Cultura LGBT também é resistência!

Marcha P. Johnson e Sylvia Rivera, importantes lideranças transexuais da Revolta de Stonewall

Poemas

Stone song

Caio Fernando Abreu

Eu gosto de olhar as pedras
que nunca saem dali.
Não desejam nem almejam
ser jamais o que não são.
O ser das pedras que vejo
é só ser, completamente.
Eu quero ser como as pedras
que nunca saem dali.
Mesmo que a pedra não voe,
quem saberá de seus sonhos?
Os sonhos não são desejos,
os sonhos sabem ser sonhos.
Eu quero ser como as pedras
e nunca sair daqui.
Sempre estar, completamente,
onde estiver o meu ser.

Mulher

Audre Lorde

Eu sonho com um lugar entre seus seios
pra construir minha casa como um abrigo
onde planto safras
em seu corpo
uma vasta colheita
onde a rocha mais comum
é pedra da lua e ébano opala
amamentando todas as minhas fomes
e sua noite se derrama sobre mim
como uma chuva nutriz

Cinema

Bixa Travesti (Claudia Priscilla, Kiko Goifman)

Bixa Travesty - Filme 2018 - AdoroCinema

O documentário adentra o processo criativo de Linn da Quebrada, cantora transexual negra, como forma de resistência e desconstrução de estereótipos de gênero, classe e raça.

Rafiki (Wanuri Kahiu)

Rafiki é protagonizado por Kena e Ziki, duas mulheres jovens que compartilham o amor e seus sonhos em Nairobi, capital do Quênia. O afeto entre elas enfrenta a pressão familiar, a igreja, a polícia, enfim toda a realidade conservadora do país, onde é criminalizada a homoafetividade. Apesar do contexto duro, a diretora Wanuri Kahiu, faz questão de apresentar uma relação permeada de delicadeza, alegria e cores vibrantes. O filme foi exibido no país de origem por apenas sete dias, depois foi banido com a justificativa de conter a “intenção em promover o lesbianismo”.

Tomboy (Céline Sciamma)

Diante da dificuldade em escolher um filme da diretora francesa Céline Sciamma, selecionamos dois: Tomboy, é a história de uma criança de dez anos. Sua família a conhece pelo gênero feminino, mas sua nova vizinha deduz, pelas roupas e cabelo, que é um menino. Uma ótima oportunidade para refletir sobre infância e sexualidade.

Retrato de uma jovem em chamas (Céline Sciamma)

Retrato de uma jovem em chamas, se passa na França do século XVIII, onde a artista Marianne é contratada pela mãe de Héloïse para pintar seu retrato, que deverá ser enviado ao futuro marido. Além de mostrar a relação afetiva das duas jovens, a trama revela a solidariedade entre mulheres que se deparam com temas como aborto e casamento arranjado.

Tatuagem (Hilton Lacerda)  

Tatuagem, dirigido por Hilton Lacerda, é protagonizado por Irandhir Santos e Jesuíta Barbosa. Um romance entre o líder do grupo teatral Chão de Estrelas, Clécio Wanderley, e o recruta Arlindo Araújo recémchegado no Recife. O enredo se passa em plena ditadura civil-militar e debate temas como liberdade, democracia, cultura, soberania e repressão, além da homoafetividade e do poliamor.

Livros:

Morangos Mofados, Caio Fernando Abreu

Resenha – Morangos Mofados – Revista Avessa

O livro Morangos Mofados de Caio F. Abreu é uma coletânea de pequenos contos. Os personagens apresentados estão quase sempre em situações de extrema angústia e crise, e a atmosfera construída pelo autor nos leva aos anos 1980, quando o regime militar estava em voga no Brasil e a comunidade lgbt, acuada. Através de uma poesia visceral, Caio traça uma sutil relação entre a ditadura e o que há de mais íntimo nos relacionamentos e, inclusive, no âmago de cada um. Cada conto lido é um soco no estômago, mas ainda assim há muita beleza e delicadeza nas palavras do autor.

O Boletim Chanacomchana

O Boletim Chanacomchana, editado pelo Grupo de Ação Lésbica Feminista, foi um importante nome da imprensa alternativa na resistência à Ditadura Militar. O levante do Grupo pela liberdade de distribuição das publicações no Ferro’s Bar é conhecido como o Stonewall Brasileiro. Aqui um trecho do Boletim de 4 anos do GALF: “nos autodenominarmos lésbicas representa não só uma forma de afirmação de nossa sexualidade especifica, mas muito mais que isso, significa uma postura política de recusa ao papel submisso e dependente atribuído às mulheres e uma proposta de desobediência e autonomia na busca de novas formas de ver o mundo”

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