No dia 05 de julho, Henry Boisrolin 1 concedeu entrevista ao programa “Mañanas de Radio”, da rádio “CX36 Radio Centenario 1.250 1.250 AM” de Montevideo, Uruguai. O debate foi centrado na morte do ex-presidente Jovenel Moïse.
Confira abaixo a transcrição traduzida da entrevista.
Você pode ouvir a entrevista em espanhol aqui.
– Bom, vamos com Haiti. Estamos vendo a repercussão internacional do que aconteceu hoje, essa notícia, que surpreendeu fortemente, do assassinato, o atentado que terminou com a vida do presidente. Sua esposa ficou ferida, mas agora também morreu. Para comentar sobre o assunto, entrevistamos nosso amigo Henry Boisrolin. Bom dia, Henry.
– Então, como estão vocês?
– Bem. Recordando que, na última conversação contigo, falaste justamente do assassinato de pessoas no Haiti. E esta vez, até o presidente.
– Exatamente, me parece que ainda não está confirmada a morte da Martine, esposa do presidente; de fato, parece que foi um falso rumor. Em primeiro lugar, temos que ver o contexto, como temos falado em outras ocasiões. Haiti está em plena decomposição do sistema neocolonial, uma situação explosiva, fora de controle. Havia um caos generalizado, bandos armados em todos os lugares, doze massacres nos últimos anos, em bairros populares. Também tem que entender o assassinato do presidente da ordem dos advogados, de estudantes, de jornalistas. Todos os indicadores econômicos estão no vermelho, milhões de pessoas sofrem de fome severa.
O presidente decretou o fechamento do parlamento, nomeou seu próprio conselho eleitoral, interpretou à sua maneira um artigo da Constituição para permanecer no poder, quis reformar a Constituição e nomeou cinco amigos dele para escrevê-la. Eu creio que foi o presidente mais impopular que o país teve. Este é o contexto. E também gerou inimigos em seu próprio campo. Atacou não só o povo, mas também setores economicamente poderosos, para favorecer outros que o apoiavam.
Então, desde sua ascensão como presidente, este será o sétimo primeiro-ministro que tomará juramento. Em 4 anos passaram sete primeiros-ministros.
Então, este é o clima, de onde veio isto é difícil saber, talvez a gente nunca venha a saber, mas é muito cedo realmente para confirmar uma coisa assim. Você tem que falar com alguma responsabilidade, por isso condenei ao máximo a voz oficial, que sugere que tinha gente falando espanhol, que era um comando venezuelano-colombiano. Então, realmente é uma irresponsabilidade, a polícia judiciária, os peritos criminais ainda não tinham ido a lugar nenhum. Então, não havia dados de nada. Não haviam recolhido nada. Então, sai a foto desse homem caído no chão ensanguentado. Então, realmente é uma irresponsabilidade e continuam com a irresponsabilidade.
Há que ser responsável. Porque foi uma pessoa que gerou tanto ódio, até mesmo entre seus apoiadores, entende? Existem pessoas que haviam investido dinheiro na campanha dele e depois ele se virou contra elas. Inclusive, há empresários importantes do país que o apoiaram no começo. De onde vem isso, eu não sei.
O que sei é que o país está em uma situação cada vez mais explosiva. Há uma calma tensa na capital, agora as ruas estão vazias, os mercados populares, não tem ninguém lá, os bancos, está tudo fechado, claro, todo mundo sabe que algo vai acontecer. Ninguém aqui vai tolerar o primeiro-ministro, será difícil.
Prevê-se um desembarque norte-americano se houver um banho de sangue. A declaração da embaixada dos Estados Unidos é muito, muito perigosa. Se lermos bem o comunicado, nas entrelinhas, é muito perigoso o que estão fazendo.
– É perigoso porque, neste quadro que você estava descrevendo, também se supõe que isso não pode trazer consequências simples. E não sabemos se é um acontecimento isolado ou um plano.
– Exatamente, não pode ser, um país dependente, uma neocolônia como o Haiti e o controle exercido pela América do Norte, pelo imperialismo ianque sobre o país, sobre o próprio presidente mesmo. Esse comunicado é suspeito, mas, como sempre, eles não ligam nada para nós.
Agora, ainda não há declaração do campo popular porque ninguém conseguiu reunir-se, as ruas estão vazias. Tive contato com dois líderes do campo popular, mas não consegui me comunicar com outras pessoas. Elas estão em suas casas, alguns estão em locais seguros, pois acabaram de dizer que um grupo de pessoas queria atacar um ex-senador, na cidade de nascimento da mulher dele, foram atacados, e as pessoas se levantaram e queimaram o posto policial mais importante, mas na capital ainda não há nada. Inclusive, suspeitamente, não há nenhum tiro. Pela primeira vez, Porto Príncipe desperta sem ouvir nenhum tiro. Fora os tiros dos agentes que assassinaram Jovenel, não se escutou nenhum tiro até agora. O que vai ser dos bandidos, ninguém sabe.
– A República Dominicana fechou a fronteira com o Haiti.
– Sim, imediatamente o presidente Abinader ordenou o fechamento de todos os postos fronteiriços e parece que suas forças armadas estão sendo deslocadas para a fronteira. Estão falando também que um porta-aviões americano foi deslocado. Há vários rumores.
– Os Estados Unidos se ofereceram para ajudar nas investigações, o que é muito preocupante.
– Exatamente (risos). Por que não se ofereceram para ajudar quando assassinaram o presidente da Ordem dos Advogados? Por que não se ofereceram para ajudar quando houve tantos massacres em bairros populares? Realmente ultrajante e repulsivo isso, temos que ver isso como arrogância, mais uma intromissão nos assuntos internos do país. Porque vão sacar qualquer invenção, vão dizer que foi um comando cubano-chavista. Vamos ver.
– O aeroporto está fechado também, não há gente nos mercados, as ruas estão vazias, os dirigentes populares escondidos. Panorama duríssimo.
– Exatamente. Estão guardados até o meio do dia, estão vendo como atuar, seguramente vai haver reação, ninguém vai ficar escondido debaixo da cama.
– E quem está a cargo neste momento, já que o presidente está morto?
– O primeiro-ministro.
– O que assumiu segunda-feira?
– Não havia assumido, ele tinha que assumir hoje, o presidente fará o juramento hoje. Por que hoje e não ontem? Porque até ontem não podiam formar o governo, porque cada personalidade que ele chamava para dar um pouco de verniz ao governo que queriam formar lhe dizia que não, porque entenderam que seria suicídio político. Não é fácil. É muito complicada a situação.
E há oficialmente 500.000 armas circulando de forma ilegal no país. Você pode imaginar o que pode acontecer. Por isso eu acredito que temos que atuar com responsabilidade e, acima de tudo, a maior responsabilidade do campo popular frente à irresponsabilidade do regime.Então temos que checar todo tipo de informação, e aí vou mantê-los atualizados. Um grande abraço e obrigado pela solidariedade que vêm demonstrando.
