Curso Completo: Cinema e Audiovisual na América Latina

Nota sobre o curso:

O curso foi ministrado por diversos professores e professoras entre 05 de novembro e 10 de dezembro de 2020.

Ementa e outras informações sobre o curso:

Além ou aquém do cinema? Imagem e auto-imagem no audiovisual da América Latina

Organização e curadoria: Cassiano Terra Rodrigues

O curso visa debater as diversas formas de visualidade no cinema, enfatizando as formas de construção imagéticas no cinema da América Latina, enfatizando o contexto nacional de inserção na produção espetacular global, fortemente influenciada pelas imagens produzidas em Hollywood. O objetivo é refletir criteriosamente sobre as nossas expectativas quanto às nossas próprias formas de auto-representação. Nesse sentido, cada aula trará um debate relacionando diferentes contextos e intenções enunciativas. 

A cada aula, outras referências de filmografia e bibliografia poderão ser indicadas.


Aulas:


Aula 1

5/11: Pensamento, percepção, ação: das imagens aos movimentos.

Cassiano Terra Rodrigues: Professor de filosofia no Departamento de Humanidades do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (IEFH-ITA).

Um movimento essencial da linguagem cinematográfica é a relação entre campo e contracampo, isto é, o que aparece na tela e o que não aparece, o que está fora do campo. E o que está fora do campo é fundamentalmente a plateia – os espectadores – aqueles que devem ver o que há para ser visto. Essa relação deixou de ser ingênua a muito tempo, mas ainda assim é enigmática. No atual contexto de recuperação do cinema fora de seus tradicionais circuitos de exibição – principalmente na Internet – é importante recuperar alguns aspectos sem os quais essa relação não existe. 

É daí que poderemos perguntar: que olhar dirigimos a nós mesmos? E o que faremos com isso? 

Para ver antes

Bye Bye, Brasil. Brasil, 1980. Dir. Cacá Diegues.

O olhar estrangeiro. Brasil, 2006. Dir. Lúcia Murat. 

https://youtu.be/PE2N-AzXoPE

ou

https://www.looke.com.br/filmes/olhar-estrangeiro_2005

Bibliografia básica 

AMÂNCIO, Tunico. O Brasil dos gringos: imagens no cinema. Rio de Janeiro: Editora Intertexto, 2000. 

GOMES, Paulo Emílio Sales. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

MACHADO, Arlindo. O sujeito na tela: modos de enunciação no cinema e no ciberespaço. São Paulo: Paulus, 2007, cap. 1 e 2.

SHOHAT, Ella e Robert Stam. Crítica da imagem eurocêntrica: multiculturalismo e representação. Trad. Marcos Soares. São Paulo: Cosac Naify, 2006.


Aula 2

12/11: Espaço amazônico e cinema nacional: entre identidade e estranhamento.

Lúcia Ramos Monteiro é professora-adjunta do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense. 

Ao longo do tempo, a categoria do “nacional” tornou-se central para os estudos de cinema. O objetivo deste encontro é, em primeiro lugar, discutir os contornos do que habitualmente associamos à expressão “cinema nacional”: como se define o que entra na “História do cinema brasileiro”? O que fica à margem dessa história? A proposta aqui será a adoção de uma perspectiva diferente: olhar para a “História do cinema brasileiro” a partir da região amazônica – e dos filmes ali realizados. Com mais de 5 milhões de quilômetros quadrados distribuídos por nove países, a bacia hidrográfica estruturada em torno do rio Amazonas está longe de ser uma área homogênea. A produção estética e política desse espaço amplo e diverso é evidentemente plural e heterogênea, devendo ser considerada para além de fronteiras nacionais. Múltiplos, os Cinemas Amazônicos englobariam, assim, desde iniciativas pioneiras, como as de Silvino Santos e Ramón de Baños, até obras mais recentes, como as de Jorane Castro, Susana de Sousa Dias, Aurélio Michiles, Mathieu Kleyebe Abonnenc e Christoph Keller, passando por outros títulos emblemáticos, referidos a seguir. 

Para ver antes

Um dia qualquer. Brasil, 1962. Dir. Líbero Luxardo. 

Aguirre, a cólera dos deuses. Alemanha Ocidental, 1972. Dir. Werner Herzog. 

Iracema, uma transa amazônica. Brasil, 1975. Dir. Jorge Bodansky e Orlando Senna. 

The Laughing Alligator. Estados Unidos, Venezuela, 1979. Dir. Juan Downey. 

Serras da Desordem. Brasil, 2006. Dir. Andrea Tonacci. 

Bibliografia básica

BERNARDET, Jean-Claude, “Presença importada”. In: Jean-Claude Bernardet, Cinema brasileiro. Propostas para uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 18-36.

ARAÚJO, José Juliano. Cineastas indígenas, documentário e autoetnografia: um estudo do projeto Vídeo nas Aldeias. Bragança Paulista: Margem da Palavra, 2019.

AMANCIO, Tunico. O Brasil dos gringos. Niterói: Editora Intertexto, 2000.

BRASIL, André. “De uma a outra imagem”. In: Beatriz Furtado e Philippe Dubois (org.), Pós-cinema, pós-fotografia. Novas configurações das imagens. São Paulo: Edições Sesc, 2019, p. 256-271.

COSTA, Selda Vale da. “Cinema na Amazônia”. Revista História, Ciência, Saúde, vol. VI, set. 2000, p. 1073-1123.

GALVÃO, Maria Rita, et al. “Cinema: trajetória no subdesenvolvimento” [transcrição de debate]. In: Filme Cultura, ano 13, n. 35-36, 1980, p. 2-20.

KOPENAWA, Davi, e ALBERT, Bruce. A queda do céu. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

ROSEN, Philip. “History, Textuality, Nation: Kracauer, Burch and Some Problems in the Study of National Cinemas”. In: Valentina Vitali & Paul Willemen, Theorising National Cinema. Londres: British Film Institute, 2006, p. 17-28.

SALES GOMES, Paulo Emílio. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. In: Paulo Emílio Sales Gomes, Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 85-111.

STOCO, Savio. O cinema de Silvino Santos (1918-1922) e a representação amazônica: história, arte e sociedade. São Paulo: Universidade de São Paulo (tese de doutorado), 2019.


Aula 3

19/11: O impacto da hegemonia hollywoodiana na estética cinematográfica da América Latina.

Marcelo Prioste: Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP. Professor na PUC-SP, membro da SOCINE – Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual e da ASAECA – Asociación Argentina de Estudios sobre Cine y Audiovisual. 

O impacto da hegemonia hollywoodiana na estética cinematográfica da América Latina. Um percurso marcado por mimetismos, acomodações e operações reativas, como a iniciativa cubana no contexto do cinema moderno dos anos 1960.

Para ver antes

Lumière! A aventura começa. França, 2016. Dir. Thierry Frémaux. França, 2016.

Memórias do subdesenvolvimento. Cuba, 1968. Dir. Tomás Gutiérrez Alea. 

Bibliografia básica 

MOURA, Gerson. Tio Sam chega ao brasil: a penetração cultural americana. São Paulo: Brasiliense, 1984.

PARANAGUA, Paulo A. Cinema na América Latina: Longe de Deus perto de Hollywood. Porto Alegre: L&PM, 1985.

PRIOSTE, Marcelo (Org.); ALTMANN, E. (Org.) ; BRAGANCA, M. (Org.) ; TAVARES, D. (Org.). Audiovisual e América Latina: estudos comparados. 1. ed. São Paulo: SOCINE – Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, 2019. Disponível em: https://www.socine.org/publicacoes/livros/


Aula 4

26/11: Cinema Negro: Experiências de Contravisualidade.

Janaína Damaceno Gomes: Coordenadora do Fórum Itinerante de Cinema Negro (FICINE). Professora adjunta da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF/UERJ) e colaboradora dos programas de Pós-graduação em Educação, Cultural e Comunicação (PPGECC/FEBF/UERJ) e Mestrado em Cultura e Territorialidades (PPCULT/UFF).

Nesta aula, abordaremos a recente produção cinematográfica de diretores negros brasileiros através da noção de contravisualidade apresentada por Nicholas Mirzoeff, em seu livro Direito a olhar: uma contra história da visualidade, e de autoras como bell hooks, Kenia Freitas e Janaína Oliveira.

Para ver antes

Infância roubada. África do Sul, 2006. Dir. Gavin Hood. 

Nha Fala. Guiné-Bissau, 2002. Dir. Flora Gomes. 

A deusa negra. Nigéria, Brasil, 1979. Dir. Ola Balogun.  

Bibliografia básica

DAMACENO, Janaína. Revertendo imagens estereotipadas. In: ComCiência: Revista eletrônica de jornalismo científico. Disponível em: https://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=34&id=399

FREITAS, Kenia. Performando-se negre no cinema: anotações para uma conversa infinita. Disponível em: http://revistadr.com.br/posts/performando-se-negrx-no-cinema-anotacoes-para-uma-conversa-infinita/.

hooks, bell. Olhares negros: raça e representação. Trad. Stephanie Borges. São Paulo: Editora Elefante, 2019. 

MIRZOEFF, Nicholas. O direito a olhar. In: ETD – Educação Temática Digital, Campinas, SP, v. 18, nº 4, pp. 745-768, out./dez. 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.20396/etd.v18i4.8646472

OLIVEIRA, Janaína P. de. Descolonizando telas: o FESPACO e os primeiros tempos do cinema africano. Odeere, v. 1, p. 50-74, 2016. DOI: https://doi.org/10.22481/odeere.v0i1.1533


Aula 5

03/12: História, engajamento e democracia no cinema de Leon Hirszman. 

Reinaldo Cardenuto: Professor adjunto do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (UFF)

O encontro propõe uma reflexão sobre o percurso artístico e intelectual do cineasta Leon Hirszman a partir, sobretudo, do filme Eles não usam black-tie (1981). Concentrando-se nas relações entre cinema e História, a aula articula uma introdução às práticas culturais, estéticas e ideológicas do realizador, analisando interpretações que ele mobilizou em torno do Brasil durante a vigência da ditadura civil-militar (1964-1985). Por meio de um estudo do filme realizado em 1981, adaptação da obra teatral homônima de 1956, pretende-se abordar as leituras políticas e estéticas propostas por Hirszman no contexto histórico de gradual reabertura democrática do país, ressaltando aspectos de um engajamento cinematográfico que buscou levar a reflexão crítica a amplas camadas de público.

Para ver antes:

Eles não usam black-tie. Brasil, 1981. Dir. Leon Hirszman. 

Bibliografia básica:

CARDENUTO, Reinaldo. A escrita da História no cinema de Leon Hirszman. Um comunista diante das contradições do movimento operário (1979-1981). In: Cinémas d’Amérique latine [En ligne], 21 | 2013, mis en ligne le 14 avril 2014, consulté le 23 octobre 2020. URL: http://journals.openedition.org/cinelatino/203; DOI: https://doi.org/10.4000/cinelatino.203.


Aula 6

10/12: Aula magna de encerramento: As imagens dos heróis bandoleiros e a política do cinema militante do movimento Nuevo Cine Latinoamericano.

Ana Daniela de Souza Gillone: Pós-doutorada pelo Departamento de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Professora do curso de pós-graduação em comunicação da FIAM-FAAM; coordenadora e professora de cursos de cinema latino-americano no MIS-SP – Museu da Imagem e do Som, São Paulo.

Partiremos dos filmes do período clássico que ressignificaram as revoltas dos heróis bandoleiros: o Lampião no Brasil, o Pancho Villa no México e o gaúcho desbravador das fronteiras na Argentina – e ainda temos a configuração de outras personagens marginais em outras cinematografias, tal como o cacique Tupac Amaru e as associações de sua imagem ao conflito armado no cinema peruano. Essa marginalidade heroica influenciou na maneira de ser pensado o contexto de dominação e colonização pelo cinema de resistência que integra o movimento Nuevo Cine Latinoamericano nas décadas de 1960 e 1970. A discussão envolve o estudo dessas representações e da condição que os cinemas nacionais latino-americanos encontraram para a difusão da sua própria política.

Para ver antes:

Cobrador: in God we trust. Argentina/Brasil/Espanha/França/México/Reino Unido, 2006. Dir. Paul Leduc,

Bibliografia básica:

GILLONE, Daniela. Las representaciones de lo popular en el cine brasileño del periodo clássico. In: Actas del I Simposio iberoamericano de estudios comparados sobre cine. Natalia Christofoletti Barrenha … [et al.]; coordinación general de Natalia Christofoletti Barrenha ; Javier Cossalter ; Lusnich, Ana Laura. – 1ª ed . Ciudad Autónoma de
Buenos Aires: Editorial de la Facultad de Filosofía y Letras Universidad de Buenos Aires, 2015.

Vale consultar na Internet: http://cinelatinoamericano.org/

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