a organização da classe trabalhadora para desafiar o domínio do capital e seu modo de produção, exploração e opressão. Vivemos sob as sombras desse passado, e para vermos o sol novamente, é necessário destruir o modelo societário vigente e construirmos um futuro livre, justo e igualitário.


Este texto não passou pela revisão ortográfica do Contrapoder.

Marino Mondek

Pedagogo, pesquisa orçamento e dívida pública, editor do Contrapoder

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